A Primeira Guerra Mundial, o WhatsApp e a Luta Política, por Carlos Eduardo Viegas

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Foto: Allan White/Fotos Públicas

A Primeira Guerra Mundial, o WhatsApp e a Luta Política

por Carlos Eduardo Viegas

Após a derrota na Primeira Guerra Mundial, os militares alemães fizeram um imenso esforço para compreender os fatos e retirar lições do desastre. Era evidente que o as linhas de defesa alemã, no front ocidental, haviam sido rompidas pelo surgimento, no campo de batalha, do carro de combate (que os paisanos chamam de “tanque de guerra”). Os estrategistas alemães conheciam o “tanque” e, na verdade, as suas forças dispunham de um certo número de tanques. Mas, o que foi uma novidade, naquela época, foi o uso maciço do tanque. Na batalha de Soissons (julho de 1918) os franceses empregaram 480 tanques. Não é verdade que os alemães não tivessem recursos para contrapor à ofensiva aliada com tanques; o que ocorreu é que a maneira do emprego (uso em massa) da nova arma levou ao rompimento do impasse que já durava quatro anos e, finalmente, as linhas alemãs entraram em colapso. As forças alemãs caíram praticamente intactas e, foi sobre essa amarga lição, para compreendê-la, que seus militares se debruçaram.

Passaram-se vinte e dois anos. Quando as forças alemãs invadiram a França, em 1940, as lições da Primeira Guerra haviam sido plenamente compreendidas pelos alemães. A lição era que o carro de combate ( o tanque) era uma inovação surgida da moderna indústria metal-mecânica que revolucionava o campo de operações. Mas até aí, isso era evidente para qualquer observador. A questão mais profunda era entender o modo de seu emprego, sua capacidade de deslocamento e, no campo de operações, qual deveria ser o seu alvo principal. É importante compreender que em 1940, os ingleses e os franceses dispunham de uma quantidade muito maior de tanques do que a Wehrmacht alemã e, ainda mais, os tanques ingleses (o Matida, p.ex.) era mais pesado e mais bem armado do que os tanques leves (Panzer Mk 1) dos alemães.

No entanto os alemães haviam compreendido que o tanque, com sua rapidez de deslocamento e capacidade de destruição, tornava obsoleta a velha doutrina militar que exigia, na ofensiva, o avanço da infantaria para ocupar o terreno e o emprego da cavalaria, junto com o infante, para persegui o inimigo em fuga e consolidar o terreno conquistado. Uma nova “doutrina” havia sido preparada, que preconizava que as unidades blindadas deviam avançar o mais rápido possível, deixando a infantaria para trás (às vezes 50 km) e buscar, principalmente, os Centros de Comando e Controle do inimigo para “decapitar” suas forças. Essa foi uma compreensão correta das potencialidades da nova arma e que levou ao colapso das forças aliadas em poucas semanas de combate. Os aliados (exceção de General De Gaulle) se aferravam à idéia de que o tanque era uma arma auxiliar da infantaria e, como tal, devia apoiar se avanço e jamais “correr na frente”. Em Dunquerque pagaram o preço da derrota.

Os recursos das redes sociais, o maciço acesso dos brasileiros à telefonia móvel, as lições de Guy Debord (1968) sobre a Sociedade do Espetáculo, tudo isso já existia muito antes das eleições de 2018. A questão é que, assim como os militares aliados de 1940, as direções dos partidos do “campo democrático popular”, não perceberam (e o Coiso tem o mérito de haver percebido) que as novas tecnologias da informação provocaram uma revolução completa no território da luta política.

As direções partidárias da “esquerda” estarão cometendo um erro fatal se não se debruçarem sobre as lições da derrota. Qualquer observador deve ser capaz de compreender que a Política ultrapassou a disputa “fair play” do pleito eleitoral da democracia liberal burguesa. Daqui em diante a Política, fazendo uso dos modernos meios da manipulação da consciência, vai impor outras concepções de uso desses recursos. Se esse trabalho de aprendizado não for feito, os partidos da esquerda acumularão derrotas em cima de derrotas, frente não à um “adversário” tradicional que aceita o bom mocismo da “alternância do poder” liberal, mas à um inimigo que busca a aniquilação completa do “campo da esquerda”

No Brasil, no início da segunda década do século XXI, a luta política assim como a guerra, passou a ser total.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

2 Comentários

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  1. A melhor análise sobre o que aconteceu no Brasil

    Fomos o campo de teste da Nova Guerre Total do século XXI tal como a Guerra Civil Espanhola o foi para Nova Guerre Total do século XX. Nos 2 casos a “esquerda política” perdeu.

    Interessante que não perdeu de muito (55 x 45), enquanto a França foi arrasada, mas nos próximos meses o sistema militar-ultraliberal-evangélico vai tentar eliminar a oposição. Temo pela vida do Haddad, aliás especialmente por que ele pode ser a liderança do contra-ataque, enquanto Ciro tem, nessa Nova Guerre Total do século XXI o mesmo futuro da Marina, do Alkmin, etc… i.e. nenhum. E a vida do Lula está por um fil.

     

  2. bom post.

    Estava pensando exatamente nisso antes mesmo do final da eleição.

    Há necessidade das melhores cabeças do campo democratico, que não precisa necessariamente ser de esquerda, estudar a fundo dessa nova realidade. Redes sociais, fake news, Steve Bannon e os que vierem após ele e tudo o mais..

    O passado é passado. Houve uma época para os pampletos, para os comicios, para tv aberta, para rádio. Tudo isso foi para o museu.

    PS. Bolsonaro não tem intelegencia de pensar nada disso, nem os filhos dele, nem a equipe. Esse “pacote” de novidades foi apresentado por alguém que sabe do assunto e não foram os brasileiros. Cada vez mais me convenço que veio de fora, o “pacote” todo.

     

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