Armadilhas contra o Brasil, por Lindinaldo Freitas de Alencar

É preciso compreender que não é a luta contra a corrupção que move as sociedades. Pelo contrário, só a luta pela transformação da sociedade, pode criar condições melhores para o combate de tal prática.

Armadilhas contra o Brasil, por Lindinaldo Freitas de Alencar

A redução do debate nacional e dos problemas do país à questão da corrupção tem justificado arbitrariedades, capturou setores da sociedade produzindo polarizações e funciona como uma venda para problemas e questões mais graves. Mas essa não é a única “causa” que produz tais consequências.

A sociedade brasileira, especialmente os chamados setores médios, foram capturados no último período por uma “armadilha” do ponto de vista da luta de ideias. Os setores dominantes, através da grande mídia e do pensamento hegemônico emprenhado nas estruturas do Estado, difundiram uma concepção simplista da realidade, como se fosse uma venda nos olhos da sociedade que a permite enxergar o mundo apenas sob a ótica penal e anticorrupção.

A sensação de que a corrupção é o maior, talvez único problema do país, ou que todos os demais problemas do país serão resolvidos por meio de um sistema punitivo cada vez mais rigoroso, vez ou outra, entra em cena para desviar a percepção da população dos interesses em disputa na sociedade. Ela criou e cria condições políticas para derrubar governos, bem como tira do centro do debate público questões de interesse nacional. Esse instrumental serve para boicotar o desenvolvimento do país, destruir empresas de capital nacional, criminalizar lideranças e setores da sociedade.

No geral, se instrumentaliza causas defensáveis e importantes que podem ser identificadas por segmentos da sociedade. Aproveitando as profundas desigualdades e injustiças que ainda marcam nosso país, impõe-se a lógica do antagonismo, opondo cada vez mais grupos distintos, fragmentados em torno de causas que se tornam particulares.

É evidente que uma sociedade melhor deve buscar o combate à corrupção, promover a igualdade de direitos entre todos, independente de gênero, cor, orientação sexual e religião. Mas não são essas as causas principais que movem uma sociedade, muito menos isoladamente. Elas fazem parte de um projeto maior, de rumo e destino de uma nação.

A corrupção deve ser combatida e não pode ser naturalizada. Mas não se deve inverter a racionalidade, a corrupção é uma manifestação humana fruto de como o homem se organiza em sociedade. Existem formas que a favorecem e outras que dificultam sua presença. Não devemos ter dúvidas que as relações de uma sociedade baseada na exploração do trabalho e da miséria gerará sempre condições para pratica de corrupção dentro e fora do Estado.

É preciso compreender que não é a luta contra a corrupção que move as sociedades. Pelo contrário, só a luta pela transformação da sociedade, pode criar condições melhores para o combate de tal prática. No mesmo sentido, os interesses de um país, seu destino no mundo não pode ser encarado de forma secundária. Essa é uma grande armadilha para capturar o Brasil e seu povo.

Não ao acaso pesquisas feitas sobre o que mais preocupa a população apontam os mesmos temas: saúde, segurança, emprego e educação. A imensa maioria do povo preocupa-se com as condições de vida, de sobrevivência. Mas infelizmente, o debate público está tomado por pautas e polarizações induzidas, as quais pouco dizem ou preocupam a maioria da população.

Não há saída para a atual crise sem se construir uma ampla unidade em torno da defesa do Brasil, de seu desenvolvimento e de melhores condições de vida para a população. Não se trata apenas de unidade em torno de categorias como “esquerda” ou “centro”, que fora da realidade se tornam termos vazios de sentido prático. É preciso construir unidade em torno do que é essencial, longe do que nos divide enquanto povo.

Redação

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