Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Até quarta-feira meu bem!, por Armando Rodrigues Coelho Neto

Até quarta-feira meu bem!, por Armando Rodrigues Coelho Neto

Não falo segundo quem. Não espere dessa fala grandes citações, mergulhos teóricos. Minha fala traz o empirismo de um observador perplexo, depois de uma tentativa de golpe contra uma democracia que tropeça no simples fato de tentar sê-la: pura e tão somente democracia.

Nesse afã de tentar ser, a esquálida democracia brasileira ensaiou distribuir migalhas aos mais carentes. Começou com um grito rouco e engasgado com o nome de Fome Zero e desaguou num programa social chamado de Bolsa Família. Não tardou a ser tratado de bolsa esmola, compra de votos e outros insultos, que partiram e partem de pessoas que acreditam que a corrupção é uma menina de apenas treze anos. Gente saudosa da ditadura militar e que, com 30 anos de atraso, descobriu o “panelaço argentino” e tenta desenterrar, com mais de 50 anos de atraso, a “Guerra Fria”. Aliás, o fazem quando o tabuleiro de xadrez mundial movem algumas pedras: Barack Obama já conversa com Cuba e o Papa Francisco lança olhar generoso sobre homossexuais e o “Padim Ciço”.

Nesse mover de tabuleiro, causa espécime que as pessoas que criticam a “esmola” são as mesmas que secularmente apoiou a cultura de exploração dos trabalhadores. A mesma cultura que criou os “pedintes” queixa-se de quem criou a “esmola”. Aliás, uma gente sufocada em contradições, que de tão mal informada chama o atual governo de esquerda, de comunista. A rigor, parecem não saber o que é comunismo ou querem ofender os comunistas. Algo assim como chamar Malafai e Cunha pelo nome de Jesus. Vai saber.

Fazem leitura torpe e conveniente do momento atual, ao acreditarem que integro um grupo de pessoas que defendem corruptos. Miopia e torpeza, claro. Afinal, corruptos são aqueles que defendem o atual modelo político/econômico, que traz em suas entranhas a ganância, gincanas visuais e subliminares que vão da venda de produtos a R$ 1,99 a valores impronunciáveis como os preços quebrados do litro de gasolina a R$ 3,527. Alguém sabe o que isso quer dizer?

Ferrenhos críticos dos programas ou gambiarras sociais, eles criticam o sistema de cota raciais e iniciativas como o Mais Médicos, Brasil Carinhoso, Farmácia Popular (remédio de graça para algumas doenças), Luz para Todos, além de programas como Pro-Uni, Ciência Sem Fronteiras, ainda que neste último caso, os remediados (burguesia) sejam os principais beneficiários. Curiosamente, alardeiam que “não sabem” para onde vai o imposto que pagam. Impossível, portanto, saber a exata noção que possam ter do é ou para que serve o imposto. Menos ainda de que forma o  Estado que concebem seria mantido, se é que algum tipo de estado concebem, fora do “capitalismo sem risco”, no qual o Estado precisa estar sempre pronto a suprir suas incapacidades de gerirem suas próprias vidas mercantes, suas próprias vilanias.

De tudo fazem leituras de conveniências. Ao bel prazer, esquecem ou não querem lembrar que no passado defenderam o que hoje criticam e vice-versa. Servem de exemplos a cobrança de CPMF, a reeleição que inventaram e compraram. E assim, ao sabor da ignorância ou espírito vira-lata de seus ídolos, repetem os mantras dos escrivinhadores dos jornalões e o que dizem os papagaios dos “grandes” telejornais. Dotados de cegueira absoluta, vestiram a camisa da corrupta de CBF para protestar contra a corrupção, ao lado de ladrões do dinheiro público. E, como não poderia deixar de ser, repetindo que “bandido bom é bandido morto”. Mas, bandido rico, não. Paira o silêncio sobre esses, não raro apoiados pela dita “grande mídia”. Eis o pleno exercício da moral seletiva, dos moralistas sem moral, dos corruptos que estão e ou se dizem ser contra a corrupção. De um só partido, claro!

E foi assim  que descobriram as ruas. Sem pobres e negros, tomando espumante numa festa pró “Afunda Brasil”, nas quais não faltaram bundas, selfies com policiais truculentos ou com artistas decadentes – entre eles um roqueiro rebelde que virou sabujo e um ator de cinema pornô. O cordão de sibaritas tomou corpo com homofóbicos, monocromáticos, religiosos fundamentalistas, defensores da pena de morte, agressores de mulheres, de pobres e índios, os misóginos de todas as cores. Por incrível que pareça, dei-me o trabalho de visitar os perfis no Face book,  nomes de presos em algumas operações da Polícia Federal, entre elas, Anaconda. Por incrível que pareça, eles também estão “contra a corrupção”.

Falava eu da massa moralista que integra o “Afunda Brasil” e seus atributos, e, por pouco, quase esqueci que ainda levaram à rabeira do bloco exterminadores e exploradores de menores. No todo, excetuados os inocentes úteis, compuseram a grande fauna conservadora, uma horda de vira-latas que não tiveram escrúpulo algum de pedirem até o apoio do “Tio Sam”, através de abaixo-assinado.

Protagonizaram e protagonizam a maior campanha de ódio que o País já conheceu. Uma campanha que, de tão forte, estaria, em tese, implícita nessa fala indignada. Uma campanha inusitada de ódio, que facilitou a eclosão de todos os ódios numa massa só, direcionada contra o dito Partidos dos Trabalhadores (PT). Sigla, aliás, cuja ira nunca conseguiram explicar, mas que finalmente encontram uma desculpa: corrupção. Justamente a corrupção, principal veneno da sociedade mercantil que defendem. Justamente ela, a corrupção, da qual se locupletaram a vida inteira, sob explícita omissão das polícias, ministérios público, justiça (estaduais e federais), comissões parlamentares, com proposital silêncio sepulcral da denominada “grande mídia”.

Nesse contexto cínico de suposta indignação, cabe registrar que onze famílias (de reputação duvidosa) controlam os meios de comunicação no País. Famílias sub suspeitas de não honrar compromissos fiscais, que apoiaram e apoiam golpe de estado, mentem e manipulam notícias. As mesmas famílias que municiam o discurso dos “Revoltados On Line” da vida e outros falsos moralistas, que a exemplo de outros tantos são incapazes de entrar num debate político sem utilizar um argumento sequer longe dos mantras repetidos pelas tais onze famílias.

O caldeirão de alienados não sabe ou faz questão de não saber que as principais normas de combate à corrupção foram criadas e sancionadas nos governos de Lula e Dilma, por quem não morro de amores.

Os números do IBGE, quando favoráveis ao Governo, eram tidos como mentirosos, manipulados. Hoje, não. São reais, “mas deve ser pior”. Num processo às avessas, o governo que “nada fazia” é criticado por estar pondo em risco “as conquistas sociais dos trabalhadores”. As mesmas conquistas cujas existências eram antes negadas, criticadas. Alardeiam a queda do índice de emprego que sempre negaram existir, entre outras indicadores.

Causa, pois, perplexidade, que os tais indignados queixam-se de alternância política, mas só no plano federal. Estadual, não. Serve de exemplo o estado de São Paulo, há mais de vinte anos saqueado por um partido político, cujos podres são mal ou não noticiados, são mal ou não apurados, escandalizados nunca!. Difícil, pois, encontrar coerência no que dizem os tais moralistas sem moral, hoje fortemente empenhados num até agora frustrado “golpe de estado”.

Nesse clima de comoção, ao qual se soma erros de gestão governamental e sabotagem de empresários e investidores, constrange constatar que parte da crise não passa de ingrediente do golpe. Enquanto se vende a crise, enxugam e aumentam lucros, barateiam mão de obra promovendo o desemprego.

Eis que a tentativa de golpe chega à Suprema Corte. O mesmo Tribunal que durante o circo rotulado de “Mensalão” foi ovacionado, mas que hoje, quando interrompe (ainda que momentaneamente) a tentativa de golpe, é taxada de “vendida ou aparelhada”. E aqui, pouco importa que o ato de instauração de impeachment tenha sido produto de vingança de um suspeito que mantém contas no exterior (não declaradas no Brasil), com dinheiro de provável produto de crime. Aliás, uma personalidade que chegou à Presidência da Câmara Federal, sob aplausos e festa do maior partido de oposição e seus asseclas, entre eles os usuários de camisas da CBF. Pouco importa que esse “Capitão do Golpe” queira promover impeachment de uma forma que deixaria perplexo até o chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC). Afinal, até o PCC tem regras claras, sem votos secretos.

É nesse clima estamos, enquanto muitos tentam espantar o agouro dos hipócritas, cantando a marchinha “Até quarta-feira, meu bem”.

Armando Rodrigues Coelho Neto é delegado aposentado da Polícia Federal e jornalista

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

4 Comentários

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  1. “Aliás, uma gente sufocada em

    “Aliás, uma gente sufocada em contradições, que de tão mal informada chama o atual governo de esquerda, de comunista. A rigor, parecem não saber o que é comunismo ou querem ofender os comunistas. Algo assim como chamar Malafai e Cunha pelo nome de Jesus. Vai saber”

    Hahaha, nessa ele tem razão. Chamar esse governo de esquerdista é o mesmo que chamar o Cunha de Jesus….

     

  2. Agora só falta precisar desenhar …. !

    Tudo que sempre falei com muitos. Conseguiu uma síntese absurdamente bem estruturada, bem resumidinho e com uma perspicácia, diria, “Absoluta” …. Nem precisa desenhar !!!!!!!!

     

    Que show de matéria… que texto e que muitos possam ler !!!!!!!!

     

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