Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Crime de ódio ou Moro e os caracóis dos cabelos de Protógenes, por Armando Coelho Neto

Qual o crime de Protógenes Queiroz? Vazamento de informações e violação do sigilo funcional. O que o ex-juiz Moro fez? Não foi exatamente isso, de forma dolosa, rotineira e sistemática?

Crime de ódio ou Moro e os caracóis dos cabelos de Protógenes

por Armando Rodrigues Coelho Neto

O delegado federal Protógenes Queiroz está exilado na Suíça, onde aguarda o desfecho de um projeto suprapartidário de anistia que poderá reverter o que parece uma sentença estúpida.

O ex-policial foi condenado por um crime que o então juiz Sérgio Moro, à frente da tramoia Farsa Jato, consciente e dolosamente, cometeu quase todos os dias, durante quatro anos. Às escâncaras, audiências foram transmitidas até por meio de celulares para blogs picaretas de orientação fascista ou completamente desorientados. Sob a farsa de combate à corrupção, ações espetaculosas foram avisadas à TV Globo com antecedência e o resto da lambança é público.

De forma sistemática, foram muitos os crimes. Violação de sigilo, inclusive da Presidência da República, edição de gravações telefônicas para incriminar a Presidenta Dilma e impedir Lula de ser ministro, sem contar a prática dolosa de destruição de reputações, que até hoje são acolhidas como verdades por desavisados e maledicentes.

Entre o real e o falso, entre o natural e o fabricado, políticos e empresários foram arrasados, históricos acadêmicos foram destroçados, num pacote de crimes que inclui a indução ao suicídio de um reitor, em Santa Catarina. Tudo isso deu o tom do crime de ódio no qual se tornou a antessala do golpe de 2016.

O que já se sabia, denunciado e ou ignorado pela Suprema Corte, se tornou público pelas revelações feitas pelo jornal eletrônico The Intercept. Com a conivência do barnabé judicial, procuradores da República promoveram violações sistemáticas de direitos e garantias previstas na Constituição. Por aparente omissão, o ex-juiz Moro foi coautor das práticas criminosas encetadas pelos savonarolas do Ministério Público Federal, entre elas chantagens, coações diretas e indiretas – inclusive de familiares de investigados, depoimentos sob pressão, coleta ilegal de provas…

Eis, pois, o resumo da capivara do ex-juiz, hoje premiado com o cargo de ministro da Justiça. Eis os crimes dele. Mas…

Qual o crime de Protógenes Queiroz? Vazamento de informações e violação do sigilo funcional. O que o ex-juiz Moro fez? Não foi exatamente isso, de forma dolosa, rotineira e sistemática? Que pena sofreu? Nenhuma. Pelo contrário, foi premiado com o cargo de ministro da Justiça, além da promessa de se tornar um dia ministro do Supremo Tribunal Federal.

Protógenes Queiroz chefiou a denominada Operação Satiagraha. Prendeu, entre outros, Daniel Dantas (Grupo Opportunity) e Celso Pitta (ex-prefeito de São Paulo). Ambos seriam então suspeitos de corrupção e lavagem de dinheiro. As ações tiveram ampla cobertura da imprensa, bem semelhante às ações da Farsa Jato. A diferença? Está no fato de que a Satiagraha não se prestou a quebrar empresas brasileiras, não desempregou milhões de brasileiros para entregar o patrimônio nacional na bacia das almas.

Protógenes também foi acusado de vazar informações (crime de Moro e procuradores da República). Com a ajuda de agente da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), teria realizado escutas telefônicas ilegais. Qualquer semelhança com os procuradores da República no conluio com agente públicos da Suíça seria mera coincidência. A diferença? Os processos contra DD Dinheirol e sua gangue foram arquivados, desarquivados, adiados e ou não julgados por conta de liminares, coleguinhas que matam no peito… Já Protógenes… Ah! Esse é bandido. Assim o dizem…

Notas imprecisas dizem que investigados da Satiagraha teriam tentado subornar um delegado da PF. Essa é, pelo menos, a versão dada pelo procurador da República Rodrigo de Grantis, que acompanhou, segundo a imprensa, o interrogatório do intermediário do dinheiro. A versão dos acusados é outra, mas o fato é que o flagrante da entrega do dinheiro ao delegado federal foi exibido pela TV Globo no Jornal Nacional. Os laudos da PF mostram que ao examinarem o reflexo das imagens na vidraça do restaurante, os peritos conseguiram identificar um famoso repórter da TV Globo e o seu cinegrafista…

Com ansiedade, o brasileiro aguarda que o The Intercept divulgue o torpe papel da TV Globo nos bastidores da Farsa Farsa Jato, quem sabe por meio de uma outra vidraça qualquer, só para melhorar as coincidências.

O caso do suborno passou depois a ser tratado pela Justiça como “flagrante preparado”, uma prática legalmente proibida. Leia-se, teria sido uma armação igual, parecida ou mal feita tanto quanto as múltiplas falcatruas promovidas durante as fanfarronices dos capitães do mato da Farsa Jato.

O resumo dessa ópera é que, em mais um crime de ódio (lato sensu), o delegado federal Protógenes Queiroz foi condenado, demitido e hoje está exilado na Suíça. As semelhanças são muitas, só o desfecho está pendente. A Satiagraha foi anulada, enquanto até hoje o Supremo Tribunal Federal não anulou a Farsa Jato e não exilou o Moro. Evita discutir as ilegalidades da Farsa Jato, entre elas, toda fraude que permeia aquela operação, as quais, quase 300 conduções coercitivas ilegais e a absoluta parcialidade do ex-juizeco.

Há sim muitas coincidências com desfechos distintos, como o exílio físico e moral de Protógenes Queiroz, que recentemente postou num grupo de WhatsApp a música “Debaixo dos Caracóis” – homenagem solidária de Roberto e Erasmo Carlos para Caetano Veloso, quando no exílio em Londres, por força da ditadura militar de 1964. É possível que o dolorido trecho, “você olha tudo e nada lhe faz ficar contente… você só deseja agora, voltar pra sua gente” possa ter tocado forte o coração do delegado.

Sentenças de clientelismos à parte, coincidências e tratamentos de ocasião, o fato é que enquanto Protógenes amarga suas perdas, muitos dos oficiantes da Farsa Jato foram premiados com cargos e medalhas; ganharam dinheiro com livros e palestras. Além dos cinco minutos de fama, ainda arriscam ganhar mais algum levianamente, tentando processar jornalistas…

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

15 Comentários

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  1. um era delegado ávido pra caracterizar suas suspeitas ..o outro juiz (que inclusive orientava promotores a como agir, como MONTAR os processos, e ainda repassava informações pros eua) ..será que tem diferença a GRAVIDADE dos crimes ?

  2. Quer dizer que pelo singelo fato dos crimes do Juiz (SIC) Sérgio Moro estarem impunes, automaticamente torna injusta a sentença contra Protógenes, pelos mesmos crimes?
    Na minha época em delegacias policiais esta era a estranha lógica de 10 entre 10 usuários de drogas, ou seja, como ele conhecia dezenas de usuários de drogas como ele, que usavam impunemente, por algum estranho artifício de lógica ele deveria ser “aliviado”.
    O delegado (SIC) (assim mesmo, com letra minúscula!) Protógenes cometeu crime de violação de sigilo funcional (PONTO) Foi condenado por sentença transitada em julgado (PONTO) O fato de Sérgio Moro ou qualquer outro acusado não ter sido perseguido e/ou condenado em nada torna injusta a sentença, aliás ratificada pela Suprema Corte.
    Desta forma, dizer que Protógenes é um “exilado” é somente uma forma de tentar “por panos quentes” em seus crimes, pois ele na verdade é um FORAGIDO da Justiça, somente não caçado como um rato de esgoto pelas autoridades porque sua ex-mulher é multimilionária, herdeira de um dos maiores conglomerados bancários do Planeta…

    1. Sr. Roberto Ferreira da Costa, você acha justa a impunidade do $érgio Moro?

      Considerando que todos são iguais perante a lei (mas não perante o judiciário), se você fosse punido por cometer um crime que outras pessoas também praticam mas não são punidas, você exigiria a punição dos outros criminosos ou a sua impunidade?

      Você quer dizer que as autoridades atuam de acordo com a fortuna do criminoso?

      Na sua época em delegacias policiais, você caçava pobres como se caça ratos de esgotos mas não caçava ricos de jeito nenhum? Se sim, porque você agia assim?

      Fale-nos mais um pouco de você, s’il vous plait, please.

    2. Sr. Roberto Ferreira da Costa
      PELO O QUE EU CONHEÇO DO ARMANDO RODRIGUES COELHO NETO , ELE NÃO É HOMEM DE
      “por panos quentes” EM NADA. Por sinal penso que o mesmo é bastante corajoso em suas colocações porque são verdadeiras!

      Parabéns Rui Ribeiro, vc foi no ponto!

      Pois é Armando e coloca ansiedade nisso: estou mesmo ansiosa !

      “Com ansiedade, o brasileiro aguarda que o The Intercept divulgue o torpe papel da TV Globo nos bastidores da Farsa Farsa Jato, quem sabe por meio de uma outra vidraça qualquer, só para melhorar as coincidências.”

    3. Sr. Roberto Ferreira da Costa, que artifício de lógica usavam os usuários de drogas que não eram punidos a fim de justificar suas impunidades?

      Eram convincentes os argumentos do usuários de drogas que ficavam impunes?

      Ou o argumento deles era dinheiro?

  3. O problema é que o Protógenes atuava juridicamente, enquanto o $érgio Moro e os Jatoeiros atua(va)m politicamente. Do ponto de vista político, não é crime fazer o que o $érgio Moro e os Jatoeiros fizeram

    “Mas a questão jurídica é filigrana dentro do contexto maior que é político”. – Deltan Dallagnol, Procurador Chefe da Lava Bosta

  4. A Satiagraha é aquela ferida exposta que não parou de sangrar ainda. Caro delegado e jornalista Armando, tudo que observamos aqui foi muito bem narrado no livro Operação Banqueiro do jornalista Rubens Valente. Como diz uma outra musica “mas o odio cega”. E acho que no caso em questão o oportunismo e a covardia fazem fechar os olhos de muitos.

  5. E por falar em dois pesos, duas medidas. Resgato uma nota no jornal Folha de S. Paulo de 2003.

    São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 2003

    JANIO DE FREITAS

    O endereço
    Data imprecisada, ou imprecisável, e não recente. Fernando Henrique Cardoso, no uso de toda a simpatia possível, discorre para os comensais suas apreciações sobre fatos diversos e pessoas várias. De repente, intervém a mulher de um brasileiro renomado, há muito tempo é figura internacional de justo prestígio, ministro mais de uma vez, com importantes livros e ensaios. Moradores íntimos de Paris por longos períodos, mas não só por vontade própria, consta que nela nada restringe a franqueza. Se alguém na conversa desconhecia a peculiaridade, ali testemunhou um motivo para não esquecê-la:
    – Pois é, mas nós sabemos do apartamento que Sérgio Motta e você compraram na Avenue Foch.
    Congelamento total dos convivas. Fernando Henrique é quem o quebra, afinal. Apenas para se levantar e afastar-se. Cara fechada, lívido, nenhuma resposta verbal.
    A bela Avenue Foch, seus imensos apartamentos entre os preços mais altos do mundo, luxo predileto dos embaixadores de países subdesenvolvidos, refúgio certo dos Idi Amim Dada, dos Bokassa, dos Farouk e, ainda, de velhos aristocratas europeus.
    Avenue Foch, onde a família Fernando Henrique Cardoso está instalada. No apartamento emprestado, é a informação posta no noticiário, pelo amigo que passou a figurar na sociedade da fazenda também comprada por Sérgio Motta e Fernando Henrique Cardoso, em Buritis.
    Avenue Foch, é ela que traz de volta comentários sobre a historieta, indagações de sua autenticidade ou não, curiosidade em torno do que digam outros possíveis comensais.

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