Explicar, como?, de André Singer

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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da Folha

Explicar, como?, de André Singer

O novo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, é conhecido por ser sensato e cauteloso. Mas a proposta que fez à presidente soa a coisa de doido. Segundo Edinho, Dilma precisaria explicar à população que o ajuste fiscal consiste de medidas “para que a economia possa crescer de forma sustentável, gerando emprego e distribuindo renda” (Folha, 2/4). Como dizer isso após o desemprego subir de 4,3% em dezembro para 5,9% em fevereiro sem que Mãos de Tesoura recue nos cortes que tornarão a situação ainda mais difícil para os trabalhadores?

O fato de que a atual onda de demissões ainda responda à estagnação do ano passado em nada ajuda. Depois de visto o tamanho do PIB de 2014 e dos cortes de vagas no primeiro bimestre de 2015, a presidente voltou a prometer, terça passada, um “grande corte, grande contingenciamento”.

Somada a uma taxa de juros que não para de crescer, o tamanho do ajuste pretendido torna moderada a projeção de recessão de 1% a 1,5%. Mesmo assim, já seria um recuo bem maior do que o de 2009, quando o PIB caiu pela última vez. Naquela ocasião, houve uma série de providências para gerar empregos, entre elas o lançamento do Minha Casa, Minha Vida. E agora?

Não sou economista e torço pelo contrário, mas há sinais de que possamos viver a primeira recessão séria desde o começo da década de 1990, com as naturais consequências, que já andavam meio esquecidas, em matéria de clima cotidiano. Basta passar os olhos pelo jornal. A Oi vai demitir mil funcionários em abril; Vivo e Nextel fizeram o mesmo, cada uma, nos últimos dois meses; a Pirelli anuncia “layoff” de 1.500 empregados; a Ford paralisou em protesto contra a demissão de 137 que estavam em “layoff”; a Queiroz Galvão dispensou 70 e colocou 500 em aviso prévio.

Muitos comparam as medidas atuais com o ajuste de Lula em 2003. Ocorre que, apesar do forte aperto orçamentário daquele ano, houve crescimento de 1,15%. Com isso, o desemprego, que já era muito alto (10,5%), ficou praticamente estável (10,9%). Em consequência, o desgaste do governo foi moderado.

Hoje o quadro é outro. Houve melhora constante desde 2004. No primeiro mandato de Dilma o desemprego caiu, apesar do crescimento econômico anêmico. Foi, aliás, o que lhe permitiu conquistar a reeleição. Ir para o olho da rua, quando se votou esperando mais oportunidades, provocará revolta capaz de afetar o âmago do lulismo.

Estamos assistindo a uma ação deliberada para destruir o pleno emprego, considerado incompatível, pelo capital, com o investimento competitivo. Melhor mudar de política do que tentar explicar o inexplicável.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. Esse André Singer é um

    Esse André Singer é um militante do pessimismo, ler seus artigos dá uma azia.

    Ele e o Frei Beto mais atrapalham do que ajudam.

  2. Quanto?

    Eu gostaria de saber quanto a economia e o emprego retrocederam por conta do “baixo astral” introduzido e alimentado pela imprensa partidária.

    E abraçado pelos agentes da própria administração pública que tudo fazem para ganhar medalhas dessa mesma imprensa.

    O maior problema, ao meu ver, é que o governo (classe média que é) se deixa pautar por essa mídia deletéria. Muitos já parecem detestar o Brasil e os brasileiros e competem entre si para ver quem prejudica mais o Brasil.

    Contra “essa gente” há duas batalhas sendo travadas: Uma é para fazer respeitar a decisão das urnas em 2014. Outra, paralela e de maior importância é manter os abutres (ÇERRA45 e outros) afastados da Petrobrás e do Pré Sal. 

  3. Todo o problema é que Dilma,

    Todo o problema é que Dilma, está implementando o projeto dos Abutres do PSDB e da Mídia, não adianta fechar os olhos, Dilma, cometeu Estelionato Eleitora, ganhou com um projeto e está aplicando outro. Qual a diferença do ajuste fiscal do PSDB aplicado aqui em São Paulo e o ajuste do governo federal. Nós professores do estado de são Paulo estamos há Três semanas em greve contra o ajuste fiscal do PSBD que cortou um bilhão da educação e decretou reajuste ZERO para todo o funcionalismo. Em compensação, Coração Valente cortou só na área da educação sete bilhões de reais, e segundo ela esse corte não será suficiente, a tesoura chegará 1.2% do PIB. A única diferença entre a politica econômica de Armínio Fraga e Joaquim Levy é a barba, e “nosso ministro” também é Bradesco Prime. Contra fatos não há argumento. Obs. Segue abaixo link de um vídeo mostrando as condições das escolas no Estado mais rico da federação São Paulo.

    http://noticias.band.uol.com.br/cafe-com-jornal/sp/video/15427638/escola-de-sp-tem-mofo-infiltracoes-e-ninho-de-urubu.html

    1. Também…

      Sem nenhuma justificativa ela está tomando esta decisão. Não vejo crise alguma, somente a que o governo criou.

      O problema são os juros altos, num país de demanda interna crescente, e fiscalização insuficiente.

    1. Taca-les pau Wong!

       

      Wong (domingo, 05/04/2015 às 16:47),

      Tenho-me identificado bastante nos seus comentários. Recentemente junto ao post “Lula e Dilma foram moldados em realidades distintas” de sábado, 14/03/2015 às 15:31, aqui no blog de Luis Nassif e com texto oriundo de comentário de Juliano Santos enviado sábado, 14/03/2015 às 12:06, no post “A crise política brasileira: uma novela em seis atos” de sábado, 14/03/2015 às 08:38, também aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele, eu transcrevi o título de comentário seu, enviado sábado, 14/03/2015 às 11:51, lá no post “A crise política brasileira: uma novela em seis atos”. Você dera como título do seu comentário o seguinte: “Apesar do Final Ingênuo (e, Rancoroso), uma Boa Análise”.

      Em meu comentário para Juliano Santos e que foi enviado domingo, 15/03/2015 às 12:12, lá no post “Lula e Dilma foram moldados em realidades distintas” eu considerei que o final do post “A crise política brasileira: uma novela em seis atos” era um tanto bobo. E reforçava minha crítica com o título do seu comentário.

      Aqui neste post “Explicar, como?, de André Singer” de domingo, 05/04/2015 às 12:32, consistindo da transcrição do artigo de André Singer “Explicar, como?” na Folha de S. Paulo, eu também me identifico no seu comentário.

      Na verdade eu me restringiria a criticar André Singer porque quanto aos outros, eu não li manifestações deles recentemente a não ser aquelas que alguns comentaristas fizeram depois de escutar conversa entre quatro paredes, como é o caso que se observa no post “Erros de Dilma, Lula e PT ameaçam projeto político, por Kennedy Alencar” de sexta-feira, 03/04/2015 às 08:37, aqui no blog de Luis Nassif com a transcrição do post de Kennedy Alencar “Ex-presidente já se preocupa em defender legado político” por sugestão de Gilberto Cruvinel. Pelo que diz o Kennedy Alencar, Lula defende o governo em uma versão para o público e ataca na versão para os bastidores.

      Não duvido em incluir Lula e José Dirceu na visão crítica à política econômica do segundo governo da presidenta Dilma Rousseff. Penso que os dois têm uma deficiência na compreensão dos problemas econômicos que dependendo do tipo de assessoria que possuem levam a ter opiniões semelhantes a de André Singer.

      Hoje, domingo, 05/04/2015, eu assisti o programa “Ponto a Ponto” no Band News com Mônica Bergamo e Antonio Lavareda em que eles trouxeram como convidado o cientista político Cláudio Couto para discutirem “A Avaliação do governo Dilma”. Parece que ou o Antonio Lavareda ou o Cláudio Couto teriam referido a alguma manifestação de Lula em que ele expressa o entendimento de que a escolha de Dilma Rousseff fora uma má escolha, ou talvez fora dito que tinha sido a pior escolha.

      Há duas possibilidades. As supostas declarações de Lula são meras futricas. Não tenho tempo para as analisar como tais. Ou pode ser realmente o entendimento dele. Se Lula realmente pensa assim, e faz essa avaliação pelo lado da economia, eu creio que ele está completamente enganado.

      Avalio que a crítica correta seria dizer que a presidenta Dilma Rousseff não tem habilidade política e que a presidenta Dilma Rousseff não tem carisma. A falta de experiência política da presidenta Dilma Rousseff era mais que conhecida. E a falta de carisma da presidenta Dilma Rousseff era tão evidente que na eleição de 2010 eu dizia que o carisma dela seria comparável ao do general/marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott. A história da vida de uma pessoa também compõe o carisma de uma pessoa e nesse sentido a presidenta Dilma Rousseff tem carisma. Como também tinha o general/marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott. Só que o carisma histórico do general/marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott tem mais aceitação no imaginário coletivo da sociedade brasileira do que o da presidenta Dilma Rousseff.

      Eu considero correto fazer esta crítica à presidenta Dilma Rousseff. No entanto só perceber este defeito agora demonstraria apenas falha de percepção de Lula. No meu entendimento, entretanto, Lula escolheu a presidenta Dilma Rousseff exatamente para ter este comportamento gerencial refratário a negociação política. A impressão que eu tenho que Lula cansou de negociar demais e quis colocar na presidência alguém que não tivesse a mesma habilidade que ele para negociar. Avalio que essa carência da presidenta Dilma Rousseff é um defeito na democracia representativa que é essencialmente a arte da negociação.

      É claro que há também o oportunismo político. Quando se critica a presidenta Dilma Rousseff pela dificuldade de negociação, interessaria a Lula passar a ideia que ele faria uma política mais cheia de negociação. Não há dúvida que a alternativa politicamente mais consistente seria a presidenta Dilma Rousseff ter-se alinhado com Eduardo Cunha. Era no entanto uma aliança difícil de ser feita tendo em vista a operação Lava-Jato. Lula se apresentar disposto a negociação é oportuno politicamente porque só há o bônus de se mostrar um negociador político potencial e não há o ônus da negociação prática efetivamente realizada com uma pessoa como o Eduardo Cunha.

      Agora não fazer a negociação e ser batida de forma tão vexatória foi um grande erro. Ora cabia aos políticos do governo terem avaliados que Eduardo Cunha era imbatível. Então a falha teria sido a incapacidade de fazer esta avaliação. É preciso então saber se teve alguém com tirocínio suficiente para mostrar que este caminho era inconsequente. Não houve esta avaliação por incompetência ou porque também por incompetência se imaginava que a vitória era possível e todo mundo queria ser pai da ideia de combater Eduardo Cunha. E há uma terceira possibilidade: o governo jogou para perder. Na verdade do ponto de vista da política econômica a ser adotada e dos louros que só serão colhidos no futuro, eu penso que a posição da presidenta Dilma Rousseff na eleição da presidência da Câmara foi correta. Não foi politicamente democrática mas no longo prazo foi politicamente vantajosa.

      Só que a crítica que se faz a presidenta Dilma Rousseff pela falta de habilidade política é mais de natureza econômica. Mesmo quando a acusam de medíocre o fazem ancorados nos parcos resultados econômicos. O problema dessa crítica à presidenta Dilma Rousseff é a falta de consistência. E o André Singer se comprometeu intelectualmente no texto de forma vergonhosa, pois ele pode ser criticado na inconsistência do próprio exemplo que ele deu para justificar o argumento de crítica à política econômica doa presidenta Dilma Rousseff. Afirma André Singer lá no artigo dele transcrito neste post:

      “Muitos comparam as medidas atuais com o ajuste de Lula em 2003. Ocorre que, apesar do forte aperto orçamentário daquele ano, houve crescimento de 1,15%. Com isso, o desemprego, que já era muito alto (10,5%), ficou praticamente estável (10,9%). Em consequência, o desgaste do governo foi moderado”.

      Vamos supor que agora o desemprego saia de 5,5% e vá para 6,5% (O que significa crescer 18,2%). Quer dizer. 10,9% de desempregado é melhor do que 6,5%. Ou em termos de estabilidade, um crescimento de 3,8%, como ocorreu quando o desemprego saiu de 10,5 para 10,9, é mais estável que o crescimento de 18,2% como ocorreria se o desemprego saísse de 5,5% para 6,5%. Só que é de se perguntar, melhor para quem ou é mais estável para quem? O próprio André Singer dá a resposta, é melhor para o governo, pois em 2003, “o desgaste do governo foi moderado”.

      É claro que a presidenta Dilma Rousseff não faz tudo isso pensando só no bem do Brasil nem creio que ela faça tudo isso pouco se importando para a nível de popularidade do governo. Ela faz tudo pensando que nos três últimos anos da presidência dela o governo vai colher os louros pelo que plantou.

      E a fragilidade da crítica à política econômica da presidenta Dilma Rousseff não é nem essa que se vê nos trechos que eu transcrevi do artigo de André Singer. Não é só porque a crítica à política econômica do governo da presidenta Dilma Rousseff se ampara no pouco dividendo eleitoral que a atual política econômica traz para o governo que se deve considerar esta crítica como tacanha. Ela é mais tacanha ainda é do ponto de vista estritamente econômico. Para os críticos da atual política econômica do governo da presidenta Dilma Rousseff a política de incentivo ao consumo deveria ser mantida independente do fato de que a realidade atual é diferente da realidade de quatro anos atrás. Saber que a presidenta Dilma Rousseff se preparou para gerenciar o país de modo diferente ciente de que as condições de governabilidade e da inserção da economia brasileira no mundo são diferentes e que os críticos do governo são incapazes de enxergar isso dá a presidenta Dilma Rousseff uma superioridade tal diante dos seus críticos que a sensação que eu tenho é que são todos umas crianças.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 05/04/20105

  4. Nunca vi quem fica desempregado feliz por ter perdido o emprego.

    Não tem nenhuma invenção da roda nesse texto do André Singer. Ele cita números de demissões. Coisa que é evidente. Tenho relato fidedigno aqui em casa de que a movimentação para saques de FGTS por desemprego involuntário – demissão – nas agências da CEF aumentou bastante. 

    Desemprego e mesmo dinheiro mais curto não rimam com pessoas felizes com o governo. Outro dia li um artigo que dizia o seguinte: “o problema não são as pessoas que foram para a rua protestar, a questão que deveria dar medo ao governo é a das pessoas que preferiram ficar em casa”. Por que essa seria a questão? Porque se essas pessoas, possivelmente favoráveis ao governo, mesmo que agora envergonhadas, passarem a engrossar protestos, a coisa realmente ficará muito, mas muito feia mesmo para o governo. Um desempregado tem todo um plexo de relações. Irmãos, filhos, marido/esposa, pai, mãe, sogra/sogra, primos, amigos, etc. Um único desempregado arrasta consigo um tropéu de insatisfação. Milhares de desempregados, então, como nos exemplos dados pelo texto de Singer… Nunca vi quem fica desempregado feliz por ter perdido o emprego. Nem seus agregados.

     

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