Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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FALTA UM no reino da mentira, da hipocrisia e da sem-vergonhice, por Francisco Celso Calmon

O desempenho do The Intercept está mostrando que há muito não havia jornalismo comprometido com a verdade no Brasil.

FALTA UM no reino da mentira, da hipocrisia e da sem-vergonhice

por Francisco Celso Calmon

Nesse reino o Bolsonaro trata seus colaboradores, sejam ministros, sejam secretários, como súditos, não importa se fardados ou não, e a corte como os familiares e apaniguados. Sendo um ressentido com o Exército, cujo comando à época o expulsou de suas fileiras, mostra, na forma, um prazer perverso quando exonera um fardado ou alguém que trabalhou no governo Lula ou Dilma.

Dois ministros ele considerava como fundamentais ao seu governo. O Paulo Guedes, por ser representante do capital financeiro (o patrão mercado), e o ex-juiz Sergio Moro, por ser o chefe da “república de Curitiba”, na qual a lava jato era (ou ainda é) o braço político-judicial, e porque contava com expressivo apoio popular.  Ocorre que Guedes não conseguiu sucesso na deforma da Previdência, sobretudo quanto ao núcleo principal que é a capitalização. E o Moro está em processo de desmoralização em decorrência da comprovação do que já era sabido, porém, sem os diálogos acomunados, preciosos e graves que o The Intercept está a revelar. 

Se por um lado, o enfraquecimento dos dois estimula o autoritarismo do miliciano presidente, por outro, enfraquece sobremaneira o seu governo. A queda deles pode ter efeito dominó.

Essas revelações são tão verdadeiras que parte da mídia golpista passou a ser parceira na publicização, assim como insofismável é a descoberta de 39 kg de cocaína no avião de apoio às viagens do presidente.

Como reagiu o governo a essa descoberta pelo polícia espanhola? 

Bolsonaro: “As Forças Armadas têm em seu contingente cerca de 300 mil homens e mulheres formados nos mais íntegros princípios da ética e da moralidade”. 

Em vez de reagir à gravidade do fato, faz a defesa corporativa, num jogo de puro marketing.

 Ao jogar no colo das FFAA, procurou eximir a responsabilidade de seu governo pela sua segurança. E tratou com tanta naturalidade, como se fosse um fato corriqueiro, que nos leva a interrogar: por que 39 e não 40 kg? Traficar 39 quilos quando poderia ser 40, acrescentaria pouco no volume, ou, podemos especular, o 1 kg foi retirado para outro fim?

O Gabinete de Segurança Institucional – GSI – e a Policia Federal têm o dever de desvendar e explicar à sociedade brasileira e internacional.

As FFAA não estão acima do bem e do mal, e nunca estiveram. O setor de intendência dessas Forças sempre foi alvo de suspeição dos militares honestos. Mas não só esse setor tem maculado a farda no quesito corrupção. Durante a ditadura militar os agentes do DOI-CODI fizeram butim dos bens dos prisioneiros e traficaram armas e drogas, como a equipe do famigerado ex-capitão Guimarães. E mais recente foi apreendido um caminhão do Exército traficando três toneladas de maconha.

General Heleno, chefe do GSI, lamenta a falta de sorte. “Podia não ter acontecido, né? Falta de sorte ter acontecido justamente na hora de um evento mundial. Acaba tendo uma repercussão mundial que poderia não ter tido. Foi um fato muito desagradável”.

Em lugar de mostrar indignação, vergonha e preocupação com a gravidade do fato, pois poderia ser um artefato militar (explosivo ou armas), o general apenas lamentou a “falta de sorte”. Novamente se detecta um comportamento de minimizar o ocorrido. 

Esse general, que participou da ditadura militar no gabinete do ministro  do Exército, gal. Silvio Frota, é tão despreparado para o cargo que foi à manifestação da extrema direita em Brasília pregar contra a representação partidária no Congresso e pressionar parlamentares. O chefe do Gabinete Institucional do Executivo atacando o Legislativo, uma Instituição legitimada pela soberania popular através do sufrágio. Esse general não tem nem batalhões e nem votos, apenas verborragia irresponsável. 

O General Mourão, vice-presidente do país, classifica o sargento da aeronáutica de mula qualificada e diz que a droga está em todos os lugares. Qualificada por que, general, como sabe que essa mula tem qualidade, essa distinção? E quais são as mulas não qualificadas que estavam na comitiva? 

O ex-juiz e ainda ministro da Justiça, Sérgio Moro, afirmou que é ínfimo esses casos na Aeronáutica; seguiu na mesma trilha do seu chefe: culpabilizar a Aeronáutica e ao mesmo tempo minorar o fato. Tendo a Polícia Federal alocada em seu ministério, a reação teria que ser necessariamente outra, afinal, como a mula qualificada  passou pelo controle da PF?

A globo mentiu e noticiou insistentemente que o sargento-mula-qualificada está no serviço de apoio presidencial desde 2011, quando na verdade entrou em 2016 nessa equipe e passou a fazer esse serviço de apoio às viagens durante o governo do traidor Temer. A Globo apanha do Bolsonaro e de seus cortesões e ainda o defende; para ela, acima de tudo o golpismo, como na ditadura militar. 

Para coroar de forma ridícula, o ministro da educação, que desconhece o vernáculo, fez uma facécia injuriosa, além de sem graça, chamando os ex-presidentes Lula e Dilma de drogas. Inobstante a injúria, sua pequenez não merece gastarmos fosfato e muito menos dar biombo para ele aparecer.

Tudo nesse reino é revoltante, e, para além, é demasiadamente preocupante. 

Bolsonaro arma os caminhoneiros, os latifundiários e grileiros, numa demonstração explícita de que não confia nas FFAA e nas polícias. Ao liberar as armas, legitima o uso delas pelos milicianos, como ardoroso defensor e incentivador que é das milícias.

Bolsonaro trata seus colabores como súditos e destrata seus antigos superiores de farda, dando o troco pelo que o Exército lhe fez. Além de perturbado mentalmente, ressentido e vingativo, vem desmoralizando as instituições.

O Bolsonaro que declarou ser contra o Mercosul, classificando-a como escória do mundo, volta do Japão capitalizando o acordo Mercosul-União Europeia, para o qual não teve opção senão o de aceitar, se desdiz o tempo todo e mostra o caráter delinquente, do qual o Exército, quando o comando o expulsou, também diagnosticou.

http://www.youtube.com/watch?v=a8CqTPDrDRE

A elite da classe dominante cedeu o poder para o lumpem que a integra, é a camada desprezível, inculta, fundamentalista e sociopata que está com as rédeas no atual estágio do golpismo

Quando a ditadura militar destruiu as liberdades democráticas e a violência passou a ser a sua única linguagem, tivemos que responder com a violência revolucionária, legitimada pelo direito-dever de combater a tirania; nesta conjuntura, na qual as instituições estão mancomunadas no processo golpista de microcefalia da democracia e destruição do Estado de direito, temos legitimidade de incentivar e mobilizar o povo para a desobediência civil, ou há outra forma? 

O desempenho do The Intercept está mostrando que há muito não havia jornalismo comprometido com a verdade no Brasil. O jornalismo nativo passou a ser o do ponto eletrônico, ou seja, repetir o que os patrões mandam falar ou escrever, deixaram de ser jornalistas para serem intérpretes e comediantes.

Toda vez que especulações ou mesmo declarações enviesadas criam expectativa no STF para a liberdade do Lula, criam também uma postura desmobilizante, é preciso que tanto as revelações do The Intercept quanto declarações de ministros do STF sejam animus e anima à mobilizações de ruas, porque mesmo que Celso de Mello e Carmem Lúcia mudem de opinião sobre o Moro  e seus capciosos julgamentos, não significa efeito imediato a libertação do Lula. 

O eixo central da luta contra o Estado policial, mantido pelos militares, milicianos e togas fascistas, deve ser o da mobilização, organização e formação da consciência de rejeição do povo, tendo como vetor a ocupação. Os eixos de refrega no judiciário e no jornalismo são necessários e importantes, mas não podem constituir no eixo central, sob pena de servir à desmobilização, até por fatiga de material. 

Os parlamentares e os governadores eleitos como oposição ao golpismo, que foram às ruas para obter votos, que voltem às ruas para colaborar na mobilização, organização e consciência de rejeição do povo. Devem ultrapassar a posição de irem às manifestações quando convidados, e, afora notas e declarações, serem protagonistas, junto com os movimentos sociais e partidos de oposição, na resistência ao protofascismo. 

Leonel de Moura Brizola deu o exemplo quando governador, garantindo a posse de Jango, e, quando deputado federal e liderança nacional, na articulação para reagir ao golpe de 64.

Quem mandou matar Marielle, cadê Queiroz, quem banca Adélio Bispo?

Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017)

 

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

4 Comentários

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  1. Esse intercept está devendo, onde estão os áudios, os vídeos que dia sem ter a mancheia e acabariam de vez com a tática negacionista dos envolvidos? Onde estão as conversas da pf, dos tribunais superiores, dos políticos? Onde estão as conversas dos dias mais sensíveis, como o dia do HC, que deve ter sido frenético, da condução coercitiva, em que os celulares quase devem ter pegado fogo, o dia da prisão????? Pra mim a tática é tirar o marreco da reta preservando o restante, depois de mais de um mês, vários bate bocas públicos, depois de serem desafiados a apresentarem algo mais substancial, isso não ocorreu…..preferiram se aliar a dejetos jornalísticos, alguns envolvidos nas mesmas conversas que estão revelando…
    Por que não abrem para todos, por que não chamam jornalistas investigativos, por que não chamam o Nassif, de vários xadrezes elucidativos, o Azenha, o pha?
    Cheiro forte de Panamá papers…….

  2. Uma das coisas claríssimas nessa confusão é que quebraram a corrente lá na Espanha. O que falta saber é quem “deu a parada”. A investigação dos espanhóis vai focar nisso, na parte espanhola do esquema. É muito provável que eles saibam que não podem esperar muita coisa de apuraçoes brasileiras…

    Ou seja, vexame pra todo lado.

  3. não será por falta de de uma coleção
    infindavel de vexames que
    deixarão de morrer de vergonha de terem nascido
    com o estigma de direitistas de nascença….

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