Jornadas de junho, por Antonio Lassance

Jornadas de junho
Antonio Lassance.

Os manifestantes das jornadas de junho deste ano eram sobretudo jovens trabalhadores e descrentes da ascensão social . Essa é uma das conclusões da  pesquisa coordenada pelo professor Marcelo Ridenti, da Universidade de Campinas (Unicamp), apresentada em mesa do encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs).
Segundo Ridenti, os manifestantes souberam se expressar nos moldes da sociedade do espetáculo e da cultura da celebridade, disse fazendo referência a Guy Debord (1931-1994) e sua obra, “A Sociedade do Espetáculo” (DEBORD, Guy. La société du spetacle. Paris, Buchet-Chastel, 1967).
O professor destaca a diferença essencial dos protestos ocorridos no Brasil em relação a outros países. Por aqui, são jovens com emprego. A maioria trabalha, são recém-formados e nem sempre encontram, no trabalho, a possibilidade de manter o mesmo padrão de vida familiar ao qual estavam acostumados em suas famílias de classe média. Desconfiam de suas próprias possibilidades de ascensão social pelo estudo.
Uma pesquisa anterior, feita pelo Ibope, trouxe dados similares ao do perfil encontrado pelos pesquisadores da Unicamp. Cerca de 63% dos manifestantes tinham entre 14 a 29 anos, enquanto 18% tinham entre 30 a 29 anos. Cerca de 93% tinham o ensino fundamental completo e nível superior incompleto ou já completo. Em torno de 76% trabalham. A maioria ganha entre 2 a 5 salários mínimos, sendo que 26% estão na faixa de remuneração de 5 a 10 salários mínimos.
É uma contradição da própria melhoria das condições sociais do país na última década. Hoje, conforme lembra Ridenti, existem quase 7 milhões de universitários, o dobro do que era, uma década atrás.
As chances de ascensão, nesse sentido, exigem mais dos jovens de classe média, hoje, do que no passado. Seu futuro é incerto. A única coisa segura é que eles vieram para ficar.

Antonio Lassance é doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília.

Artigo publicado no Blog de Antonio Lassance.

 

Redação

2 Comentários

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  1. Pode ser uma boa notícia esse perfil da classe média atual/futur

    Ótimo se esse perfil projetado para a classe média daqui para a frente (e nao estou falando só de “Classe C”, mas desses jovens oriundos da “Classe B” mas que nao poderao ter o nível de vida de seus pais) levar a reivindicações de natureza universal, que beneficiariam também os outros. Que queiram nao ter que pagar planos de saúde e escolas particulares, e passem a reivindicar melhorias no SUS e na Educaçao. Tomara! 

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