Lucro do BNDES em 2019 se deve à venda de ativos
por Wilson Luiz Müller
No dia da morte de Bebiano, Bolsonaro foi ao Twitter para comemorar uma notícia sobre o lucro recorde do BNDES. O resultado, na verdade, tinha sido divulgado alguns dias antes (11 de março) pelo presidente do banco, Gustavo Montezano.
“Bilhões de dinheiro público que outrora financiavam ditaduras, Foro de SP e OUTROS interesses, hoje tem o destino voltado para o desenvolvimento de todo Brasil. O BNDES registrou lucro líquido recorde de R$ 17,7 bilhões em 2019. Crescimento de 164% em relação a 2018.”, tuitou Bolsonaro.
Antes da equipe presidencial dar o espalhafatoso tuíte, certamente olhou os lucros auferidos pelo banco nos anos anteriores, para concluir que somente seria possível fazer uma comparação vantajosa com os resultados auferidos pelo banco durante a desastrada gestão do golpista Temer.
Outra coisa que o tuíte presidencial escondeu foi o fato da maior parte do lucro ser decorrente de venda de participações societárias. Ao total, essas vendas renderam R$ 16,25 bilhões, com lucro bruto de R$ 11,4 bilhões ao banco. Portanto, descontadas as vendas de ações, o lucro teria sido de apenas R$ 1,45 bilhão. Descontado o lucro bruto decorrente da venda de ações, o lucro das atividades operacionais fica em R$ 6,3 bilhões.
Como o próprio Bolsonaro provocou a comparação de resultados com gestões petistas (referindo-se ao financiamento do Foro de São Paulo, o que é uma mentira), sem no entanto apresentar os números, vamos ajudá-lo com dados concretos para que possa divulgar a verdade completa junto aos seus seguidores.
Em 2013, o BNDES teve lucro líquido de R$ 8,150 bilhões. Esse valor, corrigido pelo índice IGP, até dezembro de 2019 – 41%, daria R$ 11,5 bilhões, sendo a maior parte disso lucro operacional. Em 2014, o lucro líquido foi de R$ 8,59 bilhões. Atualizado, também supera em longe o resultado operacional do lucro de 2019.
Na verdade, o BNDES sempre foi um banco lucrativo. Somente após o golpe para depor a presidente Dilma é que começaram a ser produzidos resultados negativos. As manchetes na mídia da época davam ênfase aos prejuízos. Estava sendo preparado o terreno para que o banco não tivesse mais o papel desenvolvimentista de alavancar a economia nacional.
“BNDES registra prejuízo R$ 2,2 bilhões após 13 anos de lucro – Economia – Estado de Minas – 13 de ago. de 2016 · Banco registra prejuízo de R$ 2,2 bilhões entre janeiro e junho, o primeiro desde 2003”.
Mas a comparação que mais deve incomodar Bolsonaro é o período em que o BNDES esteve sob a gestão do presidente Lula. Diziam as manchetes da época:
“O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) registrou lucro líquido recorde de R$ 9,9 bilhões em 2010, o que corresponde a um aumento de 47,2% em relação ao ano anterior.” […] “BNDES triplica na Era Lula e retoma ação de desenvolvimento” (oglobo.globo.com › economia).
O lucro de R$ 9,9 bilhões de 2010 também teve venda de participações societárias no valor de R$ 2,2 bilhões. O valor do lucro correspondente às atividades operacionais foi de R$ 7,7 bilhões, que corrigido pelo IGP até dezembro de 2019 (69%) corresponde a R$ 13 bilhões.
O lucro do BNDES do último ano do governo Lula é mais que o dobro do lucro operacional, festejado por Bolsonaro, de apenas R$ 6,3 bilhões em 2019.
Outro aspecto importante a ser comparado é o patrimônio líquido. Em dezembro de 2010, esse valor era de R$ 65,9 bilhões. O valor corrigido para dezembro de 2019 é de R$ 111 bilhões.
A última informação divulgada sobre o patrimônio líquido do BNDES é de setembro de 2019, com valor de R$ 100,92 bilhões. Ou seja, o patrimônio líquido do BNDES sob a gestão de Guedes e Bolsonaro diminuiu em mais de R$ 10 bilhões em comparação ao último ano da gestão de Lula.
O que ocorreu com o BNDES é a mesma coisa que ocorreu com a Petrobras, que também anunciou lucro recorde em 2019. O Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo e Gás Natural (Ineep) estudou o balanço da empresa e apontou as principais causas do lucro: 1) a agressiva venda de ativos, resultado da política de desinvestimentos; 2) venda de subsidiárias; 3) o crescimento das exportações de petróleo cru, resultante do aumento de produção nos campos do pré-sal; e, 4) a expansão do fluxo de caixa livre ocasionado pela redução drástica dos investimentos.
É a mesma coisa com as reservas cambiais. Guedes queimou U$ 36,9 bilhões de dólares em 2019 (R$ 165 bilhões de reais pela cotação do dólar em 02/03/20) para quitar o equivalente a 0,4% do valor da dívida interna bruta.
Que o BNDES era um banco lucrativo, sabia-se há tempo. O governo Bolsonaro ficou quase um ano inteiro atacando os funcionários, insinuando a existência de uma caixa preta, gastando R$ 48 milhões dos impostos dos cidadãos, para concluir que não tinha nada de errado nas operações do banco.
O fato de o BNDES continuar produzindo resultados positivos, apesar do esforço destrutivo de Bolsonaro e Guedes, mostra inequivocamente a qualificação técnica dos seus servidores, o que aliás é a regra nas empresas estatais e no serviço público federal.
Bolsonaro não é um presidente. É um fantoche de Trump para manter-nos como quintal dos Estados Unidos em troca do apoio do império do norte ao plano bolsonarista de instaurar uma ditadura no Brasil.
Guedes não é um ministro da economia. É um picareta encarregado pelos financistas para tirar direitos do povo e vender patrimônio público de modo a aumentar o lucro de meia dúzia de bilionários.
Para Bolsonaro e Guedes, governar é atacar os mais vulneráveis para dar aos mais ricos; vender as coisas que os outros produziram como se os donos fossem eles. É uma dupla de parasitas.
Esses dois não enganam mais ninguém. Melhor, eles só enganam quem paga para ser enganado ou para enganar os outros.
Wilson Luiz Müller – Auditor Fiscal da Receita Federal aposentado. Membro do Coletivo Auditores Fiscais pela Democracia (AFD)
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Excelente artigo. Uma brilhante defesa de nosso banco de desenvolvimento e da sua solidez e resistência. Lamento apenas que não venha de alguém do próprio banco.