Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Lula Major do Povo, como na bandinha de Carapeba (Feliz Natal!), por Armando Coelho Neto

'Caravana da Esperança – Lula pelo Brasil' -, lançado no ano passado, é coletivo e foi prefaciado pelo próprio Lula. Entre os textos há um que escrevi e que ora compartilho com o leitor, presente de Natal para o ex-presidente.

Lula Major do Povo, como na bandinha de Carapeba (Feliz Natal!)

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Não sei quantos livros o ex-presidente Lula leu na prisão. Mas, posso dizer, com erro ou acerto: se em poucos dias ministros do STF leram 5 mil páginas no processo do Mensalão e o barnabé do TRF4, Leandro Paulsen, teria lido mais de 250 mil páginas em seis dias, tudo é possível. Lula disse que leu a O Petróleo – Uma história mundial de conquistas, poder e dinheiros, escrito por Daniel Yergin. Também disse ter lido A Elite do Atraso – Da Escravidão à Lava Jato, de Jessé Souza, entre tantos outros mais…

Em tendo lido obras de grande envergadura, um trabalho organizado pela jornalista Cleusa Slaviero, intitulada Caravana da Esperança – Lula pelo Brasil -, lançado no ano passado (Ed. Contactos), perdeu espaço. O livro é coletivo e foi prefaciado pelo próprio Lula. Entre os textos há um que escrevi e que ora compartilho com o leitor, presente de Natal para o ex-presidente.

Lula Major do Povo, como na bandinha de Carapeba

Como assim? A Polícia Federal vai ter que acompanhar Lula o tempo todo? Para estranheza dos petistas, a resposta foi sim. Seria chato, incômodo e acima de tudo iria tirar a privacidade, mas estava previsto em lei. É obrigação da PF fazer a segurança de candidato à presidência da República. Desse modo, querendo ou não, Lula teria que aceitar. Eleições perdidas, ao ter que conviver com a PF no pleito seguinte, alguém da equipe de Lula não vacilou: “manda o pessoal da eleição passada, que foi tranquilo e não encheu o saco”.

Esse comentário é de Ricardo Kotscho, meu ex-mestre na Universidade de São Paulo, quando o convidei para escrever um artigo para o primeiro número da revista do Sindicato dos Delegados da PF/SP. Foi naquela ocasião que ouvi pela primeira vez falar das caravanas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além da conversa, as caravanas foram tema do primeiro e único artigo de Kotscho para a revista…

Até então, as andanças de Lula Brasil afora eram vagas notícias para mim. Desse modo, esse texto é um olhar distante e ao mesmo tempo próximo sobre algo que alguns chamariam de fato, mas que prefiro tratar como fenômeno. Escrevo sobre algo que não vi nem vivi, o que não impede de me provocar emoção. Não sei por que, mas ao me deparar com as primeiras imagens das caravanas do Gênio da Raça, meu coração, menino e pernambucano, impregnado de canções de Luiz Gonzaga, me transportou para a música Carapeba, lançada em 1976, de autoria de Luiz Bandeira e Julinho. (https://www.youtube.com/watch?v=aEcOYFMVrOc)

“… É gente, é vida, é pó. Carapeba por onde

passa, faz som de graça pra se cantar… Bonifácio,

major do povo, velhinho novo a comandar…”

Carapeba seria um provável nome fictício de uma banda popular, que saia por lugarejos afora, levando alegria ao povo do estado das Alagoas. Sempre gostei da canção e não sei explicar bem por que eu a associei às caravanas do ex-presidente Lula. Ao mergulhar nesse imaginário, descobri que Carapeba é um nome que, pela cultura nordestina, significa gente simples, pessoa comum, pobre, sem títulos, cargos ou patentes que o diferencie de seu povo. E a bandinha do Carapeba, que animava carnavais de cidades daquele estado, guardava essa relação de proximidade com as Caravanas de Lula, que no caso, levava esperança.

Movido pelo mágico e o alegre da canção, tentei saber quem foi Bonifácio, o Major do Povo. Descobri ser conterrâneo de Lula, nascido no dia 14 de maio de 1867, em Recife/PE. Foi republicano, abolicionista, engajado com as causas sociais e, por isso, foi eleito cinco vezes pelo voto popular a cargos eletivos, entre eles “intendente” (prefeito de Maceió), para onde migrou. Bonifácio, por sua ligação com as camadas mais humildes, ganhou o apelido de Major do Povo. Foi ele quem criou a bandinha que percorria os lugarejos.

De há muito sei que as caravanas perderam seu romantismo, até mesmo para os mais próximos de Lula. Tão logo eleito, as caravanas se transformaram em comitivas de inaugurações de obras – grande parte delas voltadas para os carapebas, na base do “É gente, é vida, é pó”, com Lula na condição de “Major do Povo”. Hoje, novos sentidos se agregaram às caravanas. Vítima de um kafkiano processo político, as andanças do ex-presidente ganharam inevitáveis ares de defesa política. Hoje, fotos próximas brigam com fotos distantes no jogo de imagens que sugerem sucesso ou fracasso dos eventos. Refrãos como “Lula ladrão roubou meu coração” são mutilados na parte final pelos inimigos.

Dizem que cães que ladram não mordem, mas com flagrante omissão das autoridades de segurança, não tem faltado cães raivosos para apedrejar, promover bloqueios e disparos. O fato é que as caravanas estacionaram na Praça Olga Benário, em Curitiba, e seus integrantes pernoitam no Acampamento Marisa Letícia, aguardando a hora da grande partida. Afinal, enquanto os cães ladram, a Caravana passa. Vai passar. Ainda este ano, em sua despedida de Recife, Lula se declarou “um construtor de sonhos”. Leia-se, “meu sonho é o sonho do carapeba ser realizado”. Eis o combustível para a caravana seguir adiante.

Não à toa, Carapeba por onde passa, enche o povo de graça e de esperança, e Lula Bonifácio, Major do Povo, sem ódio e sem medo de ser feliz, vive a saga e o desafio da canção, com “Pife, pratos, tarol, zabumba, é tumba, tumba e a folia sai…”

Feliz retorno para a Caravana da Esperança, vida longa e sólida recompensada pelo bom, belo e o justo para o Major do Povo. Feliz Natal Presidente Lula!

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

4 Comentários

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  1. Eu não tenho dúvida de que Lula se valeu muito do seu tempo ocioso para ler, fazendo jus a tantos que lhe presentearam com livros, mas também para redução de pena, e para, sem dúvida, adquirir os conhecimentos que não tivera, em concreto, sobre temas relevantes, visando incorporá-los aos seus discursos de agora.
    Nesse encontro último sobre Cultura, leu um discurso muito bem-escrito, resumindo de forma elegante suas ideias, suas queixas com o sistema que o prendeu, impedindo-o de ganhar as eleições, mas também fez referências concretas, e bastante oportunas em favor da Educação e da Cultura do nosso país, hoje em desgraça.
    Ele melhorou, sim.
    Mas, em razão de tanta truculência do Estado contra ele, dos ataques frequentes nas redes sociais que ele, por certo, prefere nem ver, ainda temo por sua integridade física. Há um ódio imenso, explícito, de pessoas afeitas a matar. Isso é fato. E Lula prossegue sendo um perseguido.

    1. Maria Ridrigues! Como sempre compactuo com teu pensamento! Todo cuidado é pouco pois estamos em tempos de trevas! Excelente seu comentário! Um Bom Natal, Maria!

  2. Nosso Brasil necessita de carapebas, de caravanas, de esperança… Como não penar em Cem anos de solidão e o Brasil uma Macondo… Sera que o Brasil vai ter que viver sua destruição para renascer? Espero não chegarmos a tanto.
    Caro delegado, jornalista e escritor Armando Coelho Neto, o senhor estoicamente nos deu muita força para passarmos este ano dificil. Acho que nosso maior combate sera impedir que Sergio Moro seja eleito presidente do Pais nas proximas eleições. Muito mais que os milicianos ou os fascistas do Doria ou Witzel, Moro vai ser a nossa maior luta, pois goza de apoio de imensa parte de sociedade. Esse é o nosso desafio no proximo ano.
    Bom fim de ano, boas festas.

    1. Um pedregulho que temos pela frente! Esse povo que apenas se informa pela mídia convencional, tem que tomar conhecimento de QUEM É MORO! Trabalho de formiguinhas para que antolhos sejam retirados… Um Bom Natal, Maria Luisa que estendo ao senhor Armando Coelho Neto, parabenizanado pelos excelentes artigos que nos tem proporcionado!

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