O Haiti é aqui, por Edson Luiz André de Sousa

O poder do capitão silenciou diante das palavras deste jovem haitiano/ brasileiro que muito nos orgulha.

do Psicanalistas pela Democracia

O Haiti é aqui

por Edson Luiz André de Sousa

“ Haiti, Haiti
Espero para tocar
Minhas mãos se estendem cheias de palavras”
Jean Métellus

A INDIGNAÇÃO tomando a palavra na voz de nosso haitiano brasileiro, negro, sereno e orgulhoso de seu sotaque crioulo/francês. Nossa voz concentrada em sua garganta, como uma espinha de peixe atravessada.

É ele a figura central.

Ele não precisa da pompa do poder com seus carros pretos em comitiva que entram em cena. Ele tem a palavra justa e sabe habitá-la com desenvoltura.

Não está ali para estender a mão, ele aponta o dedo como o menino no clássico de Hans Christian Andersen “A Roupa nova do Rei”, apontando a nudez que todos percebem mas não ousam dize-la.

Nosso haitiano desmontou o coro dos servos que gritam “mito”. Todos se calam quando ele fala. Ele abre a boca. Ele toma a palavra. Ele toma posição. Ele diz. Ele precisa dizer por todos nós. “Acabou”.

E diz também, solidariamente, para os que ao seu lado, apoiam este cenário de horror. Ele também pensa neles. A vida tem sido desprezada, assustadoramente, em um momento em que precisávamos estar juntos para enfrentar esta pandemia, pois estamos no mesmo barco. Se naufragar, afundaremos todos.

Ele encarna uma esperança tentando quebrar o feitiço do mal. Como alguém, no lugar que ocupa, pode colocar tantas pessoas em risco e ainda dizer em alto e bom tom “Se eu me contaminar, o problema é meu”.?

Se as dezenas de pessoas e depois centenas e depois milhares se contaminarem, de quem é o problema? Quem estará lá diante das maquinas de oxigênio, tendo que fazer o impossível diante da falta de recursos e equipamento, colocando as suas vidas em risco e de suas familias. (Lembro aqui da bela exposição de Harum Faroucki que vi ano passado em São Paulo e que tinha como título “Quem é responsável?).

Como se não bastasse, depois da enxurrada de críticas por esta irresponsabilidade, volta a dizer ontem, em alto e bom tom, para o Brasil e o mundo “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar”. Novamente esta fala evidencia que é na saúde dele que pensa. Gripezinha???? Me derrubar?? Esperamos que esta “gripezinha” não chegue aqui matando milhares de pessoas como está acontecendo pelo mundo. O que dirá ele então?

AS PALAVRAS TEM CONSEQUÊNCIA, ainda mais ditas da posição em que ocupa. E seus apoiadores, alguns agora em silencio, estarrecidos com o mal que bate a porta deles também, e sem encontrar uma palavra de bom senso de seu chefe, também são cúmplices. Este capitão é daqueles que no naufrágio vai ser o primeiro a querer saltar do navio para se salvar.

Mas, neste momento, é nosso Haitiano que nos protege e que representa o Brasil diante do mundo. Ele faz calar o capitão que fica paralisado na cena, não acreditando que alguém possa ter ousado confrontá-lo.

Lembrei da China, onde começa a pandemia, e que agora nos sopra ares de esperança. Lembrei daquele anônimo na praça Tiananmen no 4 de junho de 1989 que parou uma coluna de tanques prontos para massacrar um protesto dos estudantes. Dentro do tanque, havia um outro anônimo também. Um soldado que colocou o pé no freio, talvez por ter percebido que diante dele, na praça, estavam os que lutavam por ele também. O freio rompeu a cadeia de contaminação mortífera que o poder, por vezes, engendra.

Está na hora de colocarmos o pé no freio deste tanque de guerra enquanto é tempo. Não é possível que tantos ainda possam apoiar irresponsabilidades como esta. O momento é de cuidado com todos.

Se seu vizinho for negligente o vírus baterá em sua porta. Ele não escolhe posição política. A história, podem ter certeza, vai revisitar todos estes dias e contará as gerações que virão onde estava a vida e onde estava a morte.

O poder do capitão silenciou diante das palavras deste jovem haitiano/ brasileiro que muito nos orgulha. Pensar um novo Brasil depois desta tormenta, estendendo as mãos cheias de palavras é uma esperança. Este verso do poeta haitiano Jean Métellus indica o caminho. Eu “espero para tocar” este tempo. “O Haiti não é aqui”. Mais do que nunca precisamos que o Haiti seja aqui.

Se você não viu a cena que descrevo segue o link.

https://noticias.uol.com.br/…/…/03/17/bolsonaro-haitiano.htm

Redação

2 Comentários

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  1. sou do Haiti pai do filho origen haitiano
    eu tenho coragem para esclarecer as verdades brasil precisar pessoas mais capacitada para seguir no caminho justo ,pessoas corajogos para enfrentar presidentes e senadores,deputados corruptos que afundará o brasil
    parabéns por este jovem Haitiano que ele não esteja perseguido no brasil depois calou este vagabundo que não amar o povo brasileiro que esta abaixo do comando presidente U.E A

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