O PT ou se renova ou se mediocriza de vez, por Leonardo Boff

Não vamos desistir do Brasil!

Não vamos desistir do Brasil! É o que diz a recém reagrupada elite conservadora perante o cenário político atual. Para estes o Brasil está em frangalhos, tudo está perdido e o único culpado é o PT e a esquerda. Nenhuma novidade ai. Essa parcela, que representa aproximadamente 30% da população nacional, sempre pensou isso. Diante da redemocratização, e do sucesso dos governos de esquerda até 2012, os mesmos ficaram calados, sem argumentos, sem poderem mostrar sua verdadeira face. Bastou uma turbulencia causada por desacertos do governo e a maior crise internacioanal desde 1929, para sairem do armário. Eles nunca acreditaram no Brasil, mas se esse é o suprasumo de nossa sociedade, estou pensando em desistir.

Pouco importa se pela primeira vez, apesar de uma crise criada pelo mercado financeiro internacional e a desregulamentação neoliberal, o Brasil sentiu pouco suas consequências (em comparação com outros períodos com crises menores). Assim como poucos mencionam que tanta pressão em cima da presidente começou em seu primeiro governo quando tentou baixar os juros para patamares civilizados. De que adianta argumentar, se o interlocutor bate panela para não lhe escutar?

É disso que se trata a raiva explosiva dos ultimos meses. O campo conservador ficou uma década engolindo a seco o secesso internacional daquele que ela sempre rejeitou como ignorante, perdeu 4 eleições presidenciais consecutívas, viu o Brasil avançar, os mais pobres avançarem, uma pauta progressista nos costumes ganhar terreno, e eles, em estado de choque sem nada poderem fazer. Quando pensaram que conseguiriam acabar com essa sequência, perdem novamente, por 3%. O tamanho das manifestações é proporcional a frustração.

Temos que admitir, os conservadores tem sido extremamente competentes em unificar e mobilizar seu campo. O fato que estão unificados em torno de bandeiras medievais e de ser muito mais facil se mobilizar na oposição sem a responsabilidade de governar, pouco importa. Eles estão se fazendo ouvir. A criação de pseudo movimentos para atrair a juventude despolitizada online, a organização em torno de ONGs empresariais e liberais, o impulso da mídia, são a espinha dorsal desse movimento. Faturam em cima da ignorancia e da despolitização, chamando jovens de classe média alta e ricos a se “politizarem” através de suas bandeiras ultrapassadas do Estado Mínimo e demonização comunista, como se isso fosse uma questão. É desolador que pessoas supostamente educadas, que tiveram todas as oportunidades de estudar e se desenvolver com as melhores condições possíveis, sejam capituladas pelo direitismo rastaquera dos trópicos.

Analisando o discurso adotado, semelhante aos neocons dos EUA e a todos os movimentos oposicionistas na AL, podemos tirar diversas conclusões:

1-      Os movimentos se dizem apoliticos mas TODOS são bancados por partidos de direita ou setores empresariais. (Porque a esquerda não se esforça pra desnudar esse fato?)

2-      Usam a retórica agressiva pois não possuem argumentos sólidos que resistam a um debate real. (Por isso batem panela. Para não escutar o interlocutor. Basta lembrar do primeiro batedor de panela, o Marcello Reis do Revoltados Online. Quando iniciou essa campanha, seu argumento era: “estamos cansados de conversa mole, quando um petista falar, bata panela”. Na prática, anteriormente, quando esses começavam a falar seus impropérios, alguem de bom senso ia la e contra argumentava com dados e fatos, deixando os conservadores sem resposta. De tanto isso acontecer resolveram não querer mais escutar argumentações. Falam e batem panela depois. Pessoalmente, já passei por diversas situações semelhantes.

3-      O que resta de argumentação para esse campo é a corrupção. A retórica hipócrita e moralista usada quando convem. O povo sabe de maneira torta que “todo politico é corrupto”. Isso se materializa no fato de todos para serem eleitos usam os dispositivos do poder para financiar campanhas. Qualquer observador da política nacional (e internacional) sabe disso desde sempre. Não me surpreende nada a Privataria, a corrupção na Petrobras (que vem desde sua fundação) ou qualquer outra em qualquer obra pública de todas as esferas no Brasil e no Mundo. A questão é: Por que isso existe? Porque para se eleger custa dinheiro. Da onde vem o dinheiro? De empresas que realizam as obras, ou serviços ou grupos de interesse. Quer acabar com isso? Temos que acabar com o financiamento privado de campanhas para acabar com a distorção da influência do dinheiro na democracia. Quem votou a favor disso quando teve a oportunidade? O PT e a esquerda. Ou seja, quem é contra a corrupção mesmo?

4-      É um movimento conservador, da elite colonizadora. Isso não tira em nada sua legitimidade, afinal todos têm o direito de protestar e se fazer ouvir. O que é ilegal é a incitação do ódio, a violencia, a calúnia e a difamação. Contra esses crimes só temos uma opção: a lei. Todos que são atacados em sua honra devem identifcar e processar os agressores. Todos que partem para a agressão fisica devem ser presos. Todos que cometem atentados devem ir para a cadeia.

Cruzando dados eleitorais das últimas eleições com a adesão aos protestos de 2013, a adesão dos atos de 2015 (totalmente diferentes de 2013), e renda, tiro as seguintes conclusões:

1-      Os conservadores (em diferentes níveis) são apróximadamente 30% da população do Brasil.

2-      A esquerda (em diferentes níveis) representa aproximadamente 30% da população do Brasil.

3-      40% orbitam de forma apolitica mas pragmática tanto para um lado como para o outro.

4-      O antipetismo está restrito à esses 30%.

5-      O PSDB é rejeitado por aproximadamente 50% da população, vide suas derrotas apesar do PT, da mídia, do dinheiro.

A instabilidade geral que tomou conta do Brasil terá diversos desdobramentos. O PSDB perdeu suas bandeiras com a chegada do PT ao poder. E o PT perdeu as suas bandeiras atuais. Sem sombra de dúvidas as próximas eleições criaram um fato novo. Criou-se um vacuo de poder e de idéias que ninguem ocupa. E a sociedade civil organizada, nada tem de organizada. O campo progressista precisa se reiventar o mais rapido possível para encarar essa nova realidade. Não pode ficar inerte achando que o país é representado por esses lunáticos. 70% do país não pensa dessa forma. Mas também não pode achar que conquistará mentes usando os mesmos mecanismos de sempre. A classe média urbana não vai aderir ao MTST, ou aos movimentos sociais. Um jovem não vai aderir à CUT. A esquerda, assim como essa diretia préhistórica, opera como na guerra fria. As relações de trabalho mudaram, os problemas são outros, os modelos representativos estão ultrapassados. Quem superar essas questões, focando em bandeiras modernizantes que foquem no livre arbítro e respeito comum, com uma retórica apropriada para os novos tempos (incluo ai discurso e simbolismo), com ferramentas de participação que incluam a técnologia, poderá ocupar esse espaço. A esquerda precisa estimular movimentos fora do arco dos movimentos sociais tradicionais e sindicatos, e ajudar a construir partidos progressistas fortes para tentar ultrapassar a longo prazo essa necessidade de alianças fisiológicas. O campo progressista não é e não pode ser só o PT.