As misteriosas estatísticas de investimento da China, por Zhang Jun

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – A precisão do PIB (Produto Interno Bruto) e das taxas de crescimento oficiais da China tem sido temas bastante debatidos após a prisão de Wang Baoan, diretor do Departamento Nacional de Estatísticas do país, o que ampliou as dúvidas sobre a integridade da agência. Contudo, de alguma maneira boa parte das estatísticas oficiais de investimento chinês ficaram de fora do debate.
 
De acordo com dados do Bureau Nacional da China de Estatísticas (NBS), a formação de capital fixo (que representa o aumento líquido em ativos fixos) tem uma média de aproximadamente 46% do PIB nos últimos anos. Isso é muito maior do que a média global de cerca de 22%; mas também é significativamente menor do que a média dos números fornecidos por províncias da China. Em 2012, por exemplo, quase metade das províncias pesquisadas relatou ações do PIB para formação de capital demais do que 60%; seis ultrapassaram o patamar de 80%.
 
“Seria de supor que os números nacionais de formação de capital seriam baseados em relatórios locais – não menos importante porque, até as recentes reformas, a NBS não estava coletando dados de forma independente. Além disso, os números básicos de investimento do NBS – ou seja, o investimento total em ativos fixos, a partir do qual formação de capital fixo é derivado – refletem o total dos valores provinciais”, explica Zhang Jun, professor de economia da Fudan University, em artigo publicado no site Project Syndicate.

 
Segundo o articulista, a NBS se recusou a compartilhar a forma como efetua o cálculo da formação integral de capital fixo, mas sua equipe elaborou os cálculos para avaliar a precisão dos resultados divulgados – de acordo com Jun, os resultados obtidos por eles “não inspiram confiança”.
 
“Desde 2004 mais ou menos, o investimento total em ativos fixos relatado pelo NBS tem sido consistentemente muito maior do que a formação bruta de capital fixo (que representa cerca de 98% da formação de capital total). Em 2013, o investimento total em ativos fixos representaram mais de 76% do PIB da China, enquanto a formação bruta de capital fixo representaram apenas 46%”, explica o articulista. 
 
Tal diferença poderia ser explicada pelo aumento dos preços das terras reais (ajustadas pela inflação). Contudo, de acordo com Jun, “as as compras de terras representaram menos de 15% da taxa de formação de capital fixo oficial da China – ou cerca de 10% do investimento total em ativos fixos – desde 2004. Isso não é o suficiente para ter um impacto tão grande”.
 
Além disso, o economista diz que nem sempre as discrepâncias ficam evidentes. “De fato, os dados mostram que, no nível provincial, a formação de capital fixo é estreitamente alinhada com o investimento total em ativos fixos. E a formação bruta de capital fixo, que foi calculada utilizando os próprios números do NBS e o método explicado em um manual publicamente emitido pela NBS, também está alinhado com investimento total em ativos fixos, tornando-o muito mais elevado do que os números de formação de capital fixo da NBS”, diz Jun. “A menos que o NBS explique publicamente as especificidades de seus métodos de contabilidade e de ajuste, nós podemos nunca saber ao certo as razões para estas discrepâncias”.
 
Como se isso não fosse bastante incerteza, existe a questão do quão preciso são os dados de investimento em ativos fixos. De acordo com Jun, os governos locais tem sido acusados de inflar tais dados, por meio da inclusão de despesas previstas – mesmo que isso ocorra, o economista diz que “isso não explica como o total poderia seguir avançando por mais de uma década”. E não existem razões claras para que os governos locais subitamente começassem a mentir em 2004, uma vez que existia muito incentivo para o fornecimento de valores mais elevados antes desse ano.
 
“Não podemos saber como foram feitos os ajustes para os dados de investimento total em ativos fixos. O que está claro, porém, é que têm ficado mais difícil para avaliar a formação bruta de capital fixo. Para produzir dados mais precisos para a formação de capital fixo, a China vai precisar modificar ou até mesmo abandonar o sistema atual, com base em relatórios do governo local, e adotar um sistema de pesquisa e contabilidade independente para medir o investimento em ativos fixos”, pontua Zhang Jun.
 
 
(tradução livre por Tatiane Correia)
Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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