Capitão América 2 ou o renascimento do bom americanismo

O enredo do filme é previsível como uma HQ e pode ser resumido numa única frase. Em nome do verdadeiro americanismo e liderando uma rebelião militar, o Capitão América salva os EUA de colocar em prática um programa de extermínio antiamericano concebido por nazistas infiltrados no comando do país e em suas Forças Armadas.

 

No início do filme o herói corre com um soldado veterano e pede para ele virar a esquerda várias vezes. Este é justamente o ex-soldado que o ajudará a derrotar o inimigo interno. O símbolo parece poderoso, mas não tem qualquer efeito prático.

 

O americanismo pressupõe a superioridade dos valores norte-americanos, o excepcionalismo dos EUA e a moralidade elevada na condução dos negócios privados e da atividade governamental nos EUA. Pressupõe também o anti-comunismo, que o nacionalismo norte-americano é bom e que os outros nacionalismos são inadmissíveis ou patológicos, que o uso da força é justificado para impor a benéfica vontade de domínio dos EUA no exterior e que o militarismo comandado pela Casa Branca é diferente dos outros militarismos. Em sua versão simplificada, o americanismo sugere que há um conflito entre o bem (representado pelos EUA) e o mau (qualquer país que resista à vontade dos governantes e homens de negócios norte-americanos) e que a diplomacia é sempre uma segunda opção. Não existe um americanismo de esquerda, pois o americanismo é uma ideologia intrinsecamente de direita.

 

Por mais que critiquem seu país, os veteranos norte-americanos são os maiores defensores do americanismo. Eles foram condicionados a acreditar no nacionalismo norte-americano, na virtude da obediência às autoridades e, principalmente, no destino manifesto dos EUA e em sua missão civilizatória. Além disto, eles conhecem história militar dos EUA e sabem muito bem como Douglas MacCarthur dispersou brutalmente uma rebelião de veteranos da primeira guerra mundial nos anos 1930.

 

A rebelião que o filme Capitão América 2 sugere é, portanto, uma impossibilidade político-ideológica. A exploração cinematográfica do tema funciona, mas apenas como uma válvula de escape imaginária para amenizar os recalques que embotaram a consciência coletiva dos norte-americanos e que congelaram suas opções políticas neste momento em que eles se encontram em rota de colisão com os russos e pressionados pelo crescimento assustador do militarismo dentro do próprio país.  Além disto, nos EUA a veiculação estética do americanismo é garantia certa de bilheteria e lucro. No exterior filmes como Capitão América 2 reforçam a imagem embolorada de um país cujas ações reais imperialistas e brutais em nada se parecem com as versões artísticas ideologizadas das mesmas.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O que eles dizem não se escreve:

    “A maior responsabilidade dos super heróis americanos é a paz e o bem-estar da Terra.”

    File:American progress.JPG

    “For this blessed mission to the nations of the world, which are shut out from the life-giving light of truth, has America been chosen; and her high example shall smite unto death the tyranny of kings, hierarchs, and oligarchs, and carry the glad tidings of peace and good will where myriads now endure an existence scarcely more enviable than that of beasts of the field. Who, then, can doubt that our country is destined to be the great nation of futurity?”

    Manifest Destiny (1839) , John O’Sullivan

    1. A estética do super-herói

      A estética do super-herói americano lembra muito a estética nazista do “ubermensch”, cuja superioridade era uma característica explorada a exaustão pelo Ministério da Propaganda de Joseph Goebbels. A queda do III Reich ocorreu porque os nazistas começaram a acreditar na propaganda que faziam. A queda dos EUA está ocorrendo ou ocorrerá porque os norte-americanos acreditam que são tão invencíveis quanto os super-heróis?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador