Pensamentos interventivos sobre o carnaval militar decretado pelo usurpador

 

O usurpador disse que recorreu ao Exército por causa do crime organizado. Todavia, não veremos as tropas invadir a Justiça Federal, o TRF, os Fóruns, o Tribunal de Justiça, o MPF e o MP-RJ para prender os juízes, procuradores e promotores que ganham acima do teto e recebem penduricalhos ilegais. O mais provável, portanto, é que os generais organizem melhor os criminosos que assaltaram o poder em 2016 “com o STF com tudo”.

A missão das Forças Armadas de um país independente é impedir que o país seja invadido. A Embaixada dos EUA fomentou o golpe de 2016. Portanto, há dois anos o Brasil virou um Estado vassalo do império norte-americano. Desde o golpe, a  missão do Ministério da Defesa não é defender nosso país e sim garantir que o mercado controle totalmente o território econômico nacional. Logo, o Exército não foi colocado nas ruas do Rio de Janeiro para garantir nossa soberania e sim para facilitar a entrega do petróleo aos estrangeiros e do dinheiro da previdência aos banqueiros.

Quem fracassou no Rio de Janeiro não foi a Polícia, pois ela só existe como instituição economicamente dependente do tráfico de drogas. Fracassados são o MP/RJ e o TJRJ, cujos membros ganham salários muito acima do teto que obrigam o Estado a atrasar o pagamento dos policiais.

Um Estado bem sucedido emprega seus militares para projetar poder fora das suas fronteiras, pois a guerra é a continuação da política por outros meios. Num Estado fracassado os militares são apenas jagunços usados contra uma parcela da população, pois somente a interdição da política é capaz de consolidar o poder do usurpador.

O US Arm​y invadiu o Afeganistão para garantir o cultivo da papoula e o comércio de ópio. Michel Temer mandou o Exército invadir o Rio de Janeiro para garantir o tráfico de cocaína patrocinado pela CIA e por senadores do PSDB?

Educação, saúde, moradia, dignidade humana e igualdade são direitos constitucionais que foram extra-processualmente revogados pelos juízes brasileiros em 2016. Isso explica porque eles garantirão seus próprios privilégios legitimando o uso do Exército no Rio de Janeiro.

O AI-1 original foi escrito pelos militares. O novo AI-1 não precisou nem mesmo ser escrito pelo clã Marinho. Sua vigência já foi legitimada pela decisão de Rosa Weber ao indeferir o Mandado de Segurança contra o Decreto do usurpador possibilitando a intervenção jornalística-militar no Rio de Janeiro.

Matar, matar, matar, matar… um genocídio será realizado no Brasil. Mas ele ocorrerá sem o disparo de um só tiro canhão. Nos próximos anos milhares de brasileiros pobres morrerão de fome e por falta de assistência médica. Alguns deles definharão hipnotizados diante das TVs acreditando que o Exército nas ruas garantiu a democracia e melhorou a segurança.

Os lucros dos traficantes de drogas cariocas irão aumentar enquanto os soldados estiverem patrulhando as favelas. A dificuldade de abastecer os viciados da orla marinha e do Projac irá provocar um aumento dos preços dos produtos que eles vendem. Além disso, os próprios soldados do Exército terão que se entupir de drogas para vencer o medo de morrer durante uma emboscada organizada pelos soldadinhos das bocas de fumo nas favelas.

A imprensa apoiará a demonstração de fraqueza do usurpador. Os jornalistas sabem que a força da oposição é uma ilusão das lideranças envelhecidas e amolecidas pelos salários suculentos dos cargos parlamentares. Nenhum líder de esquerda se colocará entre o Exército e o povo.  

Milhares de militantes de esquerda estão apavorados. Eles darão a Rede Globo e ao usurpador a única arma que eles podem realmente usar: o medo. É preciso ter coragem de dizer aos soldados brasileiros que eles podem e devem fazer algo diferente daquilo que lhes foi recomendado pelo preposto da Embaixada dos EUA na presidência do Brasil.

A escola de samba Tuiuti lançou uma bomba semiótica de destruição em massa contra o neoliberalismo do usurpador num dia. No outro ele respondeu colocando bloco verde-oliva nas ruas do Rio de Janeiro para interditar o carnaval e garantir a predominância do samba discursivo do Jornal Nacional. O enredo dos soldados nas ruas, contudo, será diferente daquele que eles ouvem em suas próprias casas. Um Exército pode desmanchar em razão do medo. Mas ele nunca conseguirá coesão quando os soldados são obrigados a dançar músicas diferentes.

É um erro obrigar o STF decidir sobre o Decreto que possibilitou a intervenção no Rio de Janeiro. Desde o golpe de 2016 o caso do Brasil não é de de processo judicial e sim de guerra civil. Em algum momento os militares terão que ser forçados a escolher se ficarão ao lado dos ladrões que assaltaram o poder para entregar nosso petróleo aos estrangeiros ou ao lado do povo brasileiro que os norte-americanos querem excluir da vida econômica e política do Brasil.

A cocaína é branca e a pólvora é negra, mas um abismo entre estes dois pós não existe. O tráfico internacional e ilegal de um depende da legalidade da produção e do uso do outro. Os soldados, coitados, cheiram pó negro e/ou branco para dar lucro aos barões que produzem e distribuem uma droga mais poderosa e destrutiva: mentiras.

O US Army projeta seu poder fora das fronteiras dos EUA. O nosso Exército projeta sua impotência nas favelas brasileiras. Vocês entenderam agora a diferença entre um Estado bem sucedido e um Estado fracassado?

A impotência do Exército brasileiro explica também porque o nosso petróleo foi entregue a preço de banana aos estrangeiros. Os generais e soldados brasileiros são imprestáveis, eles servem para oprimir os pobres nas favelas e não para defender o país e suas riquezas minerais.

O general Heleno, ex comandante das tropas do Brasil no Haiti, exige mudanças na legislação para possibilitar o uso de força militar letal contra “ações e intenções hostis”. O Direito Penal civilizado pune, mediante o devido processo legal, “ações” definidas previamente na lei como sendo criminosas. Quem pune “intenções hostis” a critério dos soldados são os tiranos medievais e ditadores retrôs. O juiz deve julgar de acordo com as provas colhidas no processo sob o crivo do contraditório. O soldado mata em razão de presunções que ele mesmo formulou sem consultar ninguém.

Os mandados de busca coletivos na Kasbah em Argel (que tinha características urbanas semelhantes às das favelas cariocas) alimentaram a guerra civil na Argélia e precederam a derrota da França naquele país. O Exército brasileiro não aprendeu essa lição?

Apesar de ter apoiado o golpe de 2016, a Ordem dos Advogados do Brasil informou que vai entrar com uma ação na Justiça contra a expedição de mandados de busca coletivos. Lamachia também é responsável pelos abusos que estão ocorrendo. Portanto, ele faria melhor se renunciasse ao cargo.

Antes de apoiar a ocupação das favelas cariocas as pessoas deveriam saber o significado da expressão: escalada progressiva do uso da força militar na Guerra de Canudos. Cada vez que o Exército enviou uma tropa para atacar o vilarejo o contingente era maior e melhor armado. No último assalto a Canudos, a matadeira (canhão Withworth 32) destruiu totalmente o vilarejo. Os homens sobreviventes (culpados ou não) foram todos degolados. Se perder alguns soldados na favela o Exército montará canhões nas praias do Rio de Janeiro para bombardeá-la indiscriminadamente?

 

 

 

 
Fábio de Oliveira Ribeiro

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