Globo e prêmio por encobrimento jornalístico

A cobertura jornalística da Globo sobre o caso Marielle foi indicada a prêmio de destaque internacional, apesar de suspeitas de que o envolvimento da  Globo com os assassinos seja maior que o mostrado em suas reportagens.

No dia 14 de março de 2018, a Globo iniciou uma série de reportagens sobre A Franquia do Crime, uma facção criminosa gigantesca que apresentava um esquema bastante moderno de implementação do crime organizado, similar a uma franquia. A série incitou uma ação da polícia, fazendo com que, no mesmo dia, 4 policiais fossem presos, acusados de participação em milícias. Horas depois das prisões, Marielle Franco foi assassinada.

https://jornalggn.com.br/noticia/conspiracao-2-a-franquia-do-crime/

Anos antes, em abril de 2005, quando oito agentes do 15º Batalhão de Duque de Caxias foram captados por uma câmera desovando um par de corpos degolados, o flagrante gerou indignação e uma tentativa de moralização da polícia, resultante na imputação de sanções por má conduta sobre mais de 60 PMs, ação que revoltou violentamente um bando de policiais, instigando-os a sair caçando e matando jovens pobres e escuros pela Baixada Fluminense.
Como demonstração de desagrado pelas sanções, 29 deles foram assassinados pelos policiais.

A singularidade do caso citado consistiu apenas no número de execuções. Episódios macabros como esse tendem a ser a regra no estado do RJ, de modo que ao reconhecer a assinatura das execuções policiais na cena do crime, os primeiros policiais a chegarem ao local trataram de dispensar as testemunhas que se apresentavam para descrever o ocorrido.

A ameaça medonha – o assassinato –, talvez permita compreender que a série que iniciava de forma bombástica se diluísse em uns queixumes banais, em seguida. Também é possível que a reportagem tenha constituido uma insubmissão aos cânones da Globo, de acobertar crimes cometidos por policiais e milicianos.

A despeito dos esforços dos zelosos hackers milicianos de abafar a notícia, o assassinato ganhou repercussão mundial, tendo o fato atingido repercussão sem precedentes no gênero – “Marielle Franco” foi, naquele dia, a consulta mais efetuada no google mundia –, de modo que a Globo não pôde deixar de mencioná-lo, iniciando a longa série que resulta até hoje no encobrimento dos ilustres assassinos – a deferência respeitosíssima que a Globo e demais meios de comunicação atribui aos ilustríssimos assassinos, em contraste com o tratamento usual dado a criminosos, é digna de estupefação.

Durante os primeiros dias, quando o assunto fervilhava no mundo inteiro, a cobertura jornalística foi desviada para as fake news relativas ao caso, de modo que a infinidade de notícias incitadas pela comoção mundial versava sobre as difamações caluniosas veiculadas no dia, abafando as virtualmente inexistentes informações sobre o tema real: o assassinato de Marielle.

A lenha na fogueira das difamações permaneceu abafando o caso, que ia assim perdendo o gás, por quase 2 meses, quando a TV Record noticiou que a arma do crime, ao contrário do divulgado anteriormente, havia sido uma submetralhadora utilizada normalmente pelas forças de operações da polícia, e raramente por outros. A notícia lançava suspeita óbvias sobre assassinos como os que são normalmente acobertados pela Globo, que viu-se assim induzida a lançar nova cortina de fumaça sobre o caso.

Em vista disso, 2 dias depois, a Globo inventou uma suposta “testemunha chave” que teria contado uma história sem pé nem cabeça sobre o caso.

https://jornalggn.com.br/direitos-humanos/o-misterio-de-marielle-franco/

A invencionice da “testemunha chave” – que se encontra agora sob a mira da Procuradoria Geral da República que a acusa de ter atrapalhado as investigações, alimentando ainda mais o imbróglio –, pautou as notícias sobre o assassinato por quase todo o ano. Tal cortina de fumaça, inventada e patrocinada pela Globo, foi transpassada uma única vez, e, novamente, por descuido da Globo – louve-se o fato.

Tentarei explicar: embora o maior conglomerado noticioso do país tenha se esforçado diligentemente para encobrir os assassinos, não se pode esquecer que as duas notícias fundamentais sobre o caso foram também veiculadas pela Globo. Refiro-me às denúncias sobre a Franquia do Crime, e outra igualmente bombástica: O Escritório do Crime.

https://jornalggn.com.br/direitos-humanos/quem-esta-protegendo-os-assassinos-de-marielle/

A notícia bombástica teria retumbado em todos os meios de comunicação do país, não houvesse sido tão estranha e eficientemente abafada.

O LONGO SILÊNCIO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DO PAÍS SOBRE O ESCRITÓRIO DO CRIME É TÃO VERGONHOSO QUANTO DESCONCERTANTE.

Foi o próprio O Globo que apresentou o inusitado Escritório do Crime – bando de matadores profissionais altamente treinados formado por policiais da ativa e outros com treinamento policial. Revelando uma intimidade inusitada com os assassinos, a reportagem especificou o preço cobrado pelo serviço: R$ 200 mil, valor que teria sido acrescido, posteriormente, de um ágio, em decorrência da inesperada repercussão do fato.

https://www.scoopnest.com/pt/user/luisnassif/1104096717799129088-conspiracao-1-o-escritorio-do-crime-por-la-hrefptsgustavo-gollogluggustavo-golloluglag

O longo silêncio dos meios de comunicação do país sobre tão escandalosa organização é quase uma confissão do envolvimento de todos eles no conluio. Por que todos eles se calaram por tão longo tempo a respeito de notícia tão contundente?

A macabra associação só acabou se tornando notícia de maneira absurdamente oblíqua, através de um detento acusado do crime, embora encarcerado desde meados do ano anterior ao assassinato. Foi o relato do criminoso condenado por vasta lista de delitos gravíssimos que atribuiu à notícia a fidedignidade que o maior meio de comunicação do país não quis lhe dar. Por que a Globo se calou sobre o Escritório do Crime?

https://jornalggn.com.br/artigos/marielle-a-faccao-das-milicias-e-umas-lembrancas-por-gustavo-gollo/

Uma terceira ação da Globo sugere ainda mais fortemente seu envolvimento com os assassinos. As investigações sobre o assassinato eram efetuadas em sigilo, de modo que os investigadores do caso nada informavam sobre o assunto, sendo todas as especulações sobre o caso, durante o ano de 2018, oriundas de outras fontes, de modo que não se sabia que rumos andavam tomando as investigações, nem quem eram os suspeitos, nada.

Em tal contexto, uma equipe de reportagem da Globo invadiu as dependências policiais adquirindo acesso ao inquérito e às provas, desvendando suspeitos e rumos das investigações – executadas seriamente, as investigações revelariam milhares de componentes da facção das milícias.
Dias após a invasão, uma reportagem da Globo mostrou imagens do delito, entre elas o grosso volume de provas reunidas pelos investigadores. A reportagem não revelou coisa alguma que esclarecesse o crime ou indicasse os suspeitos, concorrendo apenas para jactar-se do acesso às provas ao mostrar a imagem do volume sendo folheado em frente a câmera.

Inusitada e absurdamente, após apresentada, a reportagem foi censurada, sem nenhum propósito, dado que ela nada revelou. A Globo não publicou nenhuma das informações sigilosas obtidas através da ação criminosa de sua equipe de reportagem, sugerindo, de imediato, a pergunta: qual foi o propósito da invasão da dependência policial secreta?

O delegado que investigava o caso só tomou conhecimento do crime cometido pela equipe de reportagem ao ver as imagens de seus arquivos na TV. Se a equipe tivesse como propósito divulgar as informações obtidas, teria feito isso nesse momento, antes que o delegado tivesse tomado conhecimento da infração.

Delitos análogos a esse, cometidos por equipes de reportagem, têm como justificativa óbvia a divulgação de informações. Tivesse sido esse o caso, as informações obtidas, obviamente, teriam vindo à tona, o que não ocorreu. O silêncio da globo sobre as informações obtidas através da invasão das dependências policiais secretas sugere fortemente que a ação teve como objetivo descobrir os alvos da investigação policial e blindá-los – conjectura fortalecida pelo resultado pífio apresentado pelos policiais após um ano de investigações. O magro desfecho das investigações sugere fortemente que a ação da Globo resultou no encobrimento dos assassinos intocáveis.

Como se sabe, um ano de investigações policiais resultaram em nada além da prisão de um suposto assassino – e de seu fiel escudeiro –, descoberto através de denúncia rica e cinematográfica – um vídeo do assassino treinando tiro ao alvo.

Embora a não divulgação das informações obtidas através da invasão e acesso ao inquérito sugiram fortemente o envolvimento da Globo com os assassinos, confirmando suspeitas reiteradas de que a Globo vinha, insistentemente, tentando protegê-los, e que o propósito do delito tenha sido o de mexer pauzinhos e blindar assassinos intocáveis, a emissora deve ter o direito de defesa.

Nesse sentido, a recente indicação da Globo a prêmio consiste na mais adequada oportunidade para negar o compadrio entre a emissora e os assassinos, esclarecendo que tenham sido outros, que não o de proteger os criminosos, os propósitos da invasão policial, explicando porque nenhuma das informações que teriam justificado o delito vieram a público antes da censura de reportagem anteriormente apresentada – cujo único objetivo, aliás, parece ter sido o de justificar o silêncio da emissora.

https://globoplay.globo.com/v/6588046/

A suspeita, aliás, suscita uma lembrança.

Os relatos das dezenas de testemunhas revelaram que 2 carros foram utilizados na execução de Marielle, quando um dos veículos fechou o que era dirigido por Anderson, também morto na ação, obrigando-o a parar junto ao meio-fio da pista, à esquerda, transformando a vítima em alvo fixo para a rajada de tiros. A participação de 2 veículos no assassinato foi amplamente noticiada, tendo havido, inclusive, a interessantíssima contribuição de um perito que percebeu, no vidro do carro de Anderson, o reflexo do brilho do celular do ocupante do banco do passageiro, no carro dos assassinos, revelando serem ao menos 3 os ocupantes do veículo posteriormente esquecido.

A lembrança sugere não só caber à Globo a obrigação de esclarecer o propósito da invasão cujos frutos nunca foram revelados ao público, mas provar que o resultado do delito não tenha sido o de reduzir o número de criminosos a 2, garantindo a invulnerabilidade de assassinos intocáveis.

Fli-fli.

PS: também tenho forte curiosidade por saber o motivo que terá levado a Globo a ocultar da internet o vídeo original da reportagem

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/03/12/causa-da-morte-de-marielle-e-repulsa-de-ronnie-as-causas-da-vereadora-diz-mp.ghtml

trocando-o pelo que vemos agora no site, do Jornal Nacional.

Leia, ao final desse: O caso Marielle para idiotas.

https://jornalggn.com.br/artigos/324195/

Redação

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