A doença de Steve Job – 2

Até onde entendi, no pouco de informação que se tem divulgada, o que Steve Jobs tem não é câncer. Segundo fontes da Forbes [1], a cirurgia inicial só teria se dado 9 meses após o diagnóstico, tempo durante o qual Jobs teria tentado uma abordagem dietética paliativa – se fosse câncer de pâncreas, tal atraso teria sido fatal. Além disso, não existem quaisquer evidências de que Jobs teria feito uma cirurgia de Whipple. Ainda segundo a fonte da Forbes [1], Steve teria afirmado ter um tumor de ilhotas pancreáticas. Efetivamente, o próprio Jobs relatou ter um “tumor neuroendócrino” e noutra ocasião falara em “desequilíbrio hormonal”.

Ora, um tumor neuroendócrino, não em um câncer, e, em certa medida, sequer é um tumor – embora seja, na maior parte das vezes, um quadro grave e de difícil tratamento. Os tumores de ilhotas pancreáticas, usualmente, são minúsculos (de micrométricos a milimétricos) e produzem enormes quantidades de um dos hormônios pancreáticos(insulina, glucacon, somatostatina, peptídeo pancreático), outros tumores neuroendócrinos podem localizar-se no pâncreas e produzir outras substâncias, habitualmente neurotransmissores, desmedidamente.

O que complica a situação é o tamanho diminuto deles, impossibilitando sua localização exata, e um outro fato: nem sempre tais tumores se localizam no pâncreas – podem estar no fígado, intestino ou cadeia nervosa simpática, entre outros. A estratégia terapêutica então, pasmem, consiste em retirar o máximo de pâncreas possível, e rezar para dar certo. No caso de Jobs parece que não deu, o que ensejou sua segunda cirurgia, a saber, um transplante de fígado, em 2009, segundo o Wall Street Journal [2].

O mais provável, dados os novos fatos, é que o tumor também não estava lá. Nesse caso, esgotando-se as possibilidades de remover o tumor, o tratamento que resta é clínico, baseado em dieta e hormônios e os resultados nunca são ideais. Além do mais, tem também as consequências imunológicas do tratamento pós-transplante.

Enfim, se minha análise para em pé,  Steve Jobs tem uma doença grave, mas algo controlável, o que lhe confere uma saúde frágil, demandando acompanhamento médico e ajuste terapêuticos frequentes. A doença pode matá-lo, sim, subitamente, mas não é o curso mais provável. Suas licenças médicas eletivas deverão se repetir muitas vezes nos próximos anos, e a velha batalha entre a imprensa (da marrom à mais branquinha)  contra a privacidade dos célebres deverá apresentar ainda muitos capítulos.

VIDA LONGA A STEVE JOBS!!!

[1] http://www.forbes.com/2009/01/26/steve-jobs-health-tech-enter-cz_rb_0126stevejobs.html

[2] http://online.wsj.com/article/SB10001424052748704029704576088381603850042.html

 

PS: Escrevo emocionado. É meu primeiro comentário no Blog do Nassif, que acompanho avidamente.

Luis Nassif

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