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Redação

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  1. Depois de ter criado Dilma,

    Depois de ter criado Dilma, Lula a destrói

     

    20/06/2015 – 05p5

    Ricardo Noblat

    Nem a oposição foi capaz de produzir um diagnóstico tão devastador do governo da presidente Dilma e da situação do PT do que o ex-presidente Lula, em reunião com religiosos, segundo reportagem de Tatiana Farah e Julianna Granjeia, hoje, em O Globo. Lula não poupou sequer ele mesmo.

    Sua frase “Dilma e eu estamos no volume morto. O PT está abaixo do volume morto”, está destinada a entrar para a História da política recente do país como a mais emblemática do período de 12 anos e seis meses do PT no poder. Como Lula é um bom frasista, não se descarte a possibilidade de ele cometer ainda uma frase melhor.

    A reunião de Lula com religiosos aconteceu anteontem, no Instituto Lula, em São Paulo. Contou também com a presença de Gilberto Carvalho, ex-secretário da presidência da República no primeiro governo Lula. Ligado aos chamados movimentos sociais, foi Gilberto que levou os religiosos ao encontro do ex-presidente.

    Por sinal, a essa altura, depois da prisão dos presidentes das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, as duas maiores do país, e de novas revelações trazidas pelas edições de fim de semana das revistas VEJA e ÉPOCA, é possível que Lula viesse a admitir que não somente o PT está abaixo do “volume morto”, mas ele também.

     

    O desabafo de Lula deve ter sido gravado. O que sugere isso é a citação de tantas frases com começo, meio e fim, além do colorido da fala costumeira de Lula. Ficará difícil para ele desmentir o que lhe foi atribuído. Quanto a Dilma… Só lhe restará o silêncio. E a indignação com o que disse seu criador.

    Um dos momentos mais constrangedores para Dilma no desabafo de Lula é este, quase ao final do encontro do ex-presidente com os religiosos:

    – Tem uma frase da companheira Dilma que é sagrada: “Eu não mexo no direito dos trabalhadores nem que a vaca tussa”. E mexeu. Tem outra frase, Gilberto, que é marcante, que é a frase que diz o seguinte: “Eu não vou fazer ajuste, ajuste é coisa de tucano”. E fez. E os tucanos sabiamente colocaram Dilma falando isso (no programa de TV do partido) e dizendo que ela mente. Era uma coisa muito forte. E fiquei muito preocupado.

    Lula endossou a crítica mais frequente feita pela oposição à Dilma. Reconheceu que ela mexeu no direito dos trabalhadores. E que mentiu ao dizer que não faria ajuste fiscal. Batizou o governo Dilma de “governo de mudos”. E censurou “a companheira” por não viajar para defender seu governo. Injustiça! Dilma tem viajado muito.

    Para ilustrar as dificuldades enfrentadas pelo PT e por ele, Lula citou uma pesquisa de opinião pública aplicado em parte do ABC paulista, justamente onde o PT nasceu.

    – Acabamos de fazer uma pesquisa em Santo André e São Bernardo, e a nossa rejeição chega a 75%. Entreguei a pesquisa para Dilma, em que nós só temos 7% de bom e ótimo — comentou Lula.

    Lula referiu-se a uma recente conversa que teve com Dilma – e ao fazê-lo diante de pouco mais de 30 pessoas, foi, no mínimo, desleal com Dilma. Não se revela conversa com presidente.

    – Eu fiz essa pergunta para Dilma: “Companheira, você lembra qual foi a última notícia boa que demos ao Brasil?”. E ela não lembrava. Como nenhum ministro lembrava. Como eu tinha estado com seis senadores, e eles não lembravam. Como eu tinha estado com 16 deputados federais, e eles não lembravam. Como eu estive com a CUT, e ninguém lembrava.

    Lula deu um tiro de bazuca no governo de sua companheira. Ele a criou. Ele a destrói.

    Lula (Foto: Arte Antonio Lucena )Lula (Foto: Arte Antonio Lucena )

     

  2. corrupção

    Onde está a corrupção no Brasil?

    O Brasil está longe de ser o país mais corrupto do mundo, até porque aqui nunca existiram os “Paraísos Fiscais”, como os existentes ligados aos países ricos como os EUA e Inglaterra, onde os maiores bandidos do mundo, como traficantes, corruptos, mafiosos, etc. vão depositar suas fortunas. Também nunca o Brasil permitiu o uso de contas numeradas de bancos que possibilitariam a lavagem de dinheiro.

    E agora, pela primeira vez, corruptos e corruptores estão indo para a cadeia e seus bens estão sendo confiscados, como na Petrobrás, a maior empresa do país, que está sendo investigada há mais de um ano pela operação Lava Jato. No ranking mundial da Transparência Internacional, o Brasil é o 69º entre 175 países. Não devemos comemorar, mas estamos longe de ser o país mais corrupto.

    Os trabalhadores brasileiros, com certeza, são exemplos de correção e lisura pagando seus impostos na fonte de rendimento. Se cometerem qualquer deslize na declaração do imposto de renda, caem na malha fina da Receita  e estão sujeito a punição. Sem contar que recebem, de forma injusta, toda carga indireta nos preços dos produtos e na contratação de serviços, nos quais os empresários repassam no preço final toda a carga tributária.

    Onde estaria a sonegação e a corrupção no país? A Receita Federal aponta os empresários e banqueiros como os maiores sonegadores de impostos no país,  justamente os poderosos que vivem alardeando, através da mídia, que a carga tributária do Brasil é a maior do mundo, utilizando até mecanismo como o “Impostômetro”, aparelho que mede por minuto o quanto os brasileiros pagam de imposto. Agora descobrimos onde está o filão da corrupção, que envolve os  grandes empresários, inclusive os da área de comunicação, principalmente a Globo, que estão envolvidos em escândalos como Swssleaks, com conta na Suíça, no banco HSBC, para lavagem de dinheiro. E também o Zelotes, onde fiscais da receita corruptos negociam “deságios” nas multas aplicadas a grandes empresas e grandes negócios.

    São aquelas multas, por exemplo, aplicadas pelo Procon, Ministério Público e agências reguladoras por desrespeito ao consumidor ou pelos péssimos serviços prestados,  ou má qualidade dos produtos e serviços? Pois é, essas multas agora descobrimos são para “inglês ver”.

    No padrão Fifa de corrupção, é um absurdo não investigar a Globo que sempre teve o monopólio das transmissões esportivas. Resta saber se nossas instituições vão apurar com rigor esses escândalos, principalmente o Swssleaks, o Zelote e a Fifa, e aí, quem sabe poderemos melhorar no ranking da Transparência Mundial?         

    Emanuel Cancella é coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).

    Rio de Janeiro, 19 de junho de 2015

    http://emanuelcancella.blogspot.com.br/

     

  3. Lula diz a aliados que será

    Lula diz a aliados que será próximo alvo do juiz Moro

    CATIA SEABRA
    BELA MEGALE
    DE SÃO PAULO
    VALDO CRUZ
    ANDRÉIA SADI
    NATUZA NERY
    DE BRASÍLIA

    O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a aliados que a prisão dos presidentes da Odebrecht e da Andrade Guiterrez é uma demonstração de que ele será o próximo alvo da operação Lava Jato. Lula também reclamou nesta sexta-feira (19) do que chamou de inércia da presidente Dilma Rousseff para contenção dos danos causados pela investigação.

    Ainda segundo seus interlocutores, Lula se queixa da atuação do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que teria convencido Dilma a minimizar o impacto político da operação.

    Nas conversas, ele se mostra preocupado pelo fato de não ter foro privilegiado, podendo ser chamado a depor a qualquer momento. Por isso, expressa insatisfação que o caso ainda esteja sob condução do juiz Sérgio Moro.

    Para petistas, os desdobramentos podem afetar o caixa do partido e por em xeque a prestação de contas da campanha da presidente. A detenção de Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo colocou a cúpula do PT em “estado de alerta” e preocupa o Palácio do Planalto pelos efeitos negativos na economia.

    Para assessores do ministro Joaquim Levy (Fazenda), o “ritmo da economia, que já está fraco, ficará mais lento”.

    No entanto, a estratégia adotada pelo partido e pelo governo foi a de afirmar que, dada influência das duas empreiteiras, a investigação atingirá as demais siglas, incluindo o PSDB.

    Nessa linha, um ministro citou o nome da operação “Erga Omnes” (expressão em latim que significa “para todos”) para afirmar que não só o PT será afetado.

    Durante a campanha presidencial de 2014, segundo esses interlocutores do governo, ambos executivos fizeram chegar reservadamente ao Planalto a sua intenção de votar na oposição.

    Nesta sexta, Lula manteve sua agenda: um almoço com o ministro da Educação, Renato Janine, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, além do secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita. Segundo participantes, ele exibia bom humor.

    Apesar do argumento de que outros partidos serão afetados, a tensão é maior entre petistas. Desde o fim de 2014, a informação, que circulava no meio empresarial e político, era de que Marcelo Odebrecht não “cairia sozinho” caso fosse preso.

    A empresa sempre negou ameaças. Entre executivos e políticos, contudo, as supostas ameaças eram vistas como um recado ao PT dada a proximidade entre a Odebrecht e Lula –a empresa patrocinou viagens do ex-presidente ao exterior, para tentar fomentar negócios na África e América Latina.

    Um dos presos é Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht que acompanhava Lula nessas viagens patrocinadas pela empreiteira. Integrantes dizem que “querem pegar Lula”. Lula também se encontrou com executivos da Odebrecht no exterior.

     

  4. Licitação escolherá novos

    The piauí Herald

    Licitação escolherá novos integrantes do consórcio que administra o Brasil

    Licitação escolherá novos integrantes do consórcio que administra o Brasil

    Governo e oposição chegaram a um inédito e misterioso consenso

    CURITIBA É AQUI – Em comunicado oficial, o consórcio que administra o Brasil lamentou a prisão dos presidentes da Odebrecht e Andrade Gutierrez. “Diante de tão expressiva baixa em nossos quadros, não temos mais condições corporativas de manter os níveis chineses de crescimento no DIB, o Desvio Interno Bruto”, diz o texto, que concluiu em tom de desabafo: “A casa caiu. E não temos mais empreiteiras para reconstruí-la”.

    Ciente da urgência de um novo modelo para administrar o país, o Governo Federal anunciou a abertura de uma licitação para a escolha de novos integrantes do Consórcio. “Nunca antes na história desse país os níveis mais altos do organograma de administração haviam ficado vagos”, disse um membro do governo que, apesar da língua presa, pediu para não ser identificado.

    O premiê Eduardo Cunha prometeu aprovar uma Reforma Neolítica para que o clima de normalidade volte a pairar sobre toda a nação. “Apresentaremos uma Proposta de Emenda à Constituição para legalizar o financiamento mútuo público-privado, e vice-versa. Também vamos acabar com essa farra da Polícia Federal, que desequilibra as forças democráticas quando resolve atuar. Pelo nosso projeto, todas as decisões da PF deverão ser submetidas a mim”, explicou.

    No final do dia, Gerald Thomas anunciou de Nova York que sua Companhia de Ópera Seca começou a ensaiar a peça Acorda, Brasil, do dramaturgo Antônio Ermírio de Moraes. “Vamos revisitar esse clássico do teatro do absurdo lançando mão do distanciamento odebrechtniano”, explicou o diretor, mostrando a bunda aos repórteres no final.    

     

     

  5. Após falar três vezes “rola”

    Após falar três vezes “rola” no rádio, Boechat é contratado pelo Porta dos Fundos

      

    O Porta dos Fundos anunciou hoje um reforço de peso para o seu time. O apresentador Ricardo Boechat entrou para o grupo após falar três vezes a palavra rola em seu programa na Band News. O primeiro esquete de Boechat, claro, será Rola 2, sequencia do clássico do grupo.

    Hoje pela manhã Boechat mandou o pastor Silas Malafaia “procurar uma rola”. O pastor havia desafiado o jornalista para um debate, acusando-o de promover o ódio contra evangélicos. Boechat, então, disse que Malafaia é “tomador de dinheiro” e disse que ganha dinheiro com o seu trabalho. Ouça o áudio de Boechat clicando abaixo.

    Não estou conseguindo colocar o vídeo de 3:48

      

     

     

  6. PROJETO: RESPEITO, PELO AMOR DE DEUS
    Rio de Janeiro, 20 de junho de 2015 PROJETO: RESPEITO, PELO AMOR DE DEUS  Caros amigos (as) vivemos num mundo muito complicado e não podemos permitir que o atraso e desunião da intolerância religiosa se espalhe pelo Brasil. Por isso, gostaria de sugerir projeto, RESPEITO, PELO AMOR DE DEUS, onde os chargista do Brasil, falariam do assunto, para que que a paz e o amor reine sempre no Brasil e no mundo inteiro. Essas Charges poderiam formar uma exposição itinerante e também parar na TV, nos intervalos comerciais.  Atenciosamente:
    Cláudio José, um amigo do povo e da paz. 

  7. CRISE ECONÔMICA AQUI E ALHURES: BUSCANDO SAÍDAS

    CRISE ECONÔMICA AQUI E ALHURES: BUSCANDO SAÍDAS

    Joaquim José Guilherme de Aragão

    Laboratório de Infraestruturas da Universidade de Brasília

    A CRISE…

    Na medida em que a grande crise econômica que se iniciou no final da primeira década deste Milênio avança e atinge países que, em um primeiro momento, conseguiram manter a cabeça fora d´água, a procura por uma saída da estagnação passa a envolver intelectuais, governantes, políticos, gestores e empreendedores. Lançam-se mão a diversas contribuições e linhas de pensamento do grande acervo cientifico acumulado em séculos de pesquisa econômica, mas buscam-se também culpados e responsáveis pelo desastre que se aprofunda.

     

    Por outro lado, evidencia-se em muitos portais especializados que a crise econômica se reflete em uma crise de modelos, do próprio pensamento econômico. Já vencido o modelo do socialismo real, também o modelo keynesiano, aplicado tardiamente nos últimos anos no Brasil e em parte da América Latina, não consegue, a despeito dos progressos sociais e da construção incipiente de um mercado de massas, fornecer mais fogo ao crescimento necessário à economia capitalista, que vive da acumulação de capital e, em escala social, desse crescimento.

     

    Do lado monetarista/neoliberal, as “lições de casa” que dominaram nas últimas décadas também não logram desatolar a economia nos países “obedientes”, além de promover a concentração cada vez maior das riquezas e alastrar a insegurança existencial das massas das sociedades de diversos continentes. O caso mexicano é exemplar.

    Entretanto, uma vez que a oposição ideológica e política a essa orientação reconhece sua própria impotência para fornecer contrapropostas, o sistema financista dominante continua a se impor no plano político, restringindo cada vez mais liberdades políticas e econômicas nas nações mergulhadas na crise, e ousando novas aventuras de livre-comércio; essas só consegurão aprofundá-la, a despeito de possíveis miragens de retomada de crescimento, vendidas no mais alto tom pelos meios de comunicação que fazem parte do sistema.

    Dado o domínio político e ideológico mundial insolente que o sistema financeiro edificou nas últimas décadas e dada sua responsabilidade direta na deflagração da crise e no aprofundamento da miséria social subsequente, muitos autores têm dedicado a buscar soluções a partir da crítica a esse domínio, propondo uma regulação mais forte do capital financeiro e medidas decididas de distribuição de renda. Assim sendo, o âmbito financeiro do processo econômico tem sido o foco preferido na maior parte das contribuições que encontraram algum eco na opinião pública mundial.

    Em contrapartida, a busca de saídas pelo lado da economia real, mediante propostas de políticas setoriais e industriais é ainda pouco trabalhada na discussão de políticas de reforma do sistema econômico. Vira-e-mexe, os investimentos em infraestrutura são mencionados como um caminho mais provável de retomada da conjuntura de investimentos e de animação do setor produtivo, tanto aqui quanto na Europa e nos Estados Unidos.

    Insistindo-se no mantra do esgotamento dos recursos fiscais, busca-se então nas concessões e nas parcerias públicas-privadas a chave de abertura da porta da salvação. Evidentemente, os efeitos multiplicadores imediatamente subsequentes a esse tipo de investimento são limitados. Além disso, as possibilidades de o setor privado alavancar, sozinho, tal tipo de investimento, inseguro e de retorno longo, são extremamente limitadas, como demonstram os insucessos de certas licitações, especialmente em projetos nas fronteiras agrícolas. E a permanência do aporte financeiro público nessas parcerias, seja por meio de garantias, contraprestações, seja pelos investimentos públicos prévios ou concomitantes, reascende o fogo do endividamento público.

    Neste texto objetiva-se pincelar algumas pistas alternativas hipotéticas para fins de debate, alternativas essas que podem ser validadas na prática ou em renovado esforço de pesquisa com base em uma nova agenda; ou, corrigidas com aportes adicionais e inovadores, a partir da discussão que se siga.

    SETOR PRODUTIVO: FRAGMENTAÇÕES LOCAIS E ENCADEAMENTOS GLOBAIS

    Toda estratégica de retomada do crescimento pelo lado da política industrial tem de passar pelo reconhecimento das mudanças nelas produzidas no decorrer da fase neoliberal, que hoje se encontra em crise. O Estado do Bem-Estar tinha criado estruturas produtivas, onde o investimento e a provisão públicos e a forte regulação do Estado tinha garantido uma sinergia e um dinamismo que assegurara uma longa onda de crescimento na metade do século passado, mas que se esgotara a partir da década 70, levando à uma situação de estagnação e inflação.

    O desatamento regulatório tanto no setor produtivo quanto no setor financeiro, a derrubada das proteções trabalhistas, os ganhos de produtividade e a expansão compensatória dos mercados globais produziram, então, um novo dinamismo que perdurou novas décadas, até à crise do início deste milênio. Novas tecnologias, inovações na organização da produção e o acirramento do espírito competitivo (tanto entre pessoas, corporações, quanto entre cidades e estados) levaram a enormes transformações não só na produção e no espaço, mas também na própria vida das pessoas. Nessa fase, o setor financeiro passou a comandar fortemente a lógica da organização produtiva, quebrando complexos produtivos e se apropriando de setores antes operados por empresas estatais.

    Uma das características desse processo de liberação é que as sinergias asseguradas pelo planejamento estatal, não apenas econômico, mas também espacial, pela regulação e pela provisão de uma ampla gama de serviços públicos foram rompidas pela apropriação, pelo capital financeiro, do comando de políticas, e até dos investimentos e das finanças públicos.

    Conglomerados industriais assim como sistemas produtivos construídos nos planos nacional, regional e local foram quebrados, dando origem à fragmentação, tanto no processo produtivo, quanto na própria paisagem urbana e regional e até nas relações sociais. Em compensação, os concatenamentos produtivos foram reproduzidos em nível global, sob o comando de fundos internacionais e cadeias globais de valor, abarcando torrões antes esquecidos pelo capital. 

    No plano internacional, aprofundou-se o fosso entre países “avançados” e “atrasados”, a despeito de alguns poucos países antes subdesenvolvidos terem galgados um lugar no sol no novo sistema econômico. Também, aos poucos, o bem-estar nos países industrializados foi se restringindo a camadas cada vez mais estreitas da população, que, em compensação, passaram a saborear um nível de consumo historicamente inédito e sofisticado, logo difundido também nas elites dos países “periféricos”.

    A globalização dos mercados dos bens de produção e de consumo assegurou, por um certo tempo, a necessidade de realização da comercialização. Políticas pontuais de distribuição de renda em alguns países latino-americanos conseguiram uma substancial, mas temporária ampliação do mercado; temporário porque, em uma reedição das políticas de Estado de Bem-Estar, logo se depararam com os limites fiscais e do sistema produtivo interno.

    E eis que chegamos ao final da primeira década do milênio, quando os efeitos dinamizadores se esgotaram, mas o sistema financeiro, preso à própria lógica e aos mecanismos inovadores mas especulativos, continuou a acumulação cada vez mais separada da economia real. Os limites do poder de compra das massas exploradas sem proteção, as desproporções intersetoriais provocadas pela anarquia do mercado liberado, e as clássicas contradições do capitalismo, vividas e reconhecidas ao longo da sua história, produziram novamente seus efeitos.

    O novo dessa crise é que ela é vivida sem que “receitas” e novos “paradigmas” se encontrem nas prateleiras para que um novo ciclo de expansão possa se instalar. Partindo do princípio, independente de que se goste ou não, que os sinos ainda não dobraram para o capitalismo (até porque não surgiu uma alternativa viável de “pós-capitalismo”), e que a crise começa a produzir catástrofes sociais, políticas e ambientais cada vez mais perigosas para o futuro da humanidade, é imperativo que as cabeças responsáveis busquem novas energias econômicas que possam nos afastar do buraco que se alarga rapidamente.

    REUNINDO OS GRAVETOS

    A inovação, a competição, a fragmentação e o encadeamento global são, portanto, fenômenos centrais que moldaram a geografia produtiva ao longo das décadas de domínio neoliberal. De um lado, as empresas sobreviventes foram obrigadas a aumentar sua produtividade interna, mas no plano social, esse ganho de eficiência trouxe consigo um aumento considerável (mas ainda não tematizado, compreendido e muito menos contabilizado) dos custos transacionais, especialmente no plano das nações, das regiões e das cidades. Em parte, esses custos transacionais vêm à superfície sob forma de riscos jurídicos e políticos (portanto, riscos transacionais) e sobretudo de risco de mercado.

    Um campo interessante para estudar esse fenômeno são as infraestruturas, que progressivamente vem sendo assumidas pelo setor privado: na verdade, um número muito pequeno de segmentos apresenta um amadurecimento de mercado suficiente para ser explorado sem subsídios, garantias ou investimentos prévios do governo; e qualquer problema ligado à sua rentabilidade é colocado sobre as costas do governo, isso é, do contribuinte (ver o episódio das autoestradas portuguesas).

    A privatização fragmentada produz, ainda por cima, descontinuidades na rede de infraestruturas, como pode ser visto nas nossas ferrovias. Consideradas como negócio a ser protegido e não como facilidades básicas para um sistema produtivo regional, seu planejamento se desassocia do planejamento territorial e industrial (ver o PIL, recentemente re-editado).

    Tal dissociação dificulta, entretanto, a viabilização das parcerias exatamente onde os investimentos infraestruturais são mais necessitados (no nosso caso, nas fronteiras agrícolas no Centro-Oeste e no MATOPIBA). A subsequente concentração das parcerias e concessões em áreas já densas amplia mais ainda a disparidade regional nos investimentos infraestruturais.

    A SAÍDA PELA REORGANIZAÇÃO DO CAPITAL

    Expostos os problemas, há de se buscarem soluções concretas para uma saída mais imediata da crise, que se torna progressivamente perigosa. Parte-se aqui do princípio que o caminho menos doloroso seria uma reforma que leve em consideração as restrições da realidade política existente. Urge sobretudo unir todas as forças que estão efetivamente compromissadas com a retomada do crescimento.

    Partimos também da hipótese de que a fragmentação produtiva precisa ser revertida, para que novos ganhos de sinergia possam produzir o aumento da produtividade, não mais limitado às empresas, mas sim estendido a sistemas produtivos locais e regionais. Isso implica que negócios correlacionados busquem de alguma forma estreitar sua cooperação, por meio de contratos ou inseridos em complexos produtivos territorializados.

    Tais complexos, que batizamos aqui de empreendimentos de desenvolvimento territorial (EDT), devem procurar agregar negócios relacionados com as cadeias produtivas presentes no respectivo território de atuação. Além disso, devem contribuir pela colocação desses negócios do território nas cadeias globais de valor, da forma mais vantajosa que conseguirem em cada caso.

    Essa restruturação produtiva requererá, evidentemente, uma nova forma de se considerar o Estado, não mais como substituto ou mandachuva do mercado (Estado do Bem-Estar), nem como regulador omisso e efetivamente capturado (estado neoliberal). O estado haverá de ser um ator facilitador e orquestrador dessa recomposição do capital, visando sua criação e viabilização não apenas mediante instrumentos de comando regulatório (leis e decretos), mas também e sobretudo mediante programas territoriais e contratos de novo tipo.

    Os programas territoriais seriam uma ferramenta inovadora no planejamento público, juntando investimentos e políticas públicas, assim como investimentos privados em um pacote conjunto de investimentos que construa, em um território delimitado, uma “máquina de crescimento”, capaz de gerar atrativos de investimento, geração de emprego, mobilização da economia local e suficiente arrecadação fiscal para financiar os empenhos públicos.

    Esse pacote conformar-se-ia às diretrizes de um planejamento territorial, acertado junto à sociedade, mas agregaria as iniciativas públicas e privadas de forma a viabilizar especialmente os grandes investimentos públicos, garantindo a sustentabilidade fiscal. No plano fiscal, o compromisso do equilíbrio fiscal interno do programa e o controle efetivo de tal resultado pelas autoridades fiscais permitiriam um regime especial na gestão fiscal, protegendo os programas territoriais que comprovem permanentemente critérios de sustentabilidade fiscal de eventuais reajustes e cortes orçamentários. Esse regime criaria, portanto, um espaço fiscal novo, impulsionando o crescimento sem provocar desequilíbrios fiscais.

    Já o contrato de novo tipo seria uma concessão por desempenho econômico, onde o Estado, partindo do programa territorial específico e das competências reunidas na empresa de desenvolvimento territorial enquanto consórcio de negócios relacionados, determinaria não diretamente os objetos de investimento e sim os resultados econômicos finalísticos (número de empregos e contratos de fornecimento gerados no território ao longo das cadeias mobilizadas, entre outros objetivos políticos). Parte-se do princípio e da experiência que o setor privado possuiria maior discernimento para a definição concreta dos negócios, investimentos e a tecnologia a serem aplicados em cada caso, e que especificações tecnocráticas detalhadas dos objetos produziriam o risco de falhas regulatórias.

    Isso não implica uma passividade do Estado quanto aos rumos e o caráter do desenvolvimento territorial: legislações ambientais e trabalhistas, assim como o planejamento territorial e o programa territorial (esse especificado no edital de convocação) estabeleceriam os objetivos gerais da operação e as condições e restrições correspondentes aos interesses da sociedade, que deveriam ser atendidas no contrato. Evidentemente também, a elaboração dos programas e dos editais e contratos contariam com a participação da sociedade, mediante as contribuições na rede e audiências públicas.

    Além disso, através do estabelecimento das condições de habilitação do consórcio, onde o Estado definiria o perfil de empresas e, portanto, dos empreendimentos que gostaria de ver implantados no programa territorial, ele poderia dirigir indiretamente a natureza do negócio, sem especificá-lo diretamente e sobretudo sem assumir a responsabilidade por seu resultado econômico e financeiro. Agindo dessa forma, o Estado não estaria comprando a implantação de investimentos determinados, e sim competência de mercado para mobilizar a economia regional.

    Eventualmente, insuficientes condições de rentabilidade do negócio concedido poderão implicar (via de regra, implicarão efetivamente) em necessidade de participação do erário público, sob forma de investimentos prévios e complementares (vias, infraestruturas urbanas, educação, saúde, segurança, habitação etc.), de subsídios fiscais e financeiros, de garantias ou de outros tipos de empenhos financeiros.

    Para evitar o endividamento público descontrolado e a insustentabilidade fiscal, o estado deverá, em contrapartida, exigir do concessionário que se contabilize a arrecadação fiscal resultante ao longo de toda cadeia de fornecimento e distribuição mobilizada pela empresa de desenvolvimento territorial, e que o resultado cubra, em prazo a ser definido, todos os empenhos financeiros resultantes da participação pública. Uma matriz de responsabilidade entre entes públicos e privados delimitaria as responsabilidades e os direitos das partes.

    Surgiria assim, um novo tipo de parceria público-privada, de segunda geração, que ampliaria enormemente os espaços de investimento do setor privado, hoje restritos aos modelos convencionais de concessão e parceria, onde a fragmentação e os riscos inerentes inviabilizam um grande número de oportunidades. Ao mesmo tempo, a parceria de segunda geração, ao impor a condição de sustentabilidade fiscal dos empenhos públicos envolvidos, criaria novos espaços fiscais e aumentaria a eficiência e eficácia do setor público, dos seus investimentos e de suas políticas, objetivamente vinculadas a resultados econômicos e programas territoriais concretos. O ganho de produtividade também alcançaria o setor privado, recuperando em nível territorial as sinergias perdidas em função da fragmentação neoliberal; e reduzindo os custos de transação e logísticos.

    Na medida em que novos espaços de investimento na economia real se abram, o sistema financeiro passa a usufruir de campos de atuação mais firmemente vinculados ao processo produtivo, diminuindo sua dependência da especulação vazia de conteúdo econômico, de acelerações em ponto morto. Esses campos podem ser ampliados com a criação de novos ativos financeiros vinculados a resultados financeiros decorrentes do desenvolvimento territorial, ao crescimento econômico subsequente e aos ganhos de espaço fiscal.

    PARCERIAS NO PLANO GLOBAL

    Essa estratégia de reforma complementa-se por um componente de internacionalização. Assumindo a estruturação de cadeias globais como um fato firmemente implantado na geografia econômica, há de se encarar os desafios por ela colocadas para o desenvolvimento regional. A inserção vantajosa de uma economia regional dependerá da análise concreta das possibilidades, de um plano estratégico de cada região a partir dos respectivos potenciais locais, e do conhecimento e seleção competente dos agentes internacionais que poderão servir de parceiros.

    Evidentemente, essa inserção não é livre de riscos, mas não é construindo espantalhos e evitando o contato com essa realidade que as cadeias deixarão de intervir na economia nacional: elas já o estão, e quanto menos discutirmos as oportunidades estratégicas a explorar, mais subordinados estaremos ao ditado dos atuais agentes dominantes.

    Na medida em que a retomada do crescimento não é de interesse de apenas uma região e de um país, e sim de toda a economia internacional, essa comunidade de interesse tem de produzir novas formas de cooperação entre os mercados nacionais e o mercado global. Parcerias de crescimento entre regiões de diferentes países com potencialidades complementares e necessidade premente de retomada de crescimento, mediadas por esforços de diplomacia subnacional e que resultem em programas territoriais que atravessem fronteiras e até mesmo oceanos, poderão acelerar a retomada no plano internacional.

    Há de se salientar, que historicamente o Norte sempre necessitou do Sul para inaugurar uma nova fase de expansão e sair da estagnação. Se no passado foram as Cruzadas, os Descobrimentos, o Imperialismo novecentista e, no século passado, o comércio desigual, uma nova relação terá de se estabelecer entre os continentes de diferentes níveis de desenvolvimento para findar a crise que se abateu nos países do tradicional centro econômico mundial. Apesar dos mecanismos de domínios que prevaleceram nessas relações e que podem novamente aflorar das parcerias, mister se faz lembrar que, dessa vez, a eliminação da miséria, a reversão dos grandes riscos ambientais e sobretudo a contenção das aventuras bélicas surgem como condições necessárias para que o novo ciclo seja duradouro.

    Deve se ter em mente que as recentes políticas sociais na América do Sul trouxeram consigo um alívio para as exportações do Norte, e que a ampliação dessa breve experiência em escala global, experiência essa fácil de se implantar, poderão ter um papel importante na aceleração da retomada no Norte, além de aliviar os países industrializados dos fluxos de migração de refugiados da miséria e da guerra.

    COMENTÁRIOS FINAIS

    Evidentemente, a implantação das propostas aqui esboçadas não prometem consensos paradisíacos: conflitos de interesse sempre estarão na pauta das relações sociais e internacionais. Assim sendo, um posicionamento firme e assertivo em prol dos interesses regionais e nacionais, lastreado em uma inteligência avançada com relação aos atores e processos de informação, é imprescindível para que países e regiões periféricas consigam se impor em espaços mais vantajosos e reduzir sua dependência e submissão frente a grupos e países dominantes. Por outro lado, os perigos, a desorientação e o desespero social estão impondo com cada vez mais intensidade a busca de soluções, abrindo oportunidades para se alcançar resultados mutuamente vantajosos.

    Gostaríamos de complementar, ainda, que o desenvolvimento dessas propostas não está restrito ao esboço geral das ideias. Diversos componentes dessa estratégia estão sendo detalhados, tais como: a) a noção, a construção e a gestão de programas territoriais; b) modelagens para a avaliação da sustentabilidade fiscal dos programas; c) projetos de lei para a instituição de regimes fiscais privilegiados para programas territoriais fiscalmente sustentáveis; d) modelos de negócios para empresas de desenvolvimento territorial; e) modelos regulatórios para concessões por desempenho econômico; assim como f) o desenho de novos ativos financeiros. 

  8. A Paraisópolis que nem todos amam

    Moradores contam suas histórias, denunciam problemas e criticam novela que, para eles, não retrata a realidade de uma das maiores favelas de São Paulo.

    José Coutinho Júnior, para o Brasil de Fato

     

    Paraisópolis – Branca de Neve passeava calmamente pela rua da Jangada. Seguia de mãos dadas com sua mãe, que guiava um cachorro, deixando para trás os barracos – assim são chamadas as casas pelos próprios moradores –, bares, pessoas e o córrego entupido da parte baixa da favela de Paraisópolis, na capital paulista.

    Assim como a garotinha fantasiada como princesa numa tarde de quarta-feira, a segunda maior favela de São Paulo, com quase 43 mil habitantes segundo o IBGE ou 100 mil, de acordo com a União em Defesa da Moradia (UDMC), parece, aos olhos da sociedade, um conto de fadas graças à novela I Love Paraisópolis (Eu amo Paraisópolis), da Rede Globo.

    A realidade da favela, no entanto, não poderia ser mais distante do que a telinha mostra diariamente. A começar por um elenco que, em sua maioria, tem atores paulistanos e cariocas. O que se contrapõe a uma comunidade com raízes nordestinas, que vieram para São Paulo na esperança de melhorar de vida.

    Outra representação externa à realidade são os problemas criados pelos vilões cartunescos, que desejam acabar com a comunidade por serem simplesmente “do mal”. Porém, o que de fato se passa é um histórico de negligência por parte do poder público e de atuação dos interesses do capital privado. O que resulta na não realização de projetos de urbanização efetivos, além da remoção de pessoas de suas moradias, sem dar-lhes um novo lar efetivamente.

    “Se 100 pessoas aqui gostarem da novela, é muito”, afirma Zé Maria, líder comunitário e um dos membros UDMC. A frase, que parecia exagerada inicialmente, foi se confirmando ao conversar com os moradores.

    Sobre a novela, Teomila, uma moradora e vendedora de comida baiana em Paraisópolis, é curta e grossa. “A novela não fala a verdade. Não tenho muito tempo de assistir, mas todo mundo que chega aqui fala isso”.

    Zé Maria, indignado, diz o que pensa sobre o folhetim. “A gente trabalhou duro pra mostrar para as pessoas que a favela não é um lugar violento, que pode entrar quem quiser. E no primeiro capítulo, tem uma cena em que um taxista tem que pagar pedágio pra traficante pra entrar aqui dentro. Isso não é verdade, mas um monte de taxista ficou com medo de entrar aqui depois disso”.

    O motoqueiro Luiz Cézar, que estava parado na barraca de Teomila pedindo um acarajé, ao ouvir a conversa, completou. “Teve outro capítulo também que deixou muita gente brava. Eles foram falar de briga de galo, e do jeito que mostraram, parece que todo mundo que cria galo na favela é para brigar e é bandido. Muita gente cria galo na favela para preservar a raça. Eu sou nordestino, crio galo e nunca botei nem vou botar nenhum deles pra brigar”.

     

    Moradias e despejos
    A avenida Hebe Carmago, construída em 2012, foi responsável por remover uma parte da comunidade de Paraisópolis. “Aqui onde passa a avenida costumava ser uma área fechada, cheia de gente morando”, diz Zé Maria.

    É no meio da avenida, na passagem para pedestres, que Teomila, mais conhecida como Baiana, abriu sua barraca para vender acarajé. Ela está em São Paulo há mais de 13 anos. Mora na favela da Nova Esperança, formada por moradores que foram expulsos de Paraisópolis.

    No seu caso, ela foi removida da área do Grotão, junto com mais 600 famílias, para a construção de uma escola de música na área que, segundo os moradores, tem um investimento privado de R$ 11 milhões. “Por que não investir esse dinheiro em moradias pra população?”, indaga Zé Maria.

    Baiana já trabalhou em padarias e lanchonetes; ano passado resolveu abrir a barraca de acarajé. Tem dois filhos, que leva de manhã para a creche, depois prepara as comidas que vende e, às 15 horas, abre a venda, voltando para sua casa apenas às 21h.

    Sobre a situação de vida dos moradores da Nova Esperança, Baiana diz que está longe de ser coisa de novela. “O esgoto está a céu aberto. Quando chove, a água sobe e vem pra dentro do barraco. Tem muitos casos de dengue, leptospirose, ratos por todos os lados e gatos com infecções. Um dia desses, um garoto foi arranhado por um gato e apareceu um caroço no pescoço dele. Ele teve que ir pro hospital”, conta.

    Baiana gasta pelo menos R$ 90 por mês só com veneno para ratos. Seu barraco é no andar de cima de um outro barraco, conectado a um terceiro por meio de uma cozinha e banheiro comunitários. “Mas não tem problema ser comunitário, todo mundo trabalha e volta pra casa só à noite”.

    Os moradores da Nova Esperança perdem tudo quando chove e seus barracos alagam. “Tem um vizinho meu que está com um colchão fedido, que molhou na última enchente. Não tem como colocar do lado de fora porque os cachorros, gatos e ratos iam acabar com ele. E do lado de dentro da casa não seca. Quando você entra, o cheiro é insuportável”, relata. 

    Coração de Paraisópolis
    A UDMC e os moradores de Paraisópolis acreditam que é preciso urbanizar a área para garantir melhores condições de vida à comunidade. Por isso, questionam o tipo de urbanização feita até hoje. “Precisamos de projetos de urbanização que melhorem a vida das pessoas. O que acontece é a remoção de moradores, que passam a viver com o auxílio aluguel (cerca de R$ 400,00 por mês) e não se criam habitações dignas”, afirma Zé Maria, líder comunitário.

     

     

    Basta olhar para cima para entender o porquê de não se construir moradias populares em Paraisópolis. Vizinha do Morumbi, a favela está cercada pela especulação imobiliária. Os moradores denunciam que muitas áreas que seriam destinadas para moradias populares acabaram se tornando prédios e condomínios de luxo. As áreas de Paraisópolis que foram urbanizadas, segundo Zé Maria, sempre tiveram um interesse econômico por trás. “Depois que urbanizaram algumas áreas, entraram lojas da Casas Bahia e alguns supermercados, o que acabou com muitos comerciantes locais”.

    Para o professor de caratê Francisco de Assis Diniz, “a urbanização seria boa se fosse feita no total e pensando na comunidade. Tinham que pegar prioridades e resolver o problema. Urbanizar não é só moradia: é saúde, educação e cultura também”.

    Uma destas prioridades é o córrego do Antonico. Ele passa pelo menos por metade da favela, e, há anos, é uma fonte recorrente de problemas. É no Antonico que o esgoto da Sabesp (empresa de tratamento e distribuição de água de São Paulo) de toda a comunidade é despejado ali, além de entulhos fruto de despejos. Ainda há barracos construídos em áreas de risco, em cima do córrego.

    Tudo isso entupiu o Antonico e, por causa disso, alagamentos são constantes. “A última chuva que teve, no começo do mês, durou 15 minutos, mas alagou um monte de barraco, e a água chegou ao nível do peito”, diz Zé Maria.

    Muitos moradores criaram muros ou escadas, elevando o nível das portas dos barracos, para tentar evitar os alagamentos. Mas nem isso é o suficiente. “Nesse dia da enchente, a minha mãe tinha acabado de fazer as compras do mês. Perdemos tudo. A água também entra no barraco pela privada e encanamentos, não tem o que fazer”, lamenta a moradora Elcilene.

    Para Francisco, outro morador, não é de interesse do poder público resolver a situação do córrego. “Falta boa vontade. Os engenheiros já vieram aqui e sabem dos problemas, mas nada nunca foi feito”. O professor pernambucano, que dá aulas gratuitas para 50 crianças e se orgulha de ter formado 15 faixas pretas ao longo dos anos, conta que canalizou e asfaltou a rua em que vive por conta própria.

    “Nessa rua corria esgoto 24 horas por dia, só lama. Os meus alunos chegavam nas aulas com os quimonos sujos. Como a prefeitura nunca fez nada, comprei canos e asfaltei a rua com o tempo. O Antonico é o coração de Paraisópolis, e ele está morrendo”.

    Uma das áreas de risco do córrego Antonico é chamada de Caixa Baixa. Para chegar nela, é preciso passar por diversas vielas e pontes improvisadas com tábuas de madeira. A viela Mário Covas é “pavimentada” com entulhos de móveis e barracos já destruídos por alagamentos na chuva.

    A água corre ao lado dos entulhos, e o cheiro do esgoto contamina a viela. É difícil andar pelos corredores estreitos sem enroscar a roupa em algum prego. Na Caixa Baixa, os barracos são do tamanho de um quarto, cerca de 2×3 metros cada.

     

    Cotidiano
    Flávia Félix da Silva é pernambucana e veio para São Paulo ainda criança. “Se amigou” com um homem da comunidade, e hoje mora em um barraco dele na viela Mário Covas, com sua filha de um ano. Está grávida de outra filha.

    Flávia trabalha como faxineira e recebe o Bolsa Família para complementar sua renda. O barraco é do marido. O pequeno quarto é lugar para uma cama de casal, uma estante onde fica um microondas e uma TV, um armário com roupas empilhadas, fogão e banheiro, com chuveiro e privada. Uma pequena banheira verde, para dar banho no bebê, está ao lado do fogão.

    Todos os dias Flávia cuida da filha pela manhã, às vezes deixa ela com o marido, limpa seu barraco e vai trabalhar.

    “É horrível morar aqui. Quando chove alaga tudo. Perdi minha geladeira na última chuva. Levo as minhas roupas para a minha sogra lavar. A prefeitura nunca tomou nenhuma atitude, vieram aqui, fizeram um cadastro e até agora ‘névis’”.

    A paulistana Soraia, de 33 anos, é moradora da Caixa Baixa há dois anos. Mudou-se para Paraisópolis depois de se divorciar do seu marido. Para chegar no seu barraco é preciso subir uma escada íngreme de madeira. “Cuidado com essa escada, ela já derrubou muita gente!”

    O barraco onde Soraia mora tem praticamente o mesmo tamanho do de Flávia. Ele pertencia a uma amiga. Soraia morava logo abaixo, mas a sua casa foi atacado por ratos, que comeram seus móveis. Hoje, ela não tem geladeira ou fogão, e procura alguém que possa doar os eletrodomésticos para ela. “Desculpem a bagunça, não tive tempo de arrumar nada ainda. Querem um suco?”, oferece. 

    Ao lado da porta há o banheiro, que não tem água. “Não tem encanamento aqui, então preciso pegar água lá embaixo e trazer pra cá”. No canto esquerdo há um tanque de lavar e uma TV antiga, que não funciona direito.

    Em frente à janela, pela qual entra um sol forte e esquenta o barraco todo, há uma máquina de lavar, algumas tábuas de madeira e nove garrafas de refrigerante com água potável.

    No fundo, fica a cama onde Soraia e os filhos, um menino e uma menina, dormem, e um armário com roupas. Ela cuida sozinha das crianças. Penduradas na parede, algumas toalhas e cobertas, e um cabide com a mochila de uma das crianças. “Viver aqui só por Jesus mesmo”.

    Ela faz bicos, como trabalhar de faxineira ou lavar roupas, quando surge a oportunidade. Nem sempre o dinheiro é suficiente para passar o mês, “mas a gente faz o possível, né”. As crianças vão sozinhas para a escola, porque a mãe não tem tempo para levá-las.

    O maior medo de Soraia é se o barraco pegar fogo. “Não tem como sair daqui. Já deixo a chave na porta, porque se começar um incêndio, tenho que sair correndo”.

    E a novela, Soraia? “Tá tendo muita mentira com essa novela, Paraisópolis não é assim. Devia passar a realidade, o dia a dia. Tá difícil pobre viver, imagina ainda mais achar alguém rico pra viver um romance”. 

  9. Mais valia

    Do Diário de Notícias de Lisboa

    Hum, a Grécia ainda há de dar umas mais-valias

    por FERREIRA FERNANDES   Hoje

    Alguns dizem que é só lenda, mas se julgam que isso me vai estragar uma crónica estão enganados. Então, vou contar-vos a grande batalha de Londres – há exatamente 200 anos, 20 de junho de 1815. Pouco evocada, porque ofuscada pela vizinha data de 18 de junho de 1815, a batalha de Waterloo.

    Venham até à Capel Court, entrem na Bolsa de Londres e olhem para aquele indivíduo impassível, como sempre, e como sempre encostado à que já era conhecida por “coluna do Rothschild”. Nathan Mayer Rothschild sente os olhos de todos tentando adivinhar-lhe as intenções e já ouviu o sussurro que lhe dedicam: “Ele sabe…” Nesse 20 de junho, os agentes do banqueiro estavam a vender as ações à pressa. Ele era um banqueiro nato, porque nasceu Rothschild e em Frankfurt (nisto de dinheiro não há coincidências, hoje sede do Banco Central Europeu). A família tinha uma noção diferente de Napoleão para conquistar a Europa – não, não seria pela infantaria nem pela artilharia – e mandara Nathan para Inglaterra, para constituir o ramo britânico dos banqueiros Rothschilds. Ele deu-se bem, sobretudo quando, embora sem comandar soldados, começou a investir na guerra: apoiou o rearmamento da Prússia e investiu nas campanhas do inglês Wellington em Portugal e Espanha.

    Em 1810, Nathan Rothschild já tinha cunhado uma frase: “Comprar com o som dos canhões, vender com o som das trombetas”, que influencia ainda hoje as bolsas mundiais. A interpretação é linear. Com a guerra, as massas medrosas vendem ao desbarato, é altura de os especialistas comprarem; com a vitória, os pobres diabos põem-se eufóricos, é altura de lhes vender caro. A bolsa é a capoeira livre, onde as raposas livres podem depenar as galinhas livres… Mas naquele 20 de junho de 1815, a London Stock Exchange, a Bolsa londrina, ainda não sabia se poderia usar aquela frase. Afinal, aquela tática de investimento era para ser usada em sociedades vencedoras – num país derrotado não há massas eufóricas nem investidores ousados e otimistas. Naquela manhã, ainda não se sabia qual o destino de Napoleão e, se ele fosse vencedor, com as trombetas das tropas francesas por Londres fora, as ações dos têxteis de Manchester e das companhias do império britânico não valeriam um penny.

    Nathan Rothschild estava, pois, encostado à sua coluna habitual. Apesar da sua fleuma, o trabalho intenso dos seus agentes, “vendemos”, “vendemos”, começou a criar a convicção geral. A seguir à suspeita, “ele sabe”, seguiu-se a certeza: Wellington tinha perdido, Napoleão tinha ganho! A derrota espalhou-se tão mais rapidamente quanto ela confirmava o que Londres já sabia duma batalha precedente: a 16 de junho, em Quatre Bras, entre Charleroi e Bruxelas, já o marechal Ney tinha derrotado um corpo do exército do duque de Wellington. Agora, se Rothschild se punha a vender ações ao desbarato, era porque ele sabia…

    E sabia. Logo que ao tombar da noite de 18 de junho Napoleão viu chegar não o apoio do seu marechal Grouchy, mas o ataque do marechal prussiano Blücher, a sorte de Waterloo estava decidida. Um enviado de Rothschild correu para Ostende, atravessou o estreito de Dover. Chegado a Inglaterra, mandou um pombo-correio para o patrão. Não havia um só jornalista em Waterloo, mas quando Nathan Rothschild entrou na bolsa, a 20 de junho, já sabia o que ninguém mais em Londres sabia. Os seus agentes atiraram-se a vender as ações e os outros brokers precipitaram-se no mesmo. Mas quando as ações caíram nas ruas da amargura, o banqueiro comprou-as com sofreguidão.

    Entretanto, o duque de Wellington regressou a Bruxelas, a 19. Foi para casa da sua amante Lady Frances Webster repousar e só à tarde concluiu o relatório para o ministro da Guerra, Lord Bathurst. Entregou-o a um oficial, juntamente com dois estandartes das águias napoleónicas conquistadas. O oficial só chegou a Londres com a novidade da vitória no dia 21. Depois de a vitória inglesa tornar-se oficial, o banqueiro Nathan Rothschild pôde praticar a parte adequada da sua frase: “(…) vender com o som das trombetas.”

    Houve muitas versões sobre como viajou a notícia do acontecimento que mudou a Europa. Diz-se também que houve sinais de luzes: “Wellington defeated [o que pode ser “derrotou” ou “derrotado”] Napoleon at Waterloo”, o que, com o nevoeiro a interromper a notícia nas duas primeiras palavras, causou confusão… Mas a história de Nathan Rothschild encanta-me. Até pelo que ela sugere para a atualidade. Agora, 200 anos exatissimamente depois, que a Europa está à beira dum acontecimento que a pode acabar, será que há alguém encostado a uma coluna, matutando no lucro que lhe pode trazer a Grécia?

     

  10. Creche municipal em São Paulo tem ioga e massagem para crianças

     

    Notícia é de 2013 mas é bem interessante

    Creche municipal tem ioga e massagem para crianças na zona norte de SP

    Marcelle Souza
    Do UOL, em São Paulo

    09/05/201306h00

     

    http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/05/09/creche-municipal-de-ioga-e-massagem-na-zona-norte-de-sao-paulo.htm

     

    Ao som de mantras, a professora fecha as cortinas e reduz a iluminação dentro da sala. No chão, eles relaxam em colchonetes dispostos um ao lado do outro. Poderia ser uma aula de ioga em qualquer estúdio especializado, mas os alunos têm cerca de 3 anos e a prática acontece em uma creche conveniada à rede municipal de ensino de São Paulo.

     

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    Creche municipal de SP tem aula de ioga e massagem para bebês20 fotos

    8 / 20Alunos do CEI (Centro de Educação Infantil) Lar de Crianças Ananda Marga fazem massagem nos colegas durante a aula de ioga. A prática faz parte de uma série de atividades que buscam desenvolver aspectos físicos e emocionais. A creche fica no Jardim Peri, zona norte de São Paulo, e atende 111 crianças de zero a 3 anos Leonardo Soares/UOL

    O CEI (Centro de Educação Infantil) Lar de Crianças Ananda Marga, administrado pela ONG Amurt-Amurtel, está localizada no Jardim Peri, zona norte de SP, em uma área cercada por favelas. “Vemos muitos casos de violência doméstica e de pais que estão presos, então a creche precisa ser um espaço de acolhimento para essas crianças”, afirma a diretora Silvia Helena de Oliveira.

    Para se adaptar aos pequenos iogues, as duas professoras contam histórias para ensinar as posturas para a turma de oito alunos.  A aula começa com um “passeio na nuvem”, em seguida, o grupo faz a saudação ao sol (uma das sequencias mais conhecidas da ioga), passa para uma série de posturas e, então, fecha os olhos para o relaxamento.

    Em uma das últimas etapas da aula, as crianças fazem massagens no rosto, nos braços e nos pés dos colegas. A prática, realizada uma vez por semana em cada turma, é utilizada para desenvolver a parte física e emocional dos alunos.

    “O objetivo é estimular a criatividade, a autoestima, o desenvolvimento do caráter dessas crianças”, explica Didi Ananda Jaya, coordenadora de projetos da Amurt-Amurtel em São Paulo. A ONG adota a filosofia neo-humanista, que, segundo a instituição, busca a transformação do indivíduo em um ser mais saudável, solidário, ativo, compassivo e consciente do seu papel na sociedade.

    A hora do toque

    Enquanto os mais velhos praticam ioga, o berçário é preparado para a shantala, uma massagem indiana para bebês. A iluminação é reduzida e as professoras ficam em silêncio: a aula será apenas pelo toque, e a sala é invadida pelo cheiro do óleo de essência lavanda.

    O bebê deita sobre as pernas da professora, que tira a sua roupa e começa a massagem. No início agitado, ele vai aos poucos relaxando e sente o toque nos braços, em cada um dos dedos das mãos, nas pernas, nos pés, nas costas… E então começa a dormir.

    Todas as crianças do berçário recebem a massagem uma vez por semana. A ideia, dizem os professores, é fazer com que se sintam acolhidos na sala de aula e tenham um momento de carinho no ambiente em que ficam durante boa parte do dia. A técnica também é ensinada para as mães.

    “Até os 3 anos, eles estão começando a viver a sua personalidade, as relações interpessoais, as relações familiares, então é importante que encontrem acolhimento no ambiente escolar para brincar, cantar, correr, pular e para todos os tipos de expressão”, afirma a professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da USP, Maria Letícia Nascimento.

    Boas-vindas

    No início de cada aula, eles se reúnem para o “círculo do amor”, um momento “zen” de boas-vindas antes do café da manhã. Eles cantam, batem palmas, fazem saudações ao sol, à natureza e agradecem pela presença dos colegas. Nas paredes da sala, estão desenhos, fotos e atividades sobre família, a casa e o bairro em que os alunos moram.

    A unidade atende 111 crianças com até 3 anos e 11 meses, que ficam na creche em período integral. São, em média, 45 vagas abertas por ano na unidade e é a prefeitura quem faz distribuição delas.

    “O ideal seria que em todas as creches as crianças tivessem a oportunidade de se expressar, de falar da família, da sua casa e do que fez no final de semana”, diz a professora da USP, que é especialista em educação infantil.

    Além das práticas, a alimentação no CEI Ananda Marga é vegetariana, repleta de frutas e verduras, e feita sob a orientação de um nutricionista da ONG e outro profissional da Prefeitura de São Paulo.

    Outras três creches administradas pela ONG pertencem à rede municipal de ensino e adotam a mesma linha pedagógica. Elas funcionam na zona norte e na zona sul de São Paulo.

    Em abril deste ano, cerca de 110 mil crianças esperavam por uma vaga em creches da cidade.

     

     

    09/05/201306h00

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