O investimento da Eletrosul em energia solar

A criação de uma indústria nacional de energia eólica e solar teria um grande e benéfico impacto na economia brasileira, porque bilhões de dólares de investimentos ficariam aqui, ao contrário do que acontecerá se forem direcionados para a energia nuclear.

O jornal Gazeta do Povo publicou no domingo uma interessante matéria sobre energia solar.

Da Gazeta do Povo

Estatal investe em energia solar

Eletrosul se torna ponta de lança do governo no projeto para aumentar a participação da energia solar no total produzido pelo país

O Brasil tem condições de brilhar no campo das energias alternativas. Mesmo com uma matriz predominantemente limpa e renovável – mais de 70% da eletricidade é gerada em usinas hidrelétricas –, o país começa a dar os primeiros passos para fazer do vento e da luz do sol fontes viáveis de produção de energia.

O plano do governo federal é aumentar o peso desse tipo de geração, hoje com participação insignificante, abaixo de 1%, para 10% nos próximos 15 anos. Isso envolve a criação de um sistema empresarial de energia limpa, com o desenvolvimento de uma indústria com tecnologia nacional no setor de geração solar – processo semelhante ao que ajudou a tornar a geração eólica comercialmente viável no país.asprecAs pré-condições para o desenvolvimento da energia solar aqui já existem, com matéria prima disponível o ano todo, o que confere ao Brasil um potencial de aproveitamento energético superior ao da Alemanha, nação que lidera a tecnologia de geração fotovoltaica.

Os primeiros projetos na área devem começar a sair do papel nos próximos meses, com a licitação internacional do projeto Megawatt Solar para a criação da primeira usina de 1 megawatt na sede da Eletrosul, em Floria-nópolis, prevista para entrar em operação até o fim deste ano. Outros projetos preveem a cobertura dos estádios do Mineirão, em Belo Horizonte, e de Pituaçu, em Salvador, com painéis solares.

Esses projetos-piloto devem servir de “vitrine”, viabilizando o mercado de energia verde. A Eletrosul, por exemplo, pretende estimular a venda da eletricidade no mercado livre para médios e grandes consumidores, que terão como contrapartida a possibilidade de usar um “selo solar”, indicando a sustentabilidade no processo de fabricação dos produtos.

“Depois do acidente nuclear de Fukushima, no Japão, fica cada vez mais claro que esse é um processo que tem de ser iniciado. Nós resolvemos ser os pioneiros nessa área”, afirma o presidente da subsidiária estatal, Eurides Mescolotto. Segundo ele, o país tem potencial para aproveitar a geração solar e eólica como sistemas complementares à geração hidrelétrica, podendo criar uma matriz elétrica “100% limpa e renovável”.

Segundo o presidente do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (Ideal), Mauro Passos, a meta é criar no Brasil um sistema descentralizado de geração de energia, com a instalação de painéis fotovoltaicos em telhados residenciais, como o que existe hoje na Alemanha. “A vantagem desse modelo é que ele leva a geração de energia diretamente para onde está o consumo, tornando desnecessária a construção de linhas de transmissão, que são extremamente caras”, explica.

Para que isso seja possível por aqui, ainda é preciso que o Congresso Nacional aprove uma mudança na regulamentação do setor elétrico, permitindo que a energia gerada pelos painéis solares possa ser jogada na rede. Além disso, o setor também aguarda a confirmação de leilões governamentais que garantam a compra dessa energia, induzindo a criação de um mercado que justifique os altos investimentos. “O futuro da energia solar vem do próprio poder que ela tem. Quando a população souber que é possível e viável, vai empurrar governo e criar mercado”, prevê.

Modelo alemão

A Alemanha tem atualmente 900 mil painéis solares instalados em telhados residenciais. Juntos, eles geram 14,4 mil MW – mais do que a eletricidade gerada pela usina binacional de Itaipu (14 mil MW). Cada módulo de 10m² gera o equivalente a 900 quilowatts/hora por ano, o que representa 25% da energia consumida por uma residência.

Mas o modelo solar, sozinho, não garante a autossuficiência energética das casas. Isso porque, sem a incidência de raios solares durante a noite, a unidade precisa, necessariamente, estar ligada à rede para ter o fornecimento de eletricidade garantido nesse período.

Para efeito de comparação, no Brasil, cobrindo-se uma área de 1,3 mil quilômetros quadrados com módulos solares fotovoltaicos – equivalente a área alagada da represa de Itaipu –, seria possível gerar o dobro da energia produzida pela maior usina hidrelétrica do mundo, ou metade da eletricidade produzida hoje no país.

A geração com sol já é viável economicamente

Contrariando a tese de que a energia solar é excessivamente cara para ser implementada no Brasil, atualmente, sem nenhum tipo de isenção fiscal ou subsídio, a geração fotovoltaica já seria economicamente viável em algumas regiões do país. É o caso de Belo Horizonte, em que as condições climáticas favoráveis aliadas à maior tarifa de energia elétrica do país (R$ 58 por quilowatt hora) fazem com que o custo de produção da energia solar fique apenas alguns centavos acima do que hoje é fornecida para os consumidores mineiros. A previsão de um reajuste de 11% na tarifa, já autorizado pela Aneel, tornará a energia solar mais competitiva.

A comparação é feita com base no custo de produção da energia solar, já considerados os impostos. “A energia solar pode se justificar economicamente para uso residencial agora, já”, garante o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Ricardo Rüther.

Segundo ele, a popularização dessa tecnologia deve baixar ainda mais os custos nos próximos anos. “À medida que possui a tecnologia, o preço tende a cair. Já caiu de 5% a 7% nos últimos anos e vai continuar caindo à medida que entrar na escala da energia convencional”, prevê.

O presidente do Instituto Ideal, Mauro Passos, diz que a competitividade da geração solar é “inevitável”. “O tempo vai responder essa questão. Hoje temos obras cada vez mais caras, com a necessidade de áreas cada vez maiores para implantação de hidrelétricas. Por outro lado, a geração solar tem uma curva decrescente”, compara.

Rüther cita as condições de financiamento da usina hidrelétrica da Belo Monte, que obteve financiamento de R$ 5,5 bilhões, 30% do valor total da obra, com as condições de empréstimos do BNDES. “Se a energia solar tiver as mesmas condições, deixa de ser o futuro e vira presente”, garante.

Re: Clipping do dia

Luis Nassif

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