Brics: nova casa, novos tijolos, por Camille Claudel

Do Jornal o Rebate

Brics – A nova casa, novos tijolos

Camille Helena Claudel

A  envolvente  cidade  de  Fortaleza no Brasil e cinco audaciosos  países na pauta mundial, as cinco economias que emergem conhecidas pela sigla BRICS que representa as iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, último a entrar no grupo compõem os chamado blocos, ou literalmente ” tijolos”. Inicialmente chamados assim pelo executivo Jim O’Neill, do conglomerado financeiro estadunidense Goldman Sacks, porque se destacaram de forma global por seu desenvolvimento. O termo foi usado em um estudo publicado no 2001 Building Better Global Economic Brics e tem uma aproximação sonora com a palavra Bricks, tijolos em inglês, (criando um jogo de palavras com a sigla) e estes países exatamente como blocos, construíram uma solida ligação e reputação que terminou por concretizar algo mais organizado nesse momento. Se antes os consideravam países soltos e sem algo em comum exceto na questão econômica (diga-se questão fundamental), agora os Brics simplesmente mudaram a historia (mudaram o mundo). Há alguns anos atrás estes países eram chamados de” terceiro mundo”, hoje a realidade é diferente e usar tal termo tornou-se um equivoco imperdoável, pois é uma referencia pejorativa. 

Um novo polo econômico mundial acaba de se firmar em uma instituição necessária sob a égide do desafio e equilíbrio. Entre eles temos a China, maior credor dos EUA sabidamente, do outro a Rússia, um forte opositor politico a maior potencia mundial no que muitos atualmente apontam como uma “nova guerra fria”. Apesar das diferenças culturais o grupo concorda em muitas questões como mostra em seus comunicados. Em entrevista, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, adiantava várias demandas dos emergentes, em particular falava de suas questões atuais a partir das ações na Ucrânia e não concordância com as posições da União Europeia (EU) e EUA no que diz respeito as sanções a vários países, citando Cuba como exemplo. Os Brics com sua força passaram a cobrar fortemente lugar e espaço para reformas em instituições convencionais de controle, financiamento e cooperação mundiais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco mundial e ONU. Após várias reuniões eles conseguiram transformar o antigo G7 em G20, incluindo países emergentes. 

Entre as iniciativas mais notáveis está a novíssima formação de um banco com a visão mais humanista, porém atenta , voltada para o desenvolvimento das nações que ainda não tiveram vez na economia mundial. Um banco com uma gestão cooperativista e com rodizio de representantes de forma mais igualitária e mais abrangente, voltado para grandes obras de desenvolvimento com fundos diversos, com o objetivo de colaborar com áreas que não são contempladas pelos bancos existentes. O banco do Brics pode finalmente ser a resposta para muitos países da África e Ásia, utilizando a mesma politica do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), não é por acaso que o jornalista Rodrigo Viana chamou o banco de “BNDES internacional”.

A ideia é que os cinco países tenham participação igualitária no banco.  A iniciativa contará com aporte crescente de 50 bilhões e em breve mais $50 bilhões em capital social, as operações não se endereçarão a resolver só transações dos BRICS, mas investir em projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável à nível mundial se requisitado. O modelo como já disse é o BNDES brasileiro, que apoia as empresas brasileiras que já investem em países da América Latina atualmente com sucesso. Possivelmente em anos, a instituição financeira espelho pode ter a capacidade de financiamento de até US$ 350 bilhões e gerar projetos monumentais de desenvolvimento no mundo todo. Com financiamento extra que seriam vários fundos especiais dentro do banco e com investimento da China e Rússia para propostas especificas. A nova instituição pode passar a ser a mais importante dentre todas e deixar os tradicionais interlocutores de empréstimos no limbo. Toda essa engenharia financeira da nova instituição com capitais reais e riqueza palpável sabemos que se comparada com o conhecido (Compare o acesso à economia de capitais reais) Livro Verde impresso pelo governo dos EUA que não fornece nenhum beneficio sem garantia (sabemos inclusive que depois há o acordo pelo qual se estabelece um conjunto de moedas de reserva 100 milhões dólares reservas que se voltadas a ajudar a Africa, por exemplo, como disse o ministro das relações exteriores africano não de ex (citado pelo jornalista Pepe Escobar do jornal Asia Times). Se você pegar o exemplo simples do café, a África ganha US$ 6 bilhões por ano a partir dos grãos de café que cultiva, mas são as torrefadoras e liquidificadores fora do continente que capturam 94 bilhões. Uma cifra astronômica de dólares é adicionada ao  valor dos grãos. Isso é inviável se quisermos promover o crescimento da inclusão sustentável, então cada vez mais a África tem que abrir os cofres e assim mesmo cresce . Isso se aplica não só para os grãos de café, mas toda uma variedade de matérias-primas. Os países BRICS podem ajudar a Africa com industrialização, tirando assim de tirar milhões de pessoas da pobreza, disse. No entanto, possuir empresas nativas esbarram em um problema já existente no perigoso cartel de café. O Citigroup recentemente pesquisou e classificou a África do Sul como país mais rico do mundo em termos de suas reservas minerais, em dólares a perder de vista. Todavia, só  uma minoria de brancos e estrangeiros são donos de  aproximadamente 80% desta riqueza, esse é o problema real. O Banco é uma alternativa vantajosa se considerarmos quais serão os juros e condições gerais de pagamento certamente mais favorável que os defasados e irredutíveis FMI e Banco Mundial.

Como se não bastasse, os Brics ainda discutiram de portas fechadas sobre  “esforços conjuntos irá garantir que os países BRICS mantenham uma posição de liderança reforçando a segurança da informação internacional. ” como disse Putin e acrescentando em sua aproximação de países como cuba e argentina interesse em ajudar como vimos foi assunto trazido a baila por Dilma  na ONU e garantida  com o Marco civil da Internet que já esta servindo de modelo a várias nações como diversas outras iniciativas econômicas brasileiras, preocupações e criticas ao aumento de sanções unilaterais por parte de alguns países. O encontro, não podemos esquecer, aprovou também uma nota sobre a situação na Palestina, conclamando um acordo de cessar fogo e também pedindo o fim do conflito. Sobre a situação da Ucrânia foi sugerida uma “discussão mais abrangente” sic. O encontro foi um sucesso. E basicamente o que era esperado para uma mudança significativa no mundo em que orgulhosamente o Brasil pode dizer que faz parte .

Vale a pena relembrar o motivo do surgimento dos modelos do Banco mundial, FMI e sobre Breton Woods que foi muito repetido pelos representantes brasileiros e a presidenta Dilma (inclusive falando em como um espelhamento ou instituições espelho). Estas instituições foram idealizadas  em uma cúpula de estudiosos entre eles o notável John Maynard Keynes, genial economista que viveu a época da crise e efervescência social. Em sua obra Teoria Geral do emprego juros e salários, se percebe claramente que Keynes viveu entre os momentos mais convulsionados da história, a crise de 1929 posteriormente a segunda grande guerra, dai desenvolve uma explicação para o enorme desencontro sobre a lei da oferta e da procura, a lei do investimento onde acredita que incentivar o investimento é a solução para a crise, principalmente com um estado que responsavelmente intervém na economia. A sua teoria trata das taxas de juros e da eficiência marginal do capital, além da relação entre a expectativa de ganhos futuros dado o investimento em determinado bem de capital seja: uma renda esperada do investimento com custo de se reproduzir outras unidades do bem que seria um custo de reposição ou preço da oferta, então a eficiência marginal do capital surge com o direito obtido por um investidor ao adquirir um determinado bem de capital. Isso se pode aplicar em empréstimos bancários por exemplo. O economista KEYNES era também um humanista, um pensador atento e que criticou os vencidos e principalmente os vencedores da segunda grande guerra, via com angustia a realidade dos países devastados e a influência da crise de 1929 em sua formação é inequívoca apesar de ser um homem que hoje certos elementos definiriam pejorativamente como “esquerda caviar” já que oriundo de uma família aristocrática inglesa, entre suas observações traziam a baila a delicada questão do não cumprimento dos acordos pela Alemanha na primeira grande guerra e essa ser causa e culpa carregada pelos vencedores. Muito faz pensar  as ideias de Keynes aplicadas na crise iniciada em 2008 e em  países que receberam e que ainda sofrem um choque do liberalismo econômico recente, sem investimento mas com demissões em massa e relações de programas sociais e investimentos, caso da Grécia e outros, a lista é grande e nós na América Latina já conhecíamos seus efeitos dolorosos. Inicialmente Keynes por volta do fim da segunda guerra vai a Bretton Woods chefiando a delegação britânica  junto com outros notáveis em várias áreas para criar uma nova  ordem e sistematização mundial em meio a um esfacelamento daquilo que se conhecia. O organizador e o local da reunião não poderiam ser mais norte americanos, respectivamente Roosevelt (o presidente do plano New Deal implementado  após a crise 1929) e Bretton Woods o coração dos EUA. A ideia de uma reunião de países em torno de uma moeda unica  era o refrão constante de Keynes  em meio a mais de 700 estudiosos e ele não conseguia implementar suas ideias, entre elas a de um estado intervencionista que considerava fundamental para a recuperação econômica. Em vez disso ganhou a visão tradicionalmente  vigente, liberal na proposta estadunidense que acabou por fundar as  duas instituições  de desenvolvimento e empréstimos mais ou menos como conhecemos hoje. Cerca de um ano depois do inicio do encontro em iniciado 1944 o FMI e o Banco Mundial sai do papel  sob domínio dos EUA com poder de veto e peso notório. Posteriormente o Banco Mundial não somente apoiará economia pós guera obvio ,  mas começará a se ocupar de países  expropriados pela colonização  em geral . John Maynard Keynes,economista  representante do Reino Unido   foi voto vencido nas ideias de combate a crise e o que se seguiu foi palida sombra do  que ele almejou. Em15 de julho de 2014, vivemos uma  data histórica em Fortaleza  com a criação do Banco dos  Brics. Estamos fazendo a diferença no mundo . Conclamo todos a ter conscincia do significado disso tudo e  orgulhar-se  da conquista dos “tijolos”, eles estão  formando uma casa acolhedora, com novas regras de convivência  para aqueles que estarão chegando .

Redação

7 Comentários

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  1. Sobre esse tema, segue a

    Sobre esse tema, segue a Declaração de Fortaleza na íntegra.

    É um pouco longa, mas vale a pena ler e tentar entender o que isso pode signficar para o futuro.

    Há críticas ao FMI, defesa do papel de empresas estatais e de pequenas e médias empresas para o desenvolvimento dos países emergentes. Além de posicionamento conjunto em questões específicas relacionadas a países da África, Síria, sobre a questão nuclear no Irã, terrorismo, combate às drogas, questões ambientais, educação, corrupção e muitos outros temas.

    http://port.pravda.ru/russa/17-07-2014/37035-cupula_brics-0/

    1. Ufa!!!

      A Declaração de Fortaleza é de tirar o fôlego. Os países imperialistas devem estar até agora, bolando uma forma de tirar de suas cabeças, a carapuça com que foram vestidos.

  2. oportunidade perdida
    A escolha de Xangai para sediar a instituição financeira do grupo é um erro estratégico que gera assimetrias institucionais no BRICS. A África do Sul era muito claramente a escolha neutra e ideal.

  3. PATÉTICA ASSOCIAÇÃO.

    Este Brics com suas contradições vai querer se projetar mundialmente? Com países como o brasil, india e africa do sul no meio, eu não acredito. Vai ser que nem a patética UNASUL, formada de esquerdistas e centrinhos que fazem o jogo dos esquerdistas. A china vai acabar vendo que entrou numa fria. E a russia esta toda enrolada.

  4. tijolo com tijolo num desenho

    tijolo com tijolo num desenho lógico,mágico e transformador pois essa reunião dos brics provocará – espero – uma profunda mudança na ordemm mundial – é só ajudarmos nessa construção de um novo edifício que não seja tão parecido com wall street e paulista e que tenha mais a noss cara… 

    ouso dizer que sinto-me orgulhoso de ser brasileiro depois da copa das copas e dessa reunião dos brics…talvez seja um desabafo secular, sei lá….

  5. Se resta alguma esperança à

    Se resta alguma esperança à humanidade além do desatino, esta o é. Se de um grupo de países humilhados em um passado recente: na China há uns cem anos atrás, na porta de “pubs” ingleses jaziam cartazes – Aqui não entram cachorros nem chineses- emergirem a solidariedade e o compartilhamento, essa nossa pequena navezinha Terra terá sim futuro. Não há outra forma de prosseguirmos com a evolução de Gaia que esta. O medo é que impérios avassaladores não costumam largar o osso sem violência… Espero, firmemente, que não tenham tentado abater o avião do Putin, pois isto certamente terá consequências.

    Há um fato novo na história, que penso terá sido compreendido por nossas lideranças, não importa seu naipe: o domínio da energia do núcleo atômico. Que ninguém se iluda que restará segurança para os sobreviventes quando todas as vespas tiverem gasto seus ferrões…O diabo se encarregará competentemente das ações consequentes…

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