A festa de Donata
por Mariana Nassif
A festa de Donata Mirelles, diretora da revista Vogue no Brasil, promoveu uma série de acusações de racismo: cercada pelo que chama de “baianidades”, a celebridade postou, em suas redes sociais, uma foto onde ocupa, cheia de equívocos, uma cadeira de Yalorixá, cercada por negros vestidos de branco. Caso o argumento de que (releitura pessoal), aquele cenário retratava os ambientes de terreiro, em admiração ao axé, que ela diz praticar, só estaria sentada no lugar destinado aos iniciados com determinado tempo e conhecimento do Candomblé – mantém-se o desrespeito em usar de uma cadeira consagrada para seu bel prazer e desfrute de simbolismo da identidade negra, se colocando, ainda por cima e sempre, em posição privilegiada.
Impacto da festa extrapolou a esfera dos convidados presentes e se espalhou, especialmente pela internet, onde atores e figuras públicas emitiram sua opinião sobre o acontecimento. Taís Araújo, símbolo forte do feminismo negro no Brasil, protagonista pela luta negra, disse: “Ela é uma mulher que eu conheço e de quem gosto. O que aconteceu, no entanto, considero um erro, pois a festa foi feita por pessoas que trabalham com imagem e sabem o poder que uma imagem tem. Não acredito que o desejo deles tenha sido retratar o Brasil Colônia, um período duro, mas uma imagem fala mais que mil palavras e dez mil desejos. As comparações são inevitáveis. O que aconteceu ali é o que ocorre nesse país construído sobre o racismo, corpos, suor, sangue e lágrimas negros. Esse sofrimento é tão naturalizado que fica difícil para as pessoas que não se identificam com as moças de pé ao lado da cadeira sentirem o que a população negra sente”.
Donata, de quem questiono a assessoria de comunicação (cadê prevenção de crise, pessoal de RP?!), se declarou arrependida. Em nota, comunicou: “Ontem comemorei meus 50 anos em Salvador, cidade de meu marido e que tanto amo. Não era uma festa temática. Como era sexta-feira e a festa foi na Bahia, muitos convidados e o receptivo estavam de branco, como reza a tradição. Mas vale também esclarecer: nas fotos publicadas, a cadeira não era uma cadeira de Sinhá, e sim de candomblé, e as roupas não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa. Ainda assim, se causamos uma impressão diferente dessa, peço desculpas. Respeito a Bahia, sua cultura e suas tradições, assim como as baianas, que são Patrimônio Imaterial desta terra que também considero minha e que recebem com tanto carinho os visitantes no aeroporto, nas ruas e nas festas. Mas, como dizia Juscelino, com erro não há compromisso e, como diz o samba, perdão foi feito para pedir”.
Minha opinião pessoal, carregada de tinta, é a de que pessoas com tamanho nível cultural, conhecimento histórico e exposição pública têm compromisso ainda maior em erradicar todo e qualquer tipo preconceito, exceto se preconceituosos forem. Já é mais do que tempo de pedir esse perdão em um movimento anterior e mais próspero do que depois do erro cometido. Aprendizado é constante, eu sei. Mas tem lições que são tão primárias que já deveriam ter substituído as dores daqueles que ainda sentem.
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Você tem toda razão, menina. Essa foto é extremamente ofensiva. Mas ela tem a virtude de escancarar dois fatos enfaticamente rejeitados oficialmente pela elite brasileira:
1- o racismo estrutural naturalizado e supostamente inofensivo;
2 – o desejo que os brasileiros brancos e ricos tem de viver cercados de escravos felizes e bem ajustados à sua condição social subalterna.
Quando Lula era presidente, as madames brancas passaram a odiar suas empregadas porque elas começaram a viajar de avião, a usar os perfumes que elas usavam e, pior, comemorar o fato de que os filhos delas também estavam nas universidades. A igualdade pelo consumo é intolerável numa sociedade em que a elite não se destaca pelas suas realizações científicas, artísticas, humanitárias e culturais (e sim pelo consumo).
No imaginário das madames brasileiras a queda de Dilma e a prisão de Lula fez com que o mundo delas voltasse a ser o que sempre foi: hierarquizado, com brancos em cima e todos os demais embaixo. O sorriso da madame entre as mudanças é uma prova disto. Se uma negra estivesse sentada sorrindo e ela ao lado vestida como empregada a carranca dela seria inevitável.
Disse tudo!
Nizan Guanaes é o coveiro da antiga boa propaganda brasileira, criador de um tipo de campanha agressiva, sem sutileza, de mau gosto, é o abre alas de um Brasil sem classe, novo rico brega,
dinheirista, insultuoso com a classe pobre, essa materia é apenas o reflexo dessa visão de Brasil.
A mulher fez 50 anos? Pois parece que tem 70!
Como disse o Marcelo D2, neste país não é questão de ser reacionário, é atraso mesmo.