Advogado agredido em Caxias sofre ameaças de morte

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A noite do impeachment estava sendo como qualquer outra para o advogado Mauro Rogério Silva dos Santos, que foi buscar seu filho por volta das 22 horas na praça central, onde ocorria uma manifestação pacífica em Caxias do Sul (RS). Chegando ao local, alguns jovens estavam sendo detidos. Mauro se prontificou a tentar ajudá-los e aproximou-se dos policiais militares com a carteira da profissão. “Você é advogado?”, perguntou um deles, “Sim”, respondeu Mauro. “Aqui, você não é advogado. Se quiser vai ser advogado na delegacia”, foram as palavras antes da sequência de agressões físicas ao profissional do direito.
 
Mas não foram apenas os machucados que marcaram Mauro Rogério dos Santos, modificando completamente a sua vida. Aquela noite do dia 31 de agosto foi apenas o início dos extremismos sofridos pelo advogado e sua família, que passaram a ser ameaçados de morte.
 
Um dos manifestantes que estavam no local gravou a cena:
 
 
“Os fatos são simples, singelos, eu cheguei no local, fui buscar meu filho, ele estava com outros jovens. E me pediram ajuda para verificar a condição de alguns jovens, que estavam sendo abordados e aquilo que o vídeo mostra. Não há muito mais antes disso, não consegui dialogar. A minha intenção era apenas saber o nome dos jovens e até para poder prestar um atendimento depois, mas não foi possível”, contou Mauro ao GGN.
 
“Eu tirei a carteira do bolso, acho que até por conta dessa situação política que está aí, todo mundo muito tenso, temos que tomar algumas cautelas. Quando eu tirei a minha carteira, talvez eles tenham entendido como uma afronta mas foi exatamente no sentido de criar um canal de confiabilidade, é um advogado”, disse, relatando que as agressões foram ainda piores quando a gravação terminou. “O que não foi gravado é dez vezes pior”, completou.
 
Seu filho, inspirado pelo pai, ia às classes de Direito à noite e pela manhã, trabalhava no escritório do pai. Ao ver seu pai sendo espancado por vários policiais militares, deu um chute em um deles, o que foi motivo para o prenderem por “tentativa de homicídio”.
 
Os dois foram levados a uma delegacia, onde permaneceram cerca de cinco horas algemados. Após ser solto, o filho foi levado à Penitenciária de Caxias pelo suposto “crime” cometido, liberado apenas no dia seguinte com um alvará de soltura. Após sair daquela situação, Mauro Rogério tomou algumas providências.
 
“Eu procurei ser sistemático: sair da delegacia, tentar soltar o meu filho, procurar atendimento médico e, posterior, comunicar o órgão de classe. O que foi feito, tive a grande satisfação de contar com o apoio da OAB local e nacional, devido à repercussão do caso. Foi-me oferecido entrar no programa de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas. No momento eu abri mão, até porque eu imagino que não seja esta a saída. Imagina, se nós advogados formos ameaçados e tivermos que nos esconder, acabou o direito”, relatou.
 
Após receber o apoio da OAB Nacional, em uma reunião que contou com a presença do presidente do Conselho Federal da entidade, Cláudio Lamachia, a secretária-geral adjunta da OAB/RS, Maria Cristina Carrion Vidal de Oliveira, a coordenadora geral da Comissão de Direitos Humanos, Neusa Rolim Bastos, e outros membros da OAB, Mauro pensava que tudo se resolveria.
 
Lamachia se reuniria momentos depois com o comando da Brigada Militar local, onde colocou a necessidade de uma agilidade e esclarecimento para apurar os fatos e as condutas dos envolvidos. Mas junto com a repercussão de apoio de entidades e movimentos, chegaram as ameaças.
 
E não apenas a Mauro e seu filho que estiveram envolvidos nos fatos daquela noite, como também o seu filho mais novo, que vive em outra cidade, passou a ser alvo constante de ameaças de morte.
 
“Posterior a isso avolumaram-se muito as ameaças aos meus filhos. Recebi muitas ameaças, eu não gostaria de detalhar por motivo lógico, mas eu garanto que foram ameaças consistentes”, disse.
 
O apoio recebido pelas entidades não foram suficientes para barrar os riscos à família. Ao GGN, Mauro contou que terá que tomar medidas radicais, em nome da segurança de seus filhos. “Eu levei uma vida para colocar um filho na faculdade de Física, o outro na de Direito. Agora, eles tem que sair. Tanto um, quanto outro”, contou.
 
“Por mais que eu esteja ainda muito chocado, algumas vezes acabo chorando, mas a minha preocupação não é esta, o que me preocupa é que o advogado não é melhor que um médico, melhor que um jornalista, melhor do que ninguém. Mas a profissão do advogado é essencial à justiça. Ele deve ser respeitado, até para poder avalizar os trabalhos dos policiais que está sendo feito”, manifestou. 
 
“Agora, se o advogado não é respeitado, quem avaliza esses procedimentos? Quem busca os direitos constitucionais de todos os cidadãos brasileiros são os advogados. Não é o policial, não é o promotor, não é o juiz. Se passamos a desrespeitar o trabalho dos advogados, daquela forma e de outras, no dia-a-dia, a cidadania perde, porque não tem o seu direito de defesa. Hoje, mais do que nunca, a situação é muito sensível”, concluiu.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

12 Comentários

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  1. O fim do caminho

    Quando advogados foram sofreram deboches e foram despeitados no pleno do STF durante o julgamento do mensalão, a OAB não se insurgiu contra. Ficou em meras reclamações dos proprios ofendidos. De la pra ca, como demonstram todos os advogados de defesa na Lava Jato, esse desrespeito e até desprezo – muito bem expresso por Joaquim Barbosa – cresceu.

    Em todo caso, é chocante ouvir de um cidadão que ele esta sendo ameaçado por policiais… não vejo saida neste momento para esse estado de coisa, ainda mais com o governo que ai esta. O senhor Mauro poderia procurar o governador do Estado… Que infelizmente é Beto Richa. Em todo caso, tentar midiatizar sua situação e procurar todas as instituições que possam ajuda-lo.

    1. Não é Beto Richa, não.

      Olá, Maria Luisa, 

      se esse acontecimento horrível aconteceu em Caxias do Sul, RS como diz o texto,  o governador  é  José Ivo Sartori, do PMDB.

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      1. Verdade,

        É outro covarde, que também desvia as verbas para a politicagem, atrasa salários e manda bater em professores indefesos, mas não é o Beto Rincha.

  2. Nassif, eu ja vi isso antes e

    Nassif, eu ja vi isso antes e posso te jurar que policia militar DE TES TA preto.  Voce simplesmente nao acreditaria no que eu ja ouvi de, digamos… “familiares” a respeito de pretos.

    O problema dele e do filho com a pm eh a cor de pele:  nada mais.

    Quando ja foi com pretos, alias?

      1. Nao, parente voador nao

        Nao, parente voador nao identificado da minha familha se casou com ex-parente militar-voador-mais-nao-identificado-que o cara podre que esta dirigindo a “defesa” do Brasil nesse exato momento (O tal do militar  do exercito que “bolou” a incrivel ideia de tirar de Dilma sua protecao e patrocinio para viagens…  advinhe se ele tem nome estrangeiro, va la:  advinhe).

        O “meu parentee” falava horrores de pretos…  mesmo sendo preto.

        Isso NAO foi em 64.  Foi nos anos 90 e muitos.  Ele era gente muito  boa mas foi muito mal tratado pela “nossa familia” -aquela com a qual ele se casou, de fato.  Once again:  nao vou especificar.

        (como voce pode advinhar, tem mais detalhes fora dessa historia do que dentro dela…)

  3. Pois é dona OAB…

    Olha o que colhem os seus advogados, da semente que você plantou.

    Satisfeitos agora?

    Coadunaram com o GOLPE e o fim da DEMOCRACIA e o resultado é esse aí que estamos vendo.

  4. Mas onde está a OAB golpista?

    Não era isso que o imbecil do presidente da OAB queria? Não seria esse tipo de retrocesso onde animais latindo têm mais valor que a formação de um advogado? Falo especificamente desse Cláudio Lamachia ao invés de todos os membros da instituição. Na época que esse imbecil se posicionou a favor do golpe houve muita discordância entre advogados legalistas que usaram o bom senso de não apoiar um movimento, no mínimo suspeito. Agora que descemos alguns degraus a mais no sentido da barbárie, gostaria de saber o que esse imbecil fará em defesa desse senhor, advogado, duramente agredido por uma polícia estúpida e inválida, um bando de cabeças ocas armados até os dentes. Quem tem que ser cobrado é esse imbecil chamado Cláudio Lamachia. Fazer a OAB apoiar um golpe de estado é acabar com a reputação de uma das intituições mais atuantes no longo caminho que fazíamos rumo a uma nação adulta. Fora Cláudio Lamachia!!!

  5. Bateriam se fosse um advogado branco?
    Há que se frisar que Mauro é um cidadão negro e provavelmente seu filho também é. Isso demonstra como independentemente de classe social, a pele negra é alvo de todas expiações e violências.

  6. Aguentar as consequencias

    Quando eu digo que aqui em SP a gente tem de fingir ser tucano, para não perder o emprego,  muitos ficam indignados.

    A verdade é que todos os estados governados por tucanos, são assim. Paraná, SP, e muito mais. Quando a gente finge ser tucano, ou apolítico, tudo bem. Agora se ousar dar um pio contra o sistema, aí devem estar preparados para aguentar as últimas cosequencias. Não é brincadeirinha, é seríssimo.

    Mahatma Ghandi, que também era advogado, apanhou muito da polícia na época, foi preso por anos, condenado e tudo maIs. Antigamanete a repressão não era como hoje. Naquela época, torturavam, matavam, os cassetetes não eram de borracha, mas de madeira de lei maciça, onde batiam, quebravam ossos. E a ordem da Mahatma era não reagir, apanhar em silêncio, pois eram pacifistas. 

    Uma vez foram manifestar na época do Mahatma, por sorte ele não estava  junto, a polícia abriu fogo contra os manifestantes com metralhadoras automáticas, estilo .50, de grosso calíbre, e 1600 manifestantes morreram sem reagir. Embora os jornais locais tentassem encobrir a notícia, a noticia saiu no mundo todo e começou a ficar feio para a Ingllaterra, retratado mundialmente como um país de covardes, que assassinavam crianças e adolescentes a sangue frio, por fim tiveram de dar a Independência à Índia. Aquilo era aguentar até as últimas consequencias, e foi assim, que a Índia conseguiu a Independência da Inglaterra. Afirmavam assim que pagariam o preço que fosse necessário pela independência de seu país…

    Será isto que queremos para nossos filhos? Estamos dispostos a pagar qualquer preço?

     

    1. Concordo!!!

      O problema é ideológico. Porque os estudantes vão ficar enfrentando a polícia e o cidadão pobre (que realmente será prejudicado) não toma a iniciativa?

      Deixa o país se fud… o programa neocolonial vai afetar somente os pobres e os que fazem trabalho braçal. Eles são a maioria da população e são os que elegem os neocolonialistas golpistas…

      A justiça, a política, a polícia e a mídia estão todos do lado dos golpistas…

      Meu conselho: mude de estado, vá para o nordeste e leve os seus filhos juntos…

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