As minas gordas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Se tua opinião fosse um halls eu até aceitava

do Falando sobre  gordofobia

Unha encravada? Emagrece que melhora

por Rachel Patrício

Parece piada, mas ser uma pessoa gorda e ir ao médico é basicamente isso: qualquer questão que você apresente, o médico primeiramente te manda emagrecer.
Essa conduta de muitos médicos acaba negligenciado pacientes. Em diversas conversas que tive com outras mulheres gordas, os relatos são sempre muito parecidos.
Uma amiga custou a descobrir sobre um câncer na região dos ossos do quadril porque os médicos insistiam que, toda aquela dor que ela sentia era única e exclusivamente relacionada ao seu peso.
Quando a luciana moraes foi ao cardiologista, o mesmo disse que ela morreria em breve, sem nem ao menos checar seus exames. Receitou um remédio para ela emagrecer (e lembre-se, não tinha visto exame nenhum dela até então). Quando Luci chegou em casa, uma FARMÁCIA ligou, dizendo que o remédio estava pronto e custava 650 reais. Vc pediu algum remédio naquela farmácia? Pois, ela também não. Luci não tomou os remédios, os exames dela estavam ótimos e ela passa bem, obrigada.
Eu mesma tenho diversas histórias assim para contar. Teve o ginecologista que ignorou minha vontade de trocar de anticoncepcional e me receitou anfetaminas aos 16 anos (que desencadeou um difícil processo depressivo). Teve o cardiologista que também me disse que eu ia morrer, e teve que engolir minha função pulmonar maravilhosa e meu coração firme e forte.

Diabetes? Obviamente é culpa do seu peso, eles dizem. Será que é mesmo?
Encarar o peso de um indivíduo como causa e não como consequência de algumas questões, ou mesmo partir do pressuposto de que aquele corpo gordo é doente apenas por não ser um corpo magro, mascara a possibilidade de um diagnóstico fiel e real.

É um problema comum no meio biomédico: entender saúde e qualidade de vida de maneira medicalizada, onde a visão bioestatística e econimicista prevalecem. A maioria dos estudos são funcionalistas e focados no custo-efetividade. São tantas variáveis envolvidas no que vem a ser qualidade de vida que se torna raso dizer que uma pessoa com qualquer doença crônica não pode ser saudável. É essa visão de que saúde é a ausência de doenças, cristalizada na imensa maioria dos médicos que torna os atendimentos tão ruins. Dentro dessa visão, onde o conceito de qualidade de vida é completamente deturpado, vemos o crescente aumento de cirurgias bariátricas realizadas.

Na contramão desse pensamento, temos profissionais no campo da Nutrição propondo que saúde não está no comer menosmas no comer melhor. Estudos sobre como o IMC não é um marcador de saúde, ou sobre como um corpo gordo com boa alimentação e prática de exercícios é similar cardiometabolicamente à um corpo magro nas mesmas condições (e o mesmo se aplica à um corpo gordo e um magro em situação de sedentarismo).

Nosso direito à saúde (inclusive mental) não deve ser cerceado por conta de nossa conformação corporal. A prática de exercícios e uma boa alimentação não devem ser limitadas ou focadas na perda de peso, mas sim com o bom funcionamento do nosso corpo.

E, acima de tudo: não devemos justificativas sobre nossa saúde à ninguém.

 

Se tua opinião fosse um halls eu até aceitava

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. Correção

    O estudo apontado (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25251047) diz respeito a jovens do sexo masculino que fazem “strength training” – ou seja, musculação. É comum que estes tenham IMC maior que 25, até porque músculos são mais pesados que gordura. Portanto, não ajuda muito na argumentação da autora.

    O fato é que, a partir de um certo nível de obesidade, é muito difícil uma pessoa se manter fisicamente ativa. Problemas nos joelhos e articulações são muito mais comuns em pessoas obesas, por exemplo – sem contar a abominação, comum nos Estados Unidos, das pessoas que usam carrinhos motorizados para se locomoverem, mesmo não sendo paraplégicas, e sim visivelmente muito gordas. No fundo, é preciso separar duas coisas:

    1. Há uma obsessão com a magreza que faz com que pessoas que inclusive estão dentro da faixa considerada “normal” de IMC sejam consideradas gordas. Isso deve ser combatido com vigor.

    2. Há um ponto em que, de fato, a obesidade passa a ser um grande inconveniente na vida das pessoas. Isso varia de pessoa para pessoa, e concordo totalmente com a autora que a comunidade médica às vezes peca pela generalização. No entanto, não se combate uma generalização com outra: cabe explicar que a faixa de peso “saudável” é maior do que os padrões de beleza indicam – mas continua sendo uma faixa, e muitas pessoas hoje em dia estão acima dela.

    Em suma, qualquer um é livre para fazer o que quiser da sua vida, mas todos têm o direito de ao menos saber que suas decisões têm consequências. Afirmar “no atacado” que obesidade não é um problema para a saúde é falso (ainda mais tentando comprovar isso com estudos que dizem outra coisa). Mas como a autora já descartou o contraditório no final do texto …

  2. Senso comum sem nenhuma base científica
    Algumas vezes, a realidade não é politicamente correta. Ao contrário do que a autora proclama, um magro sedentário tem expectativa de vida maior do que um obeso ativo:
    http://m.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/02/1738058-estudo-poe-em-xeque-obesos-saudaveis-ao-comparar-com-magros-sedentarios.shtml.

    Link para o artigo original (em inglês):http://m.ije.oxfordjournals.org/content/early/2015/12/20/ije.dyv321.

    De fato, existem situações constrangedoras que pessoas obesas são obrigadas a atravessar, e se trata de um problema bem mais complexo do que “fechar a boca”. Porém, negar que a obesidade provoca uma série de distúrbios (inclusive psicológicos: células adiposas produzem certos hormônios), é deturpar a realidade.

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