Corpo da mulher é última fronteira de conquista do capital, diz Silvia Federici

Sugestão de Alfeu

do ÓperaMundi

‘Corpo da mulher é última fronteira de conquista do capital’, diz historiadora italiana Silvia Federici

Carolina de Assis e Lorena Alves

Ela afirma que, sem confinamento das mulheres à reprodução, não haveria capital; italiana escreveu livro sobre corpo e acumulação primitiva

A luta de classes passa pelo corpo – e, principalmente, pelo da mulher. É o que afirma a historiadora italiana Silvia Federici, em entrevista a Opera Mundi. “O corpo da mulher é a última fronteira de conquista do capital”, diz.

“Uma divisão entre produção para o mercado que se converte em trabalho assalariado, isso sobretudo para os homens, e a reprodução da vida, da força de trabalho, que é um trabalho não assalariado, muito desvalorizado, muito naturalizado e são cada vez mais as mulheres que ficam concentradas nesse trabalho”, diz Federici, autora do livro “Calibã e a Bruxa – Mulheres, Corpo e Acumulação Primitiva”, da editora Elefante (R$ 50).

A historiadora ainda destaca o controle do Estado sobre o corpo da mulher, afirmando que “o corpo da mulher se converte em uma máquina de produção de trabalhadores. Assim que se instituem tantas leis e práticas para penalizar o aborto, para criminalizar todas as tentativas que fazem as mulheres para controlar seus corpos”.

A italiana também aponta para a desvalorização do trabalho doméstico, que muitas vezes é tido como “menos criativo” que a “construção de uma cadeira ou uma casa”. Federici propõe que se resignifique esse trabalho: “Como se pode dizer que produzir a vida das novas gerações, educar, conversar, é menos criativo do que construir uma casa, um carro, uma cadeira, um brinquedo? Por isso é importante para mim resignificar esse trabalho. Creio que deve ser parte da luta.”

Federici também enxerga o papel das mulheres como “servas” dos homens e culpa o capitalismo por isso. “Minha tese é de que o desenvolvimento do capitalismo transformou as mulheres em servas dos homens”, afirma. Confira entrevista completa:

https://www.youtube.com/watch?v=XyG8wGXXTeE&t=192s align:center

Tradução: Haroldo Ceravolo Sereza

 

(*) http://bit.ly/2qL4Vve

_

 

 
Redação

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Um pequena inversão.

    Não creio que seja a última.

    É sim a primeira, a segunda, terceira, enfim, ontem, hoje e amanhã: permanente.

    O controle sobre o corpo (e o prazer feminino) é bem anterior ao capitalismo, seja quando a Igreja Católica passou a proibir o aborto (acho que foi no século XII ou XIII), após séculos entendendo que o feto só teria a “alma” após seis meses de gestação (prazo que era possível abortar), seja quando os muçulmanos escreveram seu Alcorão e judeus o seu Torá, ou em diversas outras culturas politeístas onde as mulheres eram subordinadas às construções simbólicas da masculinidade.

    Estão aí as mutilações genitais da África.

    Os sacrifícios rituais das civilizações pré-Colombianas, que tinham no gênero feminino o alvo principal.

    O pecado original nos foi legado por Eva.

    É da mulher no mundo cristão o papel de aliciadora ou traidora.

    A Inquisição debruçou-se majoritariamente sobre as bruxas, mas poucos foram os bruxos.

    O capitalismo só deu contornos sistemáticos e mais sofisticados, estabelecendo um corte dentro dos cortes das classes em luta, assim como faz com a questão racial, e tantas outras.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador