Marcado na testa como gado, por Régis Eric Maia Barros

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Foto: Reprodução

Do blog de Marcelo Auler

Marcado na testa como gado

Régis Eric Maia Barros (*)

Nos últimos dias, eu me lembrei de um querido professor o qual foi muito importante na minha formação em psiquiatria e psicoterapia. Ele, assim, afirmava: “nada que advém do ser humano pode ser considerado bizarro, pois tudo é possível“. Com essa reflexão, ele tentava provar que o ser humano é capaz de tudo.

Ele estava certo. De fato, nada mais é capaz de me assustar. Nada mais me causa espanto, visto que, enquanto espécie, nós somos aptos a realizar os comportamentos mais dantescos. Inclusive, até mesmo, aqueles que nós julgamos impossíveis de realizarmos.

Recentemente, um jovem foi, brutalmente, torturado com uma tatuagem na testa com os seguintes dizeres: “Eu sou ladrão e vacilão”. Há relatos de que ele tentou furtar uma bicicleta bem como há outras informações de que ele era portador de doença mental ou que era usuário de drogas. Contudo, essas informações são desnecessárias para alcançar o objetivo reflexivo desse artigo.

O fato mais pútrido em tudo isso foi saber que muitos apoiaram essa barbárie. Fazer ou apoiar tal atitude é tão perverso que nos iguala aos próprios criminosos sociopáticos.

 

A falta de remorso frente a isso é algo impactante. Portanto, precisamos analisar essa resposta social de apoio ao bestial. Quanto ódio! Urge a necessidade de entender que não ser condizente com os desvios provocados pela criminalidade não nos dá o arbítrio de sermos monstruosos no agir como resposta.

Quem aceita ou aprova ou apoia tal barbaridade pode ser percebido como um ser perverso. A monstruosidade desse ato é tão aviltante que, ao perceber que muitos aplaudiram, começo a entender que a selvageria vive dentro de nós.

Há uma construção justiceira em muitos e isso gera uma necessidade de justiça com as próprias mãos. Em parte, isso nasce da ausência e fraqueza do Estado em nos ofertar segurança, porém, em muitos, ela é autóctone. Nessa onda, teremos pessoas que sempre serão mais poderosas do que outras. Daí, a “falsa justiça justiceira” será feita pelos poderosos. Se você sempre se considera um poderoso, tudo bem. Parabéns e siga em frente. Contudo, acredite em mim: sempre haverá alguém mais poderoso do que você. Caso faça algo errado, torça para ele não ser um justiceiro contigo.

Por fim, fiquei aqui pensando: qual seria a tatuagem que alguém mais poderoso colocaria na sua testa, caso você cometesse algo que ele não gostasse? Como dito pelo vilão Coringa, “sempre temos algo a esconder”.

(*) Régis Eric Maia Barros é médico psiquiatra e psicanalista, em Brasília;

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16 Comentários

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  1. O terrível é vocês psquiatras

    O terrível é vocês psquiatras não terem visto todos os PSICOPATAS, que com sua corja de rua tal qual hitler, deram o golpe do impeachment e agora estão no poder “executivo” “legislativo” “religiosos” “midiático” e “judiciário”. O RESTO é consequência da ignorancia da covardia e de tudo que não presta.

    E os GOLPISTAS agora vêm com esse papinho furado de tiologia da libertação, na realidade só se vê “teologia” de LADRÕES.

    E os “médicos” ha muito fizeram opção pelos LADRÕES E PSICOPATAS NO PODER.

     

  2. É esse tatuador e justceiro

    É esse tatuador e justceiro não será chamado a dar sequer exolicações? O Estado perdeu o monopólio da administração da justiça?

  3. Eh, ôô, vida de gado, povo marcado, povo feliz

    “Oh, eu não sei se eram os Antigos que diziam
    Em seus papiros Papillon já me dizia
    Que nas torturas toda carne se trai
    Que normalmente, comumente, fatalmente, felizmente
    Displicentemente o nervo se contrai
    Oh, com precisão.”

     

    Zér Ramalho, Vila do Sossego

     

  4. Os advogados do garoto, além de ingressar com ação criminal pela

    Os advogados do garoto, além de ingressar com ação criminal pela prática de tortura, deveriam propor ação cível por danos morais e a imagem. Esse tatuador torturador, assim como quem participou dessa sessão de tortura, deveriam ser condenados a pagar a cirurgia para a remoção da tatuagem, além da reparação por todo o sofrimento causado à vítima. E, caso não seja possível remover a tatuagem por completo, deveriam pagar uma pensão vitalícia ao garoto pelo dano permanente à sua imagem. 

  5. Macular, marcar uma pessoa

    Macular, marcar uma pessoa permanentemente, colocar sobre carcere e torturar é considerado crime hediondo em muitos paises.

    Um adolescente de 17 anos roubar uma bicicleta pode acontencer até nas melhores familias. Um adolescente de 17 anos faz besteiras proprio da idade.

    Mesmo a justica com as proprias maos é desproporcional. O tatuador somente fez isso porque sabia que o adolescente nao oferecia nenhum perigo! Duvido que ele fizesse isso com algum bandido de verdade. Fez isso porque sabia que ele era pobre! 

  6. DisparadaGeraldo

    Disparada
    Geraldo Vandré

    Prepare o seu coração
    Pras coisas
    Que eu vou contar
    Eu venho lá do sertão
    Eu venho lá do sertão
    E posso não lhe agradar

    Aprendi a dizer não
    Ver a morte sem chorar
    E a morte, o destino, tudo
    A morte e o destino, tudo
    Estava fora do lugar
    Eu vivo pra consertar

    Na boiada já fui boi
    Mas um dia me montei
    Não por um motivo meu
    Ou de quem comigo houvesse
    Que qualquer querer tivesse
    Porém por necessidade
    Do dono de uma boiada
    Cujo vaqueiro morreu

    Boiadeiro muito tempo
    Laço firme e braço forte
    Muito gado, muita gente
    Pela vida segurei
    Seguia como num sonho
    E boiadeiro era um rei

    Mas o mundo foi rodando
    Nas patas do meu cavalo
    E nos sonhos
    Que fui sonhando
    As visões se clareando
    As visões se clareando
    Até que um dia acordei

    Então não pude seguir
    Valente em lugar tenente
    E dono de gado e gente
    Porque gado a gente marca
    Tange, ferra, engorda e mata
    Mas com gente é diferente

    Se você não concordar
    Não posso me desculpar
    Não canto pra enganar
    Vou pegar minha viola
    Vou deixar você de lado
    Vou cantar noutro lugar
     

  7. Este tipo de ação, como os

    Este tipo de ação, como os linchamentos publicos, revela que a nossa sociedade, além de selvagem, é ainda muito pobre intelectualmente. A sociedade brasileira é bastante conservadora e reacionaria.

    1. Escravocratas, Psicopatas,

      Escravocratas, Psicopatas, Nazistas, Ladrões, ASSASSINOS…São eles que roubaram e estão no poder.

      O resto saõ as ações de seus capangas e de que a sociedade se tornou CÚMPLICE.

  8. Crime? Tenho lá minhas

    Crime? Tenho lá minhas dúvidas. Como milhões de brasileiros, gostaria de deixar  na testa de muitas pessoas a seguinte marca: EU SOU GOLPISTA!

    1. crime…..

      Vivemos na Ditadura do Politicamente Correto. No mesmo dia, uma senhora a 200 mts de casa foi assassinada num assalto, na frente do marido dentro do carro. Não deu nem notícia. Muito menos matéria neste veículo. Hipocrisia é pouco, mas revela este país de 100.000 assassinatos, subnotificados para parecerem apenas uns 65.000. Mas o pior da hipocrisia tupiniquin não é nem esta. É a Justiça praticada ao gosto da mídia e das correntes ideológicas. Fosse um crime igual contra qualquer brasileiro, o contrário praticado pelo bandido contra um cidadão, o crime seria tipificado como lesão corporal. E não é mais que isto. Assinatura de Termo Circunstanciado e pena trocada por umas cestas básicas. Como o caso mexe com a Esquerdopatia Tupiniquim, os suspeitos já estão em presídio. Qual o risco que representam pra sociedade? A mesma coisa do hacker que invadiu o celular da mulher do Temer. Não conseguiu habeas corpus. A soberania nacional deve estar em perigo?! Prisão após “transitado e julgado”? Terra da Farsa e do Cinismo. O Brasil se explica. 

  9. Arcadas, Unhas e outras coisas.

    Olá debatedores, boa tarde.

    Senhores, não devemos misturar as coisas. Vamos com calma.

    É claro que tatuar uma pessoa ( um menor)  assim, logo na testa, à força, numa espécie de vingança, é crime com requintes de crueldade. ( essa é a minha opinião de forma fria e  racional. Emocionalmente, é claro, fico com  pena do menor e assustado  de saber como um adulto, suponho “normal”, pode fazer uma coisa dessas)

    Bom, mas voltando ao racional, digo o seguinte:

    Como se trata de um  crime, tanto a família, como o Ministério público( envolve menor, talvez, ação incondicional etc)  tomarão as providências contra os autores.

    Isso é o que espero: que as providências sejam tomadas!  E é só isso!

    Falo porque, por favor, caros debatedores,  não devemos nos nivelar por baixo!

    Dente por dente unha por unha é puxar pra baixo!  Já passou!  

    Talião não deve  sequer ser cogitado, sob pena de desejarmos o que não desejamos, caindo assim  numa cilada argumentativa, lógica que podem contribuir para gerar  efeitos sociais negativos.  Compreendem? 

    A questão agora, já que o fato ESTÁ CONSUMADO  é saber quais serão essas providências e quais serão as consequências. O foco é esse agora.  

    Essa , para mim, de forma pontual, é a questão do momento.

    E neste ponto,gostaria de dizer  também que não devemos cair na FALÁCIA do particular para o universal, isto é, partir desse caso concreto, particular, para tirar conclusões gerais. 

    Mesmo porque , além desse crime que foi divulgado, é certo que agora,  neste momento,  há vários outros crimes sendo cometidos , tão ou mais  cruéis do que este.  

    Então não sejamos tolos!  Pipocam-se crimes cruéis aqui, ali e acolá a toda hora.

    Resta saber o que NÓS, isso mesmo, NÓS estamos fazendo, cada qual com suas responsabilidades, obrigações e direitos, para que tais crimes não voltem a acontecer. 

    Nesse ponto, especificamente tratando desse caso,  é que penso  que a mídia pode deixar a desejar ou até mesmo fomentar a discórdia geral ou a ignorância geral.

    Isso porque, a mídia parece gostar de incrementar  o ódio apenas. Ela não só informa. Ela também  forma a cabeça de muitos desorientados gerando assim uma “bola de neve”.

    ———

    Bem pessoal, essas seriam minha considerações iniciais,  em apertadíssima síntese,  para provocar as reflexões dos caros colegas debatedores.

    Dito isso, proponho agora ampliármos o espectro, ampliármos o alcance de nosso debate. Vejamos.

    Uma outra coisa mais ampla é tratar da convivência social em nossa sociedade.

    Lembrando que sociedade não é “algo natural”, mas sim, “construído” por nós mesmos, com regras, direitos e obrigações, urbanidade.

    De forma mais filosófica, abstrata, penso que envolve institutos, conceitos, definições, de conduta, que passam pela MORAL, pela ÉTICA, pela DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, etc.

    Bom, nesse aspecto, acho que nossas instituições sólidas em estado de sublimação, rumo à sublevação têm nos dado “otimos” exemplos de como ACABAR com a convivência social relativamente “pacífica” (sim, repleta de problemas mas, ainda pacífica).

    Por exemplo: “Criou-se uma crise” . Ato contínuo, busca-se acabar  com o direito do trabalho para acabar com a crise criada, que por sua vez, visa  acabar com o direito do trabalho/previdenciário, e vai acabar com a crise…

    Num país onde alguns metem a mão no dinheiro público, e/ou conspiram, derrubam presidente sem crime algum, gravam conversar fora da LEI, publicam conversas particulares se apoiando APENAS do direito à liberdade de expressão mas esquecendo-se do direito à honra à imagem, á vida privada, enfim, num país do  tipo bib brother, meus caros debatedores, aí sim, parece-me que a lei do talião , versão século XXI, devidamente repristinada, vem à tona, sobretudo nos debates diversos. 

    E assim seguimos para :

    Árcadas dentárias por arcadas dentárias, unhas por unhas!

     

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