(Muito mais) mulheres na política e no protagonismo social, por Heitor Peixoto

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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É possível que, mundialmente, nunca tenhamos ouvido e falado tanto sobre o protagonismo das mulheres nas mais variadas pautas, agendas, e nos mais diversos espaços sociais e de poder


Foto: Reprodução

Por Heitor Peixoto

(Muito mais) mulheres na política… e em todos os demais espaços de protagonismo social

Do Congresso em Foco

Às 21 horas e 20 minutos da segunda-feira, 8 de outubro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encerrou a apuração dos mais de 117 milhões de votos do primeiro turno das eleições de 2018.

O conjunto de dados sobre aquela votação oferece material para incontáveis análises. Dentre os números mais expressivos, o aumento de mulheres eleitas para Câmara dos Deputados (+51%) e para as assembleias legislativas (+35%), em comparação com as disputas de 2014.

É fato que elas ainda serão apenas 15% dos parlamentos locais e do nacional. Pouco. Insuficiente. Mas o viés é de alta. No último pleito, as mulheres mal passaram do sarrafo dos 10%.

O mais relevante é que as iniciativas de participação feminina na política e na sociedade não param de surgir, aumentando em proporção talvez muito maior do que a do acréscimo de mulheres nos legislativos.

Nessa seara, novembro e dezembro têm agenda cheia. E as iniciativas vão muito além das fronteiras nacionais.

#16dias

Estamos no meio de mais uma edição da campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, liderada pela ONU e com ampla participação de mulheres, individualmente ou via coletivos.

A mobilização é global. Já atingiu mais de 160 países, propondo ações e reflexões no esforço de erradicação de um drama persistente na vida de tantas mulheres e meninas.

Dados compilados pelo Olhares Podcast a partir das estatísticas da Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (Ligue 180) mostram que, de janeiro a junho deste ano, foram registrados 899 casos de homicídio, 2.611 de cárcere privado, 34 mil de violência física, 3.381 de violência moral, mais de 24 mil de violência psicológica, quase 6 mil de violência sexual e 40 de violência obstétrica.

Material de propaganda do 4º Encontro Latino-Americano de Feminismos, o ELLA, a ser realizado em dezembro:

programação da campanha vai até 12 de dezembro, e inclui palestras, debates, rodas de conversa, treinamentos e até a produção de um mini-documentário, com narrativas de refugiadas de diversas nacionalidades, com mensagens de resistência à violência. As atividades estão espalhadas por diversas cidades, incluindo São Paulo, Manaus, Rio de Janeiro, Boa Vista, Juazeiro e Brasília.

OAB/DF

Por falar em Brasília, a capital federal vive os momentos finais da campanha que irá eleger os novos gestores da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional DF. A votação acontece nesta quinta-feira, 29 de novembro.

Mas o que esse assunto tem a ver com o título da coluna?

É que pela primeira vez em quase 60 anos de história da entidade, a disputa terá uma chapa que ousa inverter aquela lógica de 30% de mulheres na composição (aplicada na teoria e raramente cumprida na prática, por exemplo, nas eleições para deputados e vereadores). Na chapa “Ordem Democrática”, as mulheres são quase 70% dos 105 componentes.

A “ousadia” rendeu comentários, digamos, peculiares. “Nós ficamos sabendo pelas redes sociais que estávamos sendo chamadas de sectárias. Só que parece que essa mesma opinião não se dá quando os mesmos 30% são ocupados por mulheres. A cota é de gênero, não de mulheres”, ressaltou a advogada Renata Amaral, a indicada da chapa para a disputa à presidência da entidade, em recente debate na Universidade Católica de Brasília.

No conjunto de propostas, claro, ações de valorização e reconhecimento da mulher advogada, como a defesa da composição paritária em comissões, presidências e  mesas de eventos da Ordem, proteção às advogadas puérperas por tempo compatível com a licença-maternidade e aprofundamento da temática feminina na Escola Superior de Advocacia, incluindo cursos sobre violência obstétrica e Lei Maria da Penha.

ELLA

Na vizinha Argentina, mais precisamente na cidade de La Plata, 56 quilômetros a sudeste da capital Buenos Aires, acontece agora em dezembro o 4º Encontro Latino-Americano de Feminismos, o ELLA.

Depois de edições no Brasil, na Bolívia e na Colômbia, a parada na Argentina é simbólica. Tem a ver com a chamada “maré verde”, que avançou pelo país nas recentes discussões sobre a lei do aborto legal.

Três mil mulheres são esperadas nos quatro dias do evento (7 a 10 de dezembro, na Faculdade de Humanidades e Ciência da Educação), que terá uma série de atividades, divididas por eixos temáticos, como trabalho, educação, saúde, sexualidade, economia, defesa dos territórios, aborto e violência.

Para o dia 10 de dezembro, reconhecido como o dia internacional dos Direitos Humanos, a organização do ELLA prepara uma grande marcha pela cidade. A ideia da organização é mobilizar os feminismos (no plural mesmo, porque são várias as vertentes) contra o neoliberalismo, o fundamentalismo religioso e o avanço do fascismo pelo mundo.

É possível que, mundialmente, nunca tenhamos ouvido e falado tanto sobre o protagonismo das mulheres nas mais variadas pautas, agendas, e nos mais diversos espaços sociais e de poder. E, com todas as adversidades aqui e fora, a pujança das manifestações e mobilizações que de toda parte chegam talvez seja reveladora de um momento ainda mais promissor adiante.

Porque a mobilização e a luta são diárias. E até onde a vista e as tecnologias alcançam, o engajamento feminino não para de crescer.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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