Os “despertencidos” da cidade

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Obelix

Ref. ao post “Aparthaid a brasileira?, por Wagner Iglecias e Rafael Alcadipani”

Os “despertencidos” da cidade

Prezados e prezadas, permitam-me um pitaco em tão bem elaborado texto.

É irresistível uma abordagem sociológica ou a sociologização de determinados fenômenos sociais, e de certa forma, a Sociologia oferece um instrumental teórico que satisfaz boa parte de minhas expectativas, mas não todas.

Acho complicado dar uma dimensão exata dos chamados “rolezinhos”, um tipo específico de “flashmobs” juvenis, possbilitadas pela fluidez de informação das redes sociais e das traquitanas eletrônicas.

De certa forma, esta mobilização em torno de temas específicos (torcidas de futebol são outro exemplo) é próprio da juventude, e que pode se estender até a débeis mentais considerados adolescentes tardios, que não correspondem idade biológia com mental (outro traço muito comum na sociedade da obsolescência).

Mas não é um fenômeno inédito ou adstrito a Idade Virtual.

O cinema hollywwodiano explorou estas manifestações à larga, seja na saga James Jean, seja com a contracultura hyppie, e outras comunidades.

O principal mito ocidental, ou melhor, os principais mitos ocidentais cultuados desde muito tempo são: reunião por afinididade, mediação de violência, contestação do estamento e rito de passagem. O outro é a guerra, outro tipo de manifestação institucionalizada de violência juvenil e pós-adolescência, mixado ao mito do heroísmo com propósito.

Dito isto, vamos a nossa opinião:

Há um pequeno erro conceitual no texto. Ele remete a posição paranoica e classista da elite paulistana e comercial de SP e de outros estados, e dos “bondes” (no RJ) e “rolezinhos”(em SP). Tivemos caso semelhante em um shopping em Vitória, ES, com repercussão parecida: de um lado a paranoia, de outro a sociologização do tema.

Até aí tudo bem. Mas a reação não se dirige a enfrentar legiões de consumidores que optaram por expressar sua adesão ao consumo de forma de forma heterodoxa.

A reação é bem mais complexa, e pode ser que nem todos os atores estejam cientes disto, até porque parecem que todos reproduzem gestos e reações típicas que nos iludem a acreditar que tudo passa por um contexto economicista-sociológico.

Não há, ou pelo menos não há pesquisa e estudo que comprove esta tese, que os “truta e as mina” de SP estejam a reivindicar apenas o direito de subverter a pequena ordem privada capitalista que está confinada nos espaços-templo de consumo e seu entorno.

Ou que estejam inconscientemente escolhendo ocupar shoppings ao invés de reivindicar bibliotecas, parques e outras facilidades públicas de lazer e cultura. Não é só isto, embora estes sejam componentes plausíveis.

É mais que isto.

É o direito à cidade que está sendo reivindicado, ainda que de forma caótica, e manifestada com a linguagem simbólica de violência para quem só teve este tipo de interlocução com as formas simbólicas E REAIS de violência da cidade sobre si mesmos, e que podem ser geograficamente, fisicamente demonstradas.

O que estes jovens estão à dizer é: “nenhum espaço está à salvo, todos os lugares nos pertencem”.

Mas por que estas manifestações se dirigem especificamente a shoppings e não há outros espaços de alto consumo ou de convivência da elite, como restaurantes, ruas como Oscar Freire, etc?

Porque os shoppings centers são, justamente, os espaços privados que tomam a cidade (privatizam) sob a fantasia de se constituírem em locais de civilidade pública possível, ou seja, a do consumo.

Esta é a falácia (da sociabilidade higienizada pelo consumo) que devora enormes faixas das cidades e seus recursos (água, áreas verdes, etc), complicações do ir e vir, segurança, etc.

Neste sentido, na minha modesta opinião, o texto erra ao identificar nestes jovens uma tendência a querer manifestar sua forma de entendimento da inclusão pelo consumo.

Não…é o contrário: a invasão destes espaços é um grito, ainda que alienado e sem noção ideológica de si mesmo, de enfrentamento do consumo como única possibilidade de sociabilidade possível.

É precioso o momento. É preciso entendê-lo.

Eles querem estar ali “por estar”, ainda que de forma ruidosa. Mas na cidade dos shoppings e dos ricos contra os pobres, ninguém pode estar em nenhum lugar apenas por estar.

Tudo tem que ter um motivo e um objetivo, sempre dentro da lógica econômica.

Hoje, a cidade nos “despertence”.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. “elite” branca, rica… e ladra!

    10% de ricos tem metade da renda.

    50% dos mais pobres dividem apenas 20% da renda.

     

    Quem trabalha e produz é roubado por uma minoria de grã-finos vagabundos.

    1. Economicismo é a morte de Marx.

      Prezado Fábio.

      O economicismo levado as últimas consequências apenas subverte a lógica do pensamento marxiano contra ele mesmo. Marx já previra isto ao se negar “marxista”, ou seja, reivindicou uma desideologização do seu pensamento, o que não pode ser confundido com a desideologização do conflitos de classes.

      Ideologizar Marx no seu conteúdo economicista é dar munição a Delfim Netto, por exemplo, que descreve perfeitamente relações de causa e efeito econômicas como um estudioso profundo de Marx, mas limita o teor “transformador” da ciência contida nele: o método de análise que leva a conclusão que o capitalismo não é a última fronteira da Humanidade.

      A desigualdade produzida pela acumulação capitalista está na base dos problemas, mas ela não explica a complexa rede de fenômenos que empurra a História e as sociedades.

      Se assim fosse, seriam os setores mais atingidos pela exclusão, o lumpen, ou os mais pobres dentre os mais pobres que se mobilizariam em enormes rolezões pela cidade.

      Mas Max ensina que junto com a desigualdade e a pobreza vem a alienação de si mesmo e de sua condição de explorado, logo, é a cultura estruturante da sociedade que assume contornos principais na luta pela superação destas desigualdades.

      Estes jovens não celebram a luta pela desigualdade (ao menos não com consciência disto), ou do desconforto com a pobreza (apenas), até porque não diagnosticamos sua origem e condição de classe por completo.

      Eles querem a cidade e tudo que ela oferece.

      É uma forma de protesto? Claro. Mas não com o sentido econômico e de classe descrito por você. Ainda.

      Cordial abraço.

  2. Boa análise!
    Mas ainda tem um

    Boa análise!

    Mas ainda tem um ponto curioso, que agora me chamou atenção, e que ainda não vi ser explorado por quem tenta avaliar tal fenômeno, de que o mesmo está ocorrendo apenas em algumas áreas específicas do país, tirando o caso de ES, as regiões metropolitanas “gigantescas”. Possivelmente o “caldo social” seja mais complicado nessas regiões.

    Não frequento shopping “por lazer”, só vou quando preciso comprar algo, mas aqui em Porto Alegre sempre vi circulando “numa boa”, nesses estabelecimentos, jovens com o perfil dos mostrados nos vídeos retratando os rolezinhos. Mas, ainda assim, não duvido que uma aglomeração atípica e organizada por aqui fosse causar reação parecida com a que se nota onde a coisa tem rolado em função da anormalidade da situação.

    1. Um problema polimórfico de gene comum.

      Caro Ed,

      Embora as formas de ocupação e manifestação capitalistas sejam parecidas e sempre se organizem sobre bases similares (especulação, exílio espacial, higienização, etc), elas repercutem de forma não linear, muito em parte pelas reações sociais de cada espaço urbano, pelas manifestações dos poderes públicos, e pelas próprias escolhas capitalistas, que também mudam de local para local, dependendo dos arranjos que pretende implantar: zonas industriais, serviços, zonas especiais de negócios, imobiliárias, etc.

      Por isto que os fenômenos do tipo tendem a ter conformações diferentes, e alguns pontos em comum.

      Cordiais saudações.

      1. Um problema polimórfico de gene comum.

        Obelix. Por Tutatis !

        Sua análise foi profundamente feliz e para quem vive um Sísifo, extremamente otimista do ponto de vista da sociedade. Que alívio ! Tomara parte dela , que seja ; seja verdadeira. Esperançoso pensar no mundo além da ambição do consumo e da dualidade ideológica burra que alimentamos hoje.

  3. O silêncio da ministra Maria

    O silêncio da ministra Maria do Rosário e dos MPs sobre a truculência dos comerciantes, via vigilantes e a utilização descabida das PMs para formalizar essa discriminação contra os jovens da periferia gritam muito alto. Quando as autoridades maiores vão defender o direito do povo? E a (in)justiça, para que serve?

  4. Mas então, caro Obelix, se a

    Mas então, caro Obelix, se a desigualdade é algo a ser superado pela sociedade para a pacificação da convivência, pois a violência que se constata no Brasil é muito superior a da maioría dos países que vivem sem conflitos externos, (pois eu entendo que o episódio dos shoppings tem muito a ver com a desigualdade que impera no Brasil, e em otros posts discutimos a desigualdade como geradora de violência); se o explorado é alienado da sua própria condição, e por isso parece não ser capaz de articular uma saída nem de aglutinar em torno de idéias outros da sua mesma condição para propor saídas à desigualdade; se na elite não somos capazes de identificar uma corrente de pensamento com um projeto de nação capaz de incluir a todos (é a crítica consistente que se faz a esse segmento social em todos os comentários e no discurso político dos setores de esquerda), qual é o caminho para reduzir essa desigualdade num período temporal que leve em conta nossa expectativa de vida? Pois ao passo que vamos, nem se os países desenvolvidos aguardassem nosso desenvolvimento sem crescer nem um tostão, chegariamos ao oferecer aos nossos setores com menos recursos o mesmo padrão de vida dos pobres dos países desenvolvidos em 150 anos.

    O projeto de nação do atual governo, o mais inclusivo dos últimos 30 ou 40 anos do Brasil, tanto ideológicamente, no discurso e na ação (ao menos na constatação estatística) está longe de resolver esse dilema. O projeto busca a transformação do excluído em consumidor, do meu ponto de vista, e não em cidadão. Os habitantes da periferia não alcançam a condição de cidadãos, nem para o Estado (que não lhes oferece a mesma infraestrutura nem investimento que oferece aos habitantes dos bairros “nobres”), nem para os outros habitantes da cidade, que os vêm como uma ameaça. É o passo acelerado da economia que vai resolver esse problema? É a aparição de algum lider oriundo da periferia, um iluminado com consciência social que conquiste os corações e mentes desses jóvens e os arregimente para reivindicar de forma concisa e urgente os direitos que lhes pertencem tanto como aos outros cidadãos? É um líder da elite que convença aos seus pares a pensar e executar um projeto de nação que inclua a todos pelo bem estar geral, por medo aos seus interesses ameaçados? Ou devemos esperar que esse caldo social que se cozinha a fogo lento, com a oferta de consumo as massas através da expansão do crédito e do emprego (mesmo que de pouca qualidade) por um lado e a repressão ao mesmo quando essa massa quer compartilhar espaços destinados a élite, ferva e exploda para que a elite pensante se toque? Para que a classe média alienada saia do seu arcabouço de pensamento e se torne espontâneamente mais inclusiva, menos temerosa, mais reacionária ao modelo privatista do espaço público, exemplificado pela shoppinização das cidades? Quál é o caminho mais provável (incluindo qualquer que não tenha sido considerado nestas linhas) que você acredita que o Brasil vai trilhar nos próximos anos? E quál é o que deveria trilhar, caso não haja coincidência entre o provável e o desejável?

    Saudações,

    1. Caro AR, seu comentário traz

      Caro AR, seu comentário traz instigante debate. Não ouso responder às suas perguntas, primeiro por carência teórica, segundo porque compreendo que para cada resposta surgirá novas perguuntas neste processo de construção da História, e que compreender isto é mais importante que elaborar respostas prontas em si.

      Vamos lá:

      Mas então, caro Obelix, se a desigualdade é algo a ser superado pela sociedade para a pacificação da convivência, pois a violência que se constata no Brasil é muito superior a da maioría dos países que vivem sem conflitos externos, (pois eu entendo que o episódio dos shoppings tem muito a ver com a desigualdade que impera no Brasil, e em otros posts discutimos a desigualdade como geradora de violência);

      Comentário: Caro AR, primeiro ponto a destacar: a violência se manifesta como fenômeno social de múltiplas formas e conteúdos. O comum é confundir violência com criminalidade. Por óbvio sabemos que nem tudo que é criminoso é violento e vice-versa. Estelionato ou furto são crimes não violentos. Uma cesariana ou um parto normal são violentos, do ponto de vista da violação do outro, mas não são crimes. Dito isto é preciso dizer: desigualdade é geradora de violência, mas não é a única, por outro lado, a História nos traz exemplos de esforços de diminuição de desigualdade tão ou mais violentos que os que desigualdade provocava, como os exemplos de violência de Estado das experiências ditas socialistas, ou o nazismo e fascismo.

      Por outro lado há exemplos de sociedade com níveis parecidos de desigualdade, mas com índices de violência/criminalidade extremamente díspares.

      Veja um dado estranho: o aumento da riqueza e a diminuição da desigualdade no Nordeste foram acompanhados pelo aumento da letalidade violenta criminosa na região, enquanto o SP e RJ, locais considerados como foco de geração de desigualdade, experimentaram queda nos níveis de homicídios. Um paradoxo ainda não estudado.

      Eu tenho para mim que a criminalidade está mais associada a uma junção de fatores (oportunidade, necessidade, percepção sobre impunidade/taxa de sucesso) e como as classes enxergam o funcionamento do Estado frente a morte violenta(de forma classista), que também resulta de uma exclusão econômica, do que do viés exclusivamente economicista da desigualdade econômica.

      Perceba também que há modalidades criminosas trans-classistas, como tráfico, lesões contra mulheres que não se relacionam com a desigualdade de forma direta.

      (…)se o explorado é alienado da sua própria condição, e por isso parece não ser capaz de articular uma saída nem de aglutinar em torno de idéias outros da sua mesma condição para propor saídas à desigualdade; se na elite não somos capazes de identificar uma corrente de pensamento com um projeto de nação capaz de incluir a todos (é a crítica consistente que se faz a esse segmento social em todos os comentários e no discurso político dos setores de esquerda), qual é o caminho para reduzir essa desigualdade num período temporal que leve em conta nossa expectativa de vida? Pois ao passo que vamos, nem se os países desenvolvidos aguardassem nosso desenvolvimento ao ritmo que vamos sem crescer nem um tostão, chegariamos ao oferecer aos nossos setores com menos recursos o mesmo padrão de vida dos pobres dos países desenvolvidos em 150 anos.

      Comentário: Infelizmente, AR, Marx tinha razão. Não há saída isolada para esta questão tão fundamental proposta por ti, na medida que o paradoxo sucesso/fracasso do capitalismo global, e suas formas nacionais de funcionamento, residem principalmente na manutenção deste cenário permanente de desigualdade e assimetrias, e não na sua extinção ou diminuição. É como se a corrente elétrica capitalista (os fluxos de capital) só se movessem na presença de enormes disparidades voltaicas (riqueza potencial) entre os terminais (países). Nestes circuitos econômicos, é a diferença que move a energia do sistema. Sem a intervenção global, os governos sempre vão esbarrar na pressão capitalista para geração de energia (cinética fincanceira) a partir das diferenças. As crises, continuando esta metáfora ruim, são como curto-circuitos, perdas de energia, sobrecargas que podem gerar oscilações até blecautes graves.

      (…)O projeto de nação do atual governo, o mais inclusivo dos últimos 30 ou 40 anos do Brasil, tanto ideológicamente, no discurso e na ação (ao menos na constatação estatística) está longe de resolver esse dilema. O projeto busca a transformação do excluído em consumidor, do meu ponto de vista, e não em cidadão.

      Comentário: Esta, caro AR, não é uma escolha que está disponível, ao menos inteiramente, aos governos nacionais, que nem de longe manipulam as variáveis que não estão ao seu alcance (como por exemplo o fato de que o país que mais gera déficit no mundo, os EEUU, se autofinanciam na moeda que emitem), e por outro lado, temem usar as que estão: câmbio, tributos, etc. A inclusão pelo consumo é ruim, é fato, mas coloca-se o dilema: na ausência desta, o que fazer, manter a exclusão total?

      (…)Os habitantes da periferia não alcançam a condição de cidadãos, nem para o Estado (que não lhes oferece a mesma infraestrutura nem investimento que oferece aos habitantes dos bairros “nobres”), nem para os outros habitantes da cidade, que os vêm como uma ameaça. É o passo acelerado da economia que vai resolver esse problema? É a aparição de algum lider oriundo da periferia, um iluminado com consciência social que conquiste os corações e mentes desses jóvens e os arregimente para reivindicar de forma concisa e urgente os direitos que lhes pertencem tanto como aos outros cidadãos?(…) 

      Comentário: É melhor a gente começar a (re)considerar que aquilo que a gente entende por cidadania como um valor absoluto e homogêneo, porque esta noção está fragmentada pela exacerbação dos modos e intervenções capitalistas globais em culturas locais. A infraestrutura demandada por moradores periféricos é também outra forma de inclusão pelo “consumo”, na medida que é a urbanização capitalista que também gera formas diferentes de construir a cidade para ricos e pobres (novamente para lucrar com as diferentes formas de urbanizar a cidade), só que neste caso a inclusão é para um consumo de “serviços públicos”, também oferecidos por consórcios capitalistas que terceirizam estas demandas aparentemente públicas.

      Cidadania, neste sentido, não é apenas exigir transportes, água, luz e sanemento, ou praças e outras facilidades, mas dispor da cidade em sua totalidade, transpondo as barreiras simbólicas que continuam, ainda que os capitalistas forneçam aos mais pobres a inclusão pelos serviços chamados de públicos.

      E esta intervenção só pode ser implementada pelas formas tradicionais (vereadores, conselhos comunitários) e não-tradicionais (como estes rolezões) de manifestação pela disputa da cidade, onde suas instâncias de poder real e simbólico devem ser apropriadas pela maioria, pelo coletivo, e não por corporações, ainda que a cidade esteja “organizada”. Não sei se me fiz entender.

      (…)É um líder da elite que convença aos seus pares a pensar e executar um projeto de nação que inclua a todos pelo bem estar geral, por medo aos seus interesses ameaçados? Ou devemos esperar que esse caldo social que se cozinha a fogo lento, com a oferta de consumo as massas através da expansão do crédito e do emprego (mesmo que de pouca qualidade) por um lado e a repressão ao mesmo quando essa massa quer compartilhar espaços destinados a élite, ferva e exploda para que a elite pensante se toque? Para que a classe média alienada saia do seu arcabouço de pensamento e se torne espontâneamente mais inclusiva, menos temerosa, mais reacionária ao modelo privatista do espaço público, exemplificado pela shoppinização das cidades? Quál é o caminho mais provável (incluindo qualquer que não tenha sido considerado nestas linhas) que você acredita que o Brasil vai trilhar nos próximos anos? E quál é o que deveria trilhar, caso não haja coincidência entre o provável e o desejável?

      Comentário: como falei no tópico anterior, e desde o começo, não há respostas lineares para problemas de tantas faces. Eu acredito que o processo de disputa pela cidade reunirá um pouco de cada ingrediente que você diz aí em cima, desde líderes carismáticos (sim, eles são importantes), o caldo social fermentado, os atritos de convivência entre consumidores decadentes e os “novos”, civilização da classe mé(r)dia, manifestações, esforços partidários, etc, etc e etc.

      Mas o futuro e o desfecho dependem de quem vai hegemonizar a mediação destes conflitos: pessoas ou corporações? 

      O que as corporações desejam é que acreditemos que o desfecho já está dado. Isto é mentira.

      É esta uma das chaves.

      Cordial saudação, e desculpe pela prolixidade.

      1. Barreiras Simbólicas…

        Obelix

        Bom lembrar que as “barreiras simbólicas” também são um produto complexo. Eu acho que mesmo os limites, ainda que agora se apresentem mais transparentes e ao vivo e em cores como a ação da Polícia frente a manifestação simbólica lúdica dos rolezinhos evidencie esta abordagem do simbólico no “mundo real” e complexo; esta simbologia é algo “carnavalesca, antropofágica no sentido “mario de andrade” e difusa entre as “classes” onde muito da simbologia de um ainda é observado na do outro. Como você falou no texto, é uma questão bem mais complexa do que levar para uma análise corriqueira e se pegar por coisas tipo “funk ostentação” uma simbologia já totalmente capturada pelo status quo e mercantilizada a contento do capital. Acho que a insatisfação é que se globalizou e todos os fatores de condição econômica são oxigênio para uma condição social que esta tentando ser alguma coisa e, como não podia deixar de ser, é “darwinisticamente” gregário. Se estamos nos matando como espécie é melhor fazer um role para ver o que tá realmente rolando. 

        abs.

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