Prefeitura apenas coloca esparadrapos sobre as feridas expostas na Cracolândia

Por Andre SP

Comentário ao post “A vitória civilizatória na Cracolândia”

Pessoal, é muito louvável a atitude, mas há um enorme caminho a trilhar.

Se não houver uma parceria e não existir uma garantia de emprego, eles voltarão às ruas. A questão básica está elencada no artigo do Nassif: “se eu largar as drogas, o Sr. promete que me dá um emprego de carteira assinada!”.

É ai que está o “X” da questão!

Este serviço de varrição de rua só terá êxito por um pequeno espaço de tempo, sem uma progressão palpável, em breve se recusarão a prestar este serviço e voltarão as calçadas. Oferecer cursos de capacitação e jogarem eles à própria sorte no mercado de trabalho não vai resolver, pois não serão contratados pelas empresas. Este projeto exige um engajamento muito maior da sociedade e vai muito mais além dos usuários de drogas. Ele passa também por ex-presidiários que alimentarão uma nova onda de abandonados nas ruas.

Por um lado é melhor fazer alguma coisa do que não fazer nada, mas não vejo ainda esta iniciativa como solução para a situação. O problema é muito mais grave do que parece. Ele é muito mais profundo! Pessoas com o mesmo perfil destes usuários alimentam o crime organizado nas duas extremidades: Como consumidores de drogas e soldados. A origem é a falta de emprego e oportunidades. Muitos viverão de subempregos à subempregos com longos períodos de inatividade: é ai que é plantada a origem do crime. Quando você não tem suas necessidades básicas garantidas, ou vai para a sarjetas ou para o crime.

Não quero ser hipócrita! Não posso aplaudir a iniciativa do Haddad! Ainda é preciso assistir tudo e ver como irá se desenrolar, não vejo solução sem um pacto nacional.

Este câncer é muito maior do que parece, estão apenas colocando esparadrapos sobre as feridas expostas, mas não vejo ainda uma mobilização nacional para o tratamento da doença em sua origem e causas. Para mim, ainda é uma forma de higienização um pouco mais perfumada.

Para que não haja mal entendidos: meu voto é Dilma em 2014 e, se votasse em São Paulo, seria Haddad. Mas quero mais coragem e compromisso para enfrentarem a raiz do problema.

2 Comentários

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  1. Sua crítica é positiva e

    Sua crítica é positiva e pertinente. A medida de Hadad é um bom começo, mas será necessário todo um processo ( começo, meio e fim) para minimizar toda essa degradação que vem junto com o vicio. Torço para que dê certo, que não desanimem frente às dificuldades que virão  e que possa servir de modêlo para o resto do Brasil

  2. sonhar o sonho impossível

    Andre SP, também fico cheio de dúvidas quando leio sobre situações em que entra consumo de drogas. Imagino que num passado muito distante um eventual usuário de substâncias como o ópio ou similares não demoraria muito a morrer, ou a ser largado pelas estradas da vida pelos demais membros da tribo, coisas assim. Hoje em dia tentam-se soluções, enquanto uma maioria (eu, incluso) faz de conta que não vê o que está ocorrendo. 

    Deixar de consumir drogas (qualquer droga) é tarefa para a qual a gente não foi previamente treinado, dificílima de assumir, portanto. Quando decidi deixar de fumar a porcaria do cigarro, minha certeza de que deveria tomar essa atitude foi enormemente ajudada por 2 colegas de trabalho que não fumavam – eu via em seus rostos o profundo desprazer de ter de compartilhar a fumaça comigo. E me livrei do vício quando tomei consciência disso. 

    Mas, ao que se diz, o crack é um inferno, amarra o usuário de tudo quanto é jeito  tornando o consumo da droga a única razão realmente forte para direcionar a vida – em direção à exclusão social e à morte.

    Assim que li o texto do Nassif e depois o teu comentário, fiquei um tempão me lembrando de um livro de Phillip K. Dick, escritor que também andou se drogando. O livro é A Scanner Darkly que teve edição em português com o título de O Homem Duplo.

    Num artigo na Superinteressante

    http://super.abril.com.br/cotidiano/scanner-darkly-446748.shtml

    é dito que

    Tal  livro foi inspirado nas experiências do autor, que passou dois anos vivendo em uma comunidade de hippies doidões na Califórnia no início dos anos 70, quando se tornou viciado em anfetaminas. Ao contrário da opinião de diversos médicos e especialistas, Dick sempre defendeu que o uso de drogas não é uma doença orgânica mas “uma decisão pessoal, assim como se atirar em frente a um carro também é”. (grifei).

    O Homem Duplo virou filme de mesmo nome, e no enredo a solução para os que se drogam é a de levá-los a morar numa área de terras onde há plantações, com atividades para esses dependentes já sob tratamento. (Plantações, de quê?)

    Vamos torcer para que SP encontre meios de recuperar os drogados da cracolândia.

    Mais, a respeito de Phillip K. Dick:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Philip_K._Dick

    Cartaz do filme O Homem Duplo:

    O Homem Duplo : Poster

     

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