O planejamento urbano na cidade de Lyon, na França

Sugerido por Antonio Nelson

Do Direitos Urbanos Recife, no Facebook

Estelita x Confluence
 
Por Cezar Martins
 
Uma cidade com mais de 2 milhões de habitantes, predominante plana, cortada por rios. Poderia ser Recife, mas é Lyon, uma das maiores cidades da França. Fui semana passada conhecer esse bairro novo, planejado – sim, com o poder público intervindo, dizendo como deve ser o bairro, o que deve ser construído, limites de gabarito, etc -, na beira do rio, em antiga área abandonada (déjà vu!).
 
Chego um pouco longe de metrô e vejo o teto do imponente shopping Confluence (onde os rios Rhône e Saône se encontram). Resolvo ir a pé pra conhecer o bairro. Vários prédios com máximo de 8 andares, não lembro de ter visto nada acima disso. Pelo que pude perceber, variando de classe média baixa até o limite de classe alta, muitas vezes com imóveis de tamanhos diferentes no mesmo prédio. Quase todos com lojas no térreo. Hotel, empresariais, centro de convenções, comerciais.

 
Vi ainda, se não me falha a memória, escritórios da Toshiba e Toyota dentre outras grandes e médias empresas em alguns desses prédios. Metrô é caro e demora, então o poder público fez uma linha de VLT até a ponta do bairro, na porta do shopping, e espalhou estações de bicicleta de aluguel por lá. Há também algumas linhas de ônibus.
 
Um bairro ainda com pouca movimentação de gente na rua, mas nascendo para a cidade, com a cara da cidade, e não uma erupção de concreto se sobrepondo sobre o entorno. Não é feiro imitando o velho, é arquitetura nova, inteligente, com identidade, mas proporcional à cidade.
 
Esse mês teve um evento, cinema barato em Confluence, para que as pessoas de outros bairros se mexam para lá e conheçam o bairro. E assim se busca planejar o crescimento da cidade por aqui, como um bem de todos, e não com essa lógica ultrapassada de que o terreno é do dono e ele faz o que quiser, de que cada classe vive num bairro e não se mistura.
 
A foto foi tirada na ponte de pedestres sobre um canal que separa o shopping – com corredores centrais e varandas a céu aberto, sem ar condicionado – de alguns prédios de bons apartamentos no bairro. Shopping à esquerda, prédios à direita na foto.
 
Então…
Quem disse que para ser empreendimento lucrativo tem que ter 40 andares?
 
Quem disse que não pode ter classes diferentes no mesmo bairro? Isso inclusive melhora a segurança, como já discutido por aqui: Fanpage Direitos Urbanos I Recife
 
*Cezar Martins nasceu e mora no Recife/PE. Estudou Design gráfico na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).  É Analista Tributário  da Receita Federal l
 
Redação

9 Comentários

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  1. Nossa amigo Cezar viajou e aprendeu alguma coisa

    Que no Brasil, não é só o julgamento da AP 470 que tem aspectos medievais: muitas das ideias da turma da grana tambêm são medievais! 

  2. E por aqui tem gente

    E por aqui tem gente defendendo o MCMV achando qu construir imóveis de 42 m2 para baixa renda já está muito bom (e fo**-se o preço).

  3. Quem tem mais, pode tudo.

    E assim se busca planejar o crescimento da cidade por aqui, como um bem de todos, e não com essa lógica ultrapassada de que o terreno é do dono e ele faz o que quiser, de que cada classe vive num bairro e não se mistura.

    Nesta frase, se explica e resume, o que não acontece no Brasil. Aliás, não é de hoje a resistência a algo que nem é propriamente uma novidade nos centros urbanos: O planejamento urbano, centralizado no poder público, pensado, discutido e aprovado com a participação efetiva do cidadão ou de seus representantes.

    No Brasil, o Secovi se considera o representante maior da sociedade. Qualquer tipo de planejamento urbano, que não conte com seu aval, produz imediatamente uma série de críticas aos prefeitos que ousem faze-lo. Assistimos, neste exato momento, a grande resistência oferecida à aprovação dos Planos Diretores. Vale tudo para isto, principalmente taxar  as propostas de antidemocráticas.

    Democrático no Brasil é atender aos poderosos setores corporativos, auxiliados estes, por Oscips e associações patrocinadas por eles. Uma democracia onde quem tem mais recursos financeiros, pode tudo.     

  4. os arquitetos brasileiros

    Os arquitetos brasileiros, salvo excessões,  são responsáveis por essa tragédia que vem se tornando as cidades brasileiras, pois não são eles que estudam urbanismo nas faculdades? Esquecem tudo  na hora de satisfazerem os empresários e detonam com a lógica de planejamento para o coletivo ao projetarem todos os monstrengos que temos que conviver durante décadas ou séculos. 

    1. Ane, concordo com você: a

      Ane, concordo com você: a situação é 1/2 calabresa, 1/2 mussarela.

      Pelo Brasil afora há vários bons exemplos de ocupação do espaço planejado por arquitetos além de espaços espontâneos como as cidades históricas.

      No entanto é preciso ver que nossa situação é diferente da de Lion: aqui Plano Diretor é letra morta, coisa “pra inglês ver”, lei que “não pegou” o que me parece que não acontece lá.

      Planos diretores são feitos por equipes que até tem arquitetos, mas enquanto os “fazedores” da cidade, (leia-se capital especulativo que transforma o valor da terra nua em casas, lojas e etc e fatura (alto) com isso), financiarem cargos do legislativo, cada vez será mais difícil mudar esta situação.

      Veja o caso de São Paulo: hoje o Plano Diretor da Cidade seria entregue na Câmara de Vereadores, mas foi adiada porque o parente de um dos vereadores faleceu!!! (com todo respeito à perda do vereador)

      Pra você ver a “importância” que é dada ao documento.

      E o que dizer do Plano que está em vigor desde 2002? Ele ajudou bastante na melhoria do trânsito da cidade nesta última década, certo?

      Abs!

    2. Ane, concordo com você: a

      Ane, concordo com você: a situação é 1/2 calabresa, 1/2 mussarela.

      Pelo Brasil afora há vários bons exemplos de ocupação do espaço planejado por arquitetos além de espaços espontâneos como as cidades históricas.

      No entanto é preciso ver que nossa situação é diferente da de Lion: aqui Plano Diretor é letra morta, coisa “pra inglês ver”, lei que “não pegou” o que me parece que não acontece lá.

      Planos diretores são feitos por equipes que até tem arquitetos, mas enquanto os “fazedores” da cidade, (leia-se capital especulativo que transforma o valor da terra nua em casas, lojas e etc e fatura (alto) com isso), financiarem cargos do legislativo, cada vez será mais difícil mudar esta situação.

      Veja o caso de São Paulo: hoje o Plano Diretor da Cidade seria entregue na Câmara de Vereadores, mas foi adiada porque o parente de um dos vereadores faleceu!!! (com todo respeito à perda do vereador)

      Pra você ver a “importância” dada ao documento.

      E o que dizer do Plano que está em vigor desde 2002? Ele ajudou bastante na melhoria do trânsito da cidade nesta última década, certo?

      Abs!

  5. morei em Lyon e costumo

    morei em Lyon e costumo sempre voltar, para rever pessoas queridas. Sempre chamou-me atenção o fato de que, ao andar pelas ruas, tinha a sensação de que a cidade era das pessoas, da coletividade, da convivência comum, sobretudo no que tange ao planejamento urbano. Também me surpreendi com o novo bairro que vai se fazendo com uma mescla de novidade arquitetural e respeito por certa atmosfera que caracteriza e singulariza a cidade.

    Mas nem tudo é um paraíso: alguns moradores criticam o fato de que, ao construir um novo bairro na beira do rio Rhône, não se levou suficientemente em conta o risco de que tais construções contribuem para aumentar o risco de inundações desse rio, desastre que já aconteceu em algumas ocasiões. 

    De modo que, como toda grande cidade, Lyon não deixa de ter seus problemas. Mas acredito que são problemas que advêm da busca contìnua por condições de vida mais favoráveis, não gerando a mesma sensação de impotência e desamparo face à arrogância dos investimentos imobiliários que temos aqui em nossos centros urbanos…

  6. Metrô é caro e demora, então

    Metrô é caro e demora, então o poder público fez uma linha de VLT até a ponta do bairro, na porta do shopping,

    Qual cidade brasileira de médio ou de grande porte que possui um sistema de VLT? Os “empresários” de ônibus não permitem, afinal os prefeitos e governadores tem que devolver com juros e correção a ajuda na campanha.

    Enquanto isso o maldito BRT que funciona mal e porcamente, feito com exclusividade para atender a demanda dos empresários de ônibus e não dos passageiros, tomam de assalto as vias das grandes e médias cidades. 

    Financiamento público de campanha já.

  7. um pouco de história

    Tenho a impressão que o urbanização desse jeito vem desde a colônia: iam construindo de qualquer jeito de dai as ruas tortas, estreitas, muitas vezes sem calçadas nas cidades históricas. A própria colonização foi gananciosa e individualista!

    Diferentemente, a colonização espanhola estabelecia a orientação das ruas, as larguras e comprimentos dos quarteirões, des calçadas, tudo medidinho. Convido a quem conheça o centro histórico de qualquer cidade de origem espanhol (Buenos Aires, Montevidéu) que pense no dameiro perfeito que são. E a colonização foi com frequencia ganaciosa mas institucional.

    Montevidéu, a que melhor conheço, o plano diretor em vigor até hoje é de 1925, com poucas modificações.

    Lyon não conheço, mas em Paris não lhes tremeu a mão para por muita coisa abaixo para abrir os grandes boulevares.

    Não pretendo nem considero certo fazer juizos de valor, mas compreendermos como começou o caos pode nos fornecer elementos para mudar.

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