Salto da Divisa, a cidade sobre as águas

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB

Salto da Divisa, a cidade sobre as águas

Buracos enormes abrindo no asfalto, casas desabando, paredes rachadas e ruas desniveladas. Os moradores da cidade de Salto da Divisa- MG, situada no Vale do Jequitinhonha, lidam com esta realidade no seu dia a dia, durante anos

O município é atingido pela Barragem de Itapebi construída há 20 anos na cidade de mesmo nome. A barragem é propriedade da empresa espanhola Iberdrola e do grupo Neoenergia. Para sua construção foi inundado um bairro, diversas casas e várias famílias foram expulsas de suas residências, indenizadas injustamente, desrespeitadas e desconsideradas.

Além de diversos problemas que precisam lidar cotidianamente devido a construção da barragem, a população de Salto da Divisa vive atualmente uma consequência assustadora, a inundação das terras abaixo da cidade, ou seja a formação de um lençol freático por baixo do município.

Weslley de Morais, professor universitário e militante do Movimento dos Atingidos por Barragens- MAB, explica que quando a barragem foi construída e o “lago da barragem” encheu, seu volume chegou a 120 metros, 80 metros acima da previsão inicial, que era apenas 40 metros. “Quando fecharam as comportas da barragem, há 20 anos, a população da cidade ficou olhando de longe e chorando bastante, alguns inclusive passaram muito mal”, relata.

Com uma grande quantidade de água retida em um lago que não aguenta o volume muito alto, as águas começaram a invadir o solo, criando lençóis freáticos embaixo da cidade. Em alguns pontos do município, é possível encontrar água a apenas 6 metros da superfície quando é feita a perfuração para a abertura de poços artesianos.

Como consequência, as casas e ruas da cidade têm sido abaladas, criando buracos em paredes, desabamento de muros, e praças com verdadeiras crateras. A casa da moradora Edileia Aparecida Vilela já teve seis de suas paredes desmoronadas e não tem para onde ir. Hoje vive no último cômodo que restou de sua residência, correndo sérios riscos. Outro exemplo é o de D. Lina, com mais de 70 anos, que se feriu recentemente quando uma telha de sua casa caiu em sua cabeça.

Desde 2015, com a presença do MAB, os moradores lutam com a empresa para reconhecer o problema e tomar providências. Segundo Weslley, é comum a empresa não receber os atingidos ou atender as ligações, agindo propositadamente com descaso.

A justificativa da empresa é sempre a mesma, usa como respaldo a “Lei do Lava-pés”, assinada na Câmara Municipal quando a barragem foi construída. Segundo a lei, o grupo Neoenergia tem responsabilidade apenas por aqueles que vivem em até 100 metros de proximidade do lago, desconsiderando quase todo o município atingido.

A população segue em luta e vigilante, cobrando do poder público e do grupo Neoenergia a sua responsabilidade com os moradores de Salto da Divisa.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

4 Comentários

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  1. Ué!

    Não tem assembléia legislativa na cidade?

    Ela só legisla até 100 metros da barragem ou no municipio todo?

    É só fazer outra lei expandindo a ” lavapés.”

    Tem um tal de Ministério Público que também pode dar  um susto nessa Neoenergia.

  2. Poderes
    públicos? República? Até quando os moradores expoliados de Salto da Divisa serão obrigados a viver sob um absurdo desses? E não são apenas eles, existem inumeráveis situações parecidas a essa, em “N” municípios. Triste Brasil. Por falar nisso, o Ministério das Cidades já era, não é mesmo? Parcela da população elegeu um presidente que sequer se deu ao trabalho de apresentar sua proposta de governo aos eleitores. Para que mudar a estrutura de uma sociedade dessas? Se os poderes executivos e legislativo são cúmplices, mais cúmplice ainda é o judiciário, por questão de lógica elementar. Aí reside o verdadeiro “legítimo domínio do fato”, com o apoio do poder coercitivo repressivo ilegitimamente exercido pelos militares e afins. Nessas horas não há como não parafrasear a máxima ecoada pelo Zé Sérgio à exaustão, “o Brasil é um país de muito fácil explicação”.

    Creio em revolução!
    Se ela não existe é preciso inventá-la.

  3. CRIME AMBIENTAL? HUMANIDADE? IBAMA? MARINA SILVA? WWF?

    Mas isto vem ao caso? Tem algum Fazendeiro ou Atividade Agropecuária para que ONG’s e Ambientalistas de Shopping Center, possam fazer suas manifestações e caricaturas? E ainda tem o pior. Toda riqueza gerada por tal Barragem, descobrimos que em nada beneficia o Cidadão Brasileiro e diminui a Indústria da Pobreza e Miséria. Estão Todos lá, sendo pasto para o enriquecimento de mais uma MultiNacional Estrangeira. Espanhola neste caso. 

  4. Sou da cidade vizinha, Jacinto e digo ser esta apenas mais uma demonstração de como nossos políticos não estão preparados para cumprirem sua função legislativa e o povo desinformado assegura a continuidade destes desmandos por meio da perpetuação das mesmas famílias no poder ad eterno…

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