Temer decreta o fim da Ciência no Brasil, por Janio de Freitas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – O tema desta quinta-feira do colunista da Folha, Janio de Freitas, é sobre o desmonte da Ciência logo depois do desmonte da Educação por decreto. Depois de muita luta para organizar o Ministério da Ciência e Tecnologia, o governo em questão soterra o trabalho criando um ministério que junta Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, uma salada de funções que vai impedir qualquer trabalho sério.

Na segunda parte do artigo, Janio de Freitas aborda a eleição dos neopentecostais. Crivella já tem levantado a crista para a criminalização do aborto e das drogas, além da pauta LGBTT. O não avançar vai sendo substituído pelo retroceder e isso por um candidato que ganhou do Psol mas perdeu para os votos brancos e nulos.

Além disso fala da vitória do PSDB, que se não levou votos viu a ascensão de partidos coligados, que o fortalecem no discurso e nas pautas.

Leia o artigo a seguir.

da Folha

Temer soterrou o Ministério da Ciência e agora ataca a ciência

por Janio de Freitas

1- Estar atualizado, no Brasil de hoje, é saudar o retrocesso. A rigor, nossos inovadores fazem mais do que retrocessos, querem ir, e vão, além de estágios degenerados do passado. Depois da “reforma do ensino” por medida provisória, uma e outra produzidas em cavernas não identificadas, o ataque volta-se contra a ciência e os cientistas.

Foram longas batalhas para criar e depois dar alguma organicidade ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Temer & associados, no entanto, depressa o soterraram sob um tal Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, uma salada de funções bastantes para impedir que qualquer uma seja cumprida.

Há pouco, deram seguimento à sua missão: a Academia Brasileira de Ciência, a Sociedade Brasileira de Biofísica, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, e outras entidades científicas, denunciam o comprometedor rebaixamento, na hierarquia do novo “ministério”, de numerosos conselhos, agências e comissões destinados a alicerçar as atividades científicas.

Afastar mais as instituições de ciência e a cúpula da administração impede a criação de uma política de meios e metas para a atividade científica, como parte de um (inexistente) projeto nacional. Além desse impedimento final, já o fluxo dos recursos primordiais está obstruído, com entidades apenas capazes de mal se manter, e vai piorar sob a compressão do pretendido “teto” de gastos.

2- Desde o final da apuração, Marcelo Crivella tem repetido que “o Rio se manifestou contra o aborto, a descriminalização das drogas e a discussão de gêneros” [sexuais]. É a sua maneira de dar por iniciado o retrocesso, a título de cantar um êxito que já foi chamado até de “avalanche!” na imprensa importante do Rio. Mas falta fundamento tanto às suas afirmações, como aos comentários impressionados com seu êxito e o que significaria.

A colaboração do PMDB a Crivella deveu-se, na verdade, à falta de alternativa de Eduardo Paes para o seu candidato inviável. Houve ainda a colaboração de Freixo, decorrente de sua insuficiência para o desafio a que se propôs. E, se alguém quiser discutir esses dois fatores, o terceiro é definitivo.

Como a soma de abstenções, votos brancos e nulos totalizou 46,93% dos eleitores, índice brutal e nada surpreendente para o desalento com os candidatos, Crivella e Freixo disputaram 53,07% do eleitorado. Metade, na prática dos eleitores. E Crivella foi votado só por pouco mais de metade daquela metade, ou 59,37% dos 53,07% votantes.

Logo, Crivella foi eleito por 31,5% do eleitorado carioca total. Dizer que o Rio se manifestou em tal ou qual sentido, na eleição em que esteve tão restringido nas possibilidades de escolha, não é só o início imediato de um programa de governo escamoteado na campanha. É, sobretudo, uma falácia. Como gesto inaugural, quase doloroso.

Já a vitória do PSDB foi maior do que o indicado pela aritmética das urnas e dos comentários. Não em termos eleitorais ou geográficos, mas políticos e ideológicos. Os êxitos do PPS e de parte do PSB fortalecem também o PSDB, do qual são como reboques.

Mas a tão cantada vitória peessedebista para a Prefeitura de Porto Alegre, a primeira, tem pouco ou nada a ver com o partido. Basta observar que o eleitorado de Porto Alegre elegeu apenas um vereador do PSDB. Mesmo elegendo o prefeito —evidente rejeição ao partido, por mais que lhe atribuam grande avanço gaúcho.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

11 Comentários

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  1. Sobre Crivella, espero,

    Sobre Crivella, espero, confiante, que ele, por ele mesmo, se destrua, porque não creio que poderá ser além de um senador invisível. Ser prefeito é coisa séria, e ele não é sério o suficiente para conseguir governar a cidade carioca. A chance de ser muito pior que os antecessores existe, é latente por enquanto, mas há de aflorar ao longo do seu mandato. Questão de tempo.

  2. Jânio escorregou nos números

    Prezados leitores,

    Partindo do princípio de que o texto publicado aqui no GGN é cópia fiel do que escreveu Jânio de Freitas em sua coluna deste dia 3 de novembro de 2016, devo dizer que o mestre cometeu alguns erros, ao tratar com os números e percentuais.

    Os números oficiais do Rio são os seguintes

    1) Eleitores cadastrados na cidade: 4.898.044 = 100%

    2) Abstenções verificadas na cidade: 1.314.950 = 26,85%

    3) Eleitores que compareceram para votar: 3.583.094 = 73,15%

    Os resultados do 2º turno foram

    4) Marcello Crivella: 1.700.030 votos = 59,36% dos votos válidos ou 34,71% dos eleitores cadastrados na cidade

    5) Marcelo Freixo: 1.163.662 votos = 40,64% dos votos válidos ou 23,76% dos eleitores cadastrados na cidade

    6) Votos brancos: 149.866 = 3,06% do eleitorado cadastrado

    7) Votos nulos: 569.536 = 11,63% do eleitorado cadastrado

    Portanto a soma das abstenções e dos votos brancos e nulos perfaz um total de 2.034.352, ou seja, 41,53% dos eleitores.

    Isso quer dizer que pouco mais de 1/3 dos eleitores cariocas votaram em Crivella, o prefeito eleito. Quase 2/3 (65,29%) dos eleitores cariocas rejeitaram Marcello Crivella. Conclusão: Mais do que demagógica é uma deslavada mentira a afirmação do bispo licenciado da IURD que se elegeu prefeito do Rio afirmando que “O Rio se manifestou contra o aborto, a descriminalização das drogas e a discussão de gêneros”

    Quanto ao tema central do artigo, o desprezo do governo golpista pela área de ciência e tecnologia foi exposto com a competência, clareza e concisão habitual do mestre Jânio.

  3. Para consumar o entreguismo o

    Para consumar o entreguismo o governo do “Informante da CIA” precisa tornar o país atrasado. Está cumprindo o papel que lhe cabe de tornar o Brasil uma nova e gigante colônia dos senhores do Norte.

  4. Putz, esta eleição foi um

    Putz, esta eleição foi um samba do crioulo doido! Além da óbvia rejeição do eleitor pelos os candidatos em geral, podemos concluir que aqueles que “levaram” as prefeituras (já que “ganhar” soa falso) correm rapidamente para impor a versão dos fatos, posto que “ganhar” a versão será imperativo para não se tornarem a “próxima Dilma”. Digo isto levando em consideração a eleição do Rio (desconheço a situação de Porto Alegre). O pessoal que apoiou Freixo, que comemora com fervor a “derrota”, pode se indignar com a idade média baixada por decreto e se inspirar numa reação a lá Aécio… quem mandou criar jurisprudência?  Sinto nos ossos que o recrudescimento da política não terminou com as eleições, está apenas começando.

  5. O temerário deve se

    O temerário deve se vangloriar, cheio de empáfia, junto com Moreira Franco:” Essa é a minha ponte (ou fonte) para o futuro…”

  6. Eleição no Rio

    O problema é que a maioria ou não vota ou anula o voto ou se abstém, mas Os EVANGÉLICOS votam porque assim Deus mandou. Como contrariar o Senhor, o Senhor da IURD? Praticamente impossível pois o Demônio os aguarda. Este avanço das igrejas pentecostais é um perigo para o país, um retrocesso, um descalabro. Não sou atéia, mas o meu Deus é outro, não é um Deus que atemoriza ou inventa conceitos, o meu Deus não tem exército, o da IURD tem e são perigosos, enfim, o tempo dirá.  

  7. Eleição no Rio

    O problema é que a maioria ou não vota ou anula o voto ou se abstém, mas Os EVANGÉLICOS votam porque assim Deus mandou. Como contrariar o Senhor, o Senhor da IURD? Praticamente impossível pois o Demônio os aguarda. Este avanço das igrejas pentecostais é um perigo para o país, um retrocesso, um descalabro. Não sou atéia, mas o meu Deus é outro, não é um Deus que atemoriza ou inventa conceitos, o meu Deus não tem exército, o da IURD tem e são perigosos, enfim, o tempo dirá.  

    1. de acordo!

      Escreveu bem!

      Já escrevi aqui que essa gente é perigosa, obsessiva.

      Tem dinheiro (o dizimo, fora o fundo partidario), o rebanho, digo, o eleitor e a ambição,

      Logo, estaram diminuindo os nossos direitos civies, porque a Biblia assim determina!

      Na cidade que vivo na grande são paulo, contei 17 radios evangelicas, 1 catolica no na FM que consegui ouvir bem  no meu radio. Sem falar da AM!

      Os politicos foram dando as radios para terem apoios. Agora vão comer na mão dos pastores!

      Como são burros!

       

  8. C&T versus Pmdb-Opus Dei-Iurd…
    Nassif, não nos esqueçamos que Temer ainda é dos tempos do Mdb que, com a Arena, assumiu o poder em 66, quando a ditadura militar instituiu o bipartidarismo, virando Pmdb em 79 e em 85 chegou à vice-presidência de Tancredo Neves com José Sarney, que, sem nenhum voto direto, assumiu a Presidência assim que o titular morreu, mas começou a perder o poder em 88, quando dissidentes como Fhc, Serra e Alckmin criaram o Psdb. Por trás desta última sigla, tínhamos a maldita C&T; todos seus expoentes eram beneficiários da luta do povo paulista pela instituição da Usp em 34 e da Fundação de Amparo à Pesquisa, Fapesp, em 47, com direito a 0,5% do orçamento paulista e um grande ariete como apoiador, a Sbpc. Esta Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência que desde 48/49 reunia anualmente milhares de pesquisadores, professores e jovens em suas reuniões, foi a grande catalisadora das transformações que nos levaram às Diretas Já e à eleição do presidente de seu conselho deliberativo – Fhc, com o apoio decisivo da esposa, professora Ruth Cardoso – à condição de presidente da República, em 94. Assim que este tomou posse, a sede da Sbpc deixou SP e mudou-se para o RJ e suas reuniões, comissões e lutas (como o da Constituição paulista de 89 que elevou para 1% do orçamento paulista o dinheiro a ser gasto em ciência pelos quase dez mil pesquisadores da Usp-Unicamp e Unesp) desapareceram do mapa. Há pouquíssimo tempo, a Sbpc retornou à paulicéia, sem nada do vigor antigo, incapaz até de defender as antigas estações experimentais e unidades de conservação da privatização, interrompendo quase 70 anos de pesquisas, sem considerarmos que o mesmo ocorre no âmbito nacional – aonde temos um vitorioso especulador imobiliário – sim, ele mesmo, Gilberto Kassab – decidindo a sorte dos espaços sob a tutela do semi-extinto ministério de C&T. Ministro de Inovações e Comunicações, Kassab tem ao seu dispor todos os campus, laboratórios e áreas federais para lotear ao bel prazer dos interessados em tais enclaves, que vão da floresta da Tijuca aos melhores nichos litorâneos brasileiros, deixando a Temer escolher entre o útil e o agradável; entre o desmantelamento dessa maledeta ciência que ajudou a derrubar a ditadura da Arena-pmdb nos anos de chumbo e a comercialização dos imóveis nacionais amealhados desde os idos da monarquia lusitana para fins científico-tecnológico-educacionais e conservacionistas. Com o apoio do governador Alckmin, que retomou o malogrado intento do ex-governador Maluf de acabar com a Fapesp, sob o pretexto de que só assim terá recursos (quase 1 bilhão de reais por ano) para financiar uma vacina contra a dengue… Como se vê, estamos entre a cruz da Opus-Dei alckmista e a caldeirinha do obscurantismo hodierno/evangélico, muito embora para todos o capeta ainda seja esse pt alcunhado de satanás pelos inimigos do que ainda não foi privatizado na bacia das almas penadas em que o Brasil se converteu.

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