Como a Ucrânia censura informações sobre a guerra, por Luís Nassif

Aparentemente, apenas o jornalismo brasileiro continua acreditando nas versões da Ucrânia sobre a guerra

Presidente da Ucrânia visitou as trincheiras militares na região de Donetsk, no dia 17/02/22 – Foto: Gabinete Presidencial da Ucrânia

Na guerra, a maior vítima é a verdade. Trata-se de uma verdade histórica, mas desconsiderada pelo jornalismo corporativo brasileiro. Aceitam-se todas as versões do Departamento do Estado dos Estados Unidos e rejeitam-se todas as informações da Rússia – embora seja mais que evidente que os dois lados mentem, como ocorre em toda guerra.

Recentemente, o portal OpenDemocracy trouxe um apanhado da luta interna na Ucrânia, pela liberdade jornalística durante a guerra.

O governo da Ucrânia aprovou uma série de normas, incluindo restrições ao acesso de jornalistas à linha de frente da guerra, assim como a censura ao canal estatal United News Maratahon.

Segundo a alegação das autoridades, a iniciativa visa combater a desinformação russa e, também, alinhar a legislação da mídia da Ucrânia com a União Europeia. 

“Por algum tempo, especialmente nos primeiros meses da guerra, realmente havia uma espécie de consenso entre a sociedade, os jornalistas e as autoridades em relação às ações na mídia”, disse Serhiy Shturkhetskyi, chefe do Sindicato de Mídia Independente da Ucrânia, ao OpenDemocracy.  “Os jornalistas ucranianos passaram este período com dignidade. Agora novas regras estão sendo estabelecidas”, acrescentou Shturkhetskyi, e “a situação não está se desenvolvendo a favor dos jornalistas”.

As zonas de guerra foram divididas em cores. As zonas vermelhas estão completamente proibidas. As amarelas são abertas a jornalistas credenciados, desde que acompanhados por assessores de imprensa do Ministério da Defesa. As zonas verdes estão abertas a todos os jornalistas credenciados – embora o credenciamento seja um processo demorado.

Os jornalistas também precisam negociar individualmente com unidades militares. Mas se a situação da guerra mudar, licenças e acordos tornam-se inválidos.

O que chamou mais a atenção é que as zonas vermelhas foram abertas para jornalistas selecionados, da TV estatal. 

Segundo o Ministério da Cultura ucraniano, “implementar uma política de informação unificada é uma prioridade para a segurança nacional”.

Além disso, valendo-se do clima de guerra, o governo da Ucrânia passou a interferir na mídia, mantendo certos canais fora do ar e lançando novos. 

Três canais de TV nacionais – Canal 5, Direct e Espreso – foram inesperadamente desconectados da principal rede de TV digital em abril do ano passado. Antes da desconexão, o governo ordenou que cooperassem com outros canais de televisão como parte da United News Marathon. Todos os três canais estavam associados ao ex-presidente Petro Poroshenko, um opositor de longa data do atual presidente, Volodymyr Zelensky.

No mês passado, a organização Repórteres Sem Fronteiras pediu às autoridades a reabertura dos canais. Em comunidade, sustentaram que o governo nunca foi transparente em relação à censura.

“Atualmente, a Ucrânia tem pelo menos três canais de TV estatais. O aparecimento de um quarto sinaliza a transição do país para um sistema de televisão controlado pelo Estado”, disse Syumar ao openDemocracy. “Isso anula a política de desnacionalização [na mídia] que seguimos desde 2014 de acordo com os padrões europeus.

A Fundação de Iniciativas Democráticas, uma organização de pesquisa ucraniana, realizou uma pesquisa com 132 jornalistas em janeiro. 62% dos entrevistados consideram a United News Marathon uma forma de “censura” (18% discordaram). Apenas 11% são a favor da continuação da Maratona, enquanto 65% acreditam que ela deve ser interrompida e as emissoras devem retornar ao seu trabalho normal.

A pesquisa também sugeriu que a autocensura por parte dos jornalistas está crescendo, medida em relação a pesquisas semelhantes de 2019. O número de jornalistas dispostos a esconder a verdade sobre a guerra passou de 12% em 2019 para 25%.

Aparentemente, apenas o jornalismo brasileiro continua acreditando nas versões da Ucrânia sobre a guerra.

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. Nada tendenciosa sua matéria, se queria falar da censura na guerra porque não falou nada da rússia, onde nem chamar de guerra, a guerra, é permitido. Incrível a falta de humanidade de empatia desse povo que culpa a Ucrânia pelas atrocidades da rússia.

  2. O controle da informação é essencial na estratégia militar. O controle da informação com o objetivo da dissimulação, distração, confusão é essencial para a vitória.
    A Ucrânia fez uso da dissimulação na sua primeira contraofensiva onde fizeram vários ataques de precisao contra alvos estratégicos em Kerson antes do início desta. Esses ataques levaram a Russia a acreditar que a contraofensiva iria começar em Kerson, levando esta a concentrar tropas neste local, mas na verdade era apenas uma dissimulação, pois a contraofensiva começou em outra região. Essa estratégia foi fundamental para o sucesso da Ucrânia e poderia ter falhado caso a imprensa tivesse publicado algo sobre as reais movimentações do exercito da Ucrânia.

  3. Vamos pesquisar os massacres ucranianos perpetrados pelo Batalhão Azov, escancaradamente neonazista, na região russófona do Dombass, que vem acontecendo desde 2014 e dos quais a imprensa ocidental convenientemente nunca falou nada?
    É do herói nacional da Ucrânia, o muoto cultuado Stepan Bandera, que era só um torturador hitlerista que adorava pegar crianças judias pelos pés e arrenessá-las contra pilares para ver o corpinho delas se partindo ao meio, e pior, na frente das mães delas?
    Que tal falarmos sobre o Batalhão Azov, que tem simbologia nazista em sua bandeira, que entoa cantos nazistas quando marcha e que é financiado e armado por EUA e Israel para cometer massacres em regiões russófonas?
    Quer falar em atrocidade, veja primeiro a que você está cometendo apoiando nazistas.
    Será que os milhões de mortos na Segunda Guerra Mundial não serviram para ensinar sobre o que o nazismo é capaz de fazer?

  4. Claramente a maioria da população não tem a menor ideia do que esta realmente acontecendo. Quem usa as informações da mídia corporativa ocidental esta em uma realidade paralela. Apenas jornalistas independentes tem liberdade de trazer a realidade dessa situação. Para quem se interessar em saber todo o cenário que levou a essa guerra, assistam a aula do Prof John Mearsheimer na universidade de Chicago em 2015 (Why is Ukraine the West’s fault).

  5. Se os canais ucranianos contassem à população a verdade sobre a guerra, Zé lenski já teria caido e a guerra nem teria acontecido. Quanto aos outros países esses vêm sendo alimentados pelas mesmas informações que o povo ucraniano. Afinal, sem luta não há guerra e sem guerra não há lucro. De que adianta investir bilhões em pesquisa, planejamento, extração de minérios, fabricação de armas e formação de exércitos se não for pra usar?

  6. De acordo com a Veja:

    “Vexame de Putin: míssil ‘invencível’ fracassa e cientistas são presos”

    A derrubada de seis mísseis hipersônicos, a arma mais moderna do arsenal russo, humilha o Kremlin e revela um expurgo à la soviética.

    Os inimigos da liberdade e da democracia comemoraram quando a Rússia anunciou que havia destruído uma bateria de mísseis Patriot, o caríssimo e sofisticado escudo protetor que os Estados Unidos cederam à Ucrânia (a Alemanha deu uma segunda bateria).

    Durou pouco a alegria – na verdade, foi atingido apenas um veículo do círculo antiaéreo que cerca cada um dos preciosos Patriot, sistema que funciona como um posto de comando com capacidade para localizar por radar e derrubar automaticamente mísseis inimigos com seus oito lançadores.

    Mas esperem: tem mais notícias espetaculares. A Ucrânia não só derrubou os quase 100 mísseis e drones que choveram sobre Kiev na noite de segunda-feira – talvez o maior feito de toda essa guerra – como neutralizou seis mísseis Kinzhal, o foguete supersônico que tornava inúteis todas as baterias antiaéreas do planeta por causa de sua velocidade. E quem fez isso foi o não atingido Patriot, o mesmo sistema que protege Israel das chuvas de mísseis vindas de Gaza”. Ou seja, a Veja vê como um fracasso dos mísseis Kinzhal o fato de eles terem sido derrubados pela Otan, que tá em peso concentrada na Ucrânia, um ponto relativamente pequeno, contra a Rússia. Será que a Veja acha que numa guerra onde a Otan não esteja concentrada em peso num único país, mas dispersa num grande espaço, será assim tão fácil neutralizar os Khinzais?

    1. Cara tu só diz bobagens, mostra total ignorância sobre tudo que é equipamentos, bem como as informações mais básicas. Para começar, Israel não usa mais Patriots a vários anos, o sistema que usa é o Cúpula de Ferro, desenvolvido e produzido por Israel. O Kinzhal não pode ser derrubado por Patriots, simplesmente porque a física impede isso, uma vez que o Patriot é subsonico e o Kinzhal hipersonico, não tem como acontecer isso, tanto que foi comprovado que as imagens do Kinzhal abatido eram fakes e se tratava de outro míssil comum do arsenal russo. E quando a Ucrânia ter derrubado quase 100 misses em uma noite, não passa de outra mentira, a verdade é que que todas as baterias de Patriot foram atingidas e tiradas de uso, tanto é que dias depois as imagens de alvos em Kiev sendo atingidos até por drones Geraniun russos se sucederam uma após a outra, sendo atingido até o prédio do ministério da informação e a sede dos serviços secretos. A única verdade que acontece na Ucrânia, é que a Otan lutará contra a Rússia até o ultimo ucraniano e basicamente tudo que a imprensa brasileira diz é fake new produzida na Ucrânia ou nos EUA, muito longe da realidade da guerra ou do que realmente acontece na Ucrânia.

  7. Marcelo Fernandes, leia de novo o primeiro parágrafo desse texto, por favor. Prá facilitar sua vida, eu colo a seguir o mencionado parágrafo: “Na guerra, a maior vítima é a verdade. Trata-se de uma verdade histórica, mas desconsiderada pelo jornalismo corporativo brasileiro. Aceitam-se todas as versões do Departamento do Estado dos Estados Unidos e rejeitam-se todas as informações da Rússia – EMBORA SEJA MAIS QUE EVIDENTE QUE OS DOIS LADOS MENTEM, COMO OCORRE EM TODA GUERRA”.

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