Os cuidados com o novo PAC, por Luís Nassif

Há necessidade de um grupo de trabalho capaz de trocar em miúdos os números e fazer a contrapropaganda

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva fala durante cerimônia de lançamento do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) No Theatro Municipal, no Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O primeiro PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deixou alguns ensinamentos. Que, infelizmente, foram pouco aproveitados. Foi criada a EPL (Empresa de Planejamento em Logística), entregue a um gestor experiente, Bernardo Figueiredo, que montou o primeiro plano consistente de longo prazo para as políticas públicas de então.

Nas licitações, o primeiro grande empecilho jurídico era o pouco apuro do projeto básico – utilizado para definir o preço da licitação. Trata-se de um projeto superficial, Quando tem início a obra, prepara-se o projeto executivo, mais detalhado e identificando problemas não apurados no projeto básico.

Esses problemas abrem espaço para aditivos nos contratos, que podem ser justificados ou não.

Outro problema surgiu quando as obras se espalharam por todo o país, criando engasgamento na demanda por máquinas e equipamentos e mão de obra.

Tudo isso foi estudado pela EPL.

Havia planos de um acordo com os Institutos de Engenharia, para aprimorar a metodologia do projeto básico. Ao mesmo tempo, estudos para garantir recursos para as obras até o final. Com base nessa garantia, agir-se-ia em duas pontas. Uma delas, acordos com a indústria de máquinas e equipamentos para adaptar sua produção às demandas firmes do PAC.

Outra, um acordo com a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) para prospectar mão de obra potencial no cadastro geral do Bolsa Familia e iniciar treinamentos em cada região que fosse receber as obras.

Figueiredo ficou apenas um mês no cargo. Demitiu-se ou foi demitido depois de trombar com Dilma Rousseff. O planejamento foi interrompido e os problemas persistiram.

Agora, com a retomada do PAC, e com a grande engenharia brasileira destruída pela Lava Jato, há a necessidade de um planejamento correto, de uma análise criteriosa do custo-benefício de cada obra, das condições para a retomada. Faria bem o governo de envolver outras entidades nessa análise, desde o Tribunal de Contas da União até setores ligados a planejamento urbano e inovação.

Os tiros contra o PAC virão de todos os cantos. Quando lançou no PAC, Dilma Rousseff esmerou-se em cercá-lo de uma visão de gestara. Desenvolveu inúmeros indicadores de acompanhamento, para uma mídia que, no máximo, conhecia indicadores de trânsito. O que se fazia, em cada caso, era selecionar o indicador mais desfavorável e bater bumbo.

Por isso mesmo, além do planejamento e dos indicadores, há a necessidade de um grupo de trabalho capaz de trocar em miúdos os números e fazer a contrapropaganda.

Luis Nassif

5 Comentários

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  1. Alertas pertinentes, sobretudo na questão da comunicação, em que o governo vem novamente errando, repetindo fórmulas velhas que levaram ao desastre.

    Mas faço uma ressalva quanto a outro ponto: o principal problema com os projetos básicos não é exatamente de metodologia, mas de gestão. São fixados cronogramas arbitrários, não raro subestimando o tempo necessário para o projeto – visto por gestores idiotas como pedaços de papel e que a obra mesmo se dá no canteiro (“onde devem ser aparadas as arestas” e outras opiniões de senso comum).

    Depois, os projetistas são submetidos a uma terrível pressão para que se coloque logo a licitação na rua, para manter o “cronograma” em dia e logo começar a levantar poeira no canteiro – para se ter o que exibir para cima e para fora (mais ou menos como os seguidores de Jack Welch com dividendos, o que importa é apenas o curto prazo).

    Infelizmente, a maior parte das equipes técnicas não têm brios ou coragem para peitar essa pressão e dizer que o projeto não está pronto, que não dá para fazer projeto só tocando de primeira (é uma atividade intrinsecamente iterativa, com conflitos entre disciplinas), em resumo, que vai dar merda; às vezes isso até é dito, mas lavando-se as mãos – na linha do não é problema meu.

    Pior ainda quando o projeto básico é também contratado, por licitação ou não, em vez de feito por equipe própria, e aceita qualquer porcaria sem fiscalização, igualmente por pressão de prazos, por não se ter profissionais abalizados em casa, ou por corrupção mesmo.

  2. Acredito que além das boas sugestões, dos providenciais alertas e da lembrança dos erros e das dificuldades ocorridas anteriormente, como você objetivamente o faz nesta matéria, também tem que se criar um atento grupo confiável,que não permitida que todas essas sugestões, lembranças e alertas sejam engavetados, escondidos e sabotados por serviçais do atraso, do conservadorismo retrógrado, venal e traiçoeiro, que já existem em todos os governos e que também são estrategicamente plantados para executarem a traição e detonarem o caos, como se fossem uma espécie de kamikazes das posições extremistas que colocam em sua mira de alvo: a ordem, o progresso, a democracia, a evolução social, cultural e espiritual da nação brasileira.

  3. Sem reendustrialiçalao o pais nao cresce, nao desenvolve , uma obra dura pouco tempo, ja uma industria dura mais, pode fazer mil pacs se nao tiver industria ‘e apenas um sonho. Lula quer contruir estrada para escoar a agricultura e os minerios?
    Nao vai nem tentar reendustrializar?
    Estamos a caminho de se tornar uma naçao de exportaçao de graos e minerios.
    Sem energia barata nao vamos a lugar algum.
    Ate quando o presidente Lula vai fingir que ele nao ‘e o presidente?
    Afinal a culpa nunca ‘ e dele.
    Vamos retonar o pre sal, a eletrobras, a vale e etc.
    Afinal pra que ele quis ser presidente?, pro pais nao se desenvolve e um lunatico ganhar de novo a presidencia?
    O voto em bolsonaro foi principalmente economico. Se tivesse reendustrializaçao o pais nao tinha outro presidente,aqui na periferia o povo nao ‘ e burro.
    O que tem crescido ‘ e apenas a repressao policial e agora com guardas municipais armados e agindo como policial , aqui um problema que o presidente pode arrumar rapido, deixando bem claro pro prefeitos que guardas apenas pra cuidar do patrimonio prefeitos e hospitais, pq hoje os prefeitos estam agindo como imperadores.
    Esta tudo conectado,sem reendustrializaçao, a apenas a repressao.

  4. Nassif, as tecnologias de informação estão tão acessíveis e são tão fáceis de serem implementadas para todo esse controle das obras do PAC; da licitação até o acompanhamento das obras, tudo poderia ser plenamente controlado e compartilhado de forma muito fácil e acessíviel via dispositivos móveis e internet.

    Para a boa gestão seria uma coisa fantástica, para os Tribunais de Contas então seria maravilhoso; a corrupção se acanharia e o controle e eficiência aumentaria absurdamente.

    Mas não, falta vontade e sobra muita maldade. Para mim eles somente vêem esse PAC como uma oportunidade de meterem a mão no dinheiro público e se investigados para serem punidos, vão novamente colocar a culpa em alguém e destruir as instituições. Como fizeram recentemente.

    Eu como Presidente da República, criariam o Ministério da Informação, ou da Transparência, acabaria de uma vez com a corrupção usando tecnologia e total transparência.

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