Para a Fazenda, o candidato de Lula é Haddad, por Luis Nassif

Está sendo feito um trabalho junto ao mercado para amenizar resistências ao nome de Haddad no comando da Economia

No meio desse vendaval de rumores sobre o governo Lula, vamos a algumas certezas:

  1. O candidato de Lula ao Ministério da Fazenda é Fernando Haddad. Está sendo feito um trabalho junto ao mercado para amenizar resistências.
  2. Conforme adiantamos aqui, a escolha da equipe de transição na Economia – com André Lara Rezende, Pérsio Arida, Nelson Barbosa e Guilherme Mello – visou apenas reduzir as desconfianças do mercado em relação à futura política econômica e facilitar a aprovação da PEC do Orçamento. Mas o jogo de verdade começa no dia 2 de janeiro.
  3. Lula está mais do que convencido de que a única maneira de reativar a economia é através do aumento dos gastos públicos. As políticas sociais, ao melhorar as condições de vida da população de baixa renda, injetam dinheiro direto na economia, já que os recursos são integralmente gastos no consumo.
  4. Resta definir formas de financiar os investimentos em infraestrutura. Para tanto, haverá a necessidade da montagem de novos modelos, contando com a criatividade de Haddad n a Fazenda, o papel dos bancos públicos e das estatais remanescentes.
  5. O grande trunfo brasileiro será o meio ambiente. Lula será a grande estrela da COP 25. Os maiores fundos internacionais de investimento estão se aproximando do governo Lula, não apenas pelo fato de ter superado a maior ameaça ambiental ao mundo, Jair Bolsonaro, mas pelo potencial do país. Além da Amazônia e do etanol, o país tem reservas de lítio, amplo potencial para energia eólica e solar. Não faltarão recursos para a grande transição energética.

Além disso, outros fantasmas foram exorcizados. Ontem, o Ministro da Defesa Paulo Sérgio divulgou o relatório das Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas. Foi uma tentativa canhestra de livrar a cara, usando conclusões dúvidas: não se levantou nenhuma fraude, mas não foi possível assegurar que não existam fraudes – uma versão Paulo Sérgio da máxima da Lava Jato segundo a qual, “não podemos provar sua culpa, mas não podemos garantir que seja inocente”.

A resposta do Tribunal Superior Eleitoral seguiu o padrão de objetividade de seu presidente, Alexandre de Moraes. Todo o lero-lero de Paulo Sérgio foi sintetizado em três parágrafos de uma nota oficial assinada por Moraes:

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recebeu com satisfação o relatório final do Ministério da Defesa, que, assim como todas as demais entidades fiscalizadoras, não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022.

As sugestões encaminhadas para aperfeiçoamento do sistema serão oportunamente analisadas.

O TSE reafirma que as urnas eletrônicas são motivo de orgulho nacional, e que as Eleições de 2022 comprovam a eficácia, a lisura e a total transparência da apuração e da totalização dos votos.

Finalmente, outro ponto relevante foi a visita de Lula ao Supremo Tribunal Federal e às lideranças do Senado e da Câmara. Como era esperado, já houve um movimento amplo de adesão do Centrão. A aproximação será aceita, inclusive por ser essencial para a aprovação da PEC.

Luis Nassif

12 Comentários

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  1. Por mais lobby que se faça a favor deste o daquele candidato a vaga de ministro da Fazenda, o escolhido será aquele que tiver capacidade de entender que a política econômica foi escolhida nas urnas e o presidente Lula o escolhido para o gerenciamento.
    Assim,o perfil do escolhido já está definido,falta somente a adequação as circunstâncias políticas.

  2. “Aliados de Lula tentam emplacar lava-jatista na direção-geral da PF; nome gera polêmica

    Sandro Caron era responsável pela diretoria de inteligência durante a operação que levou o presidente eleito à prisão em 2018.”

    Vai começar o empoderamento e municiamento do inimigo?

  3. O “sapo barbudo” se supera cada vez mais. Lula já disse que seu ministro da Fazenda seria um político. O colunista André Araújo já disse que o melhor ministro da Fazenda que o Brasil já teve foi o advogado Osvaldo Aranha, durante os governos de Getúlio Vargas.Por sua exitosa administração no ministério da Educação, e sua extensa atividade política Fernando Haddad é o melhor nome.

  4. Se vier mesmo a assumir a Fazenda seria recomendável a Fernando Haddad se libertar dos dogmas ensinados por seus colegas no INSPER. Não vai ser fácil se livrar da ortodoxia monetarista que se oferece aos alunos daquela escola. Mas não é impossível que isso ocorra.

    Ao invés de limitar a inclusão do pobre no orçamento através do consumo garantido por transferência de rendas, Haddad poderia vir a pensar em valorizar o ser humano através de sua capacidade de trabalhar e produzir, e não apenas através da possiblidade de consumir.

    Aqueles que se encontram involuntariamente desocupados/desempregados merecem receber do Estado acesso a emprego e salário por ele garantidos. Se o Banco Central atua como emprestador de última instância e pode emitir moeda sem limite para garantir a solvência do sistema financeiro, por que o Estado brasileiro não pode ser também o empregador de última instância para assegurar sem limite a cada cidadão apto e desejoso de trabalhar a possibilidade de se sustentar através do próprio esforço e suor?

    Qualquer Programa de Garantia de Emprego (PGE) bancado pelo Estado não é apenas socialmente justo, mas altamente rentável. O PIB per capta está ao redor de R$ 100 mil e inclui nele R$ 34 mil de impostos. Se o PGE pagar um valor de por exemplo R$ 30 mil por ano ao desempregado/desocupado, haverá um superavit primário de R$ 4 mil/ano. Imaginem o efeito disso na Cracolandia em SP e na favela da Maré no Rio. A turma do tráfico vai rapidamente começar a perder cliente e ficar ameaçada de extinção.

  5. “Lula está mais do que convencido de que a única maneira de reativar a economia é através do aumento dos gastos públicos. ” O óbvio ululante. Nunca teve, nunca terá outra saída: se QUALQUER país quiser turbinar sua economia tem que ter investimentos públicos de alguma natureza. No mínimo por garantia de crédito. Afinal, o dinheiro e um vale do Tesoura Nacional. Investidores, banqueiros são reles concessionários no uso dele. Que precisam ser vigiados em tempo integral para não fazerem besteira, e na sua ganância afundarem tudo.

  6. Gosto das análises do Nassif pelos níveis de razoabilidade e sensatez. Nesse, no entanto, ele me lembrou a celebre pergunta do Mané Garrincha: “combinou tudo isso com os russos”?
    Quero, evidentemente, que tudo transcorra nessa linearidade e mesmo empirismo ai elencados, mas, como escreveu Drumond: “no meio do caminho tem uma pedra”. Nesse caso, serão muitas pedras, infelizmente, tanto no âmbito nacional como internacional.
    Primeiro que a direita raivosa tá firme e forte e tem expressiva presença no Congresso. E o bolsonarismo? Seguramente maior do que quem empresta o nome ao neologismo, seja na caserna, seja nos diversos segmentos sociais, é imprevisível o rumo que essa chaga vai tomar
    E no âmbito internacional, não estamos imunes às questões econômicas, políticas e beligerantes que afligem o mundo. E já sentimos em ocasiões anteriores as consequências disso.
    Mas vamos adiante. É interessante o roteiro apontado por Nassif. Nosso desafio é ter resposta para a pergunta do Mané Garrincha e não permitir que a pedra do Drumond seja obstáculo para esse longo caminho que temos pela frente

  7. Pelo visto os mesmos erros de antes , mas será melhor que seu Jair.
    A inflação me preocupa mas meu conhecimento de economia é parco e porco.
    Mas quem escolhe ministro é seu Luis , ponto.
    Eu acho seu “Andrande” meio cru para a atual encrenca.
    A ideia dele da moeda do Mercosul parece boa todavia.
    Veremos , mas até Chico Bento seria melhor que seu Guedes …

  8. “Por que as pessoas são levadas a sofrer para garantir estabilidade fiscal?” – Lula

    Ora, porque as pessoas existem em função da estabilidade fiscal ao invés da estabilidade fiscal existir em função das pessoas.
    Simples assim, Mr. Lula. Ou você não conhece Elegia 1938, do Drummond?

    Vou refrescar tua memória, Velhinho:

    “Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
    onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
    Praticas laboriosamente os gestos universais,
    sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

    Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
    e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue frio, a concepção.
    A noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
    ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

    Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
    e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
    Mas o horrível despertar prova a existência do maquinário
    e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras”.

  9. A preocupação com a escala móvel de salários deve superar a preocupação com a inflação, pois, diria o Trotsky:

    “Nem a inflação monetária nem a estabilização podem servir de palavras-de-ordem ao proletariado, pois são duas faces de uma mesma moeda. Contra a carestia da vida, que à medida que a guerra for aproximando-se adquirirá um caráter cada vez mais desenfreado, só se pode lutar com a palavra-de-ordem de ESCALA MÓVEL DE SALÁRIOS. Os contratos coletivos devem assegurar o aumento automático dos salários, correlativamente à elevação dos preços dos artigos de consumo”.

  10. Se todos nós sabemos que é preciso a benção do Deus mercado para que um ministro seja nomeado por um presidente legitimamente eleito, isso só pode ter um significado: quem manda é o Deus mercado. Quando, naquela cadeira está um acólito do mercado, o mercado é o estado. Quando está um demente qualquer que equaciona o equilíbrio fiscal e a responsabilidade com os gastos com o bem estar da população pobre (99 por cento da população total), é necessário que o mercado tolere ou permita tamanha heresia. Sinceramente, não vejo diferença. O estado é o mercado, o mercado é o estado.

  11. Sr. Antonio Uchoa Neto, de fato, o estado é o mercado e o mercado é o estado mas, diria Lenin:

    “Como o Estado nasceu da necessidade de refrear os antagonismos de classes, no próprio conflito dessas classes, resulta, em princípio, que o Estado é sempre o Estado da classe mais poderosa, da classe economicamente dominante que, também graças a ele, se torna a classe politicamente dominante e adquire, assim, novos meios de oprimir e explorar a classe dominada.

    Não só o Estado antigo e o Estado feudal eram órgãos de exploração dos escravos e dos servos, como também:

    O Estado representativo moderno é um instrumento de exploração do trabalho assalariado pelo capital. HÁ, no entanto, PERÍODOS EXCEPCIONAIS EM QUE AS CLASSES EM LUTA ATINGEM TAL EQUILÍBRIO DE FORÇAS, QUE O PODER PÚBLICO ADQUIRE MOMENTANEAMENTE CERTA INDEPENDÊNCIA EM RELAÇÃO ÀS MESMAS E SE TORNA UMA ESPÉCIE DE ÁRBITRO ENTRE ELAS”.

    Em tais períodos excepcionais em que as classes em luta atingem tal equilíbrio de forças, o estado e o mercado deixam de se confundir.

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