
Solidariedade e empatia para enfrentar a pandemia e construir o futuro
por Arnaldo Cardoso*
Se a pandemia do Covid-19 convergiu e agravou uma crise econômica que já vinha provocando sérios problemas pelo mundo, no Brasil as duas crises – sanitária e econômica – vieram agravar uma terceira, a crise política que se retroalimenta das outras duas e potencializa seus danos.
Mas em meio a esse quadro desalentador no Brasil, especialmente para as populações mais vulneráveis, tem se multiplicado iniciativas sociais motivadas pelos valores da solidariedade e empatia que além de seus importantes efeitos práticos tem contribuído para o resgate da confiança na capacidade de resiliência de diferentes atores sociais bem como de possibilidades de mudanças significativas.
Uma dessas iniciativas é a campanha #EU ABRAÇO ESTA CAUSA: EU USO MÁSCARA, que tem como instituições parceiras o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e Deslocamento Criativo. Na Unicamp, a iniciativa é conduzida pelo NEPO (Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó”) que é uma unidade de pesquisa interdisciplinar e multidisciplinar na área de Demografia e Estudos de População.
A campanha articula de forma exemplar os princípios da economia criativa, o resgate dos valores de solidariedade e empatia, a preocupação com as populações mais vulneráveis, o desejo de inclusão social e o respeito à diversidade.
Como o material de divulgação e convocação para participação da Campanha é bastante informativo e expõe com clareza seus objetivos e potencialidades, reproduzo abaixo algumas de suas principais partes.
“O cenário atual de pandemia pelo Covid 19 no Brasil requer um olhar atento para populações historicamente vulneráveis, tanto em relação à garantia de geração de renda quanto na prevenção da doença.
Durante a Campanha #TodosContraoTráficodePessoas, em 2019, realizamos na cidade de São Paulo oficinas de capacitação laboral para diferentes grupos: imigrantes, refugiados, pessoas transexuais, mulheres. Estes grupos agora estão confeccionando máscaras de tecidos africanos para distribuirmos para demais populações vulneráveis.
Desse modo, esta Campanha visa estimular a produção de mercadorias através da economia criativa; garantir o distanciamento social com máquinas de costuras domésticas; promover a ausência de discriminação; reforçar o trabalho decente com a transfusão do trabalho decente de populações vulneráveis para populações vulneráveis.
A Campanha busca, assim, promover a dignidade do trabalho em meio à pandemia. As máscaras artesanais de tecidos africanos são confeccionadas por imigrantes, refugiados e pessoas transexuais, que buscam visibilidade na sociedade por meio da execução de trabalho decente. Essas pessoas foram fortemente atingidas pela situação social que se impõe diante do COVID-19 e, portanto, necessitam de uma renda para sua sobrevivência.
Já foram produzidas 2.000 máscaras e entregues na Casa Florescer, Casa 1, Comunidade de Paraisópolis, Missão Paz, Instituição de Longa Permanência para Idosos Parada Inglesa.
As próximas máscaras, confeccionadas a partir de doações, serão entregues no Centro de Acolhida Temporária (CTA – Prefeitura de São Paulo – São Mateus), na Caritas Arquidiocesana de São Paulo, na Casa de Passagem Terra Nova, no CAMI – Centro de Atendimento ao Migrante, IKMR (atende crianças refugiadas), dentre outras instituições.
Para informações sobre encomendas e doações, contate:
https://forms.gle/mCZ8cWtzjFAEXWTg6 ou mensagem pelo Whatsapp ao telefone (11) 957778549.”
Para além da crítica é preciso ação.
Considero que a crítica necessária às muitas falhas e incongruências das ações dos órgãos públicos brasileiros responsáveis no combate a pandemia, atendimento aos infectados e redução de danos não podem eclipsar as várias iniciativas da sociedade civil que vem ocupando importante espaço e que, ao final da pandemia, esses atores – e o conjunto da sociedade – terão diante de si desafios ainda maiores para restabelecer os melhores vínculos e confiança mútua para a construção de um tempo que não aceite apenas a “volta do normal” mas sim que ponha em curso mudanças desde muito necessárias.
*Arnaldo Cardoso, cientista político

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