Preparar uma vacina em tempo recorde não será suficiente. Depois, haverá a última milha a percorrer e não será fácil. Para alcançar mais de sete bilhões de seres humanos em todos os cantos do mundo, outro desafio terá que ser superado: o do frio.
A reportagem é de Elena Dusi, publicada por Repubblica, 26-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
2,8 bilhões de pessoas, um terço do total, provavelmente não serão imunizadas contra o coronavírus por falta de resfriamento
Alguns dos frascos de fato precisam ser mantidos na temperatura de geladeira (entre 2 e 8 graus). Mas outros – dependendo do método de preparo – devem ficar a 80 graus negativos da fábrica até a injeção, sob pena de deterioração. Se a cadeia de frio for quebrada, o rótulo muda de cor e a vacina é jogada fora. Freezers com essa potência não são comuns mesmo em países ricos. Muito menos nas áreas remotas das nações mais pobres. Para sua vacina, a Pfizer, que precisa de ultra-frio, também prepara um contêiner ad hoc para o transporte.
Algumas ONGs que há anos fabricam refrigeradores movidos a painéis solares em algumas áreas da África estão acelerando seu trabalho com a Covid. Gavi e Unicef instalaram 40 mil desde 2017. Eles prometem mais 65 mil até o final de 2021. As cidades mais favorecidas, paradoxalmente, são aquelas afetadas pelo Ebola, onde pelo menos algumas infraestruturas foram construídas anteriormente.
Segundo a transportadora DHL, 15.000 voos de carga ad hoc serão necessários para vacinar o mundo inteiro (o transporte por navio está excluído porque é muito lento e não consegue manter as temperaturas baixas por tempo suficiente)
Mas é uma gota no oceano. Embora mais de trezentas empresas estão trabalhando arduamente para desenvolver uma vacina, apenas algumas estão trabalhando para garantir que o produto supere a última milha. E 2,8 bilhões de pessoas, um terço do total, provavelmente não serão imunizadas contra o coronavírus por falta de resfriamento. A estimativa é da transportadora DHL, segundo a qual 15.000 voos de carga ad hoc serão necessários para vacinar o mundo inteiro (o transporte por navio está excluído porque é muito lento e não consegue manter as temperaturas baixas por tempo suficiente). Os suprimentos de gelo seco usados para manter a cadeia de frio durante a distribuição provavelmente não serão suficientes. A UPS em agosto começou a construir dois armazéns de refrigeração do tamanho de campos de futebol em Kentucky e na Holanda.
A Iata (International Air Transport Association) também fez seus cálculos. Para vacinar o mundo com uma dose (mas muitas candidatas a vacina também requerem reforço), serão necessários 8.000 voos de jumbo. Atualmente, são 400 os aviões de carga em operação. Do aeroporto às aldeias, uma das soluções em estudo é usar os caminhões comumente usados para transportar sorvete. Isso também tornaria um pouco mais fácil aplicar a injeção nas crianças.
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Penso que para escrever sobre o assunto, a Sra. Helena Dúzia deveria se inteirar do assunto, principalmente sobre transporte a baixas temperaturas.
Hmmmm, sei não…
Parece mais lobby e marketing aéreo (DHL, Iata…) do que fato.
Navios tem verdadeiras usinas de força em seu casco, alguns são maiores de campos de futebol e muitos são porta-containers.
Portanto, manter temperaturas baixas no mar são tão “difíceis” quanto mantê-las em algum lugar em terra.
Já os aviões são mais rápidos, mas não têm esta capacidade (pelo menos a grande maioria). As temperaturas não serão mantidas de fato, apenas algo isoladas durante o tempo de vôo.
O máximo que podem alegar (e não falam disso) é sobre sacolejo (apesar da possibilidade de estabilizadores, desconheço). Mas também há sacolejos aéreos…
Tudo bem que o setor aéreo vive uma crise, mas …
Quanto à necessidade de mantê-la a -80°, evidentemente é dificuldade e custo adicional a considerar, principalmente em países pobres.
Em países litorâneos, pode ser até que navios possam ser “bases” de armazenamento com custo x benefício a avaliar.