Covaxin foi comprada por preço 1.000% mais alto que a pretensão do fabricante

Quem ordenou a compra foi o presidente Jair Bolsonaro e a negociação se deu por três meses, rapidez não vista em outros acordos.

Agência Senado

Jornal GGN – Segundo documentos do Ministério das Relações Exteriores obtidos pelo Estadão o governo comprou a vacina indiana Covaxin por 1.000% mais cara do que o anunciado pelo fabricante seis meses antes. O jornal conseguiu um telegrama sigiloso da embaixada brasileira em Nova Délhi de agosto do ano passado informando que a vacina da Bharat Biotech custava aproximadamente US$ 1,34 a dose.

Em dezembro do mesmo ano, outro comunicado diplomático trazia a informação de que o imunizante custaria ‘menos que uma garrafa de água’. Este ano, em fevereiro, o Brasil, através do Ministério da Saúde, pagou US$ 15 por unidade, a mais cara até agora.

Quem ordenou a compra foi o presidente Jair Bolsonaro e a negociação se deu por três meses, rapidez não vista em outros acordos.

A intermediação da compra da Covaxin foi feita pela Precisa, já alvo do Ministério Público do Distrito Federal em acusação de fraude na venda de testes rápidos para covid-19. A cúpula da Secretaria de Saúde do DF foi denunciada de ter favorecido a empresa em contrato de R$ 21 milhões.

A Precisa é sócia da Global Gestão em Saúde S.A. já alvo de ação na Justiça Federal do DF por recebimento de R$ 20 milhões por remédios que nunca foram entregues. Esta ação é de 2017, quando a pasta era chefiada pelo hoje deputado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, do Centrão. Depois de mais de três anos, o ministério diz que ainda negocia o ressarcimento.

Foram relatos, em depoimento, pressões anormais para aquisição da Covaxin. Estes documentos estão com a CPI. Um servidor do Ministério da Saúde apontou o coordenador-geral de Aquisições de Insumos Estratégicos para a Saúde do MS, Alex Lial Marinho, como o autor das pressões para a compra da Covaxin. O servidor informou que outros imunizantes não foram alvo de pressão por parte da chefia.

Em 8 de janeiro, o Brasil se colocou como provável comprador da Covaxin em carta de Jair Bolsonaro ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi e, na missiva, o presidente avisou ter incluído a Covaxin no Plano Nacional de Imunização.

Depois de quatro dias, a Bharat Biotech anunciou que assinara acordo com a Precisa Medicamentos para fornecer Covaxin ao Brasil. Neste anúncio, colocava como personagem de ligação o embaixador brasileiro na Índia, André Aranha Corrêa do Lago, que levara a boa nova do interesse do Brasil no imunizante.

O Ministério da Saúde fechou contrato com a fabricante da Covaxin para adquirir 20 milhões de doses, por R$ 1,6 bilhão em 25 de fevereiro, antes do acerto com a Pfizer e a Janssen, e antes mesmo que a Covaxin finalizasse a fase três de seus estudos. E antes que a Anvisa aprovasse seu uso emergencial.

O sócio da Precisa deu detalhes da transação ao embaixador do Brasil na Índia, em março e informou que além das 20 milhões de doses, o MS teria a opção de compra de mais 12 milhões. Informou ainda que o pagamento só poderia ser feito após aval da Anvisa e pelo Ministério da Saúde à companhia indiana. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pediu quebras de sigilo do empresário, afirmando que a Precisa receberá R$ 500 milhões pelo negócio.

A Precisa se defendeu afirmando que quem estabelece o preço é o fabricante, mas não informou se recebeu ou não comissão pelo negócio. Sobre o processo antigo de venda de testes ao governo do DF, a empresa entende que cumpriu todas as exigências legais e que prestou esclarecimentos às autoridades.

Com informações do Estadão.

Redação

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