A fome é real: nota do Ibase sobre a declaração de Jair Bolsonaro

Diante da declaração do presidente Jair Bolsonaro, de que no Brasil pobre não passa fome, o Instituto solta nota pública desfazendo essa mentira e alertando que isso mostra um total desconhecimento pelo que passa boa parte da população.

Jornal GGN – O Ibase – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas é uma organização fundada em 1981, após a anistia política, por Herbert de Souza, o Betinho, e Carlos Afonso e Marcos Arruda, também companheiros de exílio. Sua história está ligada à democratização do país, principalmente as lutas da cidadania e a constituição da sociedade civil brasileira. E, enquanto compromisso, abraçou as tantas campanhas cívicas do Brasil.

Diante da declaração do presidente Jair Bolsonaro, de que no Brasil pobre não passa fome, o Instituto solta nota pública desfazendo essa mentira e alertando que isso mostra um total desconhecimento pelo que passa boa parte da população.

Leia a nota a seguir.

A fome é real: nota do Ibase sobre a declaração de Jair Bolsonaro

A declaração do Presidente Jair Bolsonaro em que afirma ser mentira haver quem passe fome no Brasil mostra um total desconhecimento do cotidiano de boa parte da população brasileira. Apesar de sermos um dos maiores produtores de alimentos no mundo, nosso país ainda carrega uma realidade bastante dramática quando o assunto é a fome e a extrema pobreza.

Dados levantados pelo Relatório Luz da Agenda 2030, do ano passado, já mostravam o aumento do número de pessoas vivendo em situação de pobreza no Brasil, nos levando a patamares de 12 anos atrás, com mais de 10 milhões de brasileiros nessa condição. Um quadro diretamente ligado à fome e que é agravado com o desmonte de políticas públicas de transferência de renda. Dados mais recentes sobre segurança e insegurança alimentar no Brasil ainda não foram liberados para divulgação pelo Governo.

O fim de espaços de participação da sociedade civil para o monitoramento e a acompanhamento da situação da segurança alimentar no país é mais um fato que demonstra o quanto a comida que chega (ou não) à mesa do brasileiro não está entre as preocupações mais urgentes da atual gestão federal. Depois de ter sido recriado pelo Congresso, o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar) foi extinto novamente por Jair Bolsonaro, agora com força de lei.

Como organização que, historicamente, tem a luta contra a fome e pela segurança alimentar em sua pauta, o Ibase acredita que é preciso que o Governo Federal trabalhe para a geração de renda e emprego aos brasileiros, com inclusão social e equidade de direitos, além de fortalecer os espaços de participação para que a sociedade civil tenha mais voz nas decisões que afetam a todas e a todos. Fechar os olhos para a realidade do país não irá fazer com que os problemas desapareçam. E, como diria Herbert de Souza, fundador do Ibase, quem tem fome, tem pressa.

Redação

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  1. A urgência dos sonhos de Betinho
    Morre Betinho e hoje é domingo, Dia dos Pais. O vento esgarça as nuvens pesadas, no céu, mas não é tão forte para afastá-las e fazer surgir o sol. O vento foi frágil.
    Dizem que a morte a todos iguala. O poeta popular chegou a cantar esta igualdade, dizendo: quero ver quem que separa o pó do rico do meu; a ânsia pela justiça social, com toda certeza, o motivou.
    O mal, entretanto, não se iguala ao bem (impossível fugirmos a esse dualismo!), pois com a morte não haverá um fim em si mesmo no pó que restará.
    O que existirá é o eterno movimento e a morte é o movimento que a gente não vê.
    A morte de Betinho nos encaminha, dialeticamente, neste denso momento, para uma reflexão não sobre ela própria, mas sobre a existência e as lutas, as grandes lutas e as lutas cotidianas, para que a vida saia vencedora.
    Betinho atuou em todas as suas frentes. Extremamente forte, apesar de profundamente frágil, para os padrões convencionais, materiais. Betinho arranhou a consciência dos poderosos e constituiu-se num exemplo para os oprimidos, não como um rei, um pai, ou um herói, mas como um deles: os pobres e os desvalidos.
    Organizar os seus sonhos foi sua luta cotidiana; alguns desses sonhos geraram sólidas construções. Os sonhos impossíveis – arquétipos que Betinho sabia serem os mais importantes – ficaram para depois, mas é urgente a sua realização.
    RJ 09/08/1997

  2. Não dá para ficar contraditando com laudas e laudas escritas as patacoadas de Bolsonaro, que todos estamos cansados de saber é um simples boneco, não dirige o país, que está na mão dos golpistas. Não interessam as insanidades desse cafajeste. Tudo não passa de diversionismo, porque vivendo no Brasil ninguém é tão burro que não perceba que a fome está assolando o Brasil com quarenta milhões de pessoas desempregadas e subempregadas, estas vivendo de bico. São questões usadas através do títere Bolsonaro, diria como boi de piranha, para que golpe imponha os ditames do neoliberalismo em favor do grande capital, que os EUA lidera. Lula livre.

  3. O medo é princípio da insegurança e desencadeador da agressividade, o que forma a teoria do animal ferido e assim, mais feroz. Defendendo a tese dos problemas graves na psiquê do Jair Bolsonaro, os quais contribuem para deturpar mais ainda a sua estrutura moral e visão sobre o mundo e as pessoas, aguentei hoje a assistir os 10 minutos iniciais de sua coletiva do dia aos jornalistas de órgãos estrangeiros. Considerando que era algo de início do dia, quando se está menos afetado, que estava no seu ambiente e ladeado por seus defensores e batedores de mesa, a tradicional falta de tato ao lidar com questões e críticas mais delicadas o que observei foi: além do fato de se escorar repetidamente na opção de fuga fácil de que quase tudo que nos incomodam são “erros” dos governos passados, de que a imprensa existe para deturpar a realidade, de que quem não presta não merece ser ouvido – o que vejo mais grave é a dificuldade que tem de lidar com o que está pela frente. Bolsonaro não olha por um segundo sequer para os seus interlocutores tamanha é a dificuldade que tem para ficar a vontade prum diálogo, a conversa afável ou a do olho no olho. Isto é um problema grave, inclusive emocionalmente para si. Quando o tempo mais passar e as gritarias e pressões advindas da crise, que ele sabe que não tem capacidade real para responder, há o risco de se fechar mais neste mundo que é só dele (e que já parece ser agressivo, com suas paranoias) e piorar a sua agressividade e revanchismo contra seus “opressores” e sua saúde física e mental. Faltam-lhe as mínimas ferramentas para adquirir a empatia básica que um governante precisa ter. O homem que não olha, não vê e se não vê, não há possibilidades para enxergar o que de fato acontece. E sabemos que lidamos de fato com aquilo que enxergamos e não com o que vemos. Vislumbro o potencial para tempos muito mais cinzentos e dúbios pela frente.

  4. É claro que a fome existe, mas não nas dimensões imaginadas. O problema é que a fome foi romantizada como sinônimo de pobreza, mas se todo faminto é pobre, por outro lado, nem todo pobre é faminto. A maioria apenas come mal, de modo que não é raro ver um pobre acima do peso, evidência de uma dieta inadequada e carente de bons nutrientes.

    Mas falar de fome dramatiza, dá ibope. Tanto que já existiu até uma tal “estética da fome”, criada por Glauber Rocha. Quem tem a barriga cheia acha isso até romântico.

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