Crise não é só política, mas da forma de pensar o país, por Leandro A.

“Ninguém se deu conta de que os filhos do ENEM e do PROUNI foram lançados no mercado em retração, e o filho do pedreiro que fez engenharia está vendendo cachorro quente. Em algum momento teremos uma fermentação de tudo isto. Vivemos tempos Gramscianos”
 
Foto: Mídia Ninja
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Por Leandro A. 
 
Comentário do post: Xadrez da barafunda institucional do pós-Temer
 
Se analisarmos todos os “cambios” de governo pelo qual nosso país passou desde a abdicação de Dom Pedro I, sempre teremos um lado preparado para dar o bote em cima da fraqueza do outro. 
 
O fato novo desta crise é o exterminio dos dois blocos de divisão de poder e o cisma na sociedade brasileira. O pêndulo não tem impulso para se mover. Se assim não fosse, diante da gravidade da situação, teríamos uma frente ampla, com os políticos que restaram, os empresários de vanguarda e a sociedade civil. Mas assitimos ao contrário. O empresariado está contaminado por ranço antipestista, que confundem com qualquer proposta progressista ou outsider, a sociedade civil brasileira honra sua tradição de estar “deitada eternamente em berço esplendido”. Apenas a grande ressalva que merece todo destaque: a classe artística. pelo visto a única que preservou o know how adquirido nos tempos de chumbo.
 
A mídia, não atrevo-me a comentar. Pois desde 2006 temos, abertamente, um partido político com assinantes e espectadores. Tornou-se uma besta fera, que provou do sangue e não consegue mais retomar o paradigma antigo.Banalizou-se o escandâ-lo a tal ponto, que vai demorar para que as redações deixem de pulsar pelo clima de denuncismo e policiamento, salvo se houver intervenção do fator imponderável e for imposta uma regulação efetiva.
 
Qualquer um que viva no Brasil de hoje sabe que as pessoas estão sequiosas de sangue, de revolução. Me atrevo a dizer: de demolição, implosão. Falta, ainda, o elemento catalisador, que desague toda essa frustração palpável nos pontos de ônibus, nas filas de supermercados, nas conversas de bar, nos postos de atendimento de saúde e no final de mês dos comércios de cada cidade desta Pindorama, Quando isto acontecer, não precisamos esperar pela racionalidade do processo.   
 
Na minha modesta opinião, penso que este estado de coisas permaneça até mesmo após as eleições de 2018, pois a crise não é só política, mas o colapso de uma forma de pensar o país, a sociedade. Aquele Brasil de 1980 para trás morreu, deu lugar a um grande Texas que fala português, (vejamos: ouve apenas sertanejo, põe no agronegócio todos os ovos da cesta), enfim, temos uma nova sociedade civil formada no consumismo feroz do modelo urbano americanizado, que teve na euforia economica dos tempos Lula sua energia de ativação, e, só agora começa a se dar conta de que a limitação a seus desejos não se trata de um mero “arrumar a casa”, mas de uma realidade pela qual não esperavam e não se encontram preparados para lidar. Ninguém se deu conta de que os filhos do ENEM e do PROUNI foram lançados no mercado em retração, e o filho do pedreiro que fez engenharia está vendendo cachorro quente. Em algum momento teremos uma fermentação de tudo isto. Vivemos tempos Gramscianos.  
Redação

12 Comentários

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  1. Quando que o Brasil foi diferente?

    Tua análise passa especialmente pelo sentimento de futuro (ou falta dele)

    De fato, a “nova classe C” evangélica, consumista e inculta colocou seu fascismo para fora. Mas ela sempre foi fascista, apenas externou. Junta-se o fascismo das classes A e B, deu no que deu.

    Você fala do sertanojo, que de fato é unsuportável, mas na minha infância era a Gretchen e na pré-adolescência a Xuxa – qual é a diferença? Tudo bem também tinha Titãs, Legião, Barão, Skank, etc. Mas hoje deve ter bastante coisa boa que eu não conheço, apenas não é midiático, pois a mídia também está em decadência e crise.

    A direita apenas conseguiu canalizar momentaneamente este ódio para o PT, assim como o PT conseguiu, com menos sucesso é verdade, por não dispor do mesmo empenho dos meios de comunicação, para o PSDB; tanto é que venceu a eleição de 2002, também com o discurso da moralidade.

    Eu concordo em parte contigo. O fato dos filhos desta classe C começarem a ter acesso ao que antes era exclusividade das classes A e B, desagradou esta última. E a primeira, por já ser fascista e inculta e, talvez ter este sentimento de impotência, e, apesar de ter frequentado uma universidade (pública ou privada), vender cachorro quente, deu as mãos exatamente para quem quer tirar o pouco que ele conquistou. Mas isso já ficou claro, qualquer pesquisa de opinião, o Lula vence no primeiro turno. Por quê?

    1. Lula vence no primeiro turno. Por quê?

      Porque é o “menos pior”?

      Porque com ele já sabemos como é, ao contrário de um aventureiro?

      Porque acreditamos que ele vai conseguir, novamente, incrementar a inclusão?

      Porque o saudosismo é uma caracteristima humana?

       

      1. Bruno, simplesmente porque ele retoma os valores humanistas.

        Lula  vence no primeiro turno simplesmente porque ele retoma os valores humanistas, e talvez quanto mais claro que a sociedade baseada na competição, na predação e no egoísmo é inviável, principalmente num mundo com BILHÕES DE SERES HUMANOS mais o sonho do humanismo como do passado surja de novo com força.

  2. O efeito da formação e lançamento no mercado de mtos profissiona

    Na sociedade burguesa, onde os meios de produção são propriedade privada de poucas pessoas, onde a produção destina-se prioritariamente à obtenção de lucro e não à satisfação das necessidades da sociedade e onde o que importa é o trabalho, e não o tempo livre, em virtude disso, o avanço da tecnologia não serve para reduzir a jornada de trabalho mas para reduzir o número de trabalhadores empregados sem prejuízo da quantidade produzida, a formação e lançamento no mercado de profissionais saturado aumenta a concorrência entre os profissionais, pressionando para baixo o piso salarial da categoria.

    Prá que essa rapaziada encontre vaga no mercado de trabalho é necessário reduzir a jornada de trabalho.

    1. Rui, deixa de ser um mero reformista!

      Estamos no limiar de uma nova estruturação da produção, veja o que escrevi acima, não devemos pensar somente em meras acomodações reformistas, a nova classe proletária que surge, só ainda não se deu completamente em conta do que são, porém isto pode ser mais rápido do que se pensa, desde que levantada as bandeiras corretas.

      1. Ser revolucionário significa defender a manutenção da jornada?

        Antes de me chamar de reformista, passe uma vista no comentário abaixo transcrito:

        “Não existe conciliação de classes, é correlação de forças.
        André B
        Tter, 25/10/2016 – 14:42

        Não existe conciliação de classes porque a luta de classes é uma decorrência do caráter estrutural da economia, onde uns tem a propriedade dos meios de produção e outros só a do próprio corpo. O que existe são mudanças na correlação de forças entre as classes. Em alguns momentos e lugares a correlação se torna mais favorável aos trabalhadores – por vários motivos, desde o econômico até o geopolítico. Ai os trabalhadores conseguem arrancar reformas da classe dominante. A classe dominante nunca cede reformas de boa vontade ou por espírito de conciliação, é que para ela em determinadas conjunturas é melhor ceder reformas que encarar uma revolução.

        Não estou dizendo com isso que reformas são negativas ou devem ser rejeitadas. Afirmar a luta de classes não é rejeitar reformas, porque elas são parte da luta de classes. Reformismo é achar que as reformas são resultado da conciliação de classes e não resultado e parte da luta de classes.

        Quando a correlação de forças muda, como acontece hoje no mundo todo, a classe dominante retira as reformas, os direitos sociais desaparecem. Eles não são garantidos para sempre – achar isso é parte da ilusão da conciliação de classes, do reformismo – mas são objeto e resultado de luta. E vão continuar sendo, pelo menos enquanto existir a condição econômica estrutural que leva a luta de classes.

        https://jornalggn.com.br/comment/1007257

         

  3. O novo proletariado, só falta se darem conta do que são.

    O novo proletariado, só falta se darem conta do que são.

    Há um movimento social que atinge o mundo ocidental inteiro que poucos estão se dando conta, mas que aparece quase que simultaneamente em todas as democracias burguesas ocidentais. É a criação de uma nova classe proletária, que da mesma forma que agiam de forma revolucionária a mesma classe do fim do século XIX e início do século XX, poderão começar a agir neste início de século XXI.

    No início dos movimentos proletários esta classe social tinha a ideia de como substituir o velho regime, simplesmente porque sabiam como funcionava não só a sociedade, mas como a produção. Com o advento do fascismo e com a guerra que o sucedeu este movimento foi paralisado e posteriormente com a sofisticação do capitalismo moderno a classe proletária tradicional foi retirada desta a proposta de criação de uma nova sociedade pela mesma não compreender direito como as relações de troca eram manipuladas e desviadas de uma relação mais linear típica da sociedade capitalista até o período entre guerras.

    Atualmente há um novo paradigma, o proletário do século XXI tem nível superior, tem compreensão de como funciona a sociedade e a forma de produção, só não tem o poder.

    A venda de um sonho de prosperidade individual através de ideologias como o “empreendedorismo” começa a se esgotar, na França, por exemplo, a adesão ao projeto Macron foi de menos de 20% da população, que como os discursos articulados contra este sonho impossível são ainda novidades que crescem rapidamente conforme se pode ver no movimento La France Insoumise, que em menos de ano e meio consegue ultrapassar o antigo partido socialista e a extrema direita, se transformando na maior força de oposição à proposta de um capitalismo “em rede” e Uberizado.

    O que mais falta não são as contradições do sistema, mas sim a noção destes novos proletários que o mundo moderno está criando, que através da educação recomeça a entender em níveis jamais vistos como funciona o mundo capitalista, e o mais interessante é que este novo proletariado com nível superior, chega ter melhores condições de gerir um novo mundo do que os capitalistas e seus CEOs que só entendem os caminhos do capital financeiro e como maximizar seus lucros sem produzir nem um prego.

    Já escrevi no meu blog que os engenheiros e técnicos são os proletários do século XXI, porém são proletários que tem o mesmo nível de compreensão que tinham seus ancestrais há mais de um século, só faltando o gatilho para movimentar esta nova massa proletária.

    1. Certa vez o Proteo disse:

      Dentro do capitalismo não há solução. Muito se criticou Marx por ter “errado” em sua previsão de que o capital só poderia manter suas taxas de lucro arrochando o proletariado. Por algum tempo, as lutas sociais conseguiram reverter este quadro, criando em alguns países leis trabalhistas e até o Estado de Bem-Estar na Europa e América do Norte. Mas no beco sem saída da perda de lucratividade, o capital só oferece aos trabalhadores uma “escolha” cruel: ou o desemprego com benefícios sociais ou o emprego mal-pago e sem direitos, típico do Terceiro Mundo. Claro está que a verdadeira saída está em os trabalhadores se apropriarem dos meios de produção e, terminando com a apropriação da mais-valia por uma minoria que vive no luxo e para o luxo, dividirem a mais-valia entre si igualitariamente. A autogestão e a planificação descentralizada, flexível da economia são perfeitamente viáveis administrativamente, ainda mais onde as massas tem escolariade e acesso aos meios de comunicação modernos, como na Alemanha e na França. O problema é político, porque esta é uma saída revolucionária, hoje defendida apenas por uma minoria da esquerda européia. Mas, na prática, o capital acaba sendo o melhor propagandista da mudança, ao colocar num beco sem saída pessoas acostumadas à segurança social, e que não vão tolerar viver como vivemos. É questão de tempo, até porque, se a classe operária tradicional se tornou minoritária, continua cada vez mais clara a divisão social e econômica entre dirigentes e dirigidos, executantes e gerentes, inclusive na apropriação do produto social. Mas creio que só quando os países pobres “cercarem” o Primeiro Mundo com regimes anti-imperialistas que esta crise explodirá de vez na Europa. 
       http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2010/02/464748.shtml 

    2. É a vida que determina a consciência, não o inverso

      Não é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a consciência.

      Cadê seu materialismo dialético, RdMaestri?

      Então o novo proletariado é revolucionário, ele apenas não sabe disso.

  4. E A CULPA É DO PT!

    O povo está perplexo, e não sabe o que pensar. Pois 98% da população não acompanha o conteúdo político da internet, e os outros 2% são compostos principalmente pelos cabos eleitorais. Ou seja, o povo só ficou sabendo o que a globo contou! Alguém pode responder:

    POR QUE O PT NÃO CONVOCOU A CADEIA NACIONAL DE TVS, PARA ESPLICAR O QUE ESTAVA ACONTECENDO, QUANDO PODIA?
     

    Os grandes ladrões compram AÇÕES AO PORTADOR de multinacionais no exterior, que não identificam o dono, tornando-se seus sócios ocultos; e depois as mandam para o Brasil, como têm feito principalmente no Pré Sal.   O PT que me desculpe, mas se essa omissão não foi feita de forma intencional, para se entupir de propina, integrando a lista de “sócios ocultos” dessas empresas que passarão a dominar o Pré Sal, que adjetivo podemos dar para sua atuação? Confira a diferença entre empresas nacionais dominarem o processo produtivo do país, e isso ser feito por estrangeiros: http://democraciadiretabrasileira.blogspot.com.br/2017/02/como-enganam-os-pequenos-empresarios.html?view=flipcard

    1. Por que o PT não convocou uma rede de TV?

      Simplesmente porque acreditaram que com leis (e várias foram feitas neste sentido) seriam suficientes para combater a corrupção.

      Ou seja, uma ingenuidade do cão.

      1. kkkkkkk

        Vc tá sendo muito complacente!

        Eu respeito a inteligência dos dirigentes petistas, e vou pelo outro caminho. De qq forma, se forem tão “ingênuos”, como vc diz, também não prestam pra nada…

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