Dilma Pena fica na Sabesp só até dezembro

Jornal GGN – O iG fez uma reportagem contando a trajetória da presidente da Sabesp, Dilma Pena. Mulher de confiança de José Serra, ela se prepara para deixar o comando da estatal após blindar o governador Geraldo Alckmin nas eleições. Nos últimos meses, ela protagonizou algumas situações desastrosas, como quando a TV legislativa flagrou uma conversa com o vereador Andrea Matarazzo (PSDB) na qual se queixava de Police Neto (PSD) e quando veio a público uma gravação de uma reunião na Sabesp na qual ela se queixava da falta de uma campanha de racionamento de água.

Enviado por Gão

Presidente da Sabesp prepara saída depois de blindar Alckmin nas eleições

Por Wanderley Preite Sobrinho

Do iG

Indicada por José Serra, Dilma Pena cumpriu ordens e só comentou a crise hídrica – desastrosamente – após a eleição

Os movimentos aflitos e a falta de objetividade nas respostas se assemelhavam em nada com a fama e a pose com que a presidente da Sabesp, Dilma Pena, chegou à Câmara Municipal de São Paulo em meados de outubro, quando foi ouvida pela CPI que investiga a estatal paulista. As declarações e postura da executiva marcaram o fim de sua lua de mel com o governador Geraldo Alckmin, àquela altura grato à presidente por tê-lo blindado contra a crise hídrica durante a eleição que o reelegeu.

Dilma Pena discursa na Sabesp

Formada em Geografia pela UnB (Universidade de Brasília) em 1975, Dilma Seli Pena iniciou sua carreira no funcionalismo público no ano seguinte como técnica em planejamento e pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Em 1987, tornou-se mestre em Administração Pública pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), época em que conheceu e caiu nas graças do hoje senador José Serra (PSDB-SP), seu avalista nos principais cargos que ocupou.

Quando o PSDB chegou ao Planalto nos anos 90, Dilma foi logo chamada pelo tucano para ajuda-lo no Ministério do Planejamento. Ali, Dilma foi diretora de saneamento da Secretaria de Política Urbana. Depois, alçada à diretoria de investimentos estratégicos do Ministério e à direção da ANA (Agência Nacional de Águas).

Dilma continuou como funcionária de confiança de Serra em sua passagem pelo governo de São Paulo. Na ocasião, foi secretária-adjunta da Secretaria de Economia e Planejamento e depois secretária de Saneamento e Energia.

Não por coincidência foi o próprio Serra quem indicou Dilma para substituir Gesner Oliveira na presidência da Sabesp em janeiro de 2011: o naco na principal empresa pública paulista era o prêmio de consolação a Serra, que no ano anterior deixara o Palácio dos Bandeirantes em favor da candidatura Alckmin em troca do direito de disputar a Presidência da República contra Dilma Rousseff.

Técnica de formação, é assim que Dilma Pena é vista pelos corredores da Sabesp. “Gestora de pulso”, dizem alguns, “fala pouco e sem rodeios”, dizem outros.

Entre os funcionários da Sabesp, Dilma é mais bem vista que Gesner, o antecessor. Ao contrário dele, ela raramente conversa com o baixo clero, mas cumpre os acordos costurados pelo diretor corporativo, Manuelito Magalhães, que a representa nas reuniões. Os funcionários citam, por exemplo, o fim do salário regional, que por décadas pagou 20% menos aos trabalhadores do interior.

Quem vê Dilma trabalhar menciona sempre quem a acompanha: um grupo de jovens auxiliares pinçados dentre os melhores de cada área. Munidos de planilhas e muito bem alinhados, esses especialistas são preferencialmente jovens porque a estatal não arcaria com o custo de um time experiente de auxiliares, como gostaria Dilma. “É preferível pagar um salário para especialistas em começo de carreira pública”, explica uma fonte.

CPI

Foi acompanhada deles e de uma comitiva de 50 funcionários da Sabesp que a executiva se apresentou à CPI em outubro. A pose de “rainha”, como acusam alguns, logo se desfez diante das respostas evasivas a respeito da crise hídrica. A falta de objetividade, no entanto, ganhou contornos de constrangimento com o vazamento de sua conversa com o vereador tucano Andrea Matarazzo minutos antes da sessão na Câmara.

Os circuitos da TV legislativa flagraram Dilma reclamando do vereador José Police Neto (PSD), ex-PSDB. “Ele é muito sem vergonha. A gente ajudou tanto e ele jogou os pés no nosso peito”, afirmou ela sem explicar o tipo de “ajuda” que teria dado. Se não bastasse, a executiva admitiu em seu depoimento que a água em São Paulo acabaria de vez se não chovesse até novembro.

O descontentamento de Alckmin chegou ao limite uma semana depois, quando outra gravação acabou pública: em reunião na Sabesp, Dilma admitiu que uma orientação superior impediu, durante a campanha eleitoral, que a estatal tornasse pública a real situação hídrica do Estado. “Cidadão, economize água. Isso tinha de estar reiteradamente na mídia, mas nós temos de seguir orientação, nós temos superiores, e a orientação não tem sido essa. É um erro”, afirmou ela ao alto escalão da Sabesp.

A declaração teria tirado o sono do governador, que até aqueles dias estava disposto a retribuir a blindagem que recebeu durante toda a eleição. Interlocutores afirmam que o governador passou a “fritar” Dilma e a minar seus poderes na estatal ao dar munição para um de seus mais fiéis secretários, Mauro Arce (Recursos Hídricos), presidente da Sabesp entre 2002 e 2003.

Ciente de que se converteria em bode-expiatório, Dilma Pena pediu demissão, sabendo que sua saída teria potencial de transformar a crise em escândalo. “Para o governo é melhor tê-la como aliada”, diz um interlocutor. Alckmin, então, pediu que ela ficasse no cargo até dezembro, quando o início de um novo mandato servirá de argumento para uma reforma secretarial e em administrações-chave.

Dilma aceitou permanecer no cargo enquanto acompanha a movimentação de quem sonha com sua cadeira. Aliados de Alckmin citam o próprio secretário Mauro Arce como postulante, outros apostam no diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, mas seu nome saiu enfraquecido em maio, quando sugeriu a necessidade de “distribuir água de canequinha em São Paulo”.

Mas há quem acredite mesmo em nomes ainda ligados a Serra. Um deles é o engenheiro, ex-prefeito de Santos e deputado federal eleito João Paulo Papa, aliado antigo do ex-governador. O favorito, no entanto, é Mauro Ricardo Costa, ex-presidente da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) entre 1999 e 2002.

Administrador de empresas, o natural de Niterói ganhou seu primeiro emprego em São Paulo pelas mãos de Serra, então prefeito (2005), quando foi nomeado secretário Municipal de Finanças. A ele é atribuída a reorganização fiscal da cidade e a implantação da Nota Fiscal Paulista, um dos projetos-símbolos de Serra.

Alguns interlocutores ainda acham cedo demais apontar favoritos para a presidência da Sabesp, mas Dilma Pena já estaria atuando como demissionária: antes pouco afeita a dar satisfações, suas aparições públicas agora só acontecem em solenidades.

 

Redação

6 Comentários

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    1. Que Pena, a saída dessa

      Que Pena, a saída dessa Dilma! Não deveria, essa Dilma, ser o motivo das manifestações dos coxinhas? Ou água não tem nenhuma importância?

    1. Crucificar é fácil

      Falar mal da Dilma agora é fácil, quero ver fazer a gestão da SABESP com um corpo gerencial sem preparo, colocados por apadrinhamento, vários não tem nem curso superior. Com funcionários desmotivados, possuindo vários anos de experiencia e recebendo piso salarial, enquando alguns recem ingressados sendo promovidos sem critério.

      O governador tem que mudar radicalmente, colocar Diretores com conhecimento técnico, valorizar os colaboradores que lutam dia a dia pra manter o sistema funcionando. 

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