Escola sem Partido: desserviço, retrocesso e discriminação

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Jornal GGN – Diretora do Sindicato dos Professores do DF e ex-ministro da Educação, Renato Janine afirmam que Escola sem Partido é retrocesso absoluto. A Lei da Mordaça vai acabar com os avanços em direitos humanos e vai apresentar visão única do mundo aos estudantes. Os dois concordam que Lei, que tramita em Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e no Congresso, vai prestar um desserviço ao povo brasileiro. Leia a matéria de Rodrigo Gomes, da RBA.

da Rede Brasil Atual

Escola sem Partido impõe retrocesso à luta contra discriminação

Diretora do Sindicato dos Professores do DF avalia que projeto vai liquidar os avanços em direitos humanos. Ex-ministro da Educação acredita que proposta busca apresentar uma única visão do mundo

por Rodrigo Gomes

São Paulo – Em uma sala de aula, um adolescente começa a ser alvo de discriminação de um colega, que se utiliza de argumentos religiosos. A situação se agrava e os jovens se agridem fisicamente. O professor observa a situação, mas teme fazer algo, pois está proibido de afrontar as convicções religiosas ou morais dos alunos ou de seus pais. A aprovação do projeto Escola sem Partido, proposta que tramita atualmente em Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e no Congresso, pode fazer dessa uma situação real, na avaliação da diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), Rosilene Corrêa.

“Na prática, o Escola sem Partido vai liquidar os avanços em direitos humanos que tivemos nos últimos anos. Se um aluno homossexual ou de uma religião não cristã for discriminado por outro que apoia suas afirmações em ideias religiosas, o professor não poderá intervir. Pois estaria questionando valores religiosos”, afirmou a professora.

O Escola sem Partido propõe que sejam afixados em salas de aula cartazes com os deveres do professor. Os principais pontos do projeto são impedir qualquer afronta às convicções religiosas ou morais dos pais e dos alunos e impedir a apresentação de conteúdo ideológico para os estudantes – nesse caso há uma evidente partidarização, pois somente conteúdos considerados de esquerda são citados. O programa foi idealizado em 2004, pelo procurador paulista Miguel Nagib, após um professor de sua filha comparar o revolucionário argentino Che Guevara com o santo católico São Francisco de Assis, em virtude de ambos abandonarem a riqueza pela causa em que acreditavam.

Para ela, o projeto ignora o que já está definido na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e se utiliza do slogan “sem partido” para defender uma “absoluta partidarização” da escola, com o objetivo de censurar os professores. “O que está previsto em lei e é prática nas escolas já é a escola sem partido. A escola deve ser um ambiente de prática libertadora, onde todos podem se colocar, se contrapor, a partir da pluralidade de temas. Com respeito a minorias e combate a todo tipo de discriminação seja de etnia, gênero, orientação sexual, religião”, afirmou.

Da mesma forma, não seria possível restringir determinados conteúdos por razões ideológicas ou por contraporem convicções religiosas, pois o objetivo da escola é transmitir conhecimento científico, conforme o professor de Ética e Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro. “A escola não tem incumbência de doutrinar a pessoa nem de respeitar a doutrinação religiosa da família. A escola educa. E para educar ela tem de transmitir conhecimento que tem base científica”, afirmou.

Para Janine, é preciso aumentar a pluralidade e não restringi-la. Assim, um curso das áreas de Sociologia ou Economia que não menciona Karl Marx – autor de O Capital e expoente teórico do comunismo – está errado. Da mesma forma, se não trabalhar Adam Smith – considerado o mais importante teórico do liberalismo econômico e criador do conceito de “mão invisível do mercado”. “São autores que representam posições políticas diferentes, mas que pertencem à história do conhecimento”, ressaltou o professor.

O ex-ministro considera que a escola é um dos poucos ambientes na sociedade em que as pessoas têm condições de conhecer várias visões de mundo. “E me parece que esse projeto quer isolar as pessoas em uma única visão do mundo”, argumentou. E as consequências disso podem ser péssimas. “No limite, se você colocar tudo no plano dos valores – de não contestar a igreja, a família – você acaba perdendo a possibilidade de um conhecimento que permita à pessoa encontrar seus próprios valores”, disse.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Escola de coxinhas e meritocráticos

    A direita neoliberal nunca precisou discutir ideologia alguma e, ainda, não possui tese interessante e aceitável que possa colocar no plano de uma discussão séria entre jovens relativamente inteligentes, prova disso é que a bandeira deles é ser anti-PT ou anti-esquerda. Não discutir conceitos cívicos e políticos na escola será um enorme retrocesso e, pior ainda, será deixar nas mãos do “mercado” (ou de instituições que se transformaram em bancadas políticas – como as igrejas) a formação do jovem brasileiro, Numa nação que busca a sua verdadeira independência e desenvolvimento, dentro de justiça social, seria imperdoável se o Estado brasileiro não participasse em forma ativa e soberana na educação cívica da sua juventude.

    1. A direita não precisa

      A direita não precisa discutir ideologia, claro ela tem a realidade a seu favor.

      Eu não sei quem é esta direita neoliberal e quem faz parte dela, Marcelo odebrecht faz parte da direita neoliberal?

       

      1. Respondo

        “A direita não precisa discutir ideologia, claro ela tem a realidade a seu favor.”

        Isso é verdade, a realidade imposta pela globalização leva da mão as crianças para Disney, seguindo pelos shoppings, até ocupar um cargo meritocrático e/ou a sonhada morada em Miami. A esquerda precisa mesmo lutar contra isso, justamente pelo seu sentimento de nação.

        Eu não sei quem é esta direita neoliberal e quem faz parte dela, Marcelo Odebrecht faz parte da direita neoliberal?

        Não sei do Odebrecht. A direita neoliberal é aquela que extrapola as fronteiras da nação, nos seus sonhos, no seu consumo e no seu dinheiro. Aqueles alienados que vestem camiseta da CBF e bandeira do Brasil apenas para condenar o Brasil autônomo. Aqueles que se escondem detrás de um pato amarelo para não contribuir com  a nação, deixando a conta do pato para a população mais pobre.

  2. O STF deve ser provocado a se

    O STF deve ser provocado a se manifestar sobre a inconstitucionalidade desta proposta, antes que os efeitos nefastos desta da censura comecem a vitimar professores país afora. 

  3. Consolidar a hegemonia da Globo sobre midiotas.

    As escolas, então, devem passar a constituir mais uma rede de retransmissão do discurso preconceituoso e partidário, unificado em todos os meios de comunicação, em todo o país, sob o comando da Globo/Mossack-Fonseca? SIEG HEIL!!!

    https://www.google.com.br/search?q=sieg+heil&espv=2&biw=1366&bih=667&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0ahUKEwiqwb3MxPXNAhWEH5AKHXLWC7cQsAQIHg 

  4. Vamos combinar, vamos

    Vamos combinar, vamos combinar…

     

    O melhor título seria: Escola sem partido com partido.

     

    Nesse caso, melhor chamar os economistas de escol de meia tigela para nos dizer sobre o “homem natural”, atemporal, sem história, nihim… ( sobretudo, aqueles que estudaram numa escola sem partido com partido)

    Diálogo educacional “sem partido com partido”.

    -Qual é o seu nome?

    -Não tenho nome. Tenho um número. Meu número racional, atemporal é igual a 1.

    -E o seu nome? Indaga o 1.

    -Meu número é 2, mas pode me chamar de primo. É o meu apelido.

    -E continua o 2:

    -Você  foi doutrinado para defender Marx?

    Responde o 1:  – Eu não.  Eu defendo a “família”, sobretudo, com fulcro no princípio da subisidiariedade, desde que, obviamente, seja garantida a minha propriedade privada sem função social e  minha  “herança”  “sem imposto. Eu defendo a meritocracia e a liberdade. 

    E o 1 pergunta:

    -Você endurece e  não perde a ternura?

    -Responde o 2 : Sim, mas. evidentemente,  sem partido com partido.

    -E você 1:

    -Prefiro marchar  com a minha família, com deus e pela liberdade sem partido com partido.  E voto naquele que “não tem partido”, mas que tem partido, fora dilma, fora pt, fora lula, não vou pagar o pato…

    -Ah sim… responde o 2

    -O que você vai fazer depois da aula hoje, caro 1?

    -Eu vou ficar aqui mesmo na escola sem partido com partido. Minha família sem partido com partido virá para cá mais tarde para a gente bater um papo num ambiente sem doutrinação.

    Ah…

    E você:

    Acho que vou terminar de ler um livro que estou lendo.  Trata-se de um livro de páginas em branco sem partido com partido.

     

    Ah…

    Então tá. Tchau querida…

     

     

  5. A lei da mordaça ou escola sem partido é ilegal

    É uma afronta ao Estado de Direito e fere a LDB (9394/1996):

    Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

    Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

    […]

    II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;

    III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;

    IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador