Haddad e a cabeça do paulistano, por Sérgio Saraiva

Haddad tem bons resultados a mostrar, porém, sua campanha precisará se descontaminar do mal estar federal, além de saber lidar com o copo meio vazio do mau humor paulistano, se quiser ser reeleito

São Paulo

por Sergio Saraiva

O copo meio vazio do mau humor paulistano

O paulistano sempre teve uma relação de amor e ódio com São Paulo. Uma pesquisa da Rede Nossa São Paulo de janeiro de 2016 mostra que historicamente 56% dos paulistanos deixariam a cidade se pudessem. Agora, 68% responderam que desejam deixar de morar em São Paulo.

Pela mesma pesquisa, sistematicamente 13% dos paulistanos sentem que a qualidade de vida piorou de um ano para o outro e 39% que melhorou. Mas na pesquisa de 2016, a relação se inverteu, 36% sentiram uma piora da qualidade de vida na cidade e apenas 23% responderam que viram melhoria de 2014 para 2015.

A cidade e o país – uma percepção contaminada

Tomando-se dados do Datafolha sobre a avaliação do prefeito de São Paulo de jul16 é possível notar-se que essa sensação de mal estar é fortemente contaminada pela questão federal. Quando o país vai bem, o paulistano vai bem; quando o país vai mal, o paulistano vai mal.

Os momentos de maior satisfação do paulistano com sua cidade se dão justamente nos períodos Lula-Dilma, entre 2003 e 2013. Momentos de forte crescimento econômico do país. E os momentos de menor satisfação do paulistano se dão no período FHC de 1997 a 2001, um período de forte crise econômica. E, por óbvio, entre 2013 e 2016 – a nossa crise atual.

satisfação com São Paulo

É nesse ambiente que Fernando Haddad vai buscar a sua reeleição à prefeitura de São Paulo.

O que a Folha não diz

Haddad está bem na cabeça do paulistano.

Um dado estranhamente não divulgado pelo jornal Folha de São Paulo referente à pesquisa Datafolha para as eleições de São Paulo 2016 que mostra que Haddad é o preferido dos paulistanos na intenção de voto espontânea – lidera com 6% das intenções com Russomanno atrás com 4%.

Datafolha espontânea SP jul16

E eis um mistério que a Folha não explica. Como Haddad partindo de 6% de intenção espontânea de votos vai a apenas 8% de intenção de votos na consulta estimulada, enquanto Marta Suplicy com 2% na espontânea vai a 16% na estimulada e Russomanno saindo de 4% de intenção espontânea de votos alcança 25% na estimulada. Haddad cresce 2 pontos percentuais, Marta cresce 14 pontos percentuais e Russomanno cresce 21 pontos percentuais de um modelo de consulta para outro. Mistério.

A pesquisa mostra também um paulistano com alto grau de indecisão, 80% dos paulistanos não sabem em quem votar ou pretendem votar em branco ou nulo.

Datafolha espontânea 2 SP jul16

O paulistano contraditório

Somente a contaminação subjetiva do mal estar com o país explica o índice de 48% de “ruim e péssimo” e apenas 14% de “ótimo e bom” na avaliação de Haddad, segundo a pesquisa do Datafolha de julho de 2016.

Datafolha SP jul16

Os resultados objetivos de Haddad são muito bons.

Segundo ainda a Folha de São Paulo de 16 de julho de 2016, em um assunto que envolve Município, Estado e União – 79% dos paulistanos consideram que Haddad fez pouco pela saúde. Está claro para o paulistano o que cabe cada um dos entes federativos?

Haddad precisará deixar isso claro aos eleitores.

Até porque, dos paulistanos que recorreram às AMAs e UBSs – a estrutura de assistência médica do município – 48%, em média, avaliam o atendimento como “ótimo e bom” e somente 18%, em média, avaliam como “ruim e péssimo”.

Haddad também tem grande aprovação em outras ações suas. 48% são a favor do fechamento da Avenida Paulista aos domingos para servir como área de lazer. 59% a favor das ciclovias e 72% a favor do Programa Braços Abertos de assistência a dependentes químicos.

opinião do paulistano

Isso para não falar dos corredores de ônibus que já se incorporaram ao transporte público de tal maneira que sua aprovação nem mais é avaliada em pesquisas. E da redução da velocidade nas vias públicas que diminuiu em 46% o número de mortes na Marginal Tietê e em espantosos 61% na Marginal Pinheiros – quem é de São Paulo sabe bem avaliar o que isso significa.

Haddad e a cabeça do paulistano

Haddad tem objetivamente bons resultados a mostrar. É provavelmente o melhor e mais operoso prefeito em muitos anos. Contudo, sua campanha precisará saber lidar com o copo meio vazio do mau humor paulistano se quiser ser reeleito.

E isso passa por conseguir se descontaminar do mal estar federal.

 

PS1: a pesquisa da Folha traz um dado interessante sobre Marta Suplicy – candidata pelo PMBD. Na intenção de voto espontânea, dos candidatos que se declaram petistas, 7% pretendem votar nela. Dos eleitores do seu atual partido, ninguém pretende votar em Marta. Os peemedebistas vão de Russomanno 5% e de Paulo Skaf, que nem candidato é, outros 5%, mas não votam em Marta Suplicy.

PS2: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia está localizada no coração da Paulicéia Desvairada.

Redação

12 Comentários

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  1. Nos dois edifícios que

    Nos dois edifícios que escolhi pra morar em Natal, desde 2008, o percentual de paulistas é mais ou menos 30%. Se vou ao mercado, converso mais com paulista do que com nativos, e assim por diante. Eles, em maioria, dizem que já se aposentaram, mas há muitos que vieram para trabalhar, e estão adorando a cidade. E, pelo que vejo nas televisões do Ceará e da Paraíba, o mesmo acontece por lá.

     

    1. Pois é.

      Sou de Natal, moro em Natal. Estamos aqui há mais ou menos 20 anos sendo governados por PSB e PDT. Um feijão com arroz só. Só maquiagem no corredor turístico da cidade e na região dos ricos. Natal é só aparência.

      No bairro onde moro, bairro de Cidade Satélite, a prefeitura só  existe pra fazer a coleta (nada seletiva) de lixo, e nada mais. Sistema de transporte, saúde, escola, cultura, limpeza, iluminação pública. Tudo está por fazer.

       

      Natal precisa de uma gestão pública inovadora, que olhe para as pessoas que moram nela.

  2. Haddad oculto entre o Estado e Federação

    Enquanto a mídia exalta o Alkmin e detona Dilma e o PT (ou exalta o Temer), o Haddad fica escondido na sua meritória realidade, mas com a sua imagem pública exposta cruamente aos humores gerais da opinião “publicada”.

    A obra de Haddad transcende as fronteiras do município de São Paulo, e fornece ideias ou gera até inveja em populações de outros municípios. As bicicletas não é o único assunto. Temos a depuração do serviço público municipal, com a investigação acima dos fiscais corruptos; o trato humano à população viciada que deambula pelas ruas; a experiência da compostagem (tratamento de lixo orgânico para gerar adubo ou composto estabilizado) em pequenos núcleos habitacionais do município. Estes são apenas alguns bons exemplos que chegam de Sampa.

    O PIG levou esta eleição para as telinhas populares da TV (Russomano) ou para a TV digital mais chique (Doria), também, geraram shows de “revival” para Erundina e Marta, tipo um release dos melhores momentos destas, apenas que no século XX, tudo para tirar votos do Haddad.

    A eleição terá que chegar aos debates, às ruas, aos palanques (onde terão que falar por eles mesmos) e, inclusive, para o retrato que deverá ter a cédula no momento do voto. Aí serão o Russomano e Doria de verdade; e as senhoras Erundina e Marta na sua natural senilidade.

  3. As vitórias de candidaturas

    As vitórias de candidaturas do PT na cidade -Erundina, martraíra e Haddad- são exceções. A regra do paulistano e paulista é maluf, fleury, pitta, kassab, serra, alckmin, quércia, jânio e todo tipo de porcaria que a direita tem de pior. Quanto a Erundina, é lamentável que ela encerre sua carreira como carregadora de piano para a direita.

  4. Haddad é a Jóia da Coroa!!!

    Vencer ou perder fazem parte da política brasileira.

    Mas terminar um mandato de forma digna, honesta e limpa é pra poucos.

    A gestão do Haddad em SP é para influenciar novos políticos.  

  5. O autor parte do principio

    O autor parte do principio que o paulistano é um idiota e não consegue ver a relidade da cidade onde mora e nem vislumbra a excelente administração do Prefeito Haddad, o prefeito invisivel. com obras tambem invisiveis.

    A administração municipal é diferente da Federal e da Estadual porque ela está mais perto do cidadão, suas ações ou omissões ficam mais claras e presentes no dia a dia, é uma administração VISUAL, dá para ver no transito, nos onibus.

    nas escolas das crianças, nas creches, nos ambulatorios, nas calçadas, nos espaços centrais da cidade.

    São Paulo teve Prefeitos muito bem avaliados como Adhemar,  Prestes Maia, Janio, Faria Lima, Paulo Maluf., Mario Covas.  Janio calçou sua carreira  a partir da Prefeitura, Covas idem, trata-se de uma questão de atuação e percepção.

    Haddad teve uma atuação pífia, pequena, de ideias só dele, como ciclovias e uma politica anti-carro sem dar

    opções racionais ao uso do carro tampouco apresentou realizações mais sólidas nos outros campos de ação da Prefeitura.

    Alem da pouca atuação não cuidou da percepção da presença do Prefeito, não visita obras, não dá incertas em creches, escolas e ambulatorios, não vai ver in loco problemas viarios, são gestos de PRESENÇA FISICA essenciais para Prefeitos.

    A tese do artigo de que o problema está nos eleitores e não no Prefeito é antyi-democratica e pouco logica.

     

  6. Nem bom nem ruim
    Haddad não é um prefeito dos sonhos, mas não chega a ser um mau prefeito. Tem as virtudes mostradas no texto, mas também os defeitos mostrados nos comentários anteriores.
    Acredito que uma qualidade que também tem é não se mover pelo tradicional populismo dos políticos profissionais; fazer projetos em que acredita é mais importante que ser popular.
    Paulo Maluf saiu da prefeitura com popularidade altíssima e faz seu sucessor, seu secretário Celso Pita. A reeleição de Efeaga ainda não tinha sido aprovada.
    A herança foi uma cidade atolada na corrupção e o pior prefeito que a cidade já teve.

  7. Estranhamente
    O autor diz que a Folha “estranhamente” não revela um dado que favorece o prefeito. Não tem nada de estranho; é o padrão da Folha e da grande imprensa omitir o que é bom para o PT e destacar o que é ruim.

    1. estranhamente….

      Haddad larga a mão de continuar sendo um medíocre e vá perguntar o que fazer para um “prefeito de verdade” que foi Paulo Maluf. Se não fosse a politica de chantagem do MP paulista aobertada pelos tucanos (que não incomodava quando era contra o Maluf. Agora em nível nacional? A história é outra) seria prefeito novamente mesmo com 80 anos. Vejam a fantástica obra do Elevado Costa e Silva, todos prefeitos nestes 50 anos juraram que a demoliria. E depois de todo serviço prestado ao municipio virará um parque elevado. Não pela visão limitada dos prefeitos que vieram a seguir, mas pelo apelo do povo. Uma obra, duas funções. E a esquerda limitada passou meio século a criticá-la?!!! Competência não é produto que se acha na esquina. Deve ser construída. Por que não temos creches para todas as crianças? Mesmo que nestes 50 anos, a família paulistana passou de 3 ou 4 filhos para menos de 1 na média. Por que não temos metrô nas marginais que ligam os pontos extremos da cidade? Trem com serviço bem razoável só na frente dos Jardins e da Berrini, para gringo ver não basta. O mesmo acontece com as ciclovias. Serra implantou onde estrangeiros passeiam e a RGT pode transmitir sua imagem diariamente. Na frente daquela favela da Aguas Espraiadas que ele mandou passar o trator, antes disto. Por que não tem ciclovias nas marginais? Por que as escolas de São Paulo não estão associadas a clubes de esportes  naúticos, mergulho, natação que poderiam ( e ainda não existem) na Represa de Guarapiranga dentro da cidade. O que o paulistano não aguenta mais e faz muito tempo é de blá, blá, blá. .  

  8. São Paulo é assim: 30% de

    São Paulo é assim: 30% de progressistas, 30% de conservadores e 40% de indiferentes à quaisquer ideologias.

    Esses 40% de indiferentes normalmente decidem as eleições por aqui e se movem conforme a banda toca.

    Jânio ganhou em 1985 pois a percepção era que Covas não tinha feito um bom governo e FHC acabou perdendo.

    Em 1988 Luiza Erundina ganhou devido ao mesmo fenômeno já que a percepção sobre a administração Jânio era ruim e Maluf, mais próximo a Jânio, acabou prejudicado.

    Em 1992 apenas se inverteu a lógica, e Suplicy perdeu para Maluf pelo mesmo motivo: a maioria do povo, de forma injusta em minha opinião, não gostou da administração Erundina.

    Em 1996 Maluf, bem avaliado à época,  acabou fazendo o sucessor, Celso Pitta, que se mostrou uma tragédia nos quatro anos seguintes.

    Em 2000 Marta Suplicy, que quase havia ido ao segundo turno para o Governo do Estado no lugar de Covas em 1998, acabou ganhando por conta da maior rejeição já registrada a um prefeito desde então.

    Em 2004 ganha José Serra, naquela que para mim foi a maior injustiça nas eleições municipais paulistanas: Marta Suplicy, mesmo bem avaliada pela maior parte da população (segundo às pesquisas da época), perde a eleição no segundo turno. Aqui o papel da grande mídia foi decisivo, assim como já tinha sido em relação à Luiza Erundina. Alcunhas como Martaxa, Dona Marta e baixarias afins, elevadas ao extremo pela mídia, acabaram influenciando esses 40% indiferentes de sempre.

    Em 2008 Kassab, que havia assumido após a renúncia de Serra para disputar (e ganhar) o Governo do estado em 2006, é reeleito após Marta baixar o nível na campanha com o já famoso “é casado ? tem filhos ?”. 

    Em 2012 Haddad, favorecido com a perda de paciência da população com a administração Kassab, é eleito em cima de José Serra, desgastado após o povo perceber que ele não completa os mandotos para os quais se elege (já abandonou o mandato de Senador para ser Ministro).

    Quanto mais à periferiferia, maior o número de progressistas. Quanto mais à área nobre, maior o número de conservadores. Os indiferentes acabam se concentrando na parte intermediária entre as duas áreas, em bairros como Vila Nova Cachoeirinha, Sacomã, Rio Pequeno, Vila Ema, Parque São Lucas, Rio Bonito, etc, etc. São bairros nem tão pobres, nem tão ricos, que oscilarão conforme a percepção (negativa ou positiva) do governo em vigor, se mover. 

    A tendênca para esse ano é, obviamente, a vitória de algum candidato mais à direita, mas quem ? Celso Russomano enrolado com a justiça eleitoral ? João Dória coxinha sem apelo popular ? Andrea Matarazzo desconhecido ? 

    Mesmo com todos os problemas, ainda acho que Haddad possa crescer, mas só no momento do horário eleitoral, quando poderá falar diretamente aos eleitoras e tentará desconstruir essa imagem negativa que a percepção atual tem mostrado.

    Para se chegar a essa conclusão, avaliei os mapas de votação das eleições desde 1985 para embasar essas colocações. 

     

     

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