Lava Jato pode ativar uma crise bancária, diz Belluzo

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Sugerido por Amarildo

Do Portal Vermelho

Belluzzo: Governo precisa puxar aceleração da economia
 
Destravar o investimento em infraestrutura e reativar o setor de petróleo e gás. De acordo com o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, estas são as duas medidas necessárias para ajudar o Brasil a enfrentar a crise. Em entrevista ao Vermelho, ele teceu críticas aos procuradores da Operação Lava Jato, pelo fato de as investigações estarem paralisando setores importantes da economia brasileira. E alertou para o risco de a situação derivar para uma crise bancária.
 
Por Joana Rozowykwiat
 

“Não teve nenhuma iniciativa do governo de dizer: vamos combinar, você prende quem você quer prender [na Operação Lava Jato], mas vamos soltar as empresas para elas funcionarem. Porque isso que está acontecendo… Esses promotores de Curitiba são completamente insensatos, um bando de loucos, gente que não sabe nada”, condenou.

Belluzzo referia-se aos impactos que os desdobramentos da Lava Jato estão tendo na atividade econômica brasileira. Ao atingir a estratégica cadeia de óleo e gás e as maiores empreiteiras do país, a operação desencadeou uma espécie de efeito dominó, imobilizando obras e projetos. Um estudo do Ministério da Fazenda, divulgado em outubro, indicou que apenas a redução de investimentos na Petrobras poderia provocar uma contração acima de 2 pontos percentuais do PIB este ano. 

“E não é só a Petrobras, são as empresas chamadas de empreiteiras – que na verdade são conglomerados empresariais –, que têm fornecedores, e há os fornecedores desses fornecedores e por aí vai. Então é todo um circuito que você foi e cortou”, disse Belluzzo.


O diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, André Calixtre, também já havia chamado a atenção para as repercussões da operação. “Não podemos ignorar o fato de as empresas investigadas não poderem mais operar negócios, terem acesso ao crédito e às licitações. A verdade é que a cadeia de petróleo e gás sofreu um imenso impacto”, afirmou, lembrando também seu reflexo sobre a construção civil.

De acordo com Belluzzo, nesse cenário, o governo precisa sair do imobilismo para evitar um aprofundamento dos problemas. “A gente precisa ter coragem de fazer as coisas. Se você ficar acoelhado, não faz nada. Você tem esses projetos de concessão de infraestrutura, mais o setor de óleo e gás. Precisa então resolver o problema da Petrobras, porque esse é um dos centros do afundamento da economia, está paralisando tudo. Tem que reativar isso, botar isso aí para funcionar”, opinou.

O economista avaliou que esta seria uma forma de puxar a aceleração da economia e, caso isso não aconteça, há chances de a crise contaminar outras áreas. “Você corre o risco de ter uma crise bancária, porque as empresas estão assim: ninguém paga ninguém. Eles não pagam nem os juros da dívida. Sabe quanto tem no ativo dos bancos brasileiros? Praticamente R$1 trilhão, que é desse sistema [afetado pela Lava Jato]. E, se o banco não paga, o que acontece? O banco é obrigado a registrar como empréstimos que precisam de provisão e, como resultado, as agências de risco vão e rebaixam [as notas de crédito]”, declarou.

No embalo das 23 empreiteiras que estão sendo investigadas pela Polícia Federal, outras 51 mil empresas – responsáveis por 500 mil empregos – tiveram seus negócios prejudicados. Segundo informação do próprio presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, 32 empresas foram bloqueadas cautelarmente no trabalho com a companhia devido às investigações.

O “cavalo de pau” na política econômica 

Belluzzo lembrou que o Brasil reagiu bem ao momento mais agudo da crise internacional, desencadeada em 2008, conseguindo rapidamente recuperar sua taxa de crescimento. Mas, quando os fatores favoráveis à economia brasileira começaram a se dissipar, o governo demorou a definir projetos de concessão e a promover os programas de infraestrutura, avaliou.

“O PIB caiu um pouco em 2009, mas em 2010 já cresceu, então reagiu muito bem. Só que terminou aquele frenesi do ciclo de consumo americano e de commodities chinês. Então rapidamente os efeitos positivos se dissiparam e o Brasil foi incapaz de dar uma resposta mais compatível. Demorou a definir projetos de infraestrutura e tal e a economia foi desacelerando. Não foi desacelerando tanto quanto as pessoas pensam, mas foi desacelerando e, em 2014, ela estava mal”, analisou.

De acordo com ele, o crescimento da China – principal parceiro comercial do Brasil – começou a desacelerar e o Brasil passou a ter problemas com o balanço de pagamentos e um aumento importante no deficit de conta corrente. Para Belluzzo, “a situação fiscal começou a ficar difícil, mas não catastrófica”. 

“E o que o governo fez? Deu um cavalo de pau na política econômica. Deu essa subida absurda dos juros, choque fiscal, e a economia entrou em recessão. E a situação internacional é o quadro dentro do qual isso aí se desenvolveu”, afirmou.

Questionado sobre os impactos que a crise política tem sobre a economia, o economista avaliou que isso tem atrapalhado bastante a situação. “O governo ficou imobilizado. Você não consegue nem passar a CPMF, que é a coisa mais razoável que tem. Mas eles estão bloqueando”, lamentou. 

Avesso ao ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy, Belluzzo criticou a política de juros altos praticada pelo Banco Central, que não ajudaria a combater uma inflação de custos. Segundo ele, falta coordenação entre as políticas do governo.

“Juntou tarifa de energia com tarifa de água e aí a inflação foi a 10%. E aí, como você vai pegar um choque de tarifas, que é um choque de custos, numa economia que tem inclinação à indexação de tudo… Então você tem o pior dos mundos: um choque inflacionário, com uma renitência ao longo do tempo, e o Banco Central pode ter a ideia de continuar aumentando os juros. E isso vai jogar a economia mais para baixo ainda.”

Para ele, a recente desvalorização do câmbio pode ajudar a dar um fôlego à indústria brasileira, apesar de a situação do comércio internacional também estar difícil. Em 2004, a participação da indústria no PIB era de 18%. Este ano, deverá ser de 9%. 

“Com a recessão e a desvalorização do câmbio, você produziu uma redução das importações. Mas as exportações não estão crescendo, estão caindo. Só que as importações estão caindo mais. Por causa dos números da atividade, mais o encarecimento dos insumos importados. Isso pode dar um pouco de fôlego à indústria, porque começa a haver encomenda no mercado doméstico de coisas que eles compravam mais barato e agora estão ficando caras.”

O tripé

Na entrevista, Belluzo comentou a prevalência do chamado tripé macroeconômico, que consiste em câmbio flutuante, metas de inflação e superavit primário. “Eu sempre dou um exemplo: por acaso um importador francês e um exportador japonês podem denominar transação em reais? Parece que não. Vão denominar ou em euro ou em dólar. Essa circunstância faz com que o câmbio flutuante num país como o Brasil seja muito arriscado. Você tem muita volatilidade, muita instabilidade do câmbio. Por que os chineses de deram bem? Porque eles controlaram o câmbio”, avaliou.

“O tripé é uma criação dos anos 90. Tem a ver com a política econômica da globalização neoliberal e os países que se entregaram a ela. Você tem dois tipos de países: os chineses, que aproveitaram as mudanças para fazer políticas nacionais, exercer controle sobre o que era crucial – que era comércio exterior, o câmbio e o sistema financeiro –, e os países que fizeram essa abertura que o Brasil fez”, disse.

Belluzzo, contudo, não vê, hoje, condições políticas para romper com a lógica do tripé macroeconômico. “Veja, por exemplo, com essa desvalorização do câmbio, você reduziu muito as viagens ao exterior. Tinha cabimento você estar subsidiando o cara para viajar para o exterior, ao invés de viajar para Natal? Então precisa ter condições políticas. Você precisa convencer a sua base de que isso [romper com o tripé] é importante”, concluiu. 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

20 Comentários

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  1. Beluzo é algo extraordinário

    Beluzo é algo extraordinário : tem solução pra tudo.

      E na visão dele, economia é igual pastel : sai na hora.

      Então é inacreditável que o governo convoca Levy e não Beluzo.E como reserva imediato,Meireles.

        Ambos completamente contrários com a opinião de Beluzo.

      O interessante é o seguinte :Beluzo resolve tudo e o governo não o quer. 

       E mesmo assim ele continua dando entrevistas.

        Nunca pra ajudar o governo–só pra atrapalhar mais ainda.Muito embora se propõe a ajudar.

     

       Que figuraça ! ! !

             ps: Se eu ganho 2 000 /mês e gasto 4 000 , qual a solução,mestre ?

  2. Crime de responsabilidade. ..
    Alguém aí não poderia entrar com uma representação de crime de responsabilidade com essa galera transloucada aí???
    Parece o juiz que quer encerrar o jogo só porque um zagueiro do Tenerife quebou as pernas do Messi e Neimar num carrinho violento. …
    Do mesmo jeito, não podemos condenar toda a Assembléia de Deus só porque o bispo televisivo é um ladrão. …
    A regra não é essa! O alvo deve ser os fdp e
    não o coletivo!

  3. Utilizar as Reservas Cambiais para estabilizar a taxa de câmbio

    Hoje a estabilidade cambial passa pelo processo de início do aumento dos juros americanos.

    Precisamos utilizar as Reservas Cambiais para estabilizar a taxa de câmbio no atual patamar com um programa de leilões de venda de parte dos dólares das Reservas Cambiais no mercado à vista.

    Na medida que fluxo de compra e venda  dólares dos exportadores e importadores voltarem ao normal aumentando a expectativas de estabilidade cambial, deve ocorrer a retomada das operações de carry trade e dos empréstimos no exterior, com o Banco Central tendo que passar a comprar dólar para impedir uma queda acentuada da taxa de câmbio.

    Com a estabilidade da taxa de câmbio a inflação caminhará rapidamente para a mesta de inflação estipulada pelo CMN, o que abre espaço para redução dos juros da Selic e diminuição do compulsório bancário.

    O Banco central precisa abrir a caixa de ferramentas para controlar a taxa de câmbio, já que sem uma estabilidade cambial não haverá estabilidade na taxa de inflação.

    Hoje a taxa de câmbio é mais do que suficiente para permitir um aumento das exportações, a substituição de parte das importações pela produção nacional, e manter o equilíbrio nas contas externas.

    Mais importante do que impedir novas altas exageradas do dólar, é impedir que o dólar volte a cair de forma acentuada, por meio de compra de dólares para aumentar novamente as Reservas Cambiais, caso seja necessário.

     

     

     

     

  4. ESSE SENHOR FALA GRANDES

    ESSE SENHOR FALA GRANDES VERDADES COM CORAGEM

    PRECISAMOS DE PESSOAS RESPONSÁVEIS ASSIM NESTE PAÍS

    ATÉ O BILL CLINTON É MAIS “NACIONALISTA” DO QUE CERTOS POLÍTICOS E JUÍZES DESTE PAÍS

    COM A SUA RECENTE DECLARAÇÃO,MOSTRA Q ACREDITA NESTE PAÍS MAIS Q ESTES ANTINACIONALISTAS!!!

    DECLARO MINHA INDIGNAÇÃO COM ESTES PALADINOS DA MORALIDADE,CADÊ MENSALÃO TUCANOOO!!!!!

     

  5. O Parquet e a sua “meninada”,

    O Parquet e a sua “meninada”, como se diz na gíria, “estão na deles”. Idem para o empoderado Juiz singular apreciador de prêmios de reconhecimento. Ambos formando a maior parceria de egos na história do país.  

    A cobrança efetiva deve ser feita a senhora presidente Dilma, chefe de Estado, de Governo, dos funcionários públicos e das Forças Armadas. Não é pouca coisa, não. A pergunta é: para que serve tanto Poder se no momento em que se fez necessário ele não foi exercitado? 

    Ah, sei….O sacrossanto por todos os séculos amém republicanismo, um eufemismo para o que não passa de inaptidão para o Poder, carência de senso estratégico e abdicação de responsabilidades. 

    Bem, agora nem mel nem cabaça, como “filosofaria” meu finado avô. 

  6. Simplesmente estarrecedor o poderio da República do Tucanistão

    Simplesmente estarrecedor o poderio da República do Tucanistão, é uma escalada ditatorial, não sabemos onde isso vai acabar, mas já dá prá sentir os enfeitos desse descalabro levado a diante por essa máfia midiático-penal que aposta no quanto pior, melhor…pensam desta forma  “refundar a República”….a Mão Limpas na Itália resultou num desastre político e economico…penalistas como Zaffaroni não param de afirmar que o Direito Penal não acaba com a corrupção e sim regras de transparência que Moro, MPF, PSDB e  CIA se opuseram a implantar, como por exemplo o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais. Relmente estamos num tempo de insanidade.

    Moro e a naturalizaçao do fascismo, por Miguel do Rosário

    http://www.ocafezinho.com/2015/11/14/moro-e-a-naturalizacao-do-fascismo/

  7. Lava jato x Brasil

    O Sres. bem sabem que se depender do magistrado global o brasil vai pro buraca. Precisamos, todos os brasileiros, de um plano B, senão Brasil vai quebrar mesmo..por insensatez generalizada…Beluzzo tá certo

  8. Está certo

    Beluzzo está certo, porém Dilma não vai fazer nada. Ela não pretende fazer nada, e nada fará, mesmo que seja fácil fazer. E nós temos que esperar mais três anos para correr o risco de cair em algo pior ainda ( por mais incriível que pareça).

    três anos apanhando, e o pior é que o PT não percebe que não apanha sozinho em seu mazoquismo, mas o país inteiro apanha junto.

    Temos dois tipos de partidos no segundo turno: Os tucanos, que são contra o Brasil, e os petistas que se acovardam diante dos tucanos e permitem que eles façam o que quiserem, devido a crença fanática do republicanismo… Ou seja, precisamos achar com urgência um outro partido para segundo turno.

  9. As reformas estruturais

    Se tem uma reforma estrutural urgente é a reforma do judiciário. Em especial o controle externo e as formas de acesso, definitivamente os concurseiros são um fracasso total, é necessário mais curriculo. Justiça incapaz, lenta e, agora, promovendo crises ao invés de resolver-las rapidamente, começa a ser tomada pela partidarização o que é um risco imenso de perder a credibilidade, a pouca que tem.

    No governo o sistema de controle de contratos análise e acompanhamento  é absurdamente caro e totalmente ineficiente. Estas denuncias não são novas, algumas chegam ao conhecimento público arrisco a dizer que a grande maioria não. Temos a policia federal, os diferentes ministérios públicos, sistemas de controle do banco central, um sistema de combate a lavagem de dinheiro, o sistema de controle de fraude fiscal da receita federal, a controladoria geral da união, a advocacia geral e os tribunais de conta, que na realidade são entidades de julgamento político de contas. Além disso há e os controles internos de cada um dos ministérios.

    Não era para estes casos chegarem a este nível e por tanto tempo. E neste rumoroso processo todas as provas judiciais válidas, que eu saiba, vieram da justiça de outros países!

  10. ” Esses promotores de

    ” Esses promotores de Curitiba são completamente insensatos, um bando de loucos, gente que não sabe nada”,”

    Definiu muito bem.

     

  11. Cadê o responsável pelo pais?

    Temos que avisá-lo imediatamente!

    Onde se encontra?

    Por falar nisso, outra estatal fuzilada:

    “Correios “estão na UTI” e terão prejuízo de R$ 900 milhões, diz novo presidente” (Correio do Povo)

    http://goo.gl/ERBG1c

  12. Costeando a hipocrisia

    Gosto muito do Beluzzo, mas colocar a culpa da crise na Lava Jato beira a hipocrisia – ou coisa pior. O Brasil não cresceu em 2010, não cresceu em 2011, não cresceu em 2013, nem em 2014 e em nenhum estes anos havia Lava Jato. O que havia, aos montes, era a roubalheira que sustentou o PT, o PMDB, o PSDB e outros tantos. Havia, tb, um governo que ganhou falando de esquerda e, eleito, abraçou a direita sem se envergonhar. 

    A culpa da crise é da Dilma. Que ela pague por ela.

    1. P. ….. nenhuma. .
      O cara tá dizendo que é um fator agravante e não o único responsável. ..
      A crise mundial criada oeli descontrole monetário americano desenxadeou este desmoronamento nos castelos de areia mundo afora…..
      Em alguns países a dor de barriga ocorreu na hora, em outros…só agora. …

      Simples assim. ..

  13. Não importa, a Lava  Jato

    Não importa, a Lava  Jato veio do céu, é enviada por Deus para moralizar os infiéis os incautos tal e qual já feito com Sodoma e Gomorra . . . . . . . . 

  14. Com essa tática da terra

    Com essa tática da terra arrasada esse iluminados parecem não saber que também o salário deles pode virar pó, afinal de contas esse complexo sistema de produção do petróleo e gás gera riquezas para o pais, a não ser que estejam eles(procuradores e o mouro) rebendo por fora, pelo menos prêmios da Globo e até do Tio Sam tem recebido, o que não deixa de ser corrupção tmbm

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