Mais um ataque de Israel em meio ao período de trégua humanitária

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Uma casa na Cidade de Gaza foi bombardeada, bem como outras áreas na Faixa de Gaza, na primeira das sete horas de trégua humanitária declarada por Israel.

O Ministério da Saúde de Gaza disse que uma criança foi morta e outras 30 pessoas, a maioria mulheres e crianças, foram feridas no ataque ocorrido nas primeiras horas desta segunda-feira, em uma casa no campo que abrigava refugiados, em Shati.

Um porta-voz militar israelense disse à agência Reuters que iria verificar o relatório.

Israel havia declarado anteriormente que estaria aplicando o cessar-fogo em partes da Faixa de Gaza, por sete horas, em meio à indignação mundial por ataque mortal ocorrido em uma escola da ONU localizada em território palestino.

A trégua limitada e unilateral, que ocorreria nesta segunda-feira (entre 7h e 14h, horário local), foi anunciada depois que potências mundiais condenaram veementemente o ataque do dia anterior, que matou 10 palestinos que estavam abrigados em uma escola da ONU.

O Exército de Israel declarou que a “trégua humanitária” teria lugar em toda a Faixa de Gaza, exceto na área leste da cidade de Rafah, onde os confrontos estavam em andamento com presença militar de Israel.

O exército advertiu no comunicado que iria “responder a qualquer tentativa de explorar esta trégua” com ataques a civis e soldados. Também teria dito que os residentes de Abasan al Kabira e Abasan al Saghira, duas aldeias a leste de Khan Younis, no sul de Gaza, poderiam voltar para casa.

Nicole Johnston, da Al Jazeera, em relatos a partir da área rural de Khuzaa, disse que as tréguas temporárias impostas desde que a ofensiva de Israel começou, não tinham sido bem sucedidas, mesmo quando patrocinada pela ONU.

“Israel deixou claro que as áreas onde o exército continua suas operações estarão isentas, o que inclui as áreas de Rafah”, disse ela, “sabemos que em certos lugares, como Beit Lahiya, Israel saiu e disse ao povo que poderiam ir para casa, mas as pessoas têm muito medo de fazê-lo” concluiu.

“Este é um cessar-fogo muito instável, na verdade”, disse Johnston, com bombardeios que podiam ser ouvidos ao fundo, em sua declaração à redação da Al Jazeera.

O anúncio israelense foi recebido com desconfiança pelo grupo palestino Hamas, e seu porta-voz em Gaza, Sami Abu Zuhri, alertou cautela à população.

“O chamado cessar-fogo humanitário de Israel é unilateral e vem em um momento em que o inimigo sionista quer distrair o mundo dos massacres que cometeram contra nosso povo em Gaza”, disse Abu Zuhri em comunicado através da estação de televisão do Hamas. “Nós não confiamos em suas intenções e pedimos ao nosso povo para tomar muito cuidado”, concluiu.

James Bay, da reportagem de Al Jazeera em Jerusalém Ocidental, descreveu o cessar-fogo como “uma condicional, uma pausa parcial” e disse que havia possíveis vantagens militares para os israelenses neste intervalo de bombardeios.

“Não existe tal coisa como a avaliação de danos de batalha. Você pode colocar seu avião ou seus drones no ar e olhar para o que foi atingido e o que não foi atingido. Tenho certeza de que a pausa está se mostrando útil para os planejadores militares”, disse Bays.

O Exército israelense declarou ter alvejado, no domingo, três militantes da Jihad Islâmica em um veículo, “em proximidade de uma escola da UNRWA, em Rafah”. Mark Regev, porta-voz do governo de Israel, disse à Al Jazeera que a área atingida, no domingo, adjacente á escola, era um “alvo terrorista legítimo”.

“Eu disse que havia um alvo específico, três agentes do Jihad Islâmico. Sabemos que parece ter havido danos colaterais, mas ainda não sei como ele foi causado. Foi nossas munições ou material bélico carregado pelos agentes?”, disse ele.

“O hamas e outros terroristas atiram repetidamente em Israel a partir das instalações adjacentes à ONU. Estamos fazendo o nosso melhor em uma situação de combate muito complicada para acertar os terroristas e não alvejar civis”, declarou o porta-voz israelense.

Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, chamou o ataque perto da escola que abrigava cerca de 3 mil palestinos que fugiram de suas casas devido aos combates de “um ultraje moral e um ato criminoso”. “Esta loucura deve parar”, disse ele.

EUA “chocado”

Jen Psaki, porta-voz do Departamento de Estado, afirmou que os EUA estavam “chocados” com o ataque e pediu uma investigação “completa e rápida”. “Israel deve fazer mais para satisfazer os seus próprios padrões e evitar vítimas civis”, disse ela.

O presidente da França, François Hollande, disse que o bombardeio perto da escola era “inaceitável”, fazendo coro com Ban Ki-moon, “para pedir que os responsáveis por esta violação da lei internacional responda por suas açoes”, mas sem dizer que ele considerava responsável.

Em um comunicado nesta segunda-feira, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, disse que “Israel não tem como objetivo alvejar contra civis e sente muito qualquer ataque que, involuntariamente, atinge civis”, sem abordar diretamente o ataque feito em Rafah.

Os ataques israelenses contra Gaza continuaram nesta segunda-feira e 11 pessoas foram mortas, elevando o número de mortos, desde 8 de julho quando iniciou o confronto, para 1.817, pelo menos, segundo fontes médicas palestinas.

Um ataque aéreo israelense matou um comandante da Jihada Islâmica na Faixa de Gaza, poucas horas antes da trégua parcial desta segunda-feira ter entrado em vigor.

O grupo Jihad Islâmico, um aliado próximo do Hamas, disse que Daniel Mansour, seu comandante na parte norte da Faixa de Gaza, morreu quando um ataque israelense atingiu sua casa pouco antes do amanhecer.

Com informações da Al Jazeera e Reuters

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. É triste ver um Estado que

    É triste ver um Estado que promove o apartheid de maneira tão explícita e com tantos apoios no mundo inteiro. A solução de dois Estados segregados era o sonho dos antigos afrikaners, agora aparece como solução de paz. Estamos ficando mais bárbaros nesse século que terminamos o XX?

  2. olhando as fotos…

    … vê-se que foram muitos “tuneis” destruidos.

    Como comentou o Rafael Ramos (12:06 h) estamos muito mais barbaros neste inicio de século XXI :

    “A solução de dois Estados segregados era o sonho dos antigos afrikaners, agora aparece como solução de paz.”

    E o problema é que nem um “estado segregado” se quer construir… é a barbarie do “Lebensraum Nazisraeli” pura e simples.

    Deus tenha misericórdia de palestinos e de todos nós.

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