New York University: onde se estuda o Brasil a fundo, de Sprague Smith a Luís Roberto Barroso, por Carlos Ernest Dias

New York University: onde se estuda o Brasil a fundo, de Sprague Smith a Luís Roberto Barroso

por Carlos Ernest Dias

Antes de começar a escrever no GGN de forma voluntária, estive rapidamente com o Nassif num evento em BH, quando tive a oportunidade de dizer a ele que minhas preocupações com o país passavam principalmente pelas questões históricas, culturais e intelectuais, não desconsiderando as óbvias e fundamentais questões políticas e econômicas para a compreensão da “crise” brasileira. Assim, pelas trilhas da história e da cultura, venho acompanhando de perto a atual opressão do governo Temer sobre as universidades públicas brasileiras, quando ao finalzinho do ano me caiu nas mãos um recentíssimo livro chamado “The new brazilian university – a busca por resultados comercializáveis: para quem?” do professor da Ufscar João dos Reis da Silva Júnior.[1]

Aí, neste livro, encontram-se respostas para muitas das perguntas que estão no ar sobre o atual combate às universidades públicas no Brasil. Aí neste livro comprova-se também que há setores onde há resistência, onde o debate intelectual e a produção de conhecimento estão alinhados e decididos a combater o desmonte que as dimensões política, econômica e institucional do pensamento neo-ultra-liberal querem promover contra as dimensões culturais e intelectuais da vida brasileira. Aí estão também, por trás de toda a espetacularização, as verdadeiras razões pelas quais querem transformar a universidade brasileira numa World-Class University, modelo no qual a disseminação do conhecimento deverá se submeter a todo um circuito e a um padrão internacional de comercialização de artigos, que veiculam o que Silva Júnior chama de conhecimento matéria-prima.

Mas e o conhecimento produzido sobre nós mesmos, o que fazemos com ele? Porque não aplicamos aqui mesmo o nosso conhecimento matéria-prima, e o fazemos multiplicar? Porque não o utilizamos, por exemplo, para reconstruir a bacia do Rio Doce em todas as suas dimensões humanas e ambientais? Ou para combater a grande mentira do século, chamada “mudança climática”. Ou pelo menos para saber quem somos e deixarmos de ser o eterno país do futuro?

Simples: porque isso não nos é permitido. Mas como? Há estrangeiros estudando sobre nós aquilo que nós mesmos não estudamos, porque somos impedidos de fazê-lo.

O que fazem os EUA em relação a nós, quando nós mesmos é que deveríamos fazer? Estudam o Brasil em todas as suas dimensões, política, econômica, institucional, cultural e intelectual e levam o conhecimento adquirido para os Brazilians Institutes da New York University e de outras universidades como a Indiana University, a qual mantém uma página sobre o compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos [2].

Nós, brasileiros, costumamos ficar tão embasbacados com as maravilhas da cultura norte-americana que nos sentimos até no dever de explicar as razões que nos levam a criticá-los e condená-los por suas costumeiras e agressivas práticas de imperialismo cultural e de parasitismo intelectual.[3] Penso que não devemos nos desculpar por adotarmos um ponto de vista crítico e condenatório às ações e infiltrações que os EUA promovem nas culturas alheias, como fazem sistematicamente no Brasil e em outras partes do mundo. É hora de perder o medo, romper o silêncio, enfrentar essa crítica, defender o que é nosso e deixarmos de nos comportar como subdesenvolvidos parasitados quando o assunto é Estados Unidos da América e as suas sacanagens.

Recentemente, nas minhas pesquisas sobre Música e Cultura, fui à busca de informações sobre um cidadão norte-americano chamado Carleton Sprague Smith, nome que aparece frequentemente quando se estudam as relações culturais entre Brasil e EUA em meados do século XX. Smith, além de flautista e estudioso da cultura e língua espanhola, era um funcionário do departamento de Estado dos EUA incumbido de promover aproximações culturais entre os países latino-americanos durante a política da boa vizinhança que vigorou nos tempos da Segunda Guerra Mundial. Carismático e fluente no português, Carleton estabeleceu relações mui amistosas com musicólogos e compositores brasileiros como Luiz Heitor, Mário de Andrade e Camargo Guarnieri.

Earlier, he was the chief of the New York Public Library’s music division from 1931 to 1959, with time out for service as a United States cultural attache and as a university teacher in Brazil from 1943 to 1946.[4]

Os estudos realizados e as informações recolhidas por Smith durante o périplo pelo Brasil e pela América do Sul propiciaram a ele a criação do Brazilian Institute da New York University em 1958.

From 1959 to 1961, he was the director of the Brazilian Institute, established in 1958 as an academic center for the encouragement of studies in the language, literature, culture, economics and history of Brazil. From 1962 to 1966, he was chairman of the institute’s academic committee.[5]

Na verdade o interesse institucional dos EUA sobre o Brasil se aprofundou a partir de 1940, ano em que se instalou no Rio de Janeiro o Birô interamericano no Brasil, liderado por Nelson Rockfeller, e que aí funcionou até 1946. Ou seja, seis anos (!!!) de estudos in loco sobre o Brasil, feitos por milhares de técnicos, professores, artistas e cientistas norte-americanos, como relata Gerson Moura[6]. E como não deixar de mencionar o Thomas Skydmore, historiador norte americano pago para produzir um livro chamado “Uma história do Brasil”, com livre acesso aos porões da ditadura enquanto nossos melhores cérebros “erravam cegos pelo continente”?

Não dá, portanto, para ignorar esses fatos se quisermos conhecer as raízes da dominação cultural e intelectual que os Estados Unidos exercem sobre o Brasil. Insisto na questão cultural, pois é aí, a meu ver, o centro da crise brasileira, ao contrário do que diz, por exemplo, o Rodrigo de Medeiros em post de hoje no GGN: “A grave crise brasileira apresenta basicamente três dimensões entrelaçadas: econômica, política e institucional.” Ora, falar da crise econômica, política e institucional implica em não incluir o lado cultural e o lado intelectual, o lado do saber e do conhecimento, e implica também na exclusão do povo, o Povo-nação, o qual raras vezes participou assertivamente ou colheu os frutos e benefícios da criação do malogrado Estado-nação brasileiro e de suas instituições. Medeiros está correto, mas insistir apenas nessas dimensões não nos levará muito longe, pois o que precisamos antes de tudo é saber quem somos, como nos formamos e quais as características culturais e espirituais do Povo-nação brasileiro, fazendo uso de uma ideia do Darcy Ribeiro, que diz que no Brasil há um Povo-nação bem conformado, mas não há um Estado-nação, pois este, é melhor nem falar, ou falar em outra ocasião…

O que acontece, portanto, é que não estudamos a fundo os nossos problemas, e quando estudamos e queremos aplicar aqui os conhecimentos adquiridos, isso se torna perigoso. Não nos esqueçamos de que Anísio Teixeira, um dos maiores educadores brasileiros, foi “encontrado morto” no fundo de um poço de elevador, em 1971, aos 71 anos de idade! Um homem franzino, um senhor de idade, um notável brasileiro! Encontrado morto no poço de um elevador! Seu pecado era ser dono de inteligência privilegiada e de uma disposição transformadora, e que era ao mesmo tempo perseguido no Brasil como comunista, mas recebido irônica ou hipocritamente de braços abertos pelas universidades de Columbia e da Califórnia nos EUA, onde lecionou.

Mas como vinha dizendo, eu pesquisava o Sprague Smith quando resolvi digitar na pesquisa o “Brazilian Institute” por ele criado em 1958, quando… Surprise!! Na escola de Direito da mesma New York University foi criado, em fevereiro de 2016, a Brazilian Legal Society (BLS):

The Brazilian Legal Society at New York University School of Law (BLS at NYU Law) was founded in February of 2016 and aggregates current and former NYU Law students, faculty members, professionals and other individuals interested in academic and business interchange between Brazil and the United States[7].

A BLS já contou com palestrantes ilustres como, por exemplo, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, o qual participou de um simpósio em 11 de abril de 2016, certamente fornecendo informações muito valiosas aos estudantes de direito da NYU e aos interessados no business interchange entre Brasil e EUA[8]. Percebe-se, portanto que há um claro hábito vampiresco e parasitário desenvolvido historicamente pelas universidades norte-americanas em relação às universidades brasileiras, ao pensamento e ao conhecimento gerado no Brasil que, ao fim e ao cabo, nos impede de produzir e de aplicar o conhecimento nas próprias realidades físicas, mentais e espirituais do país, impedindo assim o nosso desenvolvimento e consolidando e perpetuando o nosso atraso, político, econômico, institucional, cultural, intelectual e espiritual.

 


[1] SILVA JÚNIOR, João dos Reis, “The new brazilian university” – a busca por resultados comercializáveis: para quem?”Bauru: Canal 6, 2017. RET – Rede de estudos do trabalho; Projeto Editorial Práxis.

[2] http://villalobos.iu.edu/

[3] Sobre a questão do imperialismo cultural, ver o artigo de José Jorge de Carvalho: Imperialismo cultural hoje: uma questão silenciada. In Revista USP, São Paulo (32): 66-89 Dez./Fev. 1996 -97.

[4] http://www.nytimes.com/1994/09/21/obituaries/carleton-sprague-smith-scholar-is-dead-at-89.html

[5] idem

[6] MOURA, Gerson. Tio Sam chega ao Brasil – a penetração cultural americana. São Paulo: Brasiliense, 1988.

[7] http://www.law.nyu.edu/studentorganizations/brazilian-legal-society

[8] http://www.law.nyu.edu/studentorganizations/brazilian-legal-society/pastevents

 

Redação

18 Comentários

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  1. Qualquer aproximação com

    Qualquer aproximação com aquele país será nefasta, nesse momento. A academia e a cultura popular de lá, por mais atraente que possam parecer, levam a sentimentos que nos prejudicam, nos enfraquecem. Assim como eu posso tomar um copo de pinga com tranquilidade mas um ex-alcoolatra não pode nem sentir o cheiro de cerveja, antes de voltarmos a nos aproximar de qualquer coisa vinda dos EUA, teremos que ter muito bem sedimentados as ideias e os sentimentos que levam-nos a nossa independência, soberania e prosperidade nacionais.

    Só venceremos a dominação estadunidense, um, desenvolvendo a ideia de que somos auto-suficientes e que devemos ser cada vez mais; e dois, desprezando tudo o que está relacionado com aquele país. Quem sabe no futuro nos será tão exótico e pitoresco comermos comida “americana” (sanduíches plastificados, por exemplo) quanto nos é experimentarmos comida, que sei eu?, vietnamita?

    Por uma revolução cultural que privilegie os valores que temos natural e espontaneamente, e não os que nos impõem as empresas privadas de comunicação social, a mídia..

  2. É justamente por gostarmos do

    É justamente por gostarmos do eventualmente bom daquele país que estamos sendo obrigados a amagar o ruim…

  3. Muito útil o texto. Agora compreendi porque o que escrevo …..

    Muito útil o texto. Agora compreendi porque o que escrevo nunca mais é publicado no GGN: Nunca fui a um evento cultural do Nassif! Nem mesmo falei com ele pessoalmente!

  4. Ótimo texto, Carlos! Concordo

    Ótimo texto, Carlos! Concordo plenamente com você, precisamos analisar profundamente as causas do atraso e do “viralatismo”. Não há outro caminho senão a comprrensão do papel da cultura no processo político de cooptação.

    Um grande abraço!

  5. new….

    Caro sr., é exatamente o que escrevi, de forma muito mais analfabeta, ao blog de Rui Daher. Nós nos desconhecemos. Um poço de futilidades e ignorância preservados em pseudo-ideologias tupiniquins. É a nossa base cultural e intelectual. Sua matéria brilhante é o que tento dizer da minha forma tosca. Um lapso, imprescindível mas pouco de conhecimento brasileiro temos nos artigos sobre Agropecuária e sobre realidades brasileiras em Andanças Capitais e nos artigos de André Araújo. Nos falta em nossas próprias Universidades, entre Intelectuais e Universitários, transmitidos à Sociedade de forma geral, o que sobra em Universidade Americana. O Brasil é de muito fácil explicação.  

  6. Agente não usa o

    Agente não usa o conhecimento-matéria prima para produzir tecnologia aplicada porque não há quem queria fazer isto (com poucas excessões):

     

    Na iniciativa privada: em um país de cripto-escravocratas, a burguesia associa aumento da produtividade com aumento de horas trabalhadas & redução de salário ao invés de associar produtividade com aumento da produtividade por hora trabalhada & tecnologia para fazer cada hora trabalhada render mais – escravocratas se sentem melhor lucrando com a dor dos outros e com a sensação de superioridade que eles sentem prejudicar os outros do que com a construção de coisas que vão render benefícios à sociedade como um todo.  

     

    Na esfera pública: usar conhecimento-matéria prima para produzir produtos gera lucro e a esquerda não quer as universidades gere lucros; já a direita… a direita quer dar o país pros grandes financistas de Londres e Nova York   

  7. Há coisas bizarras mesmo

    Tenho um livro sobre a obra infantil de Monteiro Lobato, que na época ganhou 2 prêmios, inclusive o de melhor ensaio sobre literatura infanto-juvenil do ano de publicaçao. Mas foi editado por uma editora pequena, que nunca me pagou direitos e que vendeu parte dos livros como papel, quando faliu. Eu só tenho um exemplar em forma de livro (como tese tenho outros, mas nao é o mesmo). As bibliotecas de nenhuma das universidades em que já trabalhei têm o livro. Mas ele existe na biblioteca do Congresso americano, na de Yale, na de Colúmbia, e em outras. É o fim da picada!

    1. DÊ-nos

      Os títulos ou resenhas dos livros, Anarquista. MONTEIRO LOBATO, em razão do seu ativismo eugenista tem merecido muita atenção… nos ajude!

       

      abraço.

      1. Minha visao de Lobato definitivamente nao é a sua…

        Lobato me fez quem sou, e sou gratíssima a ele. E estudei a obra infantil, onde nao é verdade que ele seja racista (eu nao a indicaria para uma criança negra, e, hoje em dia, para criança nenhuma, mas seria longo de explicar isso). Há vários trechos em que ele na verdade questiona o racismo, mas de uma forma que uma criança dificilmente entenderia. Onde ele parece racista, na verdade nao é, é “mau comportamento” da Emília, censuradíssimo por todos os outros personagens. Mas, outra vez, nao se pode esperar que uma criança entenda isso, e sem dúvida esses trechos poderiam atingir a auto-estima de uma criança negra, ou estimular bullying. Mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. E na verdade tb há trechos em que a própria Emília se auto-questiona.

        Um trecho de questionamento do racismo que acho fantástico ocorre acho que em Hans Staden ou em Caçadas de Pedrinho (estou citando de memória). Em uma conversa com D. Benta Pedrinho pergunta: “– Vovó, qual a raça superior?” Ela responde: “– É a ariana, meu filho”. Quase tive um ataque do coraçao ao reler isso de adulta. Mas o trecho continua com D. Benta dizendo: “–Bom, pelo menos é o que dizem os historiadores, que sao todos arianos”. E depois conta a Pedrinho uma fábula em que um leão passa por uma aldeia e vê uma estátua em que alguns caçadores matam um leao. E a fábula termina com um pensamento do leao: “–Muito diferente seria essa estátua, se os leoes fossem escultores…”.

        Se vc quiser comprarar isso com outros autores infantis da época, compare com Viriato Correa em Cazuza. Há um trecho em que o Professor Joao Cândido (nao me lembro se o nome é esse mesmo) encontra uns carroceiros batendo em um burro e faz um belo discurso laudatório sobre a gratidao que o Brasil deve ao burro, que levou o progresso nas costas, etc. Umas quinze páginas depois O MESMO discurso é dirigido ao negro…

        Acho que uma fala que diz que a raça branca é superior mas que é depois “desmontada” pela continuaçao leva a muito mais questionamento que um discurso laudatório falso e na verdade revoltante. O método de Lobato é fazer a criança pensar, nao lhe dar verdades prontas.

        1. “O Presidente Negro” e a eugenia

          Prezada AnaLu, com o merecido respeito de ponderar.

          A minha visão é que LOBATO foi um extraordinário escritor de obra infantil – permeado de idéias preconceituosas contra os afrodescendentes – além de importante ativista por ideais nacionalistas numa época de dependência cultural política que isso não era constumeiro.

          Porém, não posso ignorar seu ativismo pelas teses da eugenia e que ele próprio considerava a ´raça negra´ a raça inferior e a presença dela como a degeneradora da ´raça´ brasileira.

          Não posso ignorar sua pregação racista e machista, pré nazi-facista, no livro ´O Presidente Negro´, em que temia que a soma dos pretos e mulheres americanas, no exercício da igualdade de direitos políticos, consistiria numa imensa maioria em disputa com os ´másculos´ homens defensores da supremacia racial ariana.

          Assim como não posso ignorar a pregação do genocídio dos afro-americanos que sugere no referido livro como a ´solução final´ para o ´problema´ americano: que o governo dos EUA adotasse uma política subsidiada de produtos químicos para os cabelos dos pretos e pretas que, por sua fórmula química provocasse a esterilização coletiva e, ao final de poucos anos, silenciosamente aconteceria a redução e o desaparecimento dos afro-americanos, resolvendo-se, pois, o ´problema´ da sociedade americana.

          Não posso deixar de notar que essa sugestão é sob o ponto de vista antropológico, a sugestão de um genocídio. Não somente antropológico, também sob o ponto de vista filosófico e das regras do direito inernacional: um crime de lesa-humanidade.

          Pela própria história do homem não há neutralidade absoluta nas obras literárias do ativista.

          Abraço,

          1. Com Lobato nada é inteiramente de um lado só…

            Lobato teve um percurso durante a vida, no qual foi mudando de posiçoes. A “história do homem” nao tem um sentido só. E era um provocador, de modo que muitas das coisas ditas em suas obras nao sao para serem tomadas ao pé da letra, ele adorava escandalizar. O que posso te dizer com base em meus estudos da obra infantil — onde há uma enorme problematizaçao das questoes brasileiras — é que ele nao considerava a raça negra como o cerne dos problemas. Havia uma longa tradiçao intelectual, no tempo dele, de pensar a causa do atraso do Brasil como sendo a “natureza do povo” por causa da mestiçagem (Sílvio Romero, Oliveira Viana, e vários outros). Lobato foi um dos primeiros a encontrar outra causa: seria a falta de ferro e de petróleo. o problema. E naquilo em que o povo era um problema para ele nao era por questoes de raça, mas pelo conservadorismo e pela influência da Igreja Católica. 

            Você já releu, depois de adulto, a obra infantil dele? É uma experiência super interessante, como adulto vc pode ver mil pequenos detalhes que, como criança, nem notava. Especialmente quanto ao que eu disse acima, releia O Poço do Visconde. Nao é um dos melhores livros, é meio chato, às vezes ele queria ensinar demais, mas o contraponto do atraso do caboclo e do “coronel” é claríssimo. O do primeiro seria causado por ignorância, e com acesso à escola muda; o do segundo nao tem jeito.

  8. O golpe na alma, a alma do golpe

    Insisto na questão cultural, pois é aí, a meu ver, o centro da crise brasileira,…

    A consolidação do Brasil que nascia com o PT seria fundamentada com as Olimpíadas, principalmente com a festa e cerimônia de encerrramento. Mas…

    O Brasil não pode acontecer e o golpe fatal, o aborto, aconteceu nesse exato instante.

    “Daqui não passa!”

    E não passou.

    Nós, brasileiros, costumamos ficar tão embasbacados com as maravilhas da cultura norte-americana

    Nós quem, cara-pálida?

     

    1. Isto aqui, o que é?

      Serjão, aceito a retificação, pois a generalização do “nós” foi equivocada mesmo. Cara-pálida se desculpa. De qualquer forma, é muito importante saber separar e ficar bem atento ao que os EUA têm de bom e de ruim. É muito importante, sobretudo, não deixar que estrangeiros, norteamericanos ou chineses não saibam mais sobre nós do que nós mesmos. Esse é o ponto que eu quis frisar com o post sobre a NYU.
      Nessa direção, considero muito importante debater esse passado recente do Brasil, conforme vc aponta ao citar as Olimpíadas,sem esquecer que o começo dessa temporada de mega-eventos se deu em 2012 com ao Copa das Confederações. Concordo que as Olimpíadas poderiam ter coroado o período Lula-Dilma. Do ponto de vista das culturas, as cerimônias de abertura e encerramento foram sensacionais, e ali as diversas tendências puderam se manifestar.
      Ali se mostrou o alto nível artístico, humano e cultural a que chegaram alguns artistas brasileiros como Gilberto Gil, Deborah Colker e muitos outros. Houve ainda um sutil e apurado senso crítico na escolha do samba cantado, Isto aqui, o que é?, do Ary Barroso aquele que diz:

      “Isso aqui, ô, ô,
      é um pouquinho de Brasil iáiá,
      de um Brasil que canta e é feliz,
      feliz,feliz,
      É, também um pouco de  uma raça,
      que não tem medo de fumaça,
      e não se entrega não”.

      Mas o problema é que entre os interesses de grupos envolvidos com a gestão das copas/olimpíadas não está a promoção do bem-estar no país que sedia esses mega-eventos. Ao contrário, no rastro deles parece vir o caos, mas não simplesmente o caos, e sim o caos-oportunidade.
      Muitas obras feitas para as Copas e para as Olimpíadas estão ociosas e outras são objetos de denúncias de corrupção,  
      envolvendo apenas empresas brasileiras entre os alvos de investigação, nos trazendo muitas pulgas atrás da orelha, pois
      nenhuma empresa estrangeira aparece nessa lista, não é curioso?
      E como estão hoje os estádios e instalações construídos?
      Porque não colocá-los em funcionamento ocupando-os, educando e treinando jovens em vez de matá-los ou os jogarem na prisão? Deve ser porque é melhor mantê-los no morro se matando e consumindo armas e munição, pois violência vende armas, munição e sobretudo notícia.
      Qual notícia?
      A notícia-fumaça, a cortina de fumaça de crise-violência-futebol-corrupção que diariamente é lançada sobre o país, enquanto nas caladas do dia e da noite, tenebrosas transações são realizadas envolvendo a infraestrutura do país por parte do governo traidor.
      É a essa fumaça, a essa gigantesca nuvem fakenews que não podemos nos entregar. Dessa fumaça não podemos ter medo, nem dessa nem da fumaça química lançada quase diariamente por aviões pulverizadores sobre o espaço aéreo brasileiro, operando a geoengenharia do clima e enxugando nossos rios.

      Que país permite isso?

      Que país é esse?

  9. Também as FOUNDACION´S

    Prezado Carlos,

    Excelente vosso post, em que aborda o imperialismo cultural dos EUA, o que venho denunciando, reiteradamente, faz anos, em relação às políticas públicas de segregação de direitos raciais – ´cotas raciais´ – em que consigno as evidências da inspiração nazista e das leis de ´cotas raciais´ terem a mesma raiz: as políticas de segregação de direitos raciais dos EUA em que a ideia da supremacia branca, pela primeira vez, configurava como legislação compulsória no cotidiano de cidadãos. Homens livres, pretos e brancos, passavam a usufruir de direitos distintos e segregados.

    Neste sentido o meu post de 31/12 pp:

    https://jornalggn.com.br/blog/jroberto-militao/%C2%B4cotas-raciais%C2%B4-a-mesma-inspiracao-nazista-por-j-roberto-militao

    O post se refere à resenha de um livro de professor norte-americano fruto de pesquisa acadêmica em que contextualiza a admiração do líder Adolf Hitler para a configuração das leis de segregação e a influência dos EUA nas leis de Nuremberg.

    No caso, em meu papel de combatente ao racismo – odeio o racismo – por isso sou um antirracista radical, denuncio que as leis de segregação de direitos raciais ora implementadas no Brasil através de políticas públicas falaciosas, possuem a mesma gênese das leis de Nuremberg, aquelas adotadas pelo nazismo na Alemanha, antes da 2ª guerra mundial.

    Faço alusão ao papel fundamental das FOUNDACION´S não só no envio de pesquisadors ao Brasil, mas também no investimento de centenas de milhões de dólares a partir de 1980 a fim de formar uma elite intelectual de afro-brasileiros defensores da ´raça estatal´ e, portanto, de leis de segregação de direitos em bases raciais.

    Sempre afirmei, desde conversas que mantive com o saudoso prof. Milton Santos, de 1995 a 2000, que se tratava de uma estratégia da inteligência americana, nos retirar a relativa tolerância nas relações raciais, para nos transformar também num povo com ódio racial. Segregar direitos com base racial é o mais conhecido e mais eficiente processo de edificação de ódios raciais.

    A matéria do post a que me refiro: “EUA foi modelo racial da Alemanha Nazista” foi publicada pela revista ´Carta Capital´ e o que faço é revelar – afirmando- que também as leis de cotas raciais, possuem a mesma inspiração.

    https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Estados-Unidos-modelo-racial-da-Alemanha-nazista/6/39020

    Ainda contribuindo com vosso artigo, destaco a história dos comprovados vínculos da Ford Foundacion com os interesses da inteligência imperialista.

    Destaco também o fato do Sr. Henri Ford, tratar-se de um racista militante, maior financiador da Kukluskan nos anos 1920 a 1930, além de antissemita ativo, admirado por Adolf Hitler, além de financiador do partido nazista até 1944. 

    Enfim, a FORD FOUNDACION, criada em 1934, ainda em vida pelo Sr. Henri FORD, sempre teve por propósitos a afirmação da supremacia ariana, em parceria com os objetivos estratégicos da inteligência norte-americana;

    1. Fico feliz

      Caro Militão, fico feliz que o meu post tenha chamado a a sua atenção.
      Eu já tinho lido um post seu, o “Coisa de Preto… um significado heróico de resistência, e a longa e rica discussão que se seguiu a ele.
      Admiro muitíssimo o Milton Santos, mas o cara que tenho lido mesmo ultimamente é o Guerreiro Ramos. Há um artigo
      excelente e recente que aborda o Guerreiro em relação com o Stuart Hall, que certamente vc tb conhece.Está em
      http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/34664
      Para mim as questões culturais/raciais/sociais merecem aprofundamento pois através delas podemos chegar às melhores soluções políticas e econômicas para o Brasil
      Podemos continuar a conversa, não fico direto na internet, mas se vc tiver paciência, espere pois sempre respondo,
      Um abraço
       

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