Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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O que pensar do destino do Brasil?, por Rui Daher

Manifestação Brasília, 13 de março

da CartaCapital

Este texto foi escrito na quinta-feira (17) e publicado em CartaCapital, ontem (18), antes das manifestações antigolpe. Uma só atualização: o prédio da FIESP foi fechado; sua feérica iluminação verde e amarelo apagada; o pato amarelo sumiu. Os patrões que lá abanam o rabo para o golpe sabiam que na Avenida Paulista estariam seus empregados, de quem retiram a força de trabalho para merecidos lucros. Deveriam ter-lhes oferecido prendas, não o medo. Daí, nas músicas deste post, meus lamentos.

As manifestações de domingo, 13 de março, ocorrida em várias cidades do País deveriam nos deixar muito preocupados. Nem tanto pelos riscos que um golpe policial-midiático significaria para nossa volátil democracia.

Este é um processo explícito nas ações ilegais de quarta-feira, 16 de março. Muito menos com as patacoadas de bocós iletrados que imaginam os militares com apetite para encarar esse abacaxi.

A maior preocupação é com a ignorância de classes sociais alta e média, comprovadas majoritárias nos protestos, supostamente educadas e preparadas para ocuparem os postos mais altos nas esferas pública e privada.
O que pensar do destino de um país que tem no topo da pirâmide pocilga tão apinhada que chafurda mal e cria pior?

Tais manifestações raivosas servem para reforçar o que vivemos no cotidiano. Do trânsito selvagem ao campeonato de assassinatos e à negação de direitos cidadãos a grupos estigmatizados.
Isolados, esses seres parecem patéticos novos ricos. Em massa, assumem a face cruel de um país apequenado, covarde em atitudes, injusto com “o outro”.

Imagino que os verdadeiros leitores desta CartaCapital, não os bobocas que opinam no Facebook da revista, tiveram toda a semana para se divertirem com vídeos e alocuções de ignorância pantagruélica colhidas nos protestos contra a presidente Dilma, o ex-presidente Lula, agora ministro-chefe da Casa Civil, e o Partido dos Trabalhadores (PT). Normal. Desde 1980, personagens assim atormentam o sono do acordo secular de elites, como outrora o fizeram partidos da esquerda comunista.

No blog que mantenho no Jornal GGN (Luís Nassif) descrevi o espanto de ver uma senhora chegando ao cabeleireiro, em carro e estado quase funerários, com enorme inscrição no peito: “IN MORO WE TRUST”.

Não duvido que a moda se espalhou. Mas em inglês? Por quê? Avacalhar GOD, George Washington, Benjamin Franklin e Abraham Lincoln?

Tudo o que escrevi até agora, no entanto, é café-pequeno perto de uma faixa, nas cores de nossa bandeira, com a inscrição: “TRUMP WIN AND HELP BRAZIL”.

Se a autoria não for de pessoa inspiradíssima, mordaz, sarcástica – desculpem-me o trocadilho – suástica envolve seu braço. De quem estamos falando? Aquele paspalho ajudar o Brasil? Vocês, caboclos, campesinos, sertanejos e ruralistas concordam? Os patos-amarelos da FIESP, incrustrados no agronegócio, confiam?

Pergunto: aquela massa loira plastificada ajudará o Brasil ou fechará ainda mais os EUA para nossas exportações? Entendam: em commodities agrícolas, os EUA não são nossos clientes, mas principais concorrentes.

Como ele se comportará com os brasileiros ilegais e legais que lá habitam? Quanto tempo levará para começar a fuzilar muçulmanos, expulsar chicanos e tirar direitos de negros? Cuba? Invadida. Afeganistão? Arrasado. Regimes de esquerda na América Latina depostos. Essa a ajuda que você pede?

– Ah, mas se não foi sacanagem, essa é manifestação única. Ninguém pensa assim.
– Não? Pelos depoimentos que ouvimos, tenho certeza que sim.
– Você exagera.
– De jeito nenhum. Eles seguem os almanaques Globo e Veja. Em 1964, não estiveram por aqui? Se não acredita em mim, vá à Biblioteca Nacional dos EUA para pesquisar.
– Cinquenta anos atrás era diferente.
– Ué, cinquenta anos depois, o Comício da Central do Brasil promovido pelo governo João Goulart, num mesmo dia 13 de março, não acaba de ser multiplicado por menos um e pode acabar em novo golpe?

Prezado Senhor da Faixa Trumpista, preciso conhece-lo ou a algum de seus adeptos e concordantes. Assola-me forte curiosidade que não poderei levar muitos anos à frente. Preciso entender como Donald ajudará o meu negócio, a agropecuária brasileira e a indústria e os serviços antes e depois das porteiras das fazendas.

Por que não Bolsonaro, mesma estirpe e estupidez, mas produto nacional? Um “cover” de grossura semelhante.

Ao mencionarem suas mãos pequenas, Trump retrucou: “o resto não é tão pequeno, lhe garanto”. Nenhuma surpresa para quem vive se referindo às mulheres com desprezo. É rico, faliu algumas vezes, salvo por negócios mafiosos.

Estimados leitores, o momento, não só no Brasil, é de extrema gravidade. Em todo o planeta o capitalismo conflui para um choque de interesses que ameaça a sobrevivência econômica, social e ambiental de inúmeros países e regiões.

Bem informados, vocês veem o quanto se estuda, debate, escreve, e nada de conclusão. Os caminhos econômicos se assentam em bases autofágicas, que garantam maior concentração de riqueza no cume da pirâmide (o topo é muito amplo para o grau atual).

Não é hora de brincar com bufões como Trump, Berlusconi, Le Pen (pai e filha), Vladimir Putin. Nem aqui com golpistas. Soluções que não sejam distributivas e essencialmente pró-diversidades aniquilarão qualquer modelo de desenvolvimento do planeta.

O momento brasileiro mostra divisão inédita de ódios e preconceitos. Achar que manifestações amarelas ou vermelhas farão a economia e o desenvolvimento social caminharem é ideia pueril, divertente apenas.

Tomem jeito e continuem a construir nossa incipiente democracia.

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

20 Comentários

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  1. Caro debatedor Ruy,
    muito

    Caro debatedor Ruy,

    muito bom!

    Clap, clap, clap.

    Realmente, muito bom mesmo!

    De cara, vocë deu  alguns jabs( coisa de gente canhota com a “esquerda”, rsrs)

    Noutros momentos cruzados.

    Adorei os diretos, diretamente, assim, na “direita ruminante informada”…

    No geral, assim, rapidamente, só me causou problemas essa passagem:

    “Soluções que não sejam distributivas e essencialmente pró-diversidades aniquilarão qualquer modelo de desenvolvimento do planeta.”

    Isso porque, são, exatamente, as tentativas dessas “soluçoes” que estão gerando toda essa crise de meia tigela.

    De qualquer forma, fico-lhe muito obrigado.

    Pelo menos já sei que não sou o único “otário” a defender uma “utopia” utópica…

    Forte abraço.

     

  2. Notas do império(decadente?)

    O jornal NYT teria sido influenciado pela midia nacional ? Ou seria o inverso?

     “Em duro editorial publicado nesta sexta (18), o jornal americano “The New York Times” afirmou que a presidente Dilma Rousseff (PT) “luta por sobrevivência política”, mas que, “surpreendentemente, parece ter achado que tinha capital político de sobra” quando indicou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil”.”Sua explicação para a indicação de  Lula , foi “ridícula”, segundo o jornal.”.”Para o “New York Times”, Dilma criou outra crise, “de confiança em seu próprio julgamento”.

    http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/03/1751831-se-ajudar-impeachment-dilma-so-podera-culpar-a-si-mesma-diz-nyt.shtml

    1. José Adailton,

      Ao NYT pouuco interessa a mídia nacional. Mantém (nem sei mais se ainda) um correspondente aqui, pautado e editado pelos interesses norte-americanos. Se quiser entender seus editoriais, pense primeiro no pré-sal e em nossa aproximação com a China.

      Abraço

  3. Os oposiocistas não se

    Os oposiocistas não se conformaram com o resultado das urnas. Porque eles acham que os situacionistas deverão se conformar com o resultado do golpe midiático/jurídico/legistlativo? Isso será impossível de acontecer. Por mais que tentem dar a seu golpe a aparênca de algo legal.

    1. Severino,

      meu caro, é isso mesmo, mas seus avanços são cada vez mais descabidos e eu temo muito que consigam. O povo,a Constituição, democracia, nada disso diante dos interesses em jogo. Oxalá você esteja certo.

      Abraço

  4. Antropologia do direito

    O mensalão foi assim…

    Abstraiu a defesa, e acusação DEFINIU A SENTENÇA ANTES DE OUVIR A DEFESA!

    Se estiver com o MORO – LULA SERÁ CONDENADO!

    “A justiça (Brasileira) é a última peça de autoritarismo da Sociedade Brasileira e você(LULA) está debaixo dela agora…”

     – Alberto Carlos Almeida –

    O PPPP tem base cientifíca.

    Roberto Kant de Lima – Ensaios de Antropologia e de Direito

    http://www.buscape.com.br/ensaios-de-antropologia-e-de-direito-roberto-kant-de-lima-8537501867

     

    Ouça o grampo aqui

    http://g1.globo.com/politica/operacao-lava-jato/noticia/2016/03/grampo-de-lula-83-18p1.html

    1. João Pedro,

      Sou meio emocional com Cuba. Pode ser que eu me engane, mas suas atitudes, ainda primárias, com a Ilha, deram-lhe alguns pontos positivos comigo. E uma filha minha que voltou dos EUA ontem ficou impressionada com o crescimento de Trump.

      Abraço

    1. Vera,

      continuar indo às ruas, sem dúvida. O impacto do 18 de março impressionou a ponto de os golpistas começarem a correr com medidas ilegais para acelerar os impedimentos, primeiro, da posse de Lula na Casa Civil, depois da própria presidente Dilma.

      S´que, na minha opinião, o governo deveria esquecer o PMDB, pois já sabe que irá, de qualquer forma abandonar o barco, e montar uma equipe ministerial irrepreensível para retomar a credibilidade e governar.

      Abraço

  5. Que beleza de texto, sincero,

    Que beleza de texto, sincero, do fundo do coração. Pena que os midiotas nem leem ou, quando leem, nem sentem nada, porque já são abestalhado por uma imprensa canalha, sem contar a herança escravocrata, agindo sempre como vira-lata.

    1. Obrigado, JoãoP

      Os midiotas, primeiro, param na publicação onde está postado o texto; depois, no autor; e finalmente no título. Não leem e logo comentam criticando ou ofendendo. Abraço

  6. Olha, Rui
     
    Gosto muito dos

    Olha, Rui

     

    Gosto muito dos seus postados.

    Agora, você deveria se informar melhor sobre Putin.

    Sua opinião é muito padrão e, portanto, desinformada.

    Aliás, muito bem informada pela mídia ocidental.

    Putin é um estadista não só que a Rússia precisava, mas que o MUNDO precisava.

    Obama x Putin? Putz! Putin!

    EUA sem contraponto é dominação total.

    Óbvio que para o bem.

    Dos EUA.

    Leia os posts do André Araújo sobre “razões de estado” dos caras.

    Leia entrevistas de Putin e seu ministro das relações exteriores, Sergei Lavrov, e compare com as ações de fato.

    Leia declarações de Obama e côrte e compare com a realidade!

    Se os EUA são democracia pungente em casa, como dizem, não é exemplo no mundo. Ao contrário.

    O governo americano, polifônico, agride Putin nominando-o de Hitler.

    Enquanto isso, a Rússia insiste em chamar à razão seus “parceiros” da Europa para a complementariedade de suas economias, numa relação ganha-ganha. E o que recebe é “sanções”. De comando exógeno, mas de consequencias (ruins) internas. Pobre Europa… tão longe dos EUA, tão perto da Rússia! Ops! Num fecha, né?

    Os EUA fuderam grande parte do Oriente Médio. De caso pensado.

    A Rússia, de Putin, salvou um pedaço, por enquanto.

    A Rússia, de Putin, está construindo aliança estratégica com a China, por sobrevivência, e com o mundo não-alinhado, BRICS incluso, por um mundo multipolar.

    No plano interno, Putin tem que conviver com oligarcas mafiosos, mídia neoliberal, ongs e com uma “Henrique Meireles” no Banco Central.

    Não é um bufão.

    Putin goza de aprovação acima de 80% em seu país. De todo o país.

    Portanto, não entendi a razão de empurrar Putin pra mesma pocilga que trump, berlusconi e le pen.

    1. Xand,

      primeiro, confesso-me desinformado e, a considerar como correta a sua argumentação, penitencio-me por colocar Putin na cesta citada. Sem dúvida que pela leitura das folhas e telas cotidianas internacionais, me impressionou mal suas atitudes contra os movimentos separatistas na Tchetchênia, também um certo “americanismo” ao embargar produtos agropecuários brasileiros.

      Considerações desfavoráveis a Putin li em Bernard Henry-Levy, não de completa confiança. No mais, dos EUA sabemos e incluí-los entre os vilões seria pleonasmo.

      De qualquer forma, penitencio-me e procurarei ler mais sobre a Rússia e Putin. Obrigado pela leitura e um abraço. 

  7. Exmplo  de isenção do sr

    Exmplo  de isenção do sr gilmar mendes(letra minúscila p gente pequena) qdo no TST, contra Trabalhadores(milhões) que laboram em ambiente insalubre.

    SÚMULA Nº 228 TST – ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO: “A partir de 9 de maio de 2008, data da publicação da Súmula Vinculante nº 4 do Supremo Tribunal Federal, o adicional de insalubridade será calculado sobre o salário básico, salvo critério mais vantajoso fixado em instrumento coletivo.”

    Com a nova redação, a Súmula do TST permite a substituição do salário mínimo pelo salário básico no cálculo do adicional de insalubridade, salvo se houver critério mais vantajoso fixado por meio de convenção coletiva.

    Tendo em vista a aprovação da nova redação da Súmula 228, a Confederação Nacional das Indústrias – CNI, no dia 11.07.2008, interpôs uma AÇÃO de RECLAMAÇÃO com pedido LIMINAR junto ao Supremo Tribunal Federal com o objetivo de suspender liminarmente a eficácia da Súmula 228 do TST.

    A CNI alegou que a súmula do TST afronta a Súmula Vinculante nº 4, editada pelo STF. Para o Ministro Gilmar Mendes, a argumentação “afigura-se plausível”. A confederação contesta o dispositivo em uma Reclamação (RCL 6266), instrumento jurídico próprio para preservar decisões da Suprema Corte e impedir desrespeito às súmulas vinculantes.

    No dia 15.07.2008 o Supremo Tribunal Federal DEFERIU A LIMINAR, suspendendo a aplicação da Súmula 228 do TST na parte em que permite a utilização do salário básico para calcular o adicional de insalubridade.

    A síntese da decisão em liminar proferida pelo Ministro Gilmar Mendes foi a seguinte:

    “….. com base no que ficou decidido no RE 565.714/SP e fixado na Súmula Vinculante nº 4, este Tribunal entendeu que não é possível a substituição do salário mínimo, seja como base de cálculo, seja como indexador, antes da edição de lei ou celebração de convenção coletiva que regule o adicional de insalubridade. Logo, à primeira vista, a nova redação estabelecida para Súmula nº 228/TST revela aplicação indevida da Súmula Vinculante nº 4, porquanto permite a substituição do salário mínimo pelo salário básico no cálculo adicional de insalubridade sem base normativa”.

    Com esta liminar suspendendo a aplicação da Súmula 228 do TST, entendemos que as empresas devem se abster da mudança da base de cálculo do salário mínimo para o salário básico, haja vista que se a empresa calcular o adicional de insalubridade com base no salário básico, isto acarretará aumento salarial para o empregado, o que tornará irredutível posteriormente.

     

    Portanto, até que se tenha base normativa regulamentando a situação, entendemos ser prudente que as empresas continuem a usar o salário mínimo ou salário normativo (desde que previsto em convenção) como base de cálculo do adicional de insalubridade.

     

     

     

  8. Caro Mogisenio,

    Das soluções, pressinto a necessidade de profunda transformações na atual etapa do capitalismo. Pode ser questão de algumas décadas, mas a continuar assim, continuaremos a caminho de um III Guerra Mundial, mesmo que fragmentada entre grupos de nações. Como acontece aqui no momento.

    Abraço

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