Os ataques da Globo ao BNDES

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Não é difícil imaginar como vai acabar a relação BNDES-JBS por causa da Lava Jato, se por exemplo for tomada a devassa que a operação promoveu, em parceria com a mídia, na Petrobras e nas grandes empreiteiras do País. É com essa preocupação em vista que a reportagem do Fantástico sobre o banco, veiculada no último domingo (22), deve ser revisitada.
 
O programa dominical da TV Globo dedicou quase que a edição inteira a relembrar as revelações que Joesley Batista fez sobre Michel Temer e Aécio Neves na última semana. E, em reportagem de quase 4 minutos e meio, contou a história de um funcionário do BNDES que supostamente poderia ter favorecido o grupo JBS em transações bilionárias. 
 
Para dar dimensão ao suposto escândalo, o Fantástico cita o volume de recursos que o BNDES “injetou na JBS” durante o governo Lula (2007-2010): 8,1 bilhões de reais, dando a entender que todo esse montante foi fruto de operações ilícitas.
 
Contraponto a essa informação é a própria delação do Joesley Batista, na qual o dono da JBS nega repasses irregulares a qualquer agente do BNDES.
 
Ao contrário disso, Joesley afirmou à Lava Jato que nunca pagou propina por qualquer projeto do BNDES, e que tudo que recebeu de financiamento do banco para expansão da empresa foi dentro das normas rigorosas da instituição. Por não encontrar mais burocracia do que a que já existe é que Joesley diz ter criado, em acordo com Guido Mantega, um caixa virtual para o PT, formado por duas contas no exterior, de onde supostamente tirou os recursos que investiu em campanhas políticas, em 2014. O GGN tratou do assunto nesta matéria aqui.
 
Essa declaração, que o Fantástico omitiu, consta no vídeo da delação de Joesley, divulgado na semana passada. Sobre ela, o Valor publicou: “Joesley faz questão de reforçar, no depoimento, que a relação da empresa com o BNDES sempre foi técnica, sem nenhum comportamento ilícito. ‘Minha relação sempre foi difícil com o banco. Acho até que eles eram mais rigorosos comigo que com meus concorrentes.'”
 
Outro dado usado pelo programa da Globo para lançar suspeitas sobre o BNDES é o fato do funcionário José Cláudio Rego Aranha ter ocupado dupla função no período citado: foi chefe do departamento do mercado de capitais do banco e conselheiro da JBS.
 
O Fantástico tratou Aranha como responsável por “favorecer”, no BNDES, a JBS em três operações financeiras, envolvendo a fusão com o grupo Bertin e a compra da Natural Beef e da Smithfield (gigantes do mercado de carne nos EUA). O investimento, nos dois últimos casos, giraram em torno de quase R$ 1 bilhão. Especialistas entrevistados pela equipe da Globo disseram que, no mínimo, Aranha tinha um grande conflito de interesse nesses casos.
 
Nota do próprio BNDES ao Fantástico esclarece que, pela norma praticada à época, Aranha não cometeu nenhuma irregularidade. A participação de funcionários do banco no Conselho de Administração da JBS, aliás, era protocolar, já que ambos são sócios. 
 
 
Fantástico ainda citou que parte dos projetos nos EUA não saiu do papel como se dificuldades tivessem sido criadas para propiciar pagamento de propina.
 
Ocorre que a transação sobre a Natural Beef e Smithfield não foi concluída em 2008 por entrave imposto pelo governo dos EUA, que queria frear a entrada da JBS no mercado daquele País. Se o grupo brasileiro tivesse comprado as duas empresas estrangeiras, ameaçaria o reinado da número 1 em produção de carne nos EUA. A compra da Smithfield acabou ocorrendo em 2010. Essa informação, Fantástico também não veiculou.
 
Já a fusão da JBS com o grupo Bertin, ocorrida há 7 anos, virou alvo oficial da Lava Jato na semana passada, quando foi deflagrada a operação Bullish, que alega corrupção nessa transação. O Citibank tem interesse nessa empreitada. Funcionários do BNDES foram levados coercitivamente para depor, sem que tivessem sido convidados a colaborar antes. A Associação dos Funcionários do BNDES repudiou o expediente. O Fantástico citou apenas a condução coercitiva de Aranha.
 
Outra informação que o programa não esclareceu é que os R$ 8,1 bilhões injetados pelo BNDES na JBS garantiram ao banco a participação de pouco mais de 20% nos lucros da empresa de Joesley Batista. Por isso, o BNDES tem direito a duas cadeiras no Conselho de Administração da JBS.
 
Somente após a chegada de Temer ao poder foi que a a cúpula do banco alterou as normas internas e, agora, indica conselheiros que não fazem parte do seu quadro de funcionários.
 
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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

10 Comentários

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  1. Bandnews também

    na manhã do dia 18 assisti a bandnews por algum tempo, antes que a ânsia de vômito me dominasse.

    O repórter falou que a JBS foi financiada com dinheiro do BNDES durant o governo Lula ( como se fosse um crime, e não a função oara a qual o banco foi criado).

    Depois, disse que a JBS estava sendo processada nos EUA e pode ser obrigada a abrir o capital na bolsa, e um patrimônio criado com ajuda de dinheiro dos brasileiros ficaria nas mãos dos EUA.

     

    Ele só esqueceu (será?) de dizer que os processos de empresas brasileiras nos EUA está sendo feito com documentos enviados ILEGALMENTE aos EUA por agentes do MPF em uma atitude LESA PÁTRIA.

     

    Eles estão tentando culpar Lula e Dilma por tudo.

  2. “Somente após a chegada de

    “Somente após a chegada de Temer ao poder foi que a a cúpula do banco alterou as normas internas e, agora, indica conselheiros que não fazem parte do seu quadro de funcionários.”

    O que abre espaço para indicações políticas; Tendo em vista a zorra que esse “governo” Temer aprontou com indicações para cargos de confiança, e o verdadeiro balcão de negócios que ficou claro nesta última delação, desconfio que esse pode inclusive ter sido o real motivo da mudança.

  3. Vi as delongadas citações às

    Vi as delongadas citações às concessões do governo Lula às empresas dos goianos como um prefácio do estaria hoje na pauta da mesma Globo, e demais emissoras golpistas. Se para dar um certo fôlego aos sem-vergonhas, ou abafar o espetáculo, Moro reaparecerá na mídia nesta segunda, com mais paulada na moleira de Lula, após o depoimento de Delcídeo e mais outros dois.

    Datena, que agora está em posição diferente das anteriores; divulgando aquelas notícias policiais requentadas, mas também antecipando a pauta de Boechart e Paloma no jornal da Band. Há pouco escutei-o conversando ao vivo com um repórter da Band News, sobre os detalhes da nova ação contra Lula que se tornou réu novamente. 

    Vamos ver de novo mais especulações sobre o sítio de Atibaia, e suspeição de envolvimento do ex-presidente com empreiteiros para lavar dinheiro, negociando caixa 2, etc. Moro não se cansará de perseguir Lula, e não seria agora que ele deixaria escapar a oportunidade de trazê-lo novamente para ser comentado e desconstruído um pouquinho mais.

  4. Batalha estratégica: destruir poder da Globo

    A Globo é uma máquina imoral de propaganda, manipulação de fatos, assassinato de reputação, etc…

    Temer e sua quadrilha chegaram ao Executivo pelo poder de comunicação das Organizações Globo (redes de TVs e de rádios, jornais, revistas, internet…). Por Temer colocar em risco o sucesso do Golpe, a Globo está detonando-o para colocar outro vassalo em seu lugar.

    No Jornal Hoje, a Globo ridicularizou, aniquilou a Folha de SP.

    Destruir o poder político da Globo é uma batalha estratégica fundamental para reconstruir o Estado Democrático de Direito.

  5. Como se os Globo não nadassem

    Como se os Globo não nadassem à vontade na piscina do BNDES. Inclusive tendo indicado a Maria Silvia logo que assumiu o golpista Temer. É muita cara de pau.

  6. parece q não tem passado

    um dos ‘especialistas’ ouvidos disse que era absurdo um banco de fomento emprestar dinheiro para empresa se expandir no exterior.

    este banco de fomento emprestou dinheiro a juros subsidiados para empresas extrangeiras arrebatar estatais brasileiras nas famosas privatarias tucanas no governo fhc.

    existiria pior investimento do que tirar a globo da falência como o bnds fez naquilo considerada a maior mácula do governo lula.

  7. Isso tem nome.

    Para dar esse tiro no próprio pé, fustigando um dos maiores anunciantes, a Globo demonstra o medo que tem da possibilidade da volta do Lula e de que está a serviço de interesses que visam sabotar qualquer chance de um mínimo de soberania nacional.

    Traidores!

    1. ladainha….

      A mídia usando do censo comum nacional, o cabresto doutinário de décadas de Anti Capitalismo. Somos os maiorees produtores mundiais de alimentos e ninguém pode com isto. E burramente não usamos todas estas possibilidades a favor da Nação Brasileira. Uma dos poucos acertos foi o uso do BNDES para construir gigantes multinacionais brasileiras. Poderáimso fazer o mesmo em diversos setores e transformar a sociedade nacional com bem estar social e desenvolvimento através da produção industrial e comercial. Como faz a China, que não deixou de ser comunista, mas não é burra nem Anti Capitalista. Pelo contrário, está tirando todos benefícios possíveis do Capitalismo. Aqui ainda amarrados a 1984. Não pode usar dinheiro Público, Dona Mirian Leitão (em épocas de privataria)? Não foi o que fizemos para entregar mercado e soberania nacional financiados com dinheiro público do BNDES, durante o Tucanato? Vemos que os produtos industrializados das multinacionais estrangeiras vendidos no Brasil são da mesma qualidade e preços dos produzidos e vendidos nos países de origem, a começar por automóveis, não é verdade? E os salários são identicos? E que países da Europa e o próprio EUA, usam e usaram de muito dinheiro público para que suas empresas, como a GM, não fossem a falência. E tem gente que quer que acreditemos nestas ladainhas? 

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