Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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A burrice nacional ressuscitada, por Rui Daher

Sim, Neymar errou em aderir ao Regente Insano Primeiro (RIP), junto a uma população enganada e amedrontada pelo antipetismo. Que os outros trabalhassem melhor contra mentiras ou (será) contra o verdadeiro instinto brasileiro?

A burrice nacional ressuscitada

por Rui Daher

Depois de inferidas as carapuças, fotografada, radiografada e autopsiada a burrice nacional caminhando na mão direita, ela agora ressuscita na mão esquerda, o que a mostra eterna.

Sei que poucos endossarão a minha crítica, pois vai a uma publicação que muito admiro, há décadas assino, e ainda tenho a honra de lá escrever. Não importa. Resisto.

A capa da edição desta semana, traz uma foto de Neymar Jr., mão cobrindo parte do rosto, chorando. Foi depois que seu clube, o Paris Saint Germain (PSG), perdeu a final da Liga dos Campeões da Europa para o Bayern de Munique. Algum demérito, embora antes de chegar à final tenham caído Barcelona, Real Madrid, Liverpool, Manchester City, Atalanta, outros, e o time alemão seja mesmo o melhor do mundo, como foi o Liverpool/Firmino contra o Flamengo, os mesmos um a zero?

Para a revista, a foto mostra “O Retrato do Brasil – Neymar, símbolo das ilusões de um país à deriva”.

Quando a revista chegou à minha casa, evitei ler a matéria. Provável lá estarem seus tantos (?) crimes, fartamente explorados pelas folhas e telas cotidianas. A pior, seu apoio a RIP, que me faz pensar única e não de mais de 50 milhões de brasileiros, muitos ainda renitentes.

Neymar da Silva Santos Júnior nasceu em Mogi das Cruzes, SP, em fevereiro de 1992. Sua idade atual, pois, 28 anos. Quando veio ao mundo, este blogueiro já estava com 47, fazia bom dinheiro, sucesso na profissão, se quisesse até poderia trabalhar no exterior, mas preferi a paróquia.

Desde sempre fui gauche. Na época, em cabelo, maneiras, badulaques, roupas, gostos culturais. Como muitos, tenho fotos.

A ponto de diminuir tal síndrome executiva e, com 30 anos, enfiar-me nos barracões humanistas da USP, declarar isso aos meus patrões “FGV-Poli-São Francisco”, e trabalhar para eles, sem deixar de ser um radical de esquerda.

O aluguel de minha mais valia os satisfazia. Não aceitassem e bem me remunerassem, saía para outra proposta. Aguentavam. Faziam dinheiro comigo, como o fazem com Neymar. Muitos sapos engoli e, sabemos, o futebolista muita pancada tomou e toma.

Em 2009, com 17 anos de idade, ele se fez o melhor futebolista desta paróquia e sonhou tornar-se o mesmo no planeta. Pesquisem sua carreira desde o Santos, e daí em diante.

Ainda não conseguiu seu intento. Insiste e, quando não, chora. Ganhou muto dinheiro, em seu business paga-se muito e não somente a ele.

Lula era um nordestino, sindicalista, sem diploma, e se tornou o maior estadista brasileiro, em tempos recentes. Pelo menos, para quem caminha “on the left side of the street”. Agree, Lou Reed?

Por que Neymar é tão perseguido, a ponto de ser “símbolo” de nossa deriva? Os demais futebolistas riquíssimos fazem beneficência social. Sim. Ele também. Se é de caráter espírita “Mensageiros da Luz”, apenas algumas religiões ou ações laicas importam. O que se dirá de mim, ateu e de esquerda?

Sim, Neymar errou em aderir ao Regente Insano Primeiro (RIP), junto a uma população enganada e amedrontada pelo antipetismo. Que os outros trabalhassem melhor contra mentiras ou (será) contra o verdadeiro instinto brasileiro?

Somente Neymar foi tão ignominioso? Diferiu de negros, gays, mulheres e pobretões, todos, em massa, assacados pelas barbáries de RIP? Poderia ele, com seus conhecimentos, ter acompanhado as vilezas e inatividades do Capitão?

Além de se concentrar na atividade futebolística, como muitos gênios da bola iguais a ele – lembro Mané Garrincha – poderia ter-se dedicado a ler Durkheim, Weber, Arendt, Marx, ou a verdadeira história de seu país?

Até aqui, este texto foi, praticamente, todo manuscrito. Saiu do fígado, assim não haveria tempo de chegar ao teclado, e precisava saber se ainda consigo escrever mão, caneta, papel.

Desopilo o fígado e, hoje, vou à matéria. Risos: “Neymar entristece um país extremamente imaturo, induzido a não confiar no Sistema Solar e sim em supremacia do Sistema Neymar”.

Não disse que a burrice ressuscita pela esquerda? Foi ele perguntado sobre isso? Mais: Neymar é mais odiado do que amado na paróquia, fruto da imbecil crônica esportiva.

Mino Carta, sempre erudito e fã apenas do futebol praticado na Itália: “Embate digno da imaginação de Homero por obra e graça de presença no gramado de nosso craque transcendental, destinado inevitavelmente à conquista de melhor do mundo”.

Bem, daí em diante, penso, todas nossas mazelas sociais cabem em um só símbolo. Neymar e ambição que todos nós temos, mesmo se famosos jornalistas.

“Na hora que deveria ser de glória, o craque exibe sua imaturidade (…) chora!”

Pois é Mino Carta, quantas vezes, em 75 anos, fui imaturo e chorei diante de uma decepção. Você não? Mas proibiu Neymar de ser humano. Ele joga muita bola. Sei, por paixão, diferenciar futebol e política, mas imbricá-las me parece covardia contra um indivíduo que não pediu ser símbolo.

Mino, onde preferes ele no Genoa ou Sampdoria. Acho que ele vai de graça?

Nota: o texto é dedicado ao jornalista Paulo Cobos, que assim acredito entender Neymar.

Inté!

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

5 Comentários

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  1. Caro autor, nunca me esquecerei de Paulo Cobos. Foi com ele que vi, espantado o ódio da política inundando tudo em nossa grande imprensa.

    O Pan de 2003 foi uma cruzada do caderno Esportes contra os atletas patrocinados pela “Lei Piva”

    https://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk2408200302.htm

    Atenas 2004, a Folha de Cobos era como aquele tonto que empurrou o maratonista brasileiro

    https://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk1908200401.htm

    Contraste o artigo acima com o sucesso do Brasil naquela olimpíada.

    Mas Paulo Cobos, no fim das contas entende e parece ser um apaixonado pelo esporte e nem mesmo foi minha maior decepção, esta que deve estar entre Melquíades Filho e outros jornalistas menores do basquete brasileiro que se engalfinharam com o ódio em algum momento da década retrasada e não voltaram mais.

  2. Sempre tem um pé torto para defender um chinelo velho! Ou seria o contrário? Quero que o Neymar se exploda,assim como todos aqueles comentaristas e fâs alienados do futebol.Com honrosas exceções são fascistas até o miolo.Nunca esquecerei o magnífico espetáculo,simbolo do Brasil da classe alta,quando milhares usaram palavrões para saudar a presidente do país,para horror de todo o mundo civilizado,em pleno Maracanã,na Copa do Mundo.Futebol e direita estarão sempre intrinsecamente ligados,ambos sempre amados por ignorantes por opção!

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