Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Almofadinhas & ‘Fops’, por Rui Daher

Por Rui Daher

Lembrei! Almofadinhas! Era assim que do início até meados do século passado chamávamos “os homens que se preocupavam com a moda e aparência”. Mantinham os cabelos na brilhantina, bem penteados, ternos impecáveis com o desenho mais em voga, além de feições faciais limpas, ausência de barba, bigodes pequenos, e o uso de cosméticos para beleza”. Em mulheres tais características se repetiam nas melindrosas. Ambos contrariavam a sisudez que vigorou até o Pré-Primeira Guerra Mundial.

Há duas versões para a origem do termo: um concurso de bordado e pintura em almofadas de seda realizado em Petrópolis (RJ) para rapazes; e referência a quem as colocava nos assentos dos duros bancos dos bondes para proteção das nádegas. Qual fosse a origem, a imprensa recheava-os com chistes machistas, considerando-os “rapazes delicados no trato”.

Tais descrições encontrei num trabalho de mestrado em História Social da Cultura, pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, de Alexandre Melo, a que recomendo: www.ufpb.br/evento/lti/ocs/index.php/18redor/18redor/paper/view/2127/833

Garoto ainda, na década de 1950, lembro-me bem deles e do bom uso do termo. Para mim, superava os posteriores mauricinho, nerd e coxinha. Se não pertenciam, gostavam de viver nas beiradas das elites oligárquicas rurais, em decadência, e das industriais, em formação. Na política, compravam de São Paulo o provincianismo e a falácia de que o estado sustentava o País e somente aqui se trabalhava. Não podia parar, justificativa para sugar as demais regiões. Trouxas acreditaram e assim viramos criadores de patos-amarelos.

Pois é, almofadinhas voltaram piorados. A preocupação com estética, moda e modos, se pronuncia agora intelectual, disfarçada e desonesta. A eles aponto minha AK-47 verborrágica com finalidade letal. Nada a ver com os atuais modos de vestir, pentear o cabelo, fazer tratamento facial, frequentar academias de ginásticas, preferências sexuais ou metrossexuais.

Almofadinhas sabem-se de direita, mas assim não se declaram ao assinarem artigos em folhas e telas cotidianas. Dizem que essa divisão não existe mais. Posicionam-se escolhendo seres notórios do conservadorismo nacional que os acolham nas redes digitais. Não percebem serem usados para que seus guias se autopromovam. Babam fios de ovos em concordâncias, excelências e perfeições. Se estendem um pouco mais o raciocínio original, mesmo que mais do mesmo, recebem uma curtida ou um “perfeito, Mané”! Deliciam-se, então.

Merecem as mesmas caricaturas e chistes recebidos por almofadinhas da primeira metade do século passado. Monocórdios e óbvios discutem política, economia e desenvolvimento social com único foco: derrubar o partido que sempre os fez infelizes. Quiseram o caos. Quando viram êxitos esconderam-se para torcer e engolir. Na brecha Dilma e Lava Jato se uniram para chutar a democracia. Simples assim.

Não entremos, pois, naquela de corrupção. Caso contrário a reconheceriam endêmica, decrépita e ineditamente permitida de ser investigada. Fazem ouvidos moucos para juristas e peritos que concluíram não haver motivos constitucionais para o impeachment. Se referem a jornalistas insuspeitos, críticos frequentes dos governos petistas e hoje contrários ao golpe, como “intelectualmente desonestos”.

Almofadinhas reputam inflação, déficit fiscal, queda no PIB, desemprego, comparando-os com os índices positivos alcançados nos períodos do governo que ora derrubam. Inserção social é gastança. Inflação só se controla com juros altos. Parceria em comércio exterior só com os EUA. Estado mínimo, privatização máxima, ativos e soberania destroçados.

Almofadez, o Retorno pode ser visto em qualquer tela brasileira. Na primeira sequência da fita (assim eles se referiam aos filmes), senhores e senhoras grisalhos, jovens Constantino, e um bebês etíope embalsamado, referência à preocupação social, estão sentados sobre toalhas de linho estendidas sobre “o verde também tão lindo dos gramados campos de lá (…) Ilha do Norte”. Tomam chá e leem trechos do poeta anglo-americano W. H. Auden (1907-1973). Uma ave chega e pousa sobre o braço da mais ilustre personalidade brasileira presente. O bicho olha para ela maravilhado e recosta a delicada cabeça em seu rosto. Ó, todos riem. Alguns aplaudem. Ela olha em direção ao sul e exorta:

“Quem desmontou o sonho dos brasileiros foi quem promoveu a corrupção, a inflação, e os graves desequilíbrios fiscais… Agora é preciso recomeçar. A etapa mais difícil será encontrar líderes novos comprometidos com o bem-estar da população. Por enquanto só vejo demagogos”.

Ao ouvir isso, o anfitrião Sir Anthony Peoplefucker, ao lado de seu malcriado cão Mastiff, que já havia cagado por toda a parte, cita Geoffrey Howe (1926-2015), Barão Howe de Aberavon, político e ministro de Margaret Thatcher.

“Dearest and Charming Master of All the Economists and Literature Experts in Brazil, just go to the ancestry. Keep the secular elite agreement. The battle must go on. Remember that we are the ‘Real Fops’”.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

5 Comentários

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  1. Continuamos o mesmo

    Rui, excelente o artigo pois nos mostra que, por mais que fizermos, a sociedade, no mundo, não muda.

    Todos sabemos que a educação e a saúde podem transformar um favelado em doutor. E é este o perigo. Mas é fácil: basta congelarmos todos os gastos com a saúde e com a educação e, assim, nada muda. Nunca muda.

    É difícil. O mundo pode mudar e, inclusive, ameaçado de extinção, mas, ela, a sociedade, a realeza disfarçada em elite com certeza, jamais. Irá continuar a mesma. Pode até mudar, com novos atores, o militar fez isto no passado. Agora, os agentes do corporativismo estão aí. Mas eles já estavam, se você analisar, lá na década de cinquenta.  

    Você buscou o almofadinha, lá no tempo – que também vivi – onde a aristocracia era igual a que hoje existe. O almofadinha virou coxinha. E está por aí solto, namorando o véu da noiva real.

    Se retornamos à idade média, suserano e vassalos, tudo hoje ainda está presente

    Keep the secular elite agreement!.

     

     

    1. Dude,

      Penso que meu comentário ao do Zé Sérgio vai na direção de seu pensamento. Mais importante: você acertou em cheio naqueles que minha AK-47 quis atingir. Basta você ser amigo de um deles no FB que será capaz de escrever um roteiro de suserano, vassalos, rococós e rapapés. Abraço

  2. almofadinhas….

    Caro sr. Rui, se não me expressei direito, quero dizer que visitar Pirapora do Bom Jesus, principamente em época de seca, é enfiar a cabeça numa privada depois de uma certa diarréia, já mencionada por estes lados. Quanto s esquerda, nada como um dia após o outro. Lembro dos anos de 1980, palanque por diretas, a 1.a das traições, Brizola, Lula, Teotonio, FHC, Arraes, Sérgio Mota, Serra, Montoro, Cabral (pai), Covas, Ulisses… “Todos doidos por meter a mão no talão de cheques da nação”. Agora que descobrimos que o último “virgem” não sai do bordel. Desobrimos que corruptos e criminosos são os outros. Injusta é a Justiça. Indicamos o juiz para prender o Maluf mas ele descobriu que a quadrilha está do outro lado. Qual é a esquerda em que devemos acreditar? A Marta se não tivesse feito “traíra” para o almoço? Cristovam ou Marina, cuja ideia de soberania nacional é um “empreguinho” em algum órgão da ONU ou ONG da moda? Ou devo procurar a família de Arraes, herdeiros de Campos, bem arranjados em algum departamento do estado de PE? Nepotismo? Nepotismo não é para os progressistas de esquerda. Isto é invenção da imprensa marron!!! Ou devo procurar o PPS, de antigos comunistas, que articulam o golpe e livram a cara de Cunha? “A verdade vos libertará”. Enfiemos a hipocrisia e calhordice no buraco que ela merece e comecemos a lutar por uma democracia real, que ouça o povo em eleições, plebiscitos e referendos, por mais inaudivel que seja a sua voz. E enterremos de vez o voto obrigatório, junto com a CENSURA e esta ditadura travestida de pseudo-democracia de grupelhos bem organizados politicamente.  Mas, se me permitir,  quero oferecer um fundo musical que o sr. tanto gosta:

    “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão

    Se gritar pega ladrão, não fica um….”(só se voltarem com o “Engavetador Geral da Repúbklca)Abs. 

    1. Zé Sérgio,

      não apenas você se expressou bem sobre Pirapora do Bom Jesus como bem o compreendi. Bom seria se para ações políticas que condicionassem os desenvolvimentos econômico e social fossem independentes dos políticos. Mas não é possível. Agora, como escolher aqueles que não nos decepcionarão no futuro. Daí a democracia ser o melhor sistema para atingir o bem-estar das sociedades. Muitas nações assim avançaram. Nosso trabalho é aperfeiçoar e respeitar os aparelhos democráticos através de educação e distribuição de renda. Abraço. 

      1. zé…

        Abusando do face caboclo, pouco citei os tucanos porque estes são ” hors concours”. Pensei que entraríamos em guerra civil antes desta gente voltar ao poder. O que falta vender deste país? Teremos dono. Só restará a coleira!!!  Com a desculpa de falta de dinheiro, privatizaram a maior rodovia paulista com quase 800 Km,  Rod. Raposo Tavares SP 270, entre Sorocaba e São Paulo. Pedágios, lombadas e mortes em pista simples, pois a duplicação foi abandonada há 15 anos. Agora, o governo do estado de SP, duplica uma rodovia vicinal que sai da altura do Km 104 da  mesma Raposo Tavares (Sorocaba) e vai até Salto de Pirapora/SP79. Com dinheiro próprio, transformaram um “caminho de tropas” numa “freeway”, para valorizar condominios de alto padrão em toda sua extensão. Se existia o dinheiro para a duplicação porque privatizaram e colocaram pedágios?  E porque não duplicaram a mais importante rodovia do estado? E me estendendo, conseguiram fechar todos os postos de combustíveis na Castelo Branco,  entre Sorocaba e São Paulo, deixando apenas 1 em mais de 100 Kn de rodovia. Por vontade própria dos donos, na rodovia mais rentável do país?  Será? Não tenho simpatia pelo pt, mas permitir que esta tucanada  “gigôlos do Estado” voltem ao poder federal e usem suas táticas como fazem no estado de SP mostra como o país está totalmente sem rumo. Trocaremos República Federativa por Propriedade Federativa do Brasil. Abs.  

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