Bom dia, Cloroquiners!!! Zé Bebeto passou aqui. Estou muito feliz, por Sevla Nositol

Zé Bebeto é um mineiro, ex-caminhoneiro e corretor de imóveis por paixão. É de direita, conservador, pró-armas e família.  Seus 4 filhos não conversam com ele há 3 anos. 

Bom dia, Cloroquiners!!! Zé Bebeto passou aqui. Estou muito feliz.

por Sevla Nositol

Ele veio garboso e feliz. Sua camisa verde e amarela lá do Shopping Popular, marca “Naique” estava limpinha e bem passada. Saudei ele: Oi Zé Bebeto! Que saudade! Ele riu e me gritou: Fala, Super Super! Eu disse que tudo está bem. Ele me chamou de maricas, pois não quis descer da minha varanda para encontrar com ele. É um jeito antigo de mostrar carinho, sabe?

Logo em seguida, perguntei a Zé Bebeto o motivo de tanta alegria. Ele me disse que está feliz demais com a saída do Tayke (?!). Tayke, disse eu, indagando-o. Ele me disse: Ôh, neófito! O ministro dos hospitais. Eu, resignado, respondi: ah tá! Desculpa, estou com o ouvido meio inflamado esses dias e não estou ouvindo direito. Zé Bebeto me revelou coisas escabrosas. Disse que o PR Bolsonaro está lutando por nós, fazendo a cloroquina, mas que a China, o Lula, o Lulinha, a Friboi e o Foro de São Paulo não deixam. Eu fiquei curioso com isso. Por qual motivo China, Lula, Lulinha e Foro de São Paulo não deixariam o PR produzir cloroquina? Zé Bebeto, sempre sagaz, disse: é por causa do golpe. Eu, sem entender, perguntei humildemente: qual golpe, Zé? Zé Bebeto me disse que Dória está articulando o golpe geral. Ele é comunista (Partido da SOCIAL Democracia Brasileira). Achei que faz todo sentido. Ele me convenceu quando disse que Dória é governador de São Paulo, logo, tem relação com o Foro de São Paulo.

Lógico! Como não vi isso antes?

Zé Bebeto, então, me chamou para a pracinha. Eu perguntei: pracinha? Como assim Zé Bebeto? Temos que ficar em isolamento social, disse eu. Zé Bebeto me disse que assarão um peixe lá. Um dourado. Serão 18 pessoas sem máscaras (Covid-19 é uma farsa, segundo ele). O peixe será assado na padaria. É que a turma toda vem. Tem o Dilim (um viciado em cocaína bolsonarista), o nilew (um camarada que nunca trabalhou, mas é contra ajudar vagabundo com essas bobagens assistencialistas de petistas) e dois gêmeos conhecidos como “irmãos galetos” (pessoas que usam bastante cocaína, vivem do dinheiro da mãe aposentada, se expõem ao risco nas ruas e sao bolsonaristas filiados aos 300 da Sara Wilker). Como é óbvio e ululantes, pessoas super sensatas e boas na arte de uma boa prosa. O peixe, um dourado de 14 kg, foi comprado com a grana do auxílio emergencial. Eu perguntei a Zé Bebeto se esse auxílio não era coisa de comunista, ele, rapidamente, disse que só é coisa de comunista se ajudar pobre. “Pra que ajudar pobre, se eles já são pobres?”, disse ele. Verdade… Se já passam fome, pra que mudar? Zé Bebeto é um “jênio”!!

Ele me chamou de novo pro churrasco na pracinha. “Cara, vamos lá! Vai ter peixe. A gente compra a cerveja na padaria.” Eu disse que não, que isso contraria as regras da OMS e da ONU. Ele gritou, naquele jeito dele de paizão: “comunista! Seu safado aproveitador! Vai pra Venezuela”!

Eu falei que a Venezuela me parecia bem legal, afinal, Maduro estava lá incentivando a cloroquina. Aliás, Zé Bebeto estava com um pacote da Drogaria do bairro na mão. Ele disse que era Cloroquina. Preventiva.

– Uai, Zé Bebeto, mas o Covid-19 não é uma farsa?

Ele me disse que Cloroquina cura e previne câncer, varizes e HIV (o qual é uma doença de gays, portanto, Zé Bebeto já adiantou que é imune. Ele me explicou que, por isso, não gosta desses afetados que andam por aí). Agora, Cloroquina também previne Covid-19, uma doença imaginária, mas, mesmo assim, a Cloroquina funciona.

Bacana, disse eu.

Zé Bebeto insistiu . Vamos pra pracinha comer peixe em aglomeração. Está tudo bem. Eu disse que não. Que respeito a OMS e estou estarrecido com esse governo maluco. Zé Bebeto falou que covardes, como eu, quebrarão o Brasil e que eu sou uma barrigada perdida. Falou que meus pais devem ter vergonha de mim. Disse que é por isso que é necessária a volta dos militares, para enquadrar gente, como eu, que é parasita e não respeitava as ordens do PR, o Mito, nosso supremo líder. Ele me chamou de idiota (de um jeito carinhoso) e disse que eu sou dependente da ciência e da imprensa livre, por isso, não estava em meu estado normal. Ele disse que eu deveria ver como era gostoso os tempos da ditadura militar, com canções lindas de apoio ao grande time do Brasil! Zé Bebeto cantou “todos juntos vamos, pra frente Brasil, Brasil, salve a seleção!”

Eu falei, baixinho, que a ditadura era justamente o oposto. Que, segundo os livros que li, eles reprimiam encontros públicos e coisas do tipo. E que, se vivêssemos uma ditadura, provavelmente Zé Bebeto e seus colegas tomariam cacetada durante a bebedeira na pracinha.

Zé Bebeto, resiliente como só, exclamou: É o contexto!!! É o contexto!!!

Ele desceu. Sábado eu vejo ele de novo. Que cara bacana!

Sevla Nositol – Sociólogo, de ascendência russa e morador de Brumadinho/MG. Social-democrata, anti-fascista e, eventualmente, contador de piadas.

Zé Bebeto é um mineiro, ex-caminhoneiro e corretor de imóveis por paixão. É de direita, conservador, pró-armas e família.  Seus 4 filhos não conversam com ele há 3 anos.  Tem apenas 4 processos judiciais (estelionato, agressão a incapaz, Maria da Penha e uma confusão com profissionais do sexo) Vive da pensão da esposa em um barracão, onde estuda filosofia com um astrólogo. Seu hobby é beber, fumar e ensinar os outros. É famoso no bairro por seu amplo conhecimento e pela forma dura como ele desconstrói as mentiras da ciência, dos livros e da imprensa, sempre se opondo aos maricas que defendem isso. Zé Bebeto passa aqui na porta de casa todo sábado, para nos ensinar. Zé Bebeto é do povo brasileiro. Zé Bebeto é o máximo.

Redação

3 Comentários

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  1. Excelente crônica, Sevla Nositol – vê lá se isso é pseudônimo. Zé Bebeto é melhor, mas, de qualquer forma, manda a continuação. Estamos esperando. Afinal, nestes tempos bicudos, uma dose de humor é bem melhor do que uma dose de cloroquina. Ou de Bolsonazina.

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