“Estou Pensando em Acabar com Tudo” e os Transtornos Mentais, por Alexandre Sant’Ana

Saúde mental, estigmatização e suicídio, “Estou Pensando em Acabar com Tudo” explora como isso acontece no interior de uma sociedade excludente e desumana

Foto: Divulgação

“Estou Pensando em Acabar com Tudo” e a Questão dos Transtornos Mentais

*com spoilers

Por Alexandre Camargo de Sant’Ana

O novo filme de Charlie Kaufman, no meu entender, aborda três temas importantíssimos: saúde mental, estigmatização e suicídio. Mais ainda, “Estou Pensando em Acabar com Tudo” explora como isso acontece no interior de uma sociedade totalmente excludente e desumana, organizada a partir de padrões de normal e anormal, de bonito e de feio, de jovem e de velho, de útil e inútil, entre outros. Apesar de acontecer em uma cidade rural qualquer dos Estados Unidos, a história retrata uma situação universal e nos atinge diretamente, pois os problemas relacionados à saúde mental dos brasileiros estão em crescimento e os índices chamam a atenção: o país é o segundo das Américas em número de pessoas com depressão e o primeiro do mundo no que diz respeito à ansiedade. Os efeitos sobre nossa população são desastrosos e aqui o suicídio já ocupa a terceira posição de causas externas de mortes, perdendo apenas para “acidentes e agressões” [1].

Para ter uma ideia da gravidade, na faixa etária de 10 a 19 anos houve aumento da “tendência de suicídio”[2], evidenciando ser um problema grave entre a nossa juventude. Mas os números não melhoram na Terceira Idade. “As taxas de suicídio são mais altas entre pessoas com 70 anos ou mais de idade, tanto entre homens quanto entre mulheres, em quase todas as regiões do mundo”, afirma Daiane Borges Machado, Doutora em Epidemiologia e Saúde Populacional pela London School of Hygiene & Tropical Medicine, mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, psicóloga pela Universidade Federal da Bahia e que estuda o tema suicídio há dez anos. No Brasil a situação é extremamente preocupante e os casos de suicídios de idosos estão aumentando. Tanto entre os mais velhos como entre os mais novos, a situação econômica é um agravante nos casos de suicídio[3], mas a extrema maioria deles está relacionada a transtornos mentais[4], assim como acontece com o protagonista do filme, que na minha leitura possui algum tipo de transtorno mental, torna-se um idoso solitário e pobre, trabalhando duro como zelador da escola e que acaba tirando a própria vida.

A Classificação Internacional de Transtornos Mentais e de Comportamento (CID-10) define como transtornos mentais, as manifestações psicológicas resultantes de alguma “disfunção biológica, social, psicológica, genética, física ou química”. São “alterações do modo de pensar e/ou do humor associadas a uma angústia expressiva” e produzem “prejuízos no desempenho global da pessoa no âmbito pessoal, social, ocupacional e familiar”, diversas vezes privando o sujeito de levar uma vida dita plenamente digna. Piorando a situação destes indivíduos, ainda existem os estigmas: é justamente esse rótulo de “estar fora da normalidade” um dos fatores que mais dificultam o tratamento e, por vergonha e medo de serem estigmatizadas, muitas pessoas não procuram auxílio médico. Só no Brasil, estima-se que 12% da população necessitam de algum tipo de atendimento psiquiátrico, entretanto, além das barreiras econômicas e da falta de políticas públicas, grande parte destas pessoas não busca ajuda por vergonha. Para enfrentar este cenário de preconceito, seriam necessárias mais políticas públicas focando na conscientização da sociedade em geral, de forma a reduzir o estigma sobre os indivíduos com Transtornos Mentais[5].

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos mentais aumentam mais rapidamente em populações de renda baixa, como no Brasil e em outros países mais pobres. Mas se por um lado o baixo nível econômico potencializa os transtornos mentais da população, só a pobreza não explica tal angústia em nível mundial, pois esta epidemia atinge até mesmo aqueles países campeões de felicidade e de renda, inclusive entre os habitantes mais jovens. Segundo os resultados de uma pesquisa de 2018, “a saúde mental está diretamente associada com as classificações de felicidade” e certamente “o desemprego, a renda e a sociabilidade […] têm peso na hora de se autodeclarar o nível de felicidade”. Por outro lado, a falta de contato social também é importante para o indivíduo se sentir bem e isso talvez ajude explicar porque mesmo nos países nórdicos, onde os “salários altos protegem as pessoas de sentir que estão sofrendo”, os problemas relacionados à saúde mental continuam crescendo, aumentando inclusive o número de suicídios e afetando diretamente a juventude[6].

“Estou Pensando em Acabar com Tudo” é altamente relevante ao colocar o dedo nestas velhas feridas da nossa sociedade ocidental individualista e organizada a partir de padrões. Escancara o sofrimento daqueles que não conseguem se encaixar em um mundo que sabe ser cruel e onde sobram estigmas sobre os sujeitos diferentes, considerados anormais, gerando exclusão, tristeza, isolamento e intenso sofrimento, muitas vezes condenando tais indivíduos a uma vida solitária e deprimente, potencializando e complicando transtornos que poderiam ser minimizados em um contexto social mais igualitário e inclusivo. Na minha perspectiva, o filme trata sobre tudo isso, mas não faz de forma direta, exigindo um esforço do espectador que muitas vezes torna-se até mesmo cansativo, quando não inacessível. Antes de tudo é preciso aceitar que grande parte do que vemos no filme acontece apenas na mente do Jake. No meu entender, estamos acompanhando o último dia de vida do Jake idoso, um zelador solitário que passa o turno todo pensando sobre sua vida e pensando em tudo o que poderia ter sido, mas que não foi. Todo o resto, desde a namorada, os pais, a viagem de carro, os diálogos, a sorveteria, etc… tudo isso é apenas projeção do Jake idoso. É ele relembrando o passado, tentando encontrar sentido em sua vida até que no final do turno tem uma forte crise, tira a roupa e morre congelado no pátio da escola.

Preconceito e estigmatização são agravantes dos transtornos mentais e resultado direto do desconhecimento e da ignorância. Por isso o filme de Kaufman deveria chamar mais nossa atenção: a partir de sua análise podemos discutir sobre nós mesmos como sociedade e assim expor a difícil batalha diária de quem sofre com transtornos mentais e juntos buscarmos caminhos para melhorar a vida destas pessoas. Como afirma o psicólogo Alexandre Costa Neto, “o valor de um filme que tem como tema a saúde mental não precisa ser medido necessariamente por sua fidedignidade em retratar sinais e sintomas de determinado transtorno psiquiátrico”. Importante é contextualizar a situação dos portadores de TM e de seus familiares e tornar o tema mais acessível[7]. Isso a obra de Kaufman faz com maestria.

Além do estigma social, “quando a sociedade ou um grupo de pessoas não aceita e desvaloriza as características de um indivíduo que apresenta peculiaridades, sejam físicas ou pessoais, que fogem à norma”, gerando preconceito e discriminação, ainda existe o estigma internalizado: “consequência direta do estigma social […] o indivíduo, ao ter consciência dos estereótipos negativos associados à sua circunstância, concorda, aplica e reproduz essas crenças desfavoráveis sobre si mesmo, atrapalhando sua qualidade de vida e o convívio social”[8].

Vemos tudo isso no filme, pois é óbvio como o Jake interioriza os estigmas e sofre ainda mais com isso. Ele apresentou transtornos mentais desde a infância, mas aparentemente não houve tratamento ou os tratamentos não obtiveram resultados positivos. De acordo com a OMS, juventude e TM estão diretamente conectados e “metade dos casos de transtorno mental surge até os 14 anos de idade, mas a maioria não é detectada ou tratada”. Nossos jovens estão pedindo socorro e o suicídio já “é a segunda principal causa de morte” na faixa etária entre 15 e 29 anos. Para a OMS é obvio que prestar atenção à saúde mental dos jovens é bom não apenas para eles e suas famílias, mas também gera resultados ao longo prazo, favorecendo a economia e a sociedade, “com jovens adultos saudáveis capazes de fazer contribuições maiores à força de trabalho, famílias, comunidades e sociedade como um todo”. Para a Organização, a prevenção seria o melhor caminho, com governos, professores, pais e comunidade agindo como “apoio psicossocial”, auxiliando no desenvolvimento destes jovens e promovendo a conscientização [9].

Contraditoriamente, os caminhos propostos para a inclusão dos indivíduos com TM normalmente esbarram no coletivo: tanto na questão do estigma da sociedade sobre as pessoas com transtornos mentais, como na necessidade de uma ação de diversas personagens sociais trabalhando em conjunto. Mas tanto um quanto o outro são totalmente contrários à ideologia neoliberal, individualista, consumista, e seu injusto conceito de normal, considerado por muitos como a raiz do problema[10]. Toda sociedade possui suas regras definindo o que é ser uma pessoa normal e como uma pessoa normal deve agir para ser considerada como tal. Isso significa que existe um modelo pronto dentro do qual precisamos nos acomodar para os outros nos considerarem normais e somente assim não sermos estigmatizados. “Estou Pensando em Acabar com Tudo” discorre sobre isso: os estigmas surgem porque antes deles existe o conceito de normal definindo quem terá sucesso e quem fracassará.

Para entender a imensidade da pressão sobre os sujeitos com transtornos mentais, é preciso observar como este conceito de normal dentro do sistema econômico capitalista está conectado ao fator “produtividade” e como ele age inclusive sobre restante da população. Ser normal é ser produtivo. Isto é tão forte que atinge até trabalhadores que nunca apresentaram nenhum sintoma de TM na vida. Por conta da pressão no ambiente de trabalho, que na busca do maior lucro possível pressiona os empregados a níveis imagináveis de produtividade e rivalidade, os transtornos mentais não cessam de aumentar entre os trabalhadores. Segundo um relatório de 2017, do Ministério da Previdência, problemas relacionados à saúde mental são responsáveis por mais de 30% dos afastamentos do serviço e pagamentos de auxílio-doença no Brasil. Para o psicanalista Christian Dunker, professor da USP, esta pressão desenvolve-se sobre toda a população: “não somente trabalhadores e trabalhadoras, como a sociedade num geral, são induzidos ao stress como forma de ‘extração de produtividade’ [e] o neoliberalismo descobriu que o sofrimento pode ser gerenciado e capitalizado para fazer o trabalhador aumentar a produtividade”[11].

De acordo com Eduardo Camín, jornalista uruguaio credenciado na ONU-Genebra, analista associado do Centro Latino-Americano de Análise Estratégica, “Existe um mandato de felicidade construído dentro do capitalismo neoliberal, potencializado pelo pós-modernismo adaptado, no qual a felicidade é alcançada apenas a partir da individualidade”. Esta ideologia da felicidade a partir da meritocracia pressiona o indivíduo ao máximo e gera transtornos mentais: “os problemas de saúde mental não são estranhos ao sistema, pelo contrário, são característicos dele, são sistêmicos”. Camín é enfático ao afirmar que “O capitalismo gera sofrimento e nega as possibilidades de tratá-los adequadamente” e devido isso, seria “necessário alcançar uma sociedade mais justa, onde a saúde e o bem-estar sejam verdadeiramente direitos universais”[12]. Novamente vem a questão da sociedade, pois seja para quem sofre com transtornos mentais desde a infância ou para quem desenvolve ao longo da vida, o fator principal é inclusão social pra viver com dignidade.

É exatamente este tipo de inclusão social que não aparece no filme de Kaufman. A partir dos diálogos de suas personagens, somos apresentados a uma sociedade horrivelmente excludente e injusta, na qual falta gentileza e uma certa vontade de entender o sofrimento dos outros. Pois somos todos programados e estamos alienados pelas velhas mentiras de que tudo vai melhorar, que Deus tem um plano para todos, que idade é só um número, que todo mal traz algo de bom, que existe alguém para cada pessoa e que Deus não dá um fardo mais pesado do que o indivíduo possa carregar. É desprezível como rotulamos as pessoas, classificamos e então rejeitamos. Os mais belos são cruéis, insípidos, e parece haver uma dureza que vem junto com a beleza. Mesmo assim, as pessoas bonitas são mais agradáveis de olhar e a televisão cria um ciclo de apelo à imagem que corrói o senso de segurança dos espectadores. Não sabemos mais ser humanos nesta sociedade do espetáculo, na qual os velhos não passam de montes de cinza e a mulher nem pode parar e tomar uma bebida sem receber uma cantada. Só consegue beber em paz se estiver ao lado de outro homem parecendo uma propriedade, caso contrário parece disponível aos ataques, como se estivesse procurando por isso.

Foi nesta sociedade que Jake nasceu e cresceu, apresentando transtornos mentais quando ainda era criança. Chupou o dedo até uma idade avançada, bem acima do normal. Nunca teve muitos amigos, nem na infância e nem depois, e em certo momento só se relacionava com um pequeno grupo de pessoas que aceitavam seguir suas diversas regras. Era extremamente controlador e muito cedo ninguém entendia as ideias dele, ficando cada vez mais isolado em seu próprio mundo. Na escola, os dias foram de tortura. Não tinha o talento original ou a habilidade dos outros alunos, pois não ganhou na loteria genética, mas sempre se esforçou muito. Entretanto, se até os jovens mais descolados, que participavam dos musicais da escola, muitas vezes acabavam trabalhando a vida toda em supermercados, o que dizer do futuro reservado aos jovens que não se encaixavam? Mesmo com todo seu esforço, com toda sua leitura e conhecimento, mesmo sendo alguém culto e estudioso, Jake só ganhou o broche de consolação. Assim como aqueles vários adolescentes “problemáticos” que ele via dia após dia na escola – os excluídos, que são diferentes e estão fora de sintonia – Jake carregou consigo a vida toda uma áurea sombria, um fardo, uma ferida aberta. As pessoas podem ser frias com ele (como a intensa neve do filme que quase congela a tela) e parece que ninguém enxerga as coisas boas que ele faz. Ele se sente invisível.

Estigmatizado e praticamente sozinho em seu próprio mundo, Jake cresceu na mesma casa onde nasceu, lendo poemas, assistindo filmes e musicais, estudando física, cinema, literatura e pintando no porão. Apesar de todo seu esforço e acúmulo de conhecimentos diversos, não teve sucesso profissional e tornou-se zelador da escola. Cuidou dos pais até a morte de ambos e tornou-se um idoso solitário e triste. Sempre foi um bom garoto e depois um bom homem. Um ótimo e dedicado filho. Diferente de muitos jovens com TM, Jake não se matou na juventude e chegou a envelhecer. Mas isso não significou encontrar a paz e constantemente o pensamento em acabar com tudo perturbava sua mente.

Na minha visão, o filme todo é sobre o último dia de vida deste senhor com transtornos mentais, pobre e solitário, que durante seu turno de trabalho, enquanto limpa aquele prédio gigantesco, pensa a respeito da vida de sofrimentos que levou até chegar ali e de toda a dor da velhice solitária que o esperava pela frente. Todo o resto é imaginação e projeção da mente dele. Ao terminar seu turno e voltar à caminhonete, o Jake idoso surta, tira a roupa e sai para morrer congelado.

“Estou Pensando em Acabar com Tudo” é um filme triste, arrastado, pesado e talvez até meio cansativo em certos momentos, mas isso é resultado do peso dos temas tratados na obra, afinal, a discussão apresentada não é agradável e bela. Muito pelo contrário, Kaufman traz à tona um problema social de extrema importância a partir da história deste jovem com transtornos mentais e que por conta disso é estigmatizado e privado de muitas coisas, inclusive de se relacionar com as pessoas e de ter sucesso profissional e uma vida com dignidade, tornando-se um idoso triste e solitário que acaba cometendo suicídio.

Durante um dos diálogos do filme, somos informados que por muito tempo as mães foram socialmente consideradas como culpadas por todos os transtornos dos filhos, desde esquizofrenia, autismo, narcisismo, até homossexualidade (que deixou de ser uma doença apenas em 1973). Mas Jake não acredita nesta bobagem de culpar as mães pelos problemas dos filhos e o adulto precisa se responsabilizar por tudo o que sente e por tudo o que é. Em minha opinião, este é um ponto chave da discussão: pode o sujeito ser responsabilizado por seus transtornos mentais? Ou nossa sociedade individualista, narcisista, consumista, imediatista e fundamentada na lógica da rivalidade entre seus cidadãos é que está doente e nos afetando e piorando nossa saúde?

Dentro da ideologia da meritocracia capitalista, na qual o sujeito é o único responsável pelo próprio sucesso ou fracasso, será difícil diminuir o poder negativo dos estigmas sobre os indivíduos com transtornos mentais, pois serão responsabilizados por não conseguirem acompanhar a norma. Por não se enquadrarem aos padrões, por serem diferentes, anormais, serão rotulados e rejeitados. Na falta de um Estado, acabam dependendo unicamente da família e dos círculos sociais mais íntimos, mas em um mundo cada vez mais individualista, isso é um imenso desafio. Privados das oportunidades por não conseguirem bater as metas desumanas de produtividade de um sistema insaciável, mas convencidos de que a culpa é única e exclusivamente deles mesmos, muitos indivíduos com transtornos mentais internalizam os estigmas sociais, aumentando o sofrimento e a dor, inclusive chegando ao suicídio. Sem levar isto em conta, ou seja, sem compreender que o sistema capitalista neoliberal está deteriorando a saúde mental das pessoas de forma geral e potencializando os transtornos mentais dos indivíduos, permaneceremos apenas na superfície da questão.

Por tudo isso o filme de Kaufman é extremamente relevante, principalmente neste governo que tenta destruir o “protagonismo da política de redução de danos, adotada há 30 anos no país, após esforços do movimento de sanitaristas e de luta antimanicomial”. Para o médico psiquiatra Roberto Tykanori, um dos líderes da Luta Antimanicomial no Brasil, coordenador-geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde no governo Dilma e professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ao comentar a Nota Técnica divulgada pelo governo em fevereiro de 2019, afirmou: “desrespeito à democracia na sequência do desmonte das instituições civilizatórias que assola o país. É um libelo à barbárie. A situação é caótica e o futuro imprevisível”. Mesma opinião apresentou a psicóloga Lumena Almeida Castro Furtado, que há 30 anos trabalha com saúde pública. Segundo ela, “a nota técnica consolida portarias e resoluções que vinham sendo publicadas desde o final de dezembro de 2017”[13].

Para terminar este texto que já ficou gigante, finalizamos com o psiquiatra Paulo Amarante denunciando o Ministério da Saúde de estimular uma política de internamento, retrocedendo ao tempo que “a pessoa tinha um diagnóstico, então é perigosa, incapaz, irresponsável, vamos botá-la num manicômio, e aí o resto o próprio manicômio se encarregava de fazer”. Amarante não concorda com conceito de normal e cita o psiquiatra italiano Franco Basaglia, precursor no debate sobre as reformas no modelo de tratamento da saúde mental: “A psiquiatria parte do princípio de que o transtorno mental, a doença mental, é um distúrbio da normalidade. Mas quem é normal? A normalidade é uma mera utopia, é um conceito autoritário, e acaba sendo normal quem está no poder, quem determina o que é o cidadão ideal”[14]. Utopia ou não, este conceito de normal atrapalha nossa evolução a uma sociedade melhor, mais igualitária e inclusiva, na qual as pessoas como o Jake possam ter uma vida boa e plena da infância à velhice.

 


[1] OMS considera depressão uma epidemia global, jan 2, 2020, http://hursosantahelena.org.br/noticias/oms-considera-depressao-epidemia-global/

[2] O aumento alarmante no índice de suicídio entre jovens – 31 de março de 2020 – https://hospitalsantamonica.com.br/o-aumento-alarmante-no-indice-de-suicidio-entre-jovens/

[3] Taxa de suicídio aumenta entre idosos no Brasil Análises de 2007 a 2017 -b – Estudos sobre Envelhecimento, Volume 30| Número 76 | Abril de 2020 – Daiane Borges Machado https://www.sescsp.org.br/files/artigo/7529ce20/4d82/4e79/9eaa/446fae610280.pdf

[4] Além da depressão: transtornos mentais são a principal causa de suicídio.  https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2019/09/10/alem-da-depressao-transtornos-mentais-sao-a-principal-causa-de-suicidio.htm?cmpid=copiaecola – Danielle Sanches – 10/09/2019

[5] Prevalência dos transtornos mentais na população adulta brasileira: uma revisão sistemática de 1997 a 2009 – Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Print version ISSN 0047-2085, J. bras. psiquiatr. vol.59 no.3 Rio de Janeiro  2010 – Élem Guimarães dos SantosI; Marluce Miguel de SiqueiraII https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0047-20852010000300011&lang=pt

[6] Por que os países nórdicos podem não ser tão felizes quanto pensamos – 27 agosto 2018 – https://www.bbc.com/portuguese/geral-45320175

[7] Transtornos mentais: um tema mais abordado em cinema do que se imagina  ttps://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2015/03/01/interna_diversao_arte,473384/transtornos-mentais-um-tema-mais-abordados-em-cinema-do-que-se-imagin.shtml

[8] Estigma social e estigma internalizado: a voz das pessoas com transtorno mental e os enfrentamentos necessários – Hist. cienc. saude-Manguinhos, vol.26, no.1 Rio de Janeiro Jan./Mar. 2019 – Larissa Alves do Nascimento ; Adriana Leão – https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702019000100103

[9] OMS alerta para transtornos mentais em jovens – Doenças surgem até os 14 anos e passam despercebidas, postado em 11/10/2018 09:26 / atualizado em 11/10/2018, https://www.revistaencontro.com.br/canal/saude/2018/10/oms-alerta-para-transtornos-mentais-em-jovens.html

[10] Um Mundo Insano: Capitalismo e a Epidemia de Doenças Mentais – 26/10/17 – Rod Tweedy e Mark Fisher – https://controversia.com.br/2017/10/26/um-mundo-insano-capitalismo-e-a-epidemia-de-doencas-mentais/

[11] Saúde – Depressão e suicídio a serviço do capitalismo – jul. 29, 2019 – https://www.sinposba.org.br/index.php/2019/07/29/saude-depressao-e-suicidio-a-servico-do-capitalismo/

[12] Saúde mental, a eterna “loucura” do capitalismo. Artigo de Eduardo Camín – 05 Agosto 2020 – http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/601538-saude-mental-a-eterna-loucura-do-capitalismo-artigo-de-eduardo-camin

[13] Governo Bolsonaro incentiva eletrochoques e propõe a volta dos manicômios – Especialistas criticam documento do Ministério da Saúde e veem retrocessos: “Desrespeito à democracia” – Cecília Figueiredo Saúde Popular –  08 de Fevereiro de 2019 às 17:02 – https://www.brasildefato.com.br/2019/02/08/governo-bolsonaro-incentiva-eletrochoques-e-propoe-a-volta-dos-manicomios

[14] 50 ANOS EM 5: COMO O BRASIL ESTÁ REGREDINDO DÉCADAS NA LUTA ANTIMANICOMIAL,

7 DE FEVEREIRO DE 2020 – Por Rafael Revadam e Tainá Scartezini – http://www.comciencia.br/50-anos-em-5-como-o-brasil-esta-regredindo-decadas-na-luta-antimanicomial/

 

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